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INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL Alguns casos de estudo

Milene Matos (*)

milenamatos@ua.pt Departamento de Biologia & CESAM Universidade de Aveiro

Paulo Trincão

Departamento de Biologia Universidade de Aveiro

Amadeu M.V.M. Soares

Departamento de Biologia & CESAM Universidade de Aveiro

Carlos Fonseca

Departamento de Biologia & CESAM Universidade de Aveiro

Palavras-chave: educação para a sustentabilidade, serviço educativo, método

A importância da educação ambiental para a construção de uma sociedade ambientalmente mais crítica e conscienciosa é, hoje, irrefutável.

Mas como se constrói uma educação ambiental sólida e eficiente? Quais as melhores metodologias para conseguir transmitir as mensagens corretas? O que é um bom educador ambiental? A quem se destina a educação ambiental? Estará ao alcance de todos? A educação ambiental apenas incide sobre temáticas da ecologia e biodiversidade?

Os ‘educadores ambientais’ tentam responder diariamente a estas questões, sendo que para algumas não existe uma resposta perentória e definitiva. A aplicação do método científico e da investigação à educação ambiental poderá fornecer algumas orientações, bem como capacitar os educadores de ferramentas pedagógicas mais eficientes.

Nesta comunicação serão apresentados algumas metodologias e casos de estudo realizados no Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro com o objetivo de desenvolver uma educação ambiental eficaz, integrativa e adaptável a diversos contextos e públicos.

A criação de um serviço educativo

No âmbito do pós-doutoramento em Comunicação de Ciência de Milene Matos, intitulado “A Mata Nacional do Bussaco como veículo para a promoção dos valores naturais e da cultura científica” foi criado o serviço educativo daquele espaço, em parceria entre a Fundação Mata do Buçaco e o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. Mais do que disponibilizar atividades de educação ambiental ou de enriquecimento curricular para crianças e jovens, pretendeu-se

desenvolver um serviço educativo verdadeiramente integrativo, abrangente, intergeracional e replicável. Mais ainda, aspirou-se ao desenvolvimento de um “laboratório de educação”, aplicando-se o método científico às atividades desenvolvidas, no sentido de melhorar a oferta e a respetiva eficácia educativa. A investigação clássica associada a técnicas de educação ambiental moderna será certamente um forte contributo para o sucesso de projetos em que os objetivos sejam eficazmente atingidos.

O desafio, caso a caso

Os objetivos de um projeto educativo variam caso a caso. Dependendo das condições disponíveis, dos recursos humanos, financeiros e materiais, do público-alvo estipulado e das tarefas que se pretendem cumprir (em geral e em específico, em cada evento), dever-se- á procurar soluções de compromisso que garantam a exequibilidade das ações, quaisquer que sejam, sob o risco de se planearem ações demasiado ambiciosas, mal interpretadas, confusas e mal sucedidas.

No caso da Mata Nacional do Buçaco, que constitui um património incomparável, único em Portugal e no Mundo, com relevância histórica, religiosa, militar, botânica, faunística, paisagística, arquitetónica, cultural e mesmo de identidade nacional, a tarefa parece simplificada, pois o espaço cénico disponível torna possível a realização de abordagens múltiplas e complexas. Ou seja, o espaço é adequado para a realização de ações educativas para crianças, jovens, adultos e idosos, sobre as mais diversas temáticas. É um espaço de excelência para a partilha de conhecimentos e

para a veiculação/exemplificação de um sem fim de mensagens educativas, que deverão ser estipuladas caso a caso. Mas não terão todos os espaços valias e características ‘exploráveis’? Claro que sim! Cabe ao educador identificar as temáticas e valias a explorar e explicar. Por vezes os espaços tidos como mais ‘negativos’ são precisamente os que adquirem maior força pedagógica.

O espaço e respetivas valias influenciam na perceção dos conteúdos da ação por parte do público-alvo, ao qual terá necessariamente de ser ajustada a abordagem. O modo de transmissão da mensagem deve sempre atender ao contexto do público-alvo, mantendo a intenção do objetivo educativo, mas respeitando eventuais dificuldades, desconfianças e diferentes personalidades dos interlocutores. A credibilidade será sempre um fator incontornável, num bom educador, assim como a predisposição de querer também aprender e dialogar, não se julgando o único detentor de conhecimentos.

Toda e qualquer ação deverá ter respostas precisas às perguntas: Porquê? Como? Para quem? Onde?

Alguns exemplos

Esta comunicação apresentará alguns exemplos aplicados no serviço educativo da Mata do Buçaco. Apesar de este serviço ser ainda recente, conta já com várias centenas de educandos, que participaram nas mais diversas atividades. Conforme mencionado acima, este projeto foi desenhado para ser integrativo, pelo que conta com diversos públicos-alvo

e atividades com tipologias distintas. Sempre que possível, o sucesso das atividades é avaliado com validação estatística, conseguida através da realização de inquéritos, no sentido de procurar as melhores abordagens e as metodologias mais eficazes.

Tabela 1. Elementos a avaliar aquando da realização de uma atividade educativa e respetivos fatores de risco envolvidos.

