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As primeiras pesquisas no campo da leitura e da formação do leitor se deram no campo teórico da Psicologia, uma vez que o fenômeno do letramento foi compreendido como um processo psicológico superior e que poderia ser objeto de investigações dessa natureza. Assim, os estudos pioneiros identificados foram os de Wundt Von Leipzig que, no final do século XIX, vinculou a memória e o processamento da linguagem escrita, assim como os estudos de E. B. Huey, sobre a psicologia e pedagogia da leitura. Baseado nestes primeiros estudos, Emile Javal posteriormente desenvolveu um estudo laboratorial muito específico, onde identificou porções de signos que poderiam ser processados, pelo movimento ocular executado na leitura. Assim, ele

[...] foi o primeiro a observar que durante a leitura nossos olhos não se movem de forma linear, mas se movem a saltos tanto para frente (movimentos sacádicos) quanto para trás (regressões oculares), e que entre sacádico e sacádico, o leitor realiza uma fixação ocular de forma a extrair informação textual. Além disso, da mesma forma que verificam os estudos atuais, afirmava que o leitor focaliza um campo visual relativamente amplo que vai além das letras e, inclusive, da palavra, e que durante o movimento dos olhos não se efetua leitura alguma fora uma rápida percepção dos signos óticos. Somente nas breves fixações

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oculares se processa o que se lê. (IGLESIAS ; VEIGA, 2004, p. 4) A leitura, para Javal, se definia como uma percepção conjuntural, não apenas uma mera decodificação dos códigos da escrita. Um aprofundamento destes estudos atestou ainda que os leitores novatos fazem pausas maiores e mais freqüentes, que vão diminuindo durante a escolarização. Enfocando estas descobertas no processo leitor, os discípulos de Javal verificaram que a leitura não evoluía como uma mera sonorização do texto escrito, mas na apreensão de significados e na compreensão do texto lido. Ou seja, a interpretação e apropriação de conteúdos foram inseridas no próprio ato de ler, priorizada sobre a aprendizagem mecânica dos símbolos e sons, o que se aproxima muito do atual conceito de letramento.

1 No original: “[…] fue el primero en observar que durante la lectura nuestros ojos no se mueven de forma lineal, sino que se mueven a saltos tanto hacia delante (movimentos sacádicos) como hacia atrás (regresiones oculares), y que entre sacádico y sacádico, el lector realiza uma fijación ocular de cara a extraer información textual. Además, al igual que los estudios actuales, mantenía que el lector focaliza un campo visual relativamente amplio y que va más alla de las letras e, incluso, de la palabra, y que durante el movimiento de los ojos no se efectúa lectura alguna sino uma rápida percepción de los signos opticos. Sólo en las breves “fijaciones oculares” se procesa lo que se lee.”

Leitura, letramento e História em Quadrinhos

No entanto, enquanto Piaget se concentra na expressão natural da mente em amadurecimento, por meio da construção do conhecimento, Vygotsky identifica a exploração ambiental da criança, por meio da simulação e imitação presentes nas brincadeiras e aprendizagens infantis, caracterizando a zona de reconhecimento proximal. De forma diferenciada, ambas as aproximações teóricas enfatizam que a tanto a aquisição quanto a atividade lingüística estão inseridas na participação da criança no mundo das vivências sociais.

A emergência da teoria construtivista e da aproximação sócio- histórica modificou a visão acadêmica da formação do leitor, agora inserida em um universo de experiências socialmente constituídas. Em conseqüência, os estudos da leitura e da formação do leitor se estenderam para os campos do conhecimento onde a prática da leitura se constitui como área concreta de aplicação. Com isso,

[...] apesar de ser evidente a necessidade de recuperar a memória histórica das mais destacadas tradições da investigação psicológica européia do século XX: a epistemologia genética piagetiana e a orientação sócio-histórica da Escola de Moscou, no campo da leitura os estudos mais destacados são aqueles que estão inseridos no estudo dos processos cognitivos em combinação com outras disciplinas tais quais a psicolingüística, a teoria da comunicação e a teoria da informação. Estas disciplinas, originalmente desconexas, encontraram uma plataforma comum, ou seja, a linguagem e seus produtos: a leitura e a escrita. (IGLESIAS ; VEIGA, 2004, p.

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Não só a evolução e superposição dos modelos teóricos oferecidos para a explicação do ato de ler foram aprofundando a visão deste processo: também as mudanças sociais contribuíram para isso, ampliando por si o âmbito de significações do ato de ler. Na atual sociedade do conhecimento, o ato de ler adquire uma nova significação, já que não se restringe mais à apropriação de informações, conhecimentos e enredos que se encontram em suportes bibliográficos, mas representa também o acesso aos diferentes tipos de suporte, mídias e linguagens, assim como a capacidade crítica de seleção, apreciação e prospecção.

Pode-se dizer que a leitura evoluiu de um ato de decodificação para um ato de transversalização da escrita, da imagem, do som e do movimento, na constituição de um discurso e significado, onde o processo tanto é protagonizado pelo escritor quanto pelo leitor. Neste sentido, a leitura de histórias em quadrinhos pode e deve ser vista como preparatória para a apropriação de grande parte dos textos compreendidos nos diferentes suportes midiáticos, sejam eles analógicos, como o papel, ou digitais, como a Internet.

2 No Original: “[...] a pesar

de que se hace evidente la necesidad de recuperar de la memoria histórica dos de las más destacadas tradiciones de investigación psicológica europea del siglo XX: la epistemologia genética piagetiana y la orientación sociohistórica de la Escuela de Moscú, en el campo de la lectura, los estudios más sobresalientes son aquellos que están insertados em el estudio de los procesos cognitivos en combinación com otras disciplinas tales como la psicolingüística, la teoria de la comunicación y la teoria de la información. Estas disciplinas, originalmente inconexas, encontraron una plataforma común, a saber, el lenguaje y sus productos: la lectura y la escritura.”