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3 Karol Wojtyla e as relações interpessoais

A – DIMENSÕES DA COMUNIDADE HUMANA

A sociedade realiza-se através da comunidade dos seus membros. A comunidade, por sua vez, é uma realidade essencial para a convivência e para o obrar comum dos homens. O homem realiza-se na comunidade com outros ao mesmo tempo que se realiza através da comunidade.

Karol Wojtyla esboçou duas dimensões da comunidade humana: a dimensão das relações interpessoais, em que analisou a relação «eu-tu» e a dimensão das relações sociais, relativas ao «nós». Para este pensador estas relações têm como base a convivência e a cooperação entre os homens, tornando-se parte da experiência e da compreensão do próprio homem. “A imagem do homem, os começos do seu nascimento e do período relativamente longo do seu desenvolvimento, tem lugar na relação «eu-tu» como também na relação «nós»”261.

Para Karol Wojtyla só a partir do «eu» humano e de uma estruturada subjectividade pessoal do homem é que se pode construir uma análise completa das relações «eu-tu» e, consequentemente, da relação «nós», numa determinada comunidade.

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HORTELANO, António, ibidem. 261

Nas relações interpessoais da comunidade quando se afirma que o «eu» é constituído por um «tu», estamos perante uma afirmação conceptual que tem de ser desenvolvida e estruturada. Karol Wojtyla explicita que o “«tu» é sempre (…) alguém, ou seja, outro «eu». (…) O «tu» é outro «eu» distinto de mim. Pensando e dizendo «tu», eu expresso por sua vez uma relação que de algum modo se projecta fora de mim, mas que ao mesmo tempo retorna também a mim”262. Deste modo o «tu» não só é expressão de separação, mas também expressão de unidade.

Ao pensar-se ou dizer-se «tu», diz Karol Wojtyla, temos de ter consciência de que este homem concreto que sabemos definir, é um homem entre vários homens. Daqui afirma que potencialmente a relação «eu-tu» parte do próprio para todos os homens, embora, esteja sempre ligado só a um. Se este «eu» se liga a mais homens esta relação passa a ser com o «vós», ainda que possa envolver-se numa série de relações com os distintos «tu».

Para esta análise Karol Wojtyla considerou o «eu» e o «tu» como sujeitos pessoais distintos, constituídos plenamente naquilo que é essencial à subjectividade pessoal de cada um.

A constituição específica do «eu» humano através da relação com o «tu», está contida na reversibilidade da relação procedente do «eu» para o «tu» que retorna ao «eu» de onde partiu. Apesar de ainda não constituir uma comunidade, alcança experiência de si mesmo, do seu próprio «eu», que com base nesta relação pode desenvolver um processo de aperfeiçoamento de si mesmo cujo dinamismo está enraizado na subjectividade pessoal.

Karol Wojtyla salienta que o «tu» nos ajuda, na ordem natural das coisas, a confirmar o «eu» e, desta forma, constitui uma ajuda na sua auto-afirmação. A relação «eu-tu» enraíza-se na sua própria subjectividade. A estrutura desta relação é a confirmação da estrutura do sujeito e do seu carácter primário.

“A relação do «eu» com o «tu», se se vê deste modo, constitui verdadeiramente uma experiência de relação interpessoal, ainda que a experiência plena tenha lugar quando a relação «eu-tu» tem carácter recíproco, isto é, quando, ao mesmo tempo, aquele «tu» que se faz para ele o «eu», um «outro» bem determinado; quer dizer, também outra pessoa, faz de mim seu «tu», pode-se dizer que quando dois seres se fazem um para o outro «eu» e «tu», têm experiência da sua relação. Só então nós

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podemos seguir a completa especificidade da comunidade que é própria da disposição interpessoal «eu-tu»”263.

Nesta reciprocidade, a relação «eu-tu» constitui uma experiência real da relação interpessoal, isto é, a relação é o elemento constitutivo essencial da comunidade de carácter interpessoal, própria da reciprocidade da relação «eu-tu».

Para Karol Wojtyla, algumas formas de relação interpessoal «eu-tu», particularmente sobre a amizade e o amor, foram objecto de várias clarificações e tornaram-se num tema privilegiado da reflexão humana.

