• Nenhum resultado encontrado

Alexandra Pericao (*)

alexandra.pericao@suma.pt Educação e sensibilização ambiental - SUMA

Palavras-chave: dilema social, desejabilidade social, heterofiscalização entre

pares

A resistência à mudança é um dos principais entraves à obtenção de medidas de eficácia nos investimentos em Educação Ambiental. Mas o obstáculo mais representativo para o insucesso da alteração comportamental das populações abrangidas por campanhas de sensibilização está associado ao fenómeno DILEMA SOCIAL, conceito que define a tendência de sobreposição dos interesses individuais face aos coletivos e que traduz a indisponibilidade generalizada para a apreensão de fundamentos baseados em vantagens que não revertam diretamente a favor do sujeito visado. Esta situação é verificável em quase todos os contextos, com particular incidência nas questões ambientais, em relação

às quais o comportamento corretamente adotado não só não é imediatamente visível, como a sua restrita dimensão não tem repercussões particulares relevantes, a não ser para os indivíduos que se mobilizam por razões estritamente associadas à Satisfação Pessoal.

Este fenómeno universal deve, por isso, ser orientador na definição de políticas de sensibilização e na seleção da informação persuasiva que integrar os correspondentes agrupamentos temáticos. Destacar as vantagens individuais imediatas que o comportamento que se pretende alterar tem na vida dos públicos-alvo, incidindo nos perfis mais ajustados à realidade e contexto social, corresponde ao OVO DE COLOMBO dos investimentos de mobilização para o exercício da Cidadania Ativa na vertente ambiental. Melhor gestão de dinheiro, esforço, tempo, e espaço são premissas que devem ser identificadas na transmissão de conteúdos quando a sensibilização recai sobre a utilização de recursos, equipamentos e espaços públicos, invertendo assim a hierarquia de importância dos objetos atitudinais percecionados: CUSTOS INDIVIDUAIS PARA BENEFÍCIOS COLETIVOS passam a ser substituídos pela perceção de VANTAGENS INDIVIDUAIS PARA BENEFÍCIOS INDIVIDUAIS (em primeira instância) no que concerne ao respeito pelo bem público e às políticas de prevenção da produção de resíduos, com a integração de eco códigos de consumo (REDUÇÃO NA ORIGEM) e de procedimentos de valorização (RECICLAGEM DAS COMPONENTES ORGÂNICA E INORGÂNICA suscetíveis de transformação em novos produtos e REUTILIZAÇÃO de embalagens reconvertíveis).

A identificação dos níveis médios de poupança em função da tipologia das embalagens dos produtos adquiridos, do pagamento duplo que se faz por cada embalagem comprada (valor que integra o preço do produto e das taxas de resíduos aplicadas pelos municípios), do lixo que se adquire nas compras, do esforço adicional que se desperdiça ao transportar as compras para casa e o lixo daí resultante para os contentores - quando as melhores sugestões de consumo não são tidas em consideração -, do tempo gasto nos percursos efetuados para encaminhamento dos resíduos se os eco códigos não forem utilizados, se as embalagens não forem espalmadas, e se o lixo não for triado na origem para subsequente valorização, do dinheiro aplicado na limpeza dos espaços públicos e na substituição e manutenção de contentorização e na relação destes custos com os níveis de maturidade cívica e de urbanidade de cada um (introduzindo analogias que se prestem a situar, de forma mais visível, o tipo de acessibilidades e investimentos infraestruturais que poderiam ser disponibilizados com as verbas aplicadas na remoção, recolha e tratamento dos resíduos), são alguns dos aspetos a considerar enquanto informação persuasiva e conceitos chave das campanhas de sensibilização e que devem substituir o tão usual recurso a conteúdos relacionados com os benefícios para as gerações vindouras e para o Planeta - enquanto representação global. O mesmo se passa no que respeita à utilização de um estilo de comunicação que incite à colaboração ou ajuda dos alvos para um melhor ambiente, cuja eficácia não tem validade e que, por isso, deve ser objetivada no sentido da identificação

da relação entre direitos e deveres de cidadania, definindo um registo mais implicativo e vinculador, que em muito poderia ser potenciado se as opções de política local não negligenciassem o valor mobilizador da fiscalização e da aplicação das coimas previstas nos regulamentos municipais.

