• Nenhum resultado encontrado

3.2 Contextualizando o panorama da pesquisa: formações e fatos socipolíticos de

3.2.2 Dimensão internacional dos IFs: política de internacionalização como espaço

Os IFs compõem o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) que faz parte dos acordos firmados com os organismos internacionais, especialmente a UNESCO. Embora a lei de criação das bases para a Educação Profissional e Tecnológica não mencione explicitamente a dimensão internacional dos programas e currículos, o PDE (BRASIL, 2007) reconhece que o modelo do catálogo nacional de cursos superiores de tecnologia se baseou

[...] nos moldes da experiência internacional, assumiu um papel decisivo na ordenação da oferta de cursos, antes desorganizada na medida em que criou um padrão de referência para os estudantes que buscam formação profissional e para o mundo do trabalho (BRASIL, 2007, p. 34).

A busca deste modelo está direcionada à avaliação desses cursos pelo SINAES. É por meio desse dispositivo de avaliação que são planificadas as expectativas e os itinerários formativos para a formação profissional de nível superior.

Contudo, constata-se que o PDE é um plano que se baseou em modelos de avaliação internacionalizada em outras modalidades de ensino e que visa a atingir metas com base no índice de outros países. A avaliação realizada pelo Índice Desenvolvimento da Educação Brasileira (IDEB, 2005, p. 21) reconheceu que

O IDEB calculado para o País, relativo aos anos iniciais do ensino fundamental, foi de 3,8, contra uma média estimada dos países desenvolvidos de 6, que passa a ser a meta nacional para 2021. O desafio consiste em alcançarmos o nível médio de desenvolvimento da educação básica dos países integrantes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE103), no ano em que o Brasil completará

200 anos de sua independência, meta que pode ser considerada ousada.

Depreende-se, da leitura do trecho acima, que o projeto político de criação dos princípios que regem os IFs é fruto de decisões tomadas conforme os modelos sugeridos pelas Organizaçãoes Internacionais (OI). Sobre esta questão, retomamos as interferências da

103 Embora a OCDE não mantenha relações estreitas com o Brasil, os modelos de políticas educativas (em específico, metodologias e currículos) dos países que fazem parte destas organizações – notadamente dos países europeus e da América do Norte – têm sido adotadas por instituições brasileiras.

UNESCO que, conforme o decreto de Lei nº 9.290104, de 24 de maio de 1946, atesta que os

compromissos do Brasil firmados com esta OI datam de mais de meio século e o oficializa como Estado membro da ONU (na época do governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra), logo após o fim da 2ª Guerra Mundial. Desta forma, a UNESCO é um dos organismos internacionais que têm orientado as políticas educacionais brasileiras, conduzindo a agenda de eventos, a tomada de decisões e os acordos neste domínio.

A referida OI tem sido responsável pelas assinaturas de convenções mundiais direcionadas ao projeto da internacionalização dos currículos para a educação superior que estabelecem objetivos que acolhem os princípios da Declaração Mundial de Ensino Superior para o século XXI: Visão e Ação. Uma das metas deste documento, no tocante à missão da educação formal, da formação e da pesquisa nesta modalidade de ensino é que a qualidade da

[...] educação superior seja caracterizada por sua dimensão internacional: intercâmbio de conhecimentos, criação de redes interativas, mobilidade de professores e estudantes, e projetos de pesquisa internacionais, levando-se sempre em conta os valores culturais e as situações nacionais (UNESCO, 1998, art. 11).

A Conferência Mundial sobre Ensino Superior de 2009, realizada também em Paris, ratificou e manteve esses mesmos princípios e considerou que as instituições de ensino superior “ao redor do mundo têm uma responsabilidade social de ajudar no desenvolvimento, por meio da crescente transferência de conhecimentos cruzando fronteiras, especialmente nos países subdesenvolvidos” (UNESCO, 2009, art. 25), como forma de encontrar soluções que propiciem a difusão do saber. Sendo os IFs instituições que se enquadram nesses mesmos pressupostos, devido aos seus programas de cursos superiores de tecnologias, bacharelados, licenciaturas em diversas modalidades, as políticas públicas de internacionalização orientadas pelos organismos internacionais desde a sua criação têm integrado o desenvolvimento das suas atividades nesta dimensão.

O ano de 2009 foi o marco inicial das atividades relacionadas aos programas e projetos de internacionalização no contexto da EPCT, os quais têm como estratégias a cooperação por meio de parcerias e a mobilidade internacional, com a criação do Fórum de Relações Internacionais dos IFs (FORINTER). Este fórum conta com a participação de 38 Assessores

104 Este decreto dispõe sobre o ato que aprova a Convenção de uma Organização Educativa, Científica e Cultural com as Nações Unidas e um Acordo Provisório, que instituiu a Comissão Preparatória Educativa, Científica e Cultural, concluídos em Londres em 16 de novembro de 1945 e assinados na mesma data pelo Presidente da República de então, o general Eurico Gaspar Dutra.

Internacionais que são os atores responsáveis pela condução dos trabalhos de assessorias, coordenação dos assuntos, programas e projetos relacionados à cooperação internacional, com vistas ao desenvolvimento institucional.

Neste mesmo ano, foi realizado o 1º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, durante o qual também foi comemorado o 1º Centenário da rede dessas instituições e deu-se a oficialização da Política de Internacionalização dos IFs, com a aprovação do Documento Base de Políticas de Relações Internacionais. Este ato contou com a participação de representantes do Ministério de Educação e Cultura (MEC), do Conselho Nacional de Reitores dos Institutos Federais (CONIF) e dos 38 representantes de suas respectivas Assessorias Internacionais. Esse documento é parte do corpus analisado nesta tese.

