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CAPÍTULO 1 – O Sistema de Proteção Social: um resgate na perspectiva da

2.5 Os serviços e benefícios socioassistenciais: arquitetura para a gestão da

3.1.1 Dinâmica socioespacial

A formação urbana da cidade inicia-se no final do século XIX, com a desintegração do sistema colonial, quando, conforme Conserva (2009), começa a se desenhar o processo de urbanização, que vai se intensificar na segunda metade do século XX, com o aumento da população urbana incorporada ao desenvolvimento das atividades industriais e comerciais.

A expansão da cidade segue alinhada ao desenvolvimento do capital mercantil cujos processos de exploração e concentração de poder revelam-se em indicadores de pobreza e deigualdades sociais que historicamente marcaram a fisionomia da cidade, da Paraíba e do Nordeste.

A ocupação de João Pessoa acompanhou a lógica do capitalismo mercantil no Brasil, cuja expansão teve forte intervenção estatal que, ao priorizar investimentos nas regiões Sul e Sudeste, define a posição do Nordeste como exportador de mão de obra, conforme assinala Conserva (2009) ao citar Sposati:

A dinâmica da urbanização nacional, iniciada nos meados do século XIX gerou a divisão social do trabalho entre o Nordeste e o Sudeste e, consequentemente, espaços econômicos diferenciados e desiguais. O Nordeste passou a exercer funções secundárias decorrentes da desarticulação agrária em termos nacionais (SPOSATI apud CONSERVA, et al 2009, p. 37).

O parco investimento no Nordeste, seja pelo o poder público ,seja pelos proprietários da agroindústria brasileira, comprometeu o desenvolvimento econômico da região que, de acordo com estudos feitos por Tânia Bacelar (2000), até década de 1950, caracterizou-se pelo baixo dinamismo, demonstrando incapacidade de continuar impulsionando o crescimento do país. No entanto, houve uma mudança de cenário nas décadas subsequentes, dada a criação de

agências governamentais de fomento ao desenvolvimento e instalação de empresas de grande porte, incidindo diretamente na elevação do Produto Interno Bruto (PIB).

Esse processo reflete as diferentes formas de ocupação das regiões, de modo que a Região Nordeste ficou em desvantagem em relação ao Sudeste, num primeiro momento, pelo papel que desempenhou na colonização nacional, ou num segundo, pela forma como se inseriu na dinâmica de desenvolvimento econômico do país.

Desse modo, a dinâmica ocupacional do espaço urbano brasileiro revela um Estado comprometido com os interesses das forças políticas e econômicas hegemônicas concentradas no sul e sudeste do país. Traduz ainda a necessidade da intervenção estatal na definição contornos urbanos do Nordeste, demandando intervenções profundas por parte do poder público, especialmente, na estrutura urbana, nos seus sistemas de transportes, habitação, dentre outros.

As interpelações desse processo afetam o desenvolvimento socioespacial da cidade de João Pessoa, demarcado pela concentração de um contingente de trabalhadores, na capital e nas cidades circunvizinhas, apresentando baixas condições de moradia e de sobrevivência. De acordo com o IDEME (2011), a taxa de urbanização desta região, no período de 2000 a 2010, soma 92,56%, superando a taxa nacional, de 84,40%, e da Paraíba, de 75,37%.

Para Conserva (2009), o crescimento populacional e a ocupação urbana da cidade ocorrem em condições desfavoráveis de infraestrutura, comprometendo sobremaneira a qualidade de vida da população. Isto se reflete nos altos índices de pobreza, concentração de renda e violência que moldam o relevo da cidade nos últimos anos.

Em 2005, a partir da gestão do então prefeito Ricardo Coutinho27, ensaia-se um novo olhar sobre a cidade, demarcado pelo alinhamento da regulação urbana às determinações legais nacionais e pelo reconhecimento das necessidades sociais como parâmetro da construção do Plano Diretor da Cidade28 como também da implantação e implementação das políticas públicas. Esta concepção inaugurou a inserção de ferramentas e estudos que possibilitassem maior compreensão dos territórios da cidade, suas dinâmicas e interações, capazes de iluminar a gestão na identificação das condições socioeconômicas da população, de suas necessidades, sobretudo, da população que se encontra em situação de vulnerabilidade social (CONSERVA, 2009, p. 10).

