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Educação Ambiental, Ensino Experimental e Educação Especial

Olga Pinto dos Santos (*) olga.santos@ipleiria.pt Departamento de Matemática/Ciências da Natureza Escola Superior de Educação e Ciências Sociais – Instituto Politécnico de Leiria

Palavras-chave: Educação Ambiental, Ensino Experimental, Educação Especial

Vivemos num planeta em que as problemáticas são múltiplas, resultantes das mais diversas causas e refletindo-se em todos os contextos, com implicações para todos quantos o habitam. Uma das vias para enfrentar este conjunto de problemáticas reside nas respostas educativas encontradas pelas sociedades modernas já que, de acordo com Caride (2007, p.159), a educação é “uma prática social inerente à existência humana, que pode caraterizar-se como o conjunto de atividades através das quais as pessoas aprendem e ensinam o seu universo natural e sociocultural” e, nessa medida, contribuem para a

melhoria da interação entre as comunidades e o ambiente em que se integram.

Em contextos complexos, educar pode ter amplas finalidades, assim como diversas definições, sendo a sua condição essencial a promoção e desenvolvimento de competências, com vista a formas de desenvolvimento e atuação mais sustentáveis por parte dos indivíduos. A deficiência enforma, justamente, um desses contextos complexos onde a integração de crianças e jovens com Necessidades Educativas Especiais (NEE) numa sociedade, cada vez mais obrigada a abrir-se para a diferença - onde o ideal seria a abertura à e para a inclusão - possibilita uma melhor compreensão do mundo e a resolução de problemas, ainda que meramente funcionais, por parte das crianças e jovens com NEE.

Este paradigma assenta na conceção de que todos os cidadãos têm os mesmos direitos, nomeadamente o direito à educação, a qual se deve adaptar às suas necessidades, numa perspetiva de inclusão e EDUCAÇÃO PARA TODOS (UNESCO, 1994). A Educação Ambiental (EA) poderá despertar uma espectativa renovadora do sistema de ensino perante as possibilidades que pode dar à escola em termos de transversalidade e interdisciplinaridade (Carvalho, 2004) da abordagem e exploração de alguns dos conteúdos programáticos. Nesta perspetiva, entende-se que a EA possa ser explorada num contexto transversal e interdisciplinar com o Ensino Experimental das Ciências (EEC) onde os intervenientes são crianças e jovens com NEE, com vista a dar resposta à diversidade, criando comunidades mais abertas e solidárias.

Ao contrário do que se passava há alguns anos, a frequência da escola por alunos portadores de deficiência, aos mais variados níveis, é cada vez mais uma realidade incontornável, uma vez que a Lei n.º85/2009, de 27 de Agosto, estabelece o regime da escolaridade obrigatória de 12 anos para todos os alunos. Perante tal obrigatoriedade, torna-se premente a existência de uma escola acolhedora onde se proporcione o gosto pelo ato de aprender, onde se aprenda pelo trabalho solidário e emancipador, onde se viva a democracia direta e se edifique a cidadania (Canário, 1998; Niza, 1998; Santos, 1998). As práticas de ensino áridas e obsoletas, já que “a mudança dos discursos foi bem mais célere que a mudança efectiva das práticas” (Rodrigues, 2002, p. 98) a que as crianças com NEE estão habituadas, devem ser substituídas por atividades que se traduzam em competências que as preparem para o futuro.

Ensinar ciências na sua dimensão experimental, tendo como aliada a EA, a crianças e jovens com NEE, é ainda novo no seio das configurações abrangidas, presentemente, pelas escolas ao nível dos conteúdos e áreas disciplinares. Por se acreditar que o ensino experimental das ciências pode contribuir para as crianças, designadamente as portadoras de NEE, desenvolverem competências funcionais, considerou-se necessário e inovador sugerir atividades informadas e enformadas pela EA e pelo EEC, e elas próprias, contextos para investigar percursos sustentados pelo paradigma de uma educação para todos. Para tal, é necessária uma metamorfose capaz de ousar uma transformação onde o risco e a

aventura possibilitarão superar os próprios limites (Sato in Carvalho, 2004), interligando estas três vertentes: EA, EEC e NEE.

As experiências sensoriais, baseadas na visão, audição, olfato e tato poderão ser, dentro das atividades práticas concernentes ao EE, uma forma de explorar o que a natureza tem de bom e pode oferecer. Reconhecer semelhanças e diferenças, observar cores e formas (atividades que podem ser trabalhadas, por exemplo, com as mais variadas folhas encontradas na natureza, atendendo à sua diversidade) e fazer a descrição de determinados seres vivos e objetos existentes na natureza (árvores, arbustos, flores, animais, rochas, etc.), podem passar por um trabalho devidamente estruturado com finalidade pedagógica para crianças com NEE. Todavia, embora a partir de qualquer tema, pareça possível selecionar atividades, a verdade é que nem todos o potenciam com igual possibilidade (Almeida, 2007), para trabalhar com crianças com NEE. O mesmo autor defende que a “EA não deve contribuir para o endoutrinamento numa perspetiva particular de ver o mundo, mas sim possibilitar o conhecimento de uma multiplicidade de formas de o olhar” (Almeida, 2007, p. 173). É sobre esta multiplicidade de formas de olhar o mundo, que a natureza e a EA, socorrendo-se do EEC, poderão contribuir para o desenvolvimento de competências de crianças com NEE, através de uma exploração à medida de cada um.

Desta forma, parece crucial e relevante que os profissionais ligados à EA reflitam sobre esta questão e à necessidade de, sempre que possível, os projetos deverem contemplar esta componente, tanto mais que em

2013 se celebrará o Ano Europeu dos Cidadãos – por uma cidadania ativa e responsável, facto que não permitirá deixar que as crianças com NEE continuem a ser esquecidas no contexto específico do EEC e da EA.

Referências

Almeida, A. (2007). Educação Ambiental – a importância da dimensão ética. Lisboa: Livros Horizonte.Carvalho, I. C. M. (2004). Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez Editora.

Martins, I. P., Veiga, L., Teixeira, F., Tenreiro-Vieira, C., Vieira, R., Rodrigues, A. V. e Couceiro, F. (2006). Educação em Ciências e Ensino Experimental no 1ºCiclo EB. Formação de Professores. Lisboa: Ministério da Educação.

Rodrigues, D. (2002). A Educação e a Diferença. In D. Rodrigues (org.), Educação e Diferença: Valores e práticas para uma educação inclusiva. Porto: Porto Editora.UNESCO (1994). Declaração de Salamanca e enquadramento da acção na área das necessidades educativas especiais. Lisboa: Unesco (tradução portuguesa).

(*) Licenciatura em Professores do Ensino Básico, variante de Matemática e Ciências da Natureza; Licenciatura em Relações Públicas e Publicidade; Doutoranda em Educación Especial: Objeto y Tendencias de Investigación, na Universidade de Salamanca; Formadora acreditada pelo CCPFC, nas áreas da Matemática, Ciências da Natureza e Educação Especial; Diretora do CET - Técnico de Intervenção Social em Toxicodependências, no FOR.CET do IPL. Organizou e dinamizou o Seminário “Atenção à Diversidade”, dirigido aos professores do departamento de Educação Especial da Faculdade de Educação da Universidade de Salamanca. Docente na ESECS – Instituto Politécnico de Leiria.

Grupo de Trabalho 3

EMPREENDEDORISMO SÓCIO-AMBIENTAL Dinamizador: Pedro Teiga (ASPEA)