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de Novembro de 1946, com vinte e seis anos, partiu para Roma por decisão do Cardeal Sapieha, pois tinha sido um aluno brilhante e deveria prosseguir estudos

doutorais de Teologia, no Ateneu Pontifício de São Tomás de Aquino, conhecido como o Angelicum. O Padre Karol Wojtyla acompanhado pelo colega Starowieyski chegou no final de Novembro a Roma.

O fascínio de cruzar fronteiras, de conhecer novos lugares, novas culturas, novas gentes, concretizou-se no dia em que começaram a atravessar metade da Europa para ir para o “Angelicum” dos dominicanos. “Era a primeira vez que eu cruzava as fronteiras

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da minha Pátria. Pela janela do comboio em movimento, contemplava cidades conhecidas só pelos livros de geografia. Vi pela primeira vez Praga, Nuremberga, Estrasburgo, Paris onde parámos”57.

Por escolha do Príncipe Cardeal Sapieha ficaram a residir no Colégio Universitário Belga. Este local onde residiam 22 padres estudantes e seminaristas era pequeno, extremamente frio no Inverno e quente no Verão. O edifício exterior com jardim não deixava adivinhar a pobreza do seu interior. Os alunos tinham uma secretária, uma cadeira, uma cama e uma latrina. A alimentação também era muito pobre. Estes aspectos para o Padre Karol Wojtyla eram pouco relevantes, pois a vida na Polónia, atendendo ao anteriormente exposto, era ainda mais austera. Mas este Colégio Universitário tinha o que mais importante havia para este jovem estudante. O ambiente era “intelectualmente vivo e pleno de discussões sobre a nouvelle theologie, a «nova teologia», associada aos dominicanos Marie-Dominique Chenu e Yves Congar e aos jesuítas Jean Danielou e Henri de Lubac, que mais tarde desempenhariam um significativo papel no Concílio Vaticano II”58. Para além da perspectiva da «nova teologia», o Padre Karol Wojtyla pode desenvolver o seu talento de poliglota, uma vez que havia residentes que falavam o francês, o alemão, o italiano e o inglês. Outro dos aspectos positivos era a sua localização, pois ficava perto do “Angelicum”.

Não se tendo esquecido do conselho do reitor do seminário de Cracóvia que lhe “dissera que era tão importante «aprender a própria Roma» como estudar, Wojtyla seguiria este conselho. Wojtyla explorou catacumbas, igrejas, cemitérios, museus e parques da capital da cristandade com amigos estudantes, que conheciam tanto aqueles locais como a sua história”59.

Mas os seus horizontes estavam para além da cidade de Roma. Sempre que se proporcionava, nas férias, iria partir à descoberta da Europa, que enfrentava a ameaça da secularização.

Este jovem pensador que presenciou a falta de respeito e de dignidade com que foram tratados vizinhos, colegas, professores e amigos “sob a ocupação nazi, chegaria gradualmente à convicção de que a crise no mundo moderno era sobretudo uma crise de

ideias, uma crise da própria ideia do ser humano”60.

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DM, op. cit., p. 59. 58

WEIGEL, George, op. cit., p. 82. 59

WEIGEL, George, ibidem. 60

Durante as férias da Páscoa com alguns colegas do Colégio, os jovens padres polacos visitaram San Giovanni Rotondo, no Sul de Itália, Nápoles, Capri, Monte Cassino, Assis, Subiaco e Paris. Karol Wojtyla recordou como momentos mais significativos desta viagem, o facto de se ter confessado ao Padre Pio e de o ter visto celebrar a eucarístia com muito sofrimento físico; o ter visitado o local onde nascera a Ordem Beneditina e o metro de Paris apinhado de pessoas, que segundo ele era um local extraordinário para a contemplação.

Em Julho de 1947, concluiu com nota máxima, o Mestrado em Teologia.

No Verão de 1947, com a ajuda económica do Príncipe Sapieha, o Padre Karol Wojtyla e o colega Starowieyski viajaram pela Europa. Em França encontraram-se com padres trabalhadores que evangelizavam o proletariado do pós-guerra, o que levou mais tarde a escrever um artigo para o Tygodnik Powszechny. Na Holanda descobriram comunidades vivas e activas, cheias de vigor eclesiástico. No entanto, foi na Bélgica que demoraram mais tempo, um mês, pois o Padre Karol Wojtyla foi integrado numa missão de mineiros polacos, onde celebrou missa, confessou, deu catequese e visitou as famílias.

Ao regressarem a Roma, em Outubro, passaram por Ars, onde São João Maria Vianney, no século XIX, “confessava, ensinava o catecismo e fazia as suas homilias. Foi uma experiência inesquecível”61. Depois de ter lido a sua biografia que o impressionou profundamente, o Padre Karol Wojtyla referiu que “com a sua figura nasceu-me a convicção de que o sacerdote realiza uma parte essencial da sua missão

através do confessionário, através daquele «fazer-se prisioneiro do confessionário”62. Com o regresso a Roma o Padre Karol Wojtyla empenhou-se na elaboração da sua tese de Doutoramento sobre S. João da Cruz que tinha como orientador o padre Reginald Garrigou-Lagrange, “o indiscutível mestre da neoescolástica tradicional (…) rigoroso tradicionalista na sua filosofia e na sua teologia dogmática, mas também mostrava sumo interesse na tradição mística e, em particular, em São João da Cruz”63.

Em Março de 1947 morreu na Polónia de cancro Jan Tyranowski, o mentor que o tinha incentivado a estudar o misticismo carmelita, acompanhado no seu sofrimento diário pelos membros do Rosário Vivo.

61 DM, p. 66. 62 DM, ibidem. 63

Sensivelmente um ano depois, mais precisamente a 14 de Junho de 1948, passou nos exames de doutoramento com muito boas notas. Na defesa oral da tese de doutoramento intitulada “A doutrina da fé segundo S. João da Cruz”, no dia 19 de Junho, obteve a classificação máxima. Apesar dos excelentes resultados, o Padre Karol Wojtyla não pode receber o grau de doutor do “Angelicum”, por falta de condições económicas, pois era necessário ter feito a publicação prévia da tese.

“Ao deixar o “Angelicum”, no Verão de 1948 e regressar à Polónia marcou o final da preparação de Karol Wojtyla para a vida para a qual acreditava ter sido escolhido”64.