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BÁSICAS5 No original: “Los

1.7.2 Espaços de observação

Para concretizar um diagnóstico sobre a leitura, é preciso enfatizar a permeabilidade do fenômeno nos espaços públicos e privados, assim como verificar a forma como as “políticas públicas” visualizam, descrevem e se posicionam em relação ao tema.

Estabelecendo analogias em algumas categorias indicadoras, foi possível constatar um dos dados mais interessantes para a verificação das hipóteses: a semelhança entre a situação da formação de leitores do Brasil e da Espanha. Esta observação concreta contraria o senso comum, que afirma a necessidade primordial dos recursos financeiros e infra-estrutura na formação de comunidades leitoras.

Iniciando pela leitura privada, ou seja, a leitura no lar e na comunidade, ela é normalmente determinada por usos e costumes das populações, constituídos ao longo da história, da apropriação falada e escrita da língua-pátria. No caso brasileiro, esta apropriação tem ligação com a colonização e processo político, originando-se como uma colônia de exploração, povoada com degredados, dizimada em sua população local, cujos povos foram obrigados a adotar a língua portuguesa por lei e, ao mesmo tempo, proibidos de produzir quaisquer publicações até o século XVIII. Além disso, o modo de produção agrícola e extrativista, predominante no país, não colocou a leitura privada entre as prioridades da administração doméstica.

1.4 OBJETIVOS DA TESE

A exemplo de outros intelectuais brasileiros, Ottaviano de Fiore atribui a este modo de produção à ausência de uma formação leitora nas famílias. Assim,

Devido à recente origem rural de nosso povo e à rápida ascensão social da nova classe média, há em nosso país poucas famílias cujos pais e avós têm o hábito de ler com as crianças. [...] Entretanto, a produção em larga escala de leitores não pode basear-se apenas em estimular estas famílias predispostas à leitura com as crianças sejam elas pobre ou de classe média. [...] Nosso problema fundamental é produzir futuros pais leitores a partir da atual geração de crianças que não possui pais leitores. (FIORE, 2001, p. 5-7)

Na Espanha, muito embora sobejem os recursos financeiros e as formas de acessividade à leitura, a pouca familiaridade com a leitura doméstica se repete, por conta da semelhança do modo de produção e de algumas fases do processo político, como a situação de ditadura militar que ambas nações experimentaram, assim como a imposição obrigatória da língua espanhola.

A questão da leitura pública, tanto na Espanha quanto no Brasil, se constitui como reflexo da situação privada. Ou seja, a demanda reprimida permanece invisível, pois as famílias não visualizam a leitura como uma prioridade, não enxergam a leitura fora do contexto da escolarização e do utilitarismo. Os indivíduos deixam de ler habitualmente assim que completam sua escolarização e, frequentemente delegam à escola a formação leitora dos mais jovens. Para Fiore, que fala no caso brasileiro, “dada à mencionada falta de famílias que implantem o hábito da leitura em seus filhos, a escola adquire um caráter estratégico.” (FIORE, 2001, p. 7)

Respectivamente, os governos brasileiro e espanhol não se sentem pressionados pela opinião pública em geral, somente pelos educadores do ensino fundamental e médio, que enfrentam o gravíssimo problema da desconexão entre a leitura e a realidade social dos alunos em formação. Dar significação ao ato de ler, compensar os esforços iniciais da alfabetização e chegar a constituir o hábito e o gosto pela leitura, são responsabilidades que recaem publicamente sobre estes professores, em ambas as sociedades. Sobre eles também recai a responsabilidade social, apontada pelas famílias, pelo Estado, pelos pesquisadores em Ciência da informação.

1.4 OBJETIVOS DA TESE

Isto se reflete claramente nas políticas públicas de ambos os países, que posicionam os professores como formadores e gestores das bibliotecas escolares, sem formalizar uma formação, remuneração ou situação de trabalho diferenciada, sempre delegando esta responsabilidade à direção escolar. No caso espanhol, Jose Antonio Camacho Espinosa constata que:

A biblioteca escolar, apesar das iniciativas surgidas no último quarto do século XX, não deu o salto qualitativo e quantitativo. De fato, a legislação estatal, que em seu tempo estabeleceu as características do nosso sistema bibliotecário, as excluiu expressamente do mesmo. Somente alguma atuação pontual da administração central e o interesse e preocupação de alguns mestres e professores fizeram germinar algumas sementes neste

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imenso areal. (CAMACHO ESPINOSA, 2004, p. 17)

Situação similar, até sob o ponto de vista legal e estrutural, é apontada por Neusa Dias Macedo pois, no Brasil,

