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Para uma melhor compreensão da organização do corpus, disponho, a seguir, uma síntese da temática dos textos que o constituem, de acordo com os propósitos da pesquisa. Para analisá-los, perguntas específicas complementares às questões centrais da pesquisa (cf. seção 3.1) para cada TD foram formuladas, com o objetivo de apreender a tematização destes construtos. O quadro a seguir sintetiza a temática de cada um deles:

Quadro 10 – Procedimentos para análise do corpus

TD1. Documento de Políticas de Internacionalização dos IFs (PIF)

Ordem do contexto das declarações e intenções:

Temática central Internacionalização dos programas de formação dos IFs Problemas

e questões

1. De que modo a política de internacionalização dos IFs está representada neste documento? 2. Que implicações estas representações trazem para a formulação e implementação de PLE?

TD2. Documento de Estratégias internacionalização dos IFs: Cultura e Língua (EICL) Ordem do contexto da planificação

Temática central O processo de organização e planificação da Política de Línguas dos IFs Problemas

e questões

1. Que representações sobre PLE são tematizadas neste documento?

2. Que dispositivos de implementação de PLE são tematizados como centrais neste documento? 3. Que implicações estas representações e os usos desses dispositivos trazem para

implementação?

TD3. Projeto Centro de Idiomas (PCI)

Ordem do contexto da implementação

Temática central Práticas adotadas

Problemas e questões

1. Que representações sobre práticas de PLE são tematizadas neste documento? 2. Que mecanismos são priorizados como centrais?

3. Que implicações estas representações e esses mecanismos trazem para implementação de PLE?

TD4. Entrevistas semiestruturadas

Ordem do mundo representado das práticas

Temática central Representações sobre práticas de PLE em contexto de internacionalização Problemas

e questões

1. De que modo as PAs representam a PLE enquanto estratégia de internacionalização no âmbito dos IFs?

2. Que implicações estas representações trazem sobre as práticas das referidas instituições?

Fonte: Elaboração própria.

Conforme explicita a temática dos textos dispostos no quadro em destaque, eles formam um conjunto que Rastier (1998, 2001a) denomina de corpus textual, ou seja, o sentido dos comentários que eles veiculam só adquire coerência quando analisados no cerne deste mesmo conjunto, pois eles se correlacionam. Conforme orienta Bakhtin (1986), todo texto é sempre a resposta de um já dito. Bronckart (2008b) corrobora esse posicionamento, ao propor o modelo da arquitetura textual (cf. subseção 1.6.1) e admitir que os gêneros são

múltiplos e evoluem continuamente. Por esta razão, eles só podem ser analisados quando situados nas práticas linguageiras que se materializam na forma de textos.

A seguir, exponho a formação do corpus na forma de ciclo (BALL, 1994), considerando que os textos que o formam são construtos do entrecruzamento das políticas públicas educacionais aqui em estudo: a PIF, EICL e os PCIs, o que, a meu ver, trata-se de um processo contínuo interconectado:

Figura 9 – Organização e tratamento do corpus

Fonte: Elaboração própria.

Para proceder à análise deste ciclo, considerei o modelo descendente de investigação dos pré-construídos textuais da ordem do fazer (praxiológicos) e da ordem das representações (gnosiológicos) proposto pelos aportes do ISD (cf. capítulo 1 seções 1.5 e 1.6). Seguindo essas orientações, o estudo dos textos-discursos de PLE perpassou a identificação e a descrição do tipo de atividade social que caracteriza o sistema educacional pesquisado: as atividades de linguagem organizadoras das atividades gerais neste domínio (os dispositivos discursivos organizadores reguladores, planificadores e implementadores; as intervenções dos atores locais e externos); os modelos comunicativos (gêneros de textos), ou seja, os mecanismos de PLE mobilizados no intertexto; o texto enquanto ação de linguagem e os seus elementos organizadores (conteúdo temático, tipos de discurso), textualizadores (coesão e coerência nominal) e enunciativos (vozes e modalizações). A figura colocada em destaque sintetiza e ilustra o sentido descendente dessa abordagem.

Interpretação, recriação e recontextualização de PLE no contexto das práticas de internacionalização dos IFs

Figura 10 – Abordagem descendente da produção dos textos-discursos

Fonte: Elaboração própria.

Com base nesses aportes, a análise dos TDs elegidos nesta tese se pautou por uma visão de conjunto dessa hierarquia, enquanto processo de um fenômeno interconectado e girou, em torno das três dimensões textuais evocada no capítulo 1: praxiológica, a gnosiológica e a linguística no reconhecimento dos pré-construídos sociopolíticos das instituições integrantes dessas formações sociais. Os próximos parágrafos sintetizam o percurso dos aspectos analíticos dos dados, conforme as considerações teórico-metodológicas apresentadas no presente capítulo.