Tendo presente a dimensão interpessoal de comunidade, específica de todas as relações «eu-tu», Karol Wojtyla pretendeu manifestar o que era essencial do ponto de vista da reciprocidade e das relações concretas na sua subjectividade pessoal. Para isso, teve presente a dimensão interpessoal da comunidade das relações «eu-tu», particularmente, na relação que une os esposos ou os comprometidos, na relação da mãe com o filho e na relação em que duas pessoas inesperadamente se encontram.

Nesta análise, Karol Wojtyla, acrescenta que o homem é um sujeito que para além de existir, também actua. O «tu» ao realizar torna-se objecto para o «eu», isto é, o «eu» faz-se de modo particular objecto para si mesmo nas acções dirigidas ao «tu», formando parte do processo da constituição específica do «eu» através do «tu».

Acrescenta Karol Wojtyla que se “o «eu» (…) se constitui através dos seus actos, e deste modo se constitui também o «tu», como segundo «eu», pela mesma via se constituem também a relação «eu-tu» e os efeitos da relação de ambos os sujeitos, tanto no «eu» como no «tu». O sujeito «eu» experimenta a relação com o «tu» na acção cujo objecto é o «tu» e vice-versa. Através desta acção orientada para o «tu» como objecto, o «eu» como sujeito não só se experimenta a si mesmo na relação com o «tu», mas experimenta-se também de uma forma nova a si mesmo, na sua própria subjectividade”264.

A objectividade da acção e da interacção, para Karol Wojtyla está na origem da confirmação da subjectividade do «eu», uma vez que o objecto em si mesmo é sujeito e representa a subjectividade pessoal que lhe era própria.

Limitando-nos à relação «eu-tu» na sua forma de elemento e, tendo em conta o facto de que nesta relação o «eu» é o sujeito das acções dirigidas para o «tu», então a dimensão essencial da comunidade interpessoal tem um significado metafísico e ético.

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HD, p. 84. 264

A dimensão da comunidade é apresentada como especifica nas relações interpessoais «eu-tu». Nestas relações é revelado reciprocamente o homem na sua subjectividade pessoal e em tudo o que constitui esta subjectividade. O «tu» fica frente a um «eu» como se fosse um verdadeiro e completo outro «eu», através da auto- consciência, mas particularmente, pela auto-possessão e por auto-domínio. Assim sendo, nesta estrutura subjectiva, o «tu» como o outro «eu» tornam presente a transcendência e a aspiração do «eu» ao aperfeiçoamento. “Toda esta estrutura da subjectividade pessoal própria do «eu» e do «tu» (…) através da própria comunidade da relação «eu-tu» revela-se (…) de acordo com a reciprocidade da relação”265.

Partindo da via da relação «eu-tu», como relação recíproca de dois sujeitos, esta relação converte-se na autêntica comunidade subjectiva. Tendo em conta que na comunidade tem lugar a revelação recíproca do homem na sua subjectividade pessoal, este manifesta o significado da própria comunidade na relação interpessoal «eu-tu».

É, pois, através da dimensão da comunidade que se deve manifestar a reciprocidade do homem. Ao revelar-se o homem ao homem, na sua subjectividade pessoal, através da relação «eu-tu», o homem manifesta-se ao outro, através da sua estrutura de auto-possessão e auto-domínio, em ordem a um aperfeiçoamento que se realiza nos actos da consciência, pelo que torna o homem, enquanto pessoa, testemunha da transcendência.

A comunidade interpessoal nas suas relações particulares e recíprocas do «eu » e do «tu» elege a relação de amizade e de amor. Quanto mais profundos, íntegros e intensos forem os laços nestas relações, maiores são a confiança e o abandono, crescendo a necessidade da recíproca aceitação e afirmação do «eu» por parte do «tu».

Na comunidade interpessoal, a base da relação «eu-tu» desenvolve uma responsabilidade recíproca da pessoa pela pessoa. Esta responsabilidade reflecte a consciência e a transcendência que está em aperfeiçoamento por parte do «eu» e do «tu».