Nem o bibliotecário escolar nem o professor do ensino básico conhecem, formalmente, a área do outro. Um ou outro, em pequena escala, procura aproximar-se e apropriar-se de conhecimentos necessários ao fortalecimento de algo que ambos deveriam ter em comum, os recursos/fontes de informação em relação ao processo de ensino- aprendizagem da escola a que pertencem. Isso quando existem biblioteca e o respectivo profissional para a sua organização gerência, atendimento, formação, capacitação do aluno. (MACEDO, 2005, p. 45)

Sobre as bibliotecas públicas recai grande parte das responsabilidades de um sistema de bibliotecas escolares, incipiente ou inexistente, já que a educação formal pressupõe o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa bibliográfica. Assim,

Se cabe ou não à biblioteca pública o atendimento ao estudante em seu apoio didático, é realmente um tema bastante polêmico e que tem provocado opiniões favoráveis e desfavoráveis. Uma pergunta fica em aberto: se não contamos com as bibliotecas escolares, onde os estudantes devem proceder às suas pesquisas e desenvolver o gosto pela leitura, onde poderão obter eles o acesso às informações em fontes tradicionais que não sejam apenas a internet? Na verdade, no Brasil, ainda é pequeno o público que faz uso da internet, e também não é a maioria que conhece essa tecnologia e tem disponibilidade para usá-la. (MACEDO, 2005, p. 340)

Tanto no Brasil quanto na Espanha, a biblioteca pública ainda convive com uma imagem pública de espaço dedicado à infância estudantil, em detrimento de suas funções de lazer social e formação continuada. 6 No original: “La biblioteca escolar, a pesar de las iniciativas surgidas em el último cuarto de siglo XX, no ha dado esse salto cualitativo y cuantitativo. De hecho, la legislación estatal, que em su momento estableció las características de nuestro sistema bibliotecário, las excluió expresamente del mismo. Sólo alguna actuación puntal de la administración central y el interés o la preocupación de algunos maestros y profesores han hecho germinar algunas semillas em este extenso erial.”

1.4 OBJETIVOS DA TESE

O resultado, bastante semelhante nos dois países, é a ausência do público adulto e a pouca procura das leituras de lazer, em comparação com as atividades de leitura e escrita vinculadas às práticas pedagógicas. Isso pode ocorrer porque,

Com freqüência as bibliotecas públicas se converteram em substitutas das escolares incluindo as universitárias em detrimento da atenção aos outros usuários e do cumprimento de seus objetivos específicos. Ambas, pública e escolar, compartilham algumas finalidades de caráter informativo, formativo e cultural. No entanto, as finalidades não são as mesmas. Enquanto a biblioteca pública se centra em funções de caráter lúdico e informativo, a biblioteca escolar deve dar maior relevância as funções formativa e educativa. Por sua vez, uma ou outra devem estabelecer programas destinados a que a criança, quando chegue a idade de adulto tenha adquirido tanto hábitos leitores e culturais adequados, quanto as destrezas básicas da busca, manejo e tratamento da informação. (RODRIGUES FERNANDEZ apud CAMACHO ESPINOSA, 2004, p.

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Esquematicamente, um breve sumário do formato final da tese pode ser descrito pelos seguintes tópicos:

! Elementos preliminares de imprenta.

! Esquematização dos Capítulos:

1. Introdução: Condições de elaboração da pesquisa. Metodologia aplicada na pesquisa.

2. Histórias em quadrinhos no Brasil e na Espanha: Quadro histórico e conceitual das histórias em quadrinhos no Brasil e na Espanha. Aparição e evolução das formas e estilos das histórias em quadrinhos, principais autores e editores.

3. Leitura, letramento e história em quadrinhos: Pesquisas no campo da leitura. Significações do ato de ler. A formação leitora do novato, assim como o estudo do problema social do letramento em âmbito internacional.

4. Processos sociais de formação do leitor na atualidade e a inserção das histórias em quadrinhos: Demandas sociais de leitura. Inclusão social sob a ótica da apropriação do universo simbólico da leitura e escrita.

5. Histórias em quadrinhos e a formação do leitor: Verificações teóricas, pesquisa de campo no Brasil e entrevistas aos especialistas na Espanha.

6. Considerações finais e Conclusões: Apanhado constatativo de todos os tópicos anteriores, discutindo os resultados alcançados e novas hipóteses, que certamente virão a aparecer no correr da pesquisa.

7. Referências bibliográficas utilizadas no desenvolvimento do trabalho.

8. Anexos: Amostra das redações “Minha vida em quadrinhos”. Transcrição completa das entrevistas aos especialistas

espanhóis.

1.8 ESQUEMATIZAÇÃO DA TESE