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Estratégia Ambiental e Desenvolvimento Rural no Concelho de Arouca

Isabel Vasconcelos (*)

Isabel.vasconcelos@cm-arouca.pt Vice-presidente da Câmara e Vereadora do Ambiente

Câmara Municipal de Arouca

Palavras-chave: Ambiente; Desenvolvimento Rural, Agricultura, Resíduos,

Poupança energética

A Câmara Municipal de Arouca tem como área de intervenção um território muito vasto, com caraterísticas rurais bem patentes na paisagem e nos usos e costumes da maioria da população residente. A agricultura de subsistência é uma realidade no concelho.

Na elaboração da sua Estratégia Ambiental, a Autarquia tomou como pilar fundamental o Desenvolvimento Rural, através do incentivo à agricultura e às boas práticas agrícolas, reconhecendo o papel do Agricultor na reestruturação de uma atividade que ajuda à sustentabilidade do território.

Neste sentido, tem vindo a sensibilizar para os comportamentos ambientais mais corretos, recuperando costumes que políticas transversais e aplicadas indistintamente ao território nacional tinham banido. É o caso da compostagem doméstica através da formação de pilhas, forma natural de utilização de restos vegetais da confeção de alimentos e da preparação dos terrenos, da qual resulta um produto que funciona como ótimo corrector de solos, ou a utilização desses mesmos restos na alimentação de animais de criação e posterior utilização dos estrumes para o mesmo fim.

O “Domingo do Agricultor”, em plena vila de Arouca, feirinha de produtos do campo, onde qualquer agricultor tem possibilidade de escoar os excedentes da sua produção, é já uma tradição, e foi outro importante passo para a dignificação da actividade, propondo-se reativar o interesse de cada um por cultivar mais e melhor. A consolidação desta actividade ao longo dos dois anos e meio que passaram desde a sua criação mostra que foi uma boa aposta pois, na realidade, há compradores para os produtos vindos directamente do campo, sem intermediários, adquiridos num ambiente que é sempre de festa e onde não faltam os jogos da “sueca” ou a troca de receitas culinárias.

Durante o ano de 2012 decorreu um projecto dedicado ao levantamento e preservação do património vegetal de Arouca, através da Associação “Colher para Semear”. Foi o complemento de que a Autarquia precisava para consolidar e aprofundar a estratégia já lançada. Apoiou esta iniciativa, fornecendo toda a informação de que dispunha relativa aos

melhores contatos a fazer ou locais a visitar, e promoveu junto dos agricultores oficinas práticas, onde foi possível aprender as melhores técnicas para a recolha e preservação de sementes. O entusiasmo de todos os participantes foi, sem dúvida, gratificante, e demonstrou como a matéria em causa é de interesse para todos.

A aceitação da proposta de realização do Encontro Anual da “Colher para Semear” no Município de Arouca foi a consequência óbvia de todo o trabalho anterior. O material que entretanto está a ser preparado, complementado pela documentação/videos que sairam do próprio Encontro, será a base de uma divulgação massiva que a Autarquia passará a fazer junto da população em geral e das escolas em particular.

A gestão dos resíduos é também uma das vertentes importantes da política ambiental. Em Arouca, tem sido feita formação nesta área, junto da população escolar e para a comunidade em geral. Colocaram-se dísticos em contentores de indiferenciados apelando para a compostagem da relva. Faz-se recolha selectiva em alguns grandes produtores. Foi já iniciada a recolha de borras de café na restauração para a vermicompostagem.

Actualmente, todos os fluxos e fileiras têm o devido tratamento no Município de Arouca.