AVALIAR FACTOR DE RISCO

Objetivo Dispersão. Ineficácia. Disponibilidade de recursos Exequibilidade

Espaço Adequação à atividade Temáticas e valias a explorar "Força pedagógica" Público-alvo Adequação à atividade Abordagem Credibilidade

Educador Capacidade pedagógica

Duendes na Mata do Bussaco

Porquê? Sensibilizar para a importância da preservação dos

recursos naturais e para a corresponsabilização do uso sustentável dos mesmos. Apresentar a perspetiva história da Mata do Buçaco.

Como? Conciliando factos reais com aspetos do imaginário infantil,

veiculados através de personagens com elevado carisma e potencial pedagógico: os duendes. Jogos didáticos de exploração de natureza. Livro infantil ilustrado com espaço para a imaginação.

Para quem? Escolas. Pré-escolar e 1ºciclo

Onde? Mata Nacional do Buçaco, viveiros, floresta relíquia e via-

A química da floresta

Porquê? Facilitar a compreensão e apreensão de conceitos químicos

como estruturas moleculares, ligações atómicas, fórmulas e símbolos químicos, etc. Em simultâneo fomentar conceitos de cidadania e sustentabilidade.

Como? Através de atividades de ciência divertidas, com explicação

dos fenómenos químicos envolvidos. Transposição do ‘mundo químico’ para elementos mais tangíveis presentes numa tabela periódica de elementos colorida e com carácter pedagógico. Construção de ‘moléculas temáticas’ segundo as regras da química, mas com aplicação à sustentabilidade e cidadania.

Para quem? Escolas. 3º ciclo e secundário Onde? Mata Nacional do Buçaco, sala didática.

Workshops/Cursos técnico-científicos

Porquê? Transmissão de conhecimentos técnico-científicos sobre

determinado tema, por técnicos especializados da área.

Como? Através de apresentações teóricas, teórico-práticas e saídas

de campo.

Para quem? Público mais específico da área em questão. Onde? Mata Nacional do Buçaco, sala didática e campo.

Oficinas para famílias

Porquê? Educação ambiental para famílias. Generalização de

conceitos e práticas ambientais a todo o tecido familiar, gerando hábitos conjuntos e compreensão mútua.

Como? Através de atividades acessíveis, compreensíveis a todos os

membros da família e, acima de tudo, divertidas, demonstrando que a sustentabilidade não tem de ser um drama!

Para quem? Famílias.

Onde? Mata Nacional do Buçaco, sala didática e campo, aos

domingos.

O dia dos avós

Porquê? Celebração do Ano Internacional do Envelhecimento Ativo

e da Solidariedade InterGeracional com atividades pedagógicas para avós e netos sobre a importância do exercício físico em todas as idades.

Como? Através da criação de momentos de partilha de

conhecimentos e vivências entre gerações, em ambiente descontraído e fora do clássico ambiente de aprendizagem formal.

Para quem? Famílias e IPSS: avós e netos.

Onde? Mata Nacional do Buçaco, Portas de Coimbra.

Seleção de monitores/educadores

Porquê? Porque todas as pessoas são diferentes, com

dirigidas de forma a serem otimizadas, gerando satisfação e realização mútuas.

Como? Através da avaliação do perfil pessoal e de características

como: capacidade pedagógica; eloquência e comunicabilidade; capacidade de ajuste a diferentes públicos-alvo/avaliação do público-alvo preferencial; capacidade de resposta rápida a eventos inesperados, preferência por trabalhos plásticos, demonstrativos, explicativos, etc; entre outros.

Para quem? Aplicável aos monitores e educadores do serviço

educativo por parte dos coordenadores do serviço educativo.

Onde? Em contexto de entrevista, mas também por observação

durante eventuais ações.

A importância de avaliar o trabalho realizado

Porquê? A avaliação do alcance educativo das ações

implementadas, assim como da sua eficácia, é essencial para que se melhore a oferta, a condições de execução e as abordagens.

Como? Através da realização de inquéritos capazes de ‘medir’ a

qualidade da informação transmitida, a clareza da mesma e o efeito produzido nos educandos, no que respeita à assimilação de conhecimentos não só no momento, mas para o futuro. Tratamento estatístico dos dados, para avaliar da significância dos resultados obtidos.

Onde? Em casa, para evitar a cópia de conteúdos pelos educandos,

quando em conjunto e para se obterem inquéritos preenchidos com a verdadeira realidade individual dos formandos.

(*) Licenciada e doutorada em Biologia, pela Universidade de Aveiro (UA) e tem formação complementar em ilustração científica, educação ambiental, ecologia florestal, planos de gestão florestal e gestão florestal sustentável. Tem experiência em monitorização de vida selvagem, nomeadamente no âmbito de estudos de impacto ambiental. Atualmente é investigadora de pós-doutoramento na Unidade de Vida Selvagem, DBIO-UA, dedicando-se à comunicação de ciência e promoção da cultura científica e dos valores naturais, nomeadamente na Mata Nacional do Buçaco, onde criou e coordena o Serviço Educativo.