Adicionalmente à fórmula identificada para a gestão de conteúdos (vantagens individuais dos procedimentos corretos para o produtor de resíduos e utilizador de recursos, espaços e equipamentos públicos), a eficácia das campanhas depende da capacidade de programar a acessibilidade das populações alvo, normalmente pouco recetivas ao trabalho de mudança comportamental, pelo que o recurso à criação de ambientes formais de aprendizagem e a aplicação de metodologias de contacto pró-ativo devidamente adaptadas ao perfil de competências do alvo são determinantes para o sucesso dos investimentos efetuados, que, para terem escala e impacto nos níveis de higiene e salubridade públicas, carecem de medidas de propagação em rede, obtidas a custo zero, por via da instrumentalização de franjas da população com características específicas, que exerçam influência informal junto dos demais indivíduos.

Fatores de Desejabilidade Social podem também ser coadjuvantes no processo de mobilização à medida que os grupos de referência forem sendo reconhecidos pelos pares e suscitarem a vontade de pertença por parte dos indivíduos que ainda não consolidaram determinado tipo de comportamentos, fundamentais para a sua aceitação. Mas mais eficaz do que o fenómeno de Desejabilidade Social é a Heterofiscalização entre

Pares, um dos indicadores mais inequívocos do estado de maturação cívica das sociedades e sinónimo de populações esclarecidas, criticas e interventivas na defesa dos seus direitos e deveres, o que, neste contexto, se traduz na perceção do direito a usufruir de espaços públicos limpos (por via do pagamento dos impostos) e no exercício do dever de impedir que outros o possam sujar ou vandalizar - por via do desrespeito por aquilo que é de todos.

No entanto, para que uma sociedade aceite a retificação da postura por parte dos seus semelhantes é necessário fazer um enorme investimento na formação de atitudes (junto das populações mais jovens e mais recetivas ao trabalho de mudança comportamental – com menos hábitos enraizados), na criação de sistemas de mobilização em rede – estimulando essas populações especiais a exercerem o seu dever de cidadania através da influência detida junto da sua esfera relacional próxima - com vista à obtenção de uma maior correlação entre atitude e comportamento -, e da manutenção de processos justos e consequentes na aplicação de coimas em função da verificação de incumprimento dos procedimentos definidos em regulamento face ao acondicionamento, deposição e encaminhamento dos diversos fluxos de resíduos.

Concentração da comunicação de sensibilização nas vantagens individuais da adopção de um determinado comportamento, gestão da acessibilidade dos alvos - através do recurso a estratégias pedagógicas e andragógicas convergentes com o perfil de referência e o grau de desinteresse e indisponibilidade que os caracterizam -, mobilização dos

sujeitos para o dever de exercício da Cidadania Activa - quer por via da gestão da sua influência informal sobre os elementos da esfera relacional próxima, quer através da fiscalização do comportamento dos outros -, e criação de grupos de referência face às questões ambientais - promovendo o desejo de pertença -, são os aspectos mais assertivos para a definição de políticas de sensibilização capazes de apresentar resultados que justifiquem os investimentos efectuados.

(*)Licenciada em Psicologia Social e das Organizações pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, desempenha atualmente funções de Direção na SUMA, empresa onde integrou os quadros em 1999. Anteriormente foram exercidas responsabilidades semelhantes na Câmara Municipal de Sintra, enquanto Coordenadora do Núcleo de Educação Ambiental. Entre 1986 e 1995 a atividade profissional esteve ligada ao Ministério de Educação, no exercício da docência.

A publicidade e a sustentabilidade: suas relações no