No que concerne aos procedimentos analíticos dos textos que compõem o corpus sob estudo, na prática, procedi conforme instruem Bulea e Bronckart (2008 p. 57-58): no primeiro momento, analisei “as condições externas de produção” dos textos escritos e orais. O objetivo foi apreender as particularidades do campo prático da atividade, ao modo da praxiologia proposta pelos aportes de Rastier (2001a, p. 230-231), isto é, de como esses mesmos textos foram produzidos, o tipo da atividade específica por meio da qual eles estão articulados e que eles comentam, regulam e planificam; a situação física que se refere à inscrição espaço- temporal e social do agente produtor e dos agentes receptores da ação de produção textual, ou seja, os papéis sociais que eles assumem. Nesta etapa, foram considerados o estatuto social

assumidos por eles, o modelo e a reconfiguração do gênero solicitados no arquitexto e explorados em cada etapa de recriação do texto da PLE.

Em seguida, foram analisadas as características linguístico-discursivas desses textos, tendo como referência a arquitetura textual. Em seu subsistema mais profundo, isto é, na infraestrutura, focalizei a “vertente conteúdo” (BULEA, 2014b, p. 518) desses textos, que é o sistema de organização da planificação geral do conteúdo temático e que, por sua vez, corresponde aos temas convocados e priorizados, ou seja, os assuntos e elementos constitutivos dos conhecimentos mobilizados na produção textual. Assim, foi possível acessar as informações fornecidas pelos textos e identificar os segmentos, por meio dos quais foi possível evidenciar e comparar os temas mais recorrentes em relação aos menos privilegiados e aos ausentes, aqueles de sentido geral e específico.

Partindo desse aporte, para explorar a organização temática dos TDs que integram o corpus textual construído sob a ordem dos fenômenos influenciadores do contexto de produção escrita, como é o caso da PIF, EICL e do PCI, a dimensão de suas infraestruturas foram fragmentadas em dois planos de intepretação. No primeiro, o eixo do conteúdo temático (ECT), considerado como a instância demarcadora dos temas e subtemas recorrentes nesses textos. No segundo, o plano dos segmentos de tratamento do conteúdo temático (STCT), que discorrem sobre esses mesmos temas ou subtemas na progressão e planificação textual desses dispositivos. Para interpretá-los, convoquei os contributos de Bulea (2014a, 2014b) e Bronckart (2008a, 2008b), a propósito das reorientações desses construtos, com base na semântica interpretativa de Rastier (1989, 2001a, 2001b, 2006, 2009).

No que concerne aos TDs que formam o corpus textual sob a ordem dos fenômenos influenciadores do contexto de produção oralizada, ou seja, os diálogos construídos nas entrevistas semiestruturadas, essa modalidade de TD se inscreve numa continuidade dos discursos de forma co-construída nos/pelos turnos de verbalizações dos enunciados entre o entrevistador e o entrevistado. Com base no roteiro das questões das entrevistas semiestruturadas realizadas com as PAs (cf. Apêndices C, D, E, F), delimitei os tópicos temáticos priorizados nesses textos dialogados. Seguindo Bulea (2010, p. 90-91), adaptei o seu modelo de análise de entrevista, de acordo com as metas objetivadas nesta pesquisa.

Desta forma, visando a apreender como as representações que as PAs fazem sobre as práticas de PLE estão tematizadas em suas vozes, delimitei os tópicos temáticos das entrevistas em dois segmentos interativos: a) os temas introduzidos pelo pesquisador no instante mesmo de sua interlocução com o entrevistado, que Bulea (2010, 2014a) denomina de segmentos de orientação temática (SOT); b) os segmentos de tratamento temático (STT)

construídos nesta mesma ação linguageira pelo entrevistado, que correspondem às suas interpretações (representações), ao verbalizar o tratamento dado por ele sobre o tema introduzido. Para tanto, procedi conforme Valezi (2014 p. 212-213), utilizando a nomeclatura dessa ferramenta que possibilita a investigação da organização temática das entrevistas. Elaborei e dispus os SOT e os STT dos TD orais em um quadro que possibilitou identificar a progressão dos segmentos na construção dos sentidos nesses textos. A interpretação dos TDs seguiu reorientações do ISD, já discutidas no Capítulo 1.

Ainda sobre este nível, além da estruturação temática, privilegiei as articulações dos tipos de discurso, já que eles constituem a infraestrutura dos textos e traduzem os seus mundos discursivos. Meu intento esteve direcionado à identificação de marcas linguístico- discursivas que explicitassem o grau de implicação e/ou autonomia dos parâmetros da situação de produção e, igualmente, aquelas que apresentassem disjunção e/ou conjunção concernentes ao contexto desta mesma situação. Este procedimento possibilitou apreender o grau de implicação/autonomia e disjunção/conjunção que compreenderam o contexto e situação de produção no universo do trabalho interpretativo e recriativo das instruções (princípios) dos textos de PLE realizado pelas PAs.

Assim sendo, seguindo este direcionamento, foi possível apreender a posição ocupada (de proximidade ou de distanciamento) pelos enunciadores, ao fazer escolhas linguísticas na mobilização temática de acordo com o gênero de texto solicitado pelo contexto e a situação da prática conforme Bronckart (2009, 2011), Bulea e Bronckart (2008) e Rastier (2001a).