27

Eleito pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).

28 Prevê o planejamento, o controle e o uso do espaço urbano, atualizado pelo Decreto N.º 6.499, de 20 de março

Deste modo, a gestão municipal, em 2007, lançou mão da construção do Atlas de Desenvolvimento Humano de João Pessoa e, em 2010, da Topografia da Cidade de João Pessoa, integrando-os como elementos importantes ao planejamento, avaliação e monitoramento das intervenções públicas na cidade.

Outro instrumento importante foi a implantação do Orçamento Democrático da Cidade29 (2005), que definiu a organização da cidade em 14 Regiões Orçamentárias, incorporando a dimensão territorial nas intervenções públicas governamentais de modo a compatibilizar ofertas, demandas e prioridades. O mapa e quadro a seguir representam a cidade conforme divisão político administrativa:

FIGURA 06 – Regiões do Orçamento Democrático do Município de João Pessoa/PB FONTE: Prefeitura Municipal de João Pessoa.

29

O Orçamento Democrático (OD) foi instituído na Prefeitura Municipal de João Pessoa em 2005, como um instrumento de participação popular nas decisões do governo, no que tange o gasto dos recursos públicos. O OD vem para atender a uma demanda existente na sociedade por administrações governamentais com participação popular, transparência nas ações governamentais e controle social sobre os governantes. É através do OD que as pessoas podem interagir com o processo de elaboração, implementação e fiscalização das Leis Orçamentárias do Município, como a Lei de Diretrizes e Bases (LDO), a Lei Orçamentária Anual (LOA) e o Plano Plurianual (PPA).

QUADRO 14 – Divisão Político-Adrministrativa do Município de João Pessoa/PB

1ª Região 5ª Região 10ª Região

02 - Aeroclube 11 - Bessa 12 - Brisamar 35 - Jardim Oceania 31 - João Agripino 38 - Manaíra 51 - São José 01 - Água Fria

16 - Cidade dos Colibris 18 - Costa e Silva 21 - Cuia 23 - Ernani Sátiro 24 - Ernesto Geisel 26 - Funconários 27 - Grotão 30 - João Paulo II 32 - José Américo 50 - Róger 53 - Tambiá 55 - Treze de maio

2° Região 6° Região 1° Região

03 - Altiplano Cabo Branco 13 - Cabo branco

45 - Penha

48 - Ponta do Seixas 49 - Portal do Sol 52 - Tambaú

08 - Bairro das Indústrias 22 - Distrito Industrial 37 - Jardim Veneza X-4 - Mumbaba X-5 - Mussuré 04 - Alto do Céu 39 - Mandacarú 17 - Padre Zé 46 - Pedro Gondim 07 - Bairro dos Estados 09 - Bairro dos Ipês

3° Região 7° Região 12° Região

X-2 - Costa do Sol 40 - Mangabeira 19 - Cristo Redentor 29 - Jaguaribe 58 -Varjão X-3 - Gramame

4° Região 8° Região 13° Região

X1 - Barra de Gramame 42 - Muçumagro

44 - Paratibe

47 - Planalto da Boa Esperança 59 - Valentina

20 - Cruz das Armas 43 - Oitizeiro 15 - Centro 25 - Expedicionários 41 - Miramar 54 - Tambauzinho 56 – Torre 9° Região 14° Região 05 - Alto do Mateus 28 - Ilha do Bispo 57 - Trincheiras 60 - Varadouro 06 - Anatólia 10 - Bancários 14 - Castelo Branco 34 - Jardim Cidade Universitária

36 - Jardim São Paulo R1 – Mata do Buraquinho FONTE: Prefeitura Municipal de João Pessoa.

Contudo a divisão político administrativa da cidade mostrava-se insuficiente para estabelecer um olhar mais apurado sobre as desigualdades sociais que desenham o chão da cidade. Desse modo a construção da Topografia Social da cidade possibilitou uma leitura mais detalhada sobre cidade incorporando a dimensão geográfica e as relações sociais que definem os territórios.

A inserção da dimensão territorial como dipositivo analítico das condições de vida de uma população supõe identificar as múltiplas expressões das desigualdades espaciais, econômicas