Do exposto constata-se, portanto, que os IFs são instituições munidas de disposições e dispositivos (BOYER, 2012) que visam colocar em prática, ativamente, a internacionalização como política. Para tanto, como já afirmei, seus profissionais e alunos estão experienciando o desenvolvimento desse tipo de política, conforme atestam os documentos e os atores representados pelas duas PAs a serviço de sua implementação.

No Quadro 7, elenco os principais eventos que atestam a oficialização e a emergência da dimensão internacional dos IFs.

Quadro 7 – Evolução da dimensão internacional da Educação Profissional e Tecnológica

2007

- Assinatura do protocolo Brasil/Canadá – Programa Mulheres Mil Brasil/Canadá.

2008

- Implementação do Projeto Mulheres Mil nos IFs; assinatura protocolo Projeto Brasil França; - Missão de gestores dos IFs ao Canadá – Ação do Projeto Mulheres Mil;

- Fortalecimento da Cooperação Brasil/Estados Unidos.

2009

- Criação da Câmara de Relações Internacionais do CONIF;105

- Visita de delegações francesas e lançamento do Projeto Franco-Brasileiro de Ensino Profissionalizante; - Criação do Fórum de Relações Internacionais dos IFs (FORINTER);

- Criação do Documento Base de Políticas de Relações Internacionais dos IFs; - 1º Seminário Franco-brasileiro de EPCT;

- 1º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica - Aprovação e lançamento da Política de Internacionalização dos IFs.

2010

- Criação e aprovação do Documento de Estratégias de Internacionalização dos IFs: Cultura e Língua pelo FORINTER – Regional Norte;

- Missão de educadores dos Institutos Federais ao Canadá – ação do Projeto de Mulheres Mil; - Consórcio de instituições canadenses com os IFs;

-Missão brasileira de representantes dos IFs no 2º Seminário Franco/ Brasileiro em Paris.

2011

- Programa de Estagiários Franceses para ensino/aprendizagem de francês;

- Realização das atividades dos estagiários franceses;

- Missão da delegação dos IFs no 3º Seminário Franco Brasileiro em Paris, França;

- Encontro de representantes do IFs como instituições canadenses, novembro em Montreal, Canadá; - Lançamento do Programa Ciências sem Fronteiras (CsF).

2012

- Ínicio das atividades do CsF;

- 2º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica realizado de 28 de maio a 1º junho, Florianópolis/SC;

- Recepção de delegações francesas na área de Turismo e Hospitalidade; mecatrônica, eletrônica, saúde pública e mecânica;

- Lançamento do Programa Inglês sem Fronteiras.

2013

- Implementação das ações do CsF;

- Parcerias com o Conselho Britânico e capacitação de aplicadores de testes de proficiência.

2014 - Implementação das ações do CsF;

- Lançamento do Projeto E-TEC Idiomas sem Frotneiras pelo IFSUL;

- Capacitação de pessoal docente e técnico no E-TEC Idiomas sem Frotneiras pelo IFSUL; - Implementação do Programa Professores para o futuro: Finlândia;

- Início dos cursos do Projeto E-TEC Idiomas sem Frotneiras pelo IFSUL; - Lançamento do Programa Idiomas sem Fronteiras.

2015 - Implementação das ações do CsF e IsF;

- Desdobramentos das ações do Programa Professores para o futuro: Finlândia;

- 3º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica;

- 1º Encontro Internacional de Educação Profissional.

2016

- Inclusão das instituições da Rede Federal de Educação, Científica e Tecnológica no Programa Idiomas sem

Fronteiras do Governo Federal (cf. Portaria nº 30 de 23 de janeiro de 2016).

Fonte: Elaboração própria.

Com base no exposto nesta seção, constata-se que os colaboradores deste estudo, ou seja, as duas PAs atuantes na rede dessas instituições vivenciam, na prática, o entrecruzamento de diferentes políticas públicas educacionais em andamento, sem perder de vista que o campo interacional de suas práticas são “lugares de operacionalização de intenções políticas em termos de educação106” (PERISSET; BAGNOUD, 2011, p. 01). Dentre elas, destacam-se aquelas do

contexto imediato ou interno: as ações de criação e expansão dos IFs; a de internacionalização dessa mesma rede, empreendida pelo fórum do gestores e assessores internacionais; as do entorno, tais como as políticas linguísticas tradicionais do Estado e as de acesso ao ensino superior e inclusão social.

Há ainda as políticas governamentais econômicas e de inovação, envolvendo a internacionalização e os idiomas, como é o caso dos programas Ciências sem Fronteiras e Idiomas sem Fronteiras que, embora sejam oriundos de intervenções externas ao contexto dos IFs, excercem forte influência sobre as suas práticas institucionais.

No entanto, é oportuno ressaltar que, embora essas mesmas PAs estejam a serviço do gerenciamento de políticas públicas declaradas oficialmente, elas vivenciam, na prática, a implementação de uma PLE para internacionalização, proposta coletivamente com base nas necessidades do contexto imediato em que elas atuam, isto é, in situ. É exatamente esta modalidade de política que investiguei em seus textos-discursos. Este é o terreno no qual se realizou a pesquisa que constitui a presente tese. A seguir, abordo os colaboradores do estudo e, na sequência, os instrumentos de geração dos dados.