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RESULTADOS E DEMANDAS DO PROJETO CONHECENDO OS RIOS E OS PEIXES DO ASSENTAMENTO CANAÃ,

BODOQUENA - MS, O RETORNO DA PESQUISA

Amante B.L.1(*) bruamante@gmail.com Levy M.D.Y.M. 1 maxlevymax@gmail.com Locatelli J.S. 1 julia_slocatelli@hotmail.com

1Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

Palavras-chave: educação ambiental, comunidade, retorno de pesquisa, diálogo

horizontal

A região da Serra da Bodoquena localiza-se no estado do Mato Grosso do Sul, região centro-sul do Brasil, entre os municípios de Bodoquena, Bonito e Jardim. Dentro de seus limites encontra-se o Assentamento Canaã, uma comunidade rural formada por cerca de 40 famílias e que faz fronteira com o Parque Nacional da Serra da Bodoquena (PNSB). Essa região é considerada pelo Ministério do Meio Ambiente como área prioritária para conservação e área de importância biológica extremamente alta (MMA, 1999; 2000; 2006). O ambiente é predominado pela vegetação de Cerrado (“Savana brasileira”) e uma de suas principais

características é o relevo cárstico composto por calcários puros, e sua dissolução por águas subterrâneas e superficiais que resultam em uma grande densidade de cavernas e rios com águas cristalinas (BOGGIANI, 1999).

Contudo, apesar das características naturais da região, da grande biodiversidade e da importância da paisagem, algumas práticas locais geram danos ambientais, tais como corte da mata ciliar e queima de lixo nas margens dos rios. Além disso, percebeu-se que apesar de muitas pesquisas serem realizadas na região, pouca informação retornava ao assentamento. Dentro deste contexto, foi idealizado e desenvolvido o projeto de extensão universitária “Conhecendo os rios e os peixes do Assentamento Canaã, Bodoquena - MS, o retorno da pesquisa”, financiado pela Universidade Federal de Santa Catarina e apoiado pelo Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha. Assim, através do retorno dos resultados de uma pesquisa sobre os peixes da região (MORAIS, 2012), executada em 2010 pelos mesmos proponetes do projeto, visou-se realizar uma troca de conhecimentos com os habitantes locais, retornando a eles informações sobre temas ambientais e sobre os peixes do Assentamento Canaã, e instigando reflexões sobre as relações entre comunidade e meio ambiente.

As atividades foram elaboradas partindo da diversidade de peixes encontrados na região. Buscou-se um diálogo com os alunos da escola e com a comunidade, para que relatassem quais peixes conheciam e qual a relação que tinham com os rios da região. A partir disso, foram realizadas

atividades de educação ambiental que voltassem o olhar dos moradores para o seu entorno, procurando a reflexão sobre as características da região, a sua biodiversidade, as relações com o ser humano, bem como algumas problemáticas cotidianas envolvidas

A escola em pequenas localidades, de modo geral, cumprem papel fundamental na articulação e disseminação de informações e conhecimentos para toda a comunidade, tanto no intermédio de ações públicas por parte da prefeitura como questões particulares da própria comunidade. Sendo assim, a Escola Municipal “José Gonçalves da Silva”, a única estabelecida nos limites do Assentamento Canaã, foi o local de execução das atividades educativas do projeto. Com o auxílio do diretor da escola foi possível articular os encontros com os alunos e a comunidade, além de outras demandas específicas. Durante um período de 7 dias, foram realizados 8 encontros com todos os 25 alunos da escola, divididos em duas turmas multisseriadas, da pré-escola ao 5º ano e do 6º ao 9º ano Os métodos variaram de acordo com as turmas e os diferentes interesses, no entanto os encontros davam-se sempre em forma de diálogo, procurando ressaltar e valorizar os diferentes conhecimentos e experiêncais de cada um. Na maioria dos casos as atividades e informações foram realizadas e recebidas com interesse por grande parte dos alunos, ainda que se demonstrassem tímidos em alguns momentos. Para execução dos encontros foram utilizados banners com fotos dos peixes da região e dados ambientais importantes, apresentações digitais, flanelógrafo interativo com os seres da teia ecológica da região, vídeos e

materiais de pintura. No último dia foi também realizado um encontro aberto para toda a comunidade no qual as pinturas das crianças e os banners foram expostos, sendo seguidos pela apresentação da pesquisa e por um diálogo abordando os diferentes saberes sobre a relevância ambiental da região, certas problemáticas locais, entre outros assuntos. Para além das atividades anteriormente citadas, durante a semana do projeto ocorreram uma série de encontros informais. Os educadores viveram uma real imersão no cotidiano da comunidade através de visitas, almoços, jantares, hospedagem na casa do diretor, pegando o ônibus junto aos alunos e professores, e até acompanhando o trabalhador na roça. Tais experiências contribuíram para a construção de um olhar diferenciado, pemitindo a compreensão mais ampla do contexto, uma vez que esta passou a ser constituída da relação entre conhecimentos externos e internos. Sendo assim, esse tipo de abordagem refletiu-se na distinção de certos problemas e demandas da comunidade: tanto no âmbito geográfico-territorial, com relação ao PNSB; político- educacional, entre a escola e a prefeitura local; como nas questões ambientais, com o corte da mata ciliar e a construção em beiras de rios, que inclusive devido a enchentes já causou grandes prejuízos para os habitantes da região.

Portanto, durante todo o processo buscou-se promover uma troca com a comunidade, o diálogo baseado em uma relação horizontal que valoriza todo o tipo de conhecimento. Este que parte desde noções prévias de conservação e outros saberes apresentados pelos habitantes,

até o conhecimento acadêmico levado pelos educadores. Desse modo, observou-se a relevância de uma educação voltada aos aspectos locais, que leva à inspiração e instiga a reflexão sobre as maneiras como essas pessoas vêem e interagem com o meio. Além disso, através desse projeto de extensão foi possível tratar o material de pesquisa como um tema transversal à outros assuntos ambientais. Sendo assim, fica clara a importância do retorno da pesquisa à todos os agentes envolvidos por meio de atividades de educação ambiental e a troca de saberes.

(*)

Estudante do 5º ano de Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista do Proextensão 2009 a 2010 no projeto: Óleo de Fritura é Combustível, realizado no Centro de Estudos e Promoção da Agricutura de Grupo; 2011 a 2012 no projeto: Capacitação de Comunidades para Processos Participativos de Gestão da Orla.

Referências:

BOGGIANI, P. C.; COIMBRA, A. M.; GESICKI, A. L. D.; SIAL, A. N.; FERREIRA, V. P.; RIBEIRO, F. B. & FLEXOR, J. M. Tufas calcárias da Serra da Bodoquena. Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. 1999: http://www.unb.br/ig/sigep/sitio034/sitio034.htm>. Acesso em 19 de maio de 2010.

MMA. Ações prioritárias para a conservação da biodiversidade do Cerrado e Pantanal. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 26p, 1999.

MMA.Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 40p, 2000.

MMA. Áreas prioritárias para conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 55p, 2006.

MORAIS, R. A. Diversidade e estrutura da ictiofauna de rios da Serra da Bodoquena. 2012. 70f. Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2012.

RIBEIRO, A.F.N; Unidades de conservação e reforma agrária: o social e o ambiental no parque nacional da serra da bodoquena. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação – Mestrado em Geografia, da Faculdade de Ciências Humanas, da Universidade Federal da Grande Dourados para a obtenção do título de Mestre em Geografia, 2010.

Estratégia Ambiental e Desenvolvimento Rural no