“Por comunidade entendemos o que une. Na relação «eu-tu» toma forma a autêntica comunidade interpessoal (em qualquer forma ou variante), se o «eu» e o «tu» persistem na recíproca afirmação do valor transcendente da pessoa (que se pode definir também como sua dignidade) confirmando isto com os próprios actos. Parece que só uma disposição deste tipo merece o nome de communion personarum”266.

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HD, p. 87. 266

O «eu» e o «tu» remetem, indirectamente, para a multiplicidade das pessoas vinculadas pela relação e, remetem, directamente, para as próprias pessoas, enquanto que o «nós», directamente, manifesta uma multiplicidade, indirectamente, remete para as pessoas que pertencem à multiplicidade. O «nós» indica a colectividade de pessoas, à qual se chama sociedade ou grupo social.

O «nós» introduz-nos no contexto das relações humanas e remete para a dimensão de comunidade. Desta forma, deparamo-nos com a dimensão social, distinta da dimensão interpessoal da relação «eu-tu». A dimensão social da comunidade apresenta adequação em relação à pessoa como sujeito, em relação à subjectividade pessoal do homem e ao facto de que todo o homem é um «eu» ou um «tu» e não um «ele».

O «nós» são muitos humanos, muitos sujeitos que na sua multiplicidade existem e agem em comum. A relação de muitos «eu» com o bem comum parece constituir o coração da própria comunidade social, afirma Karol Wojtyla. É, nesta relação que os homens, vivendo a sua subjectividade pessoal têm consciência de constituir um «nós», experimentando esta nova dimensão, distinta da dimensão «eu-tu», ainda que esta permaneça como um «eu» e como um «tu».

Nesta nova relação, o «eu» e o «tu» encontram a sua recíproca relação através do bem comum que constitui uma novidade entre eles. Karol Wojtyla apresenta como melhor exemplo, “o matrimónio, no qual a relação «eu-tu», a relação interpessoal, explicitada ao máximo, adquire uma dimensão social quando os conjugues aceitam nesta relação o conjunto de valores que podem definir-se como bem comum do matrimónio e por sua vez – pelo menos de modo potencial – da família. Em relação com este bem a comunidade manifesta-se no actuar e no existir, sob um novo perfil e junto de uma nova dimensão. É este o perfil do «nós» e, por sua vez, a dimensão social da comunidade de dois (…) que nesta dimensão não deixam de ser um «eu» e um «tu»”267. O «eu» e o «tu» permanecem na relação interpessoal «eu-tu», alcançando o relação «nós» e enriquecendo-se através dela. Esta nova relação social estabelece novas exigências radicais na relação interpessoal «eu-tu».

O «eu» concreto constitui-se na subjectividade pessoal e realiza-se de modo particular através dos actos e do existir «em comum com os outros», inserido na comunidade social, isto é, na dimensão do «nós». A subjectividade pessoal quando se

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realiza na dimensão «eu-tu» tem um significado decisivo em relação ao bem comum. Através desta relação, o «eu» encontra uma confirmação para a sua subjectividade pessoal, distinta da encontrada através da relação interpessoal.

A relação comum de muitos «eu» com o bem comum, através do qual esta multiplicidade de sujeitos se revela como o bem definido pelo «nós», constitui uma expressão particular da transcendência própria do homem enquanto pessoa. Esta relação com o bem comum realiza a transcendência, refere Karol Wojtyla. A consciência, como ponto-chave da auto-realização, remete para a transcendência que está no centro do subjectivo. A transcendência, objectivamente, realiza-se em relação à verdade e ao bem, enquanto verdadeiro, isto é, digno. “A relação com o bem comum que unifica a multitude dos sujeitos num só «nós», deve estar fundada do mesmo modo na relação da verdade com o bem «verdadeiro», ou seja, «digno». Aparecerá então a verdadeira dimensão do bem comum. O bem comum por sua natureza é o bem de muitos, na sua dimensão mais plena é o bem de todos”268.

A multiplicidade do bem comum varia de acordo com o casal, com a família, nação ou humanidade, mas em todas as relações corresponde à transcendência das pessoas, constituindo a base objectiva do seu constituir-se em comunidade social como «nós». A realidade do bem comum define a direcção da transcendência que está na raiz do «nós» humano. Esta transcendência pertence à estrutura do «eu» humano e corresponde-lhe de modo fundamental.