Neste nível da análise, busquei compreender as relações existentes entre os agentes envolvidos no processo de enunciação estabelecido pelos textos, com o objetivo de identificar as vozes e os responsáveis pelo dictum (BRONCKART, 2008b, p. 81-82), ou seja, aquilo que é dito, apreendido, pensado nos TDs sob análise. Para tanto, foram mobilizados os recursos de textualização (coesão e coerência verbal e nominal), como forma de ter acesso às marcas de pessoa e espaço-temporais do agir linguageiro. Esta etapa favoreceu o acesso às modalizações que permitiram identificar com mais clareza a responsabilização enunciativa, ou seja, aqueles que estão na fonte do dizer dos textos investigados. Tendo apresentado os aspectos metodológicos utilizados nesta pesquisa, o próximo capítulo trata da análise dos dados.

CAPÍTULO 4

FACES DO AGIR DOCENTE E REPRESENTAÇÕES SOBRE PRÁTICAS DE PLE EM CONTEXTO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

Não sendo o sentido imanente ao texto, mas às práticas de intepretação, ele é estabelecido por elas (RASTIER 2001a, p. 118).

Neste capítulo, teço uma análise sequencial dos dispositivos textuais que constituem o corpus desta pesquisa. No primeiro momento, enfatizo os aspectos da exterioridade textual que determinam os traços linguageiros elaborados nas práticas: as propriedades físicas e sociointeracionais, tanto dos parâmetros quanto das condições/situações do contexto de produção desses elementos semióticos. Em seguida, coloco em destaque a descrição da organização temática e discursiva, priorizando os conhecimentos que eles expressam sobre as práticas de PL, bem como as representações que os atores responsáveis por essas mesmas práticas fazem dos processos educacionais no contexto investigado.

Considero, igualmente, os segmentos linguísticos infraordenados – os enunciados – que entram na composição textual, dos quais emanam os tipos de discursos que, ao semiotizarem os mundos discursivos, por meio dos dispositivos de textualização, autorizam as vozes e modalizações a revelarem as representações daqueles que estão na fonte da produção e recepção dos textos de PL. Para iniciar a análise, sigo os procedimentos já discutidos no capítulo 3. Para uma melhor clarificação da sequência dos procedimentos analíticos, classifico, a seguir, os TDs sob estudo em três eixos de categorias, priorizando as instâncias que instruem, prefiguram/planificam e comentam o processo de desenvolvimento de PL e as representações dos atores a seu serviço:

a) Eixo 1 – os TDs do contexto das declarações de intenção e planificação, que instruem e prefiguram as estratégias de internacionalização que, por sua vez, implicam a emergência de dispositivos de uma PL;

b) Eixo 2 – o TD do contexto da prática, que funciona como mecanismo implementador (projeto de centro de idioma) da PL planificada no contexto anterior;

c) Eixo 3 – os TDs orais (entrevistas), que trazem as representações dos responsáveis pela condução desses processos nos IFs. A figura 11 esquematiza essa disposição:

Figura 11 – Eixos dos textos-discursos em análise

Fonte: Elaboração própria.

Com o propósito de responder às perguntas de pesquisa que norteiam o presente estudo, conforme os delineamentos dados no capítulo anterior, fiz uso de materiais semióticos e persegui objetivos. O quadro a seguir traz o percurso dos procedimentos adotados na análise apresentada neste capítulo:

Quadro 11 – Procedimentos para análise dos dados

Perguntas de pesquisa Materiais utilizados Objetivos Procedimento de análise

1. De que maneira dois atores responsáveis pelos projetos de cooperação e mobi- lidade internacional dos IFs interpretam e recriam a PL emer- gente nessas institui- ções em seus contex- tos de práticas? Texto de PIF Texto de EICL Texto PCI Entrevistas

1. Discutir o lugar e o papel social exercido pelo Professor Assessor enquanto ator que (re)interpreta, (re)cria e implementa Políticas de Línguas em seu contexto institucional in situ e ex situ;

2. Analisar como está tematizada a interpretação e a recriação (recontextualiza- ção) da Política de Línguas inscrita nos dispositivos elaborados pelo Professor Assessor em seu contexto de prática;

Comparação do processo que se estende do contexto das declarações ao contexto da prática com a construção dos mecanismos de PL a) Quais representações desses processos emanam dos textos- discursos desses atores?

Entrevistas 3. Investigar se no trabalho de (re)criação de Política de Línguas há graus de submissão, resistência e/ou contra propostas de Política de Línguas pelo Professor Assessor;

Confrontação dos construtos e princípios adotados com os mecanismos de PL elaborados b) Que implicações essas representações trazem sobre as práticas institucionais? Entrevistas

4. Analisar a partir dos textos-discursos desses atores as representações que eles fazem, tanto deste processo quanto de suas práticas neste domínio.

Comparação do dizer representado

com os dizeres escritos

Fonte: Elaboração própria.

4.1 Eixo 1: Ordem dos fenômenos influenciadores sobre o contexto de produção dos