Temos ecopontos para papel/cartão, embalagens de vidro e embalagens de plástico e metal; esses e outros materiais, quando de maiores dimensões, são também recolhidos em grandes produtores, pelo serviço da Câmara “Arouca Limpa”, sendo depois encaminhados para um

reciclador; os Resíduos de Equipamento Eléctrico e Electrónico (REEE) podem ser depositados em contentores próprios em todas as Juntas de Freguesia, junto do Quartel dos Bombeiros e numa IPSS. Estas duas instituições têm, pela entidade gestora nacional, uma compensação económica pelo aluguer do espaço do ponto-electrão e pela quantidade de REEE(s) recolhidos; nos cemitérios foram colocados contentores para colocação de velas e, em três deles também compostores para as flores. Os copos de cera são recolhidos pelo “Arouca Limpa” e entregues a duas instituições de solidariedade social que transformam a cera em novas velas e vendem o excedente para um reciclador, depois de separado o metal e o plástico (materiais igualmente recicláveis).

Fizemos uma caracterização dos resíduos da vila de Arouca, numa campanha que durou 2 semanas e apercebemos da enorme percentagem de têxteis. Encontrámos uma empresa que colocou em todas as freguesias, contentores para roupa e artigos escolares. É o projecto Uzardenovo. Só no primeiro mês foram recolhidas cerca de 8 toneladas e daí para a frente os montantes têm variado entre 5 e 6 ton mensais.

Os óleos alimentares usados têm também local próprio de deposição, em oleões espalhados por todas as freguesias.

Os Resíduos da Construção e Demolição (RCD), se devidamente triados, são também aceites pela Câmara Municipal. Os inertes, numa zona de aterro e os restantes, mediante combinação prévia, no parque de materiais que a Câmara possui na zona industrial. Enviamos para

reciclagem tudo, inclusivamente os sacos de cimentos, se estiverem convenientemente despejados.

O parque de materiais é uma plataforma que construímos num talude, onde os resíduos recicláveis permanecem até serem levantados por um reciclador que colabora com a Autarquia. Contamos, este ano, converter esse espaço numa espécie de ecocentro, para utilização dos munícipes.

Além da sensibilização para uma boa gestão dos resíduos domésticos, tem sido preocupação da Autarquia a formação dirigida a alguns sectores económicos. É o caso da indústria do calçado e das garagens. Vamos reforçar este ano todas as acções, alargando a outros sectores.

Quanto ao abastecimento de água, os desperdícios actualmente ainda não são contabilizados de um modo totalmente realista. São incluídos nas contas também os consumos próprios da Autarquia em edifícios e espaços públicos ajardinados. Uma das primeiras medidas a implementar foi a colocação de contadores nesses locais. É um plano que ainda está em curso, uma vez que exige um investimento inicial de alguma importância e recursos humanos para o concretizar.

Simultaneamente têm sido realizadas ações continuadas por todo o concelho de “caça à fuga” de água e temos conseguido encontrar muitas situações de roturas, umas mais graves, outras menos, mas todas elas contribuindo para um aumento considerável nos gastos do Município. Foram também feitas intervenções em alguns depósitos. Só aqui a

poupança foi significativa. Em 2011, poupámos cerca de 10,1% na compra de água, em relação ao ano anterior.

A poupança de energia é também uma das preocupações da Autarquia. Começou-se pela actuação a nível da iluminação pública, onde, através da desligação de algumas luminárias e colocação de relógios astronómicos em todos os postos de transformação, se espera obter uma poupança energética na ordem dos 15%.

(*) Engenheira Química, com o grau de Mestre em Ciências do Ambiente, trabalhou, desde a conclusão da licenciatura, em 1977, em diferentes organismos da Administração Central, do Ministério ou Secretaria de Estado do Ambiente. Atualmente está vinculada à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Colaborou ativamente na implementação do PERSU (Plano Estratégico dos Resíduos Sólidos Urbanos), tendo acompanhado as acções de erradicação de lixeiras e implementação de aterros e unidades de reciclagem em todos os Sistemas de Gestão de Resíduos da região norte. Há três anos aceitou o convite para fazer parte da equipa do atual executivo da Câmara Municipal de Arouca. É Vice-presidente da Câmara e Vereadora do Ambiente.