A aspiração para a auto-perfeição é própria do ser humano e dá-se fundamentalmente na dimensão social da comunidade. O bem comum considerado como base objectiva da dimensão social da comunidade constitui a plenitude do bem individual, de cada «eu» de modo individual, integrado em determinada sociedade. O bem comum também apresenta um carácter de ‘super-ordenação’ que corresponde à transcendência subjectiva da pessoa. Este carácter ‘super-ordenado’ do bem comum consiste no bem de cada um dos sujeitos dessa comunidade, definidos como um «nós». Através do bem comum, o «eu» encontra-se a si mesmo de maneira mais plena e radical no «nós». Em suma, diz Karol Wojtyla, o bem comum apresenta-se como um bem de ordem superior.

O facto de o bem comum se apresentar como um bem de ordem superior, correspondente à transcendência da pessoa e à sua consciência, demonstra que o

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problema do bem comum deve constituir o problema central da ética social, uma das vertentes do pensamento de Karol Wojtyla. Especifica o autor que a “história das sociedades e a evolução dos sistemas sociais mostram que – ainda que lutemos sempre pelo «verdadeiro» bem comum, que corresponde à essência da própria comunidade social do «nós» humano e, ao mesmo tempo, à transcendência pessoal que é própria do «eu» humano – os factos falam de um continuo manifestar-se de distintos utilitarismos, totalitarismos ou egoísmos sociais. Até na comunidade humana mais pequena do nós, mas ao mesmo tempo fundamental do «nós» humano, que são o matrimónio e a família, encontramos desvios desse tipo”269.

Acrescenta o autor que quanto maior é o número dos «eu», mais difícil se torna o bem comum da comunidade social. Por isso, há necessidade, em razão da sua superioridade, de respeitar os bens individuais de cada um dos sujeitos da comunidade que se expressam e realizam como um «nós». Desta forma, refere o autor, explica-se o facto da comunidade social e o modo de constituir-se o «nós» através de muitos «eu». Este facto está no fundo da verdade objectiva, vivida de modo autêntico a partir do bem, como verdade de consciência. Em nome desta verdade, os homens chegam aos valores que constituem o bem verdadeiro e intangível da pessoa, particularmente, destacados por Karol Wojtyla.

A comunidade do «nós» que indica a peculiar subjectividade da multiplicidade, em distintas dimensões, designa a forma da multiplicidade humana, na qual se realiza de modo mais perfeito a pessoa como sujeito. Esse será o sentido do bem comum nas suas distintas analogias, e a razão da sua primazia, vivido sempre de modo ético por parte do sujeito pessoal, para Karol Wojtyla. Esta é uma aspiração dos vários «nós», de acordo com a especificidade comunitária de cada um, permitindo a realização da subjectividade de muitos, por exemplo no caso do «nós» do matrimónio e da família. “Parece que só sobre a base duma comunidade social, assim entendida, na qual a multisubjectividade de facto se desenvolva no sentido da subjectividade de muitos, se pode vislumbrar no «nós» humano a autentica communio personarum”270. Contudo, Karol Wojtyla alerta para os obstáculos e disposições desfavoráveis que se opõem a este projecto.

A análise da comunidade social mostra a homogeneidade substancial do sujeito pessoal e da comunidade social, pois o que conta é o reflexo do próprio «eu» humano, da subjectividade pessoal do homem.

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HD, p. 97. 270

A análise da comunidade interpessoal e social realizada pode ter várias consequências. A dimensão social da comunidade e da dimensão interpessoal de diversos modos se compenetram, se contêm e se condicionam. Do ponto de vista normativo, devem formar-se, conservar-se e desenvolver-se. Esta plenitude pessoal remete-nos para o princípio da subsidiariedade.

A análise da comunidade a partir do ponto de vista da subjectividade pessoal do homem, permite-nos estabelecer pontos fundamentais sobre o tema da comunidade. Neste sentido, falar de comunidade somente na base da pessoa como sujeito do próprio existir e agir tanto pessoal como comunitário, em relação com a subjectividade pessoal do homem, permite captar as propriedades fundamentais do «eu» humano e das relações entre eles, tanto das relações interpessoais como das sociais.

O homem como pessoa realiza-se a si mesmo através da realização interpessoal «eu-tu» e ao mesmo tempo da relação com o bem comum, o qual lhe permite existir e actuar juntamente com outros como «nós». Tendo presente a pessoa e as duas dimensões da comunidade, verificamos que a alienação é contrária à participação e, que esta por sua vez se vincula à transcendência e aspira à auto-realização que só é própria da pessoa. Karol Wojtyla define participação como a propriedade em virtude da qual o homem tende para a auto-realização e se realiza actuando e vivendo juntamente com os outros. Esta definição tem a sua origem na pessoa enquanto sujeito, no «eu» e não no «nós». Em Pessoa e acto, confirma que a participação deve ser entendida como uma propriedade do homem que corresponde à sua subjectividade pessoal tanto na dimensão interpessoal da comunidade «eu-tu», como na dimensão «nós», isto é, como expressão da transcendência pessoal e como confirmação subjectiva da pessoa. Esta transcendência para o bem cria nele a abertura para outra pessoa. Por isso, o sentido do verdadeiro bem comum, a sua plena dignidade é na ciência o objecto central da ética social, isto é, o objecto da máxima responsabilidade. O homem na sua plena verdade, enquanto pessoa, manifesta-se através da relação «eu-tu», na medida em que estas relações têm o perfil da autêntica communio personarum. A participação entendida como propriedade de cada um, em virtude da qual cada «eu» se realiza vivendo e agindo, não contradiz, segundo Karol Wojtyla, o significado da comunidade social, pelo contrário, assim concebida pode ser garante da realização do «nós» humano em toda a sua autenticidade, como verdadeira subjectividade de muitos. Uma “participação assim concebida (…) parece condicionar a autêntica communio personarum tanto nas relações do «nós» como também nas relações interpessoais «eu-tu». Tanto umas como outras

consistem numa abertura, tanto umas como as outras se configuram sobre o plano da transcendência própria da pessoa. A relação «eu-tu» abre directamente o homem ao homem”271. Participação significa voltar-se para o outro «eu» com base na transcendência pessoal, voltar-se para a verdade plena do homem, isto é, para a humanidade. Esta humanidade nasce da relação «eu-tu», mas com o «tu» a voltar-se para o «eu». A participação nesta relação equivale como realização da comunidade interpessoal, na qual a subjectividade pessoal do «eu» e do «tu» se funda, garante e cresce nesta comunidade.

O contrário da participação é a alienação, conceito proveniente da filosofia marxista e que constitui um dos elementos da moderna antropologia sobre o homem. A alienação, para Karol Wojtyla, contribui para que o homem se prive da possibilidade de realizar-se na comunidade, tanto na dimensão social como interpessoal. Se se trata da dimensão social, os factores alienantes manifestam-se, no sentido, de que a multiplicidade dos sujeitos humanos não pode desenvolver-se no «nós» autêntico.

A alienação como antítese da participação, na dimensão social limita ou pode até destruir o «nós» humano, não só em relação ao «eu», mas também “como nos ensina a história passada e a contemporânea, a nível de grupos inteiros, ambientes, classes sociais ou até nações inteiras. (…) o «eu» fica separado, privado de contactos, e por isso, não se revela plenamente nem sequer a si mesmo. Desaparece, então, nas relações interpessoais, o «próximo», que fica reduzido ao «outro» ou, também, ao «estranho», ou até, ao «inimigo»”272.

A partir da comunidade humana nas suas duas dimensões a alienação desumaniza e des-subjectiviza a pessoa. A participação como antítese da alienação confirma e faz emergir a pessoa como sujeito, capaz de auto-realizar-se tanto nas relações inter-humanas como nas sociais, garantindo a transcendência da pessoa em toda a sua dimensão.

Na ética a realidade da sociedade humana fundamenta-se na dimensão social de toda a natureza humana individual. O homem é um ser com dimensão social que lhe permite criar relações entre pessoas, em toda a ordem inter-humana. Nestas relações, a manifestação primordial está vinculada à ordem do amor do homem e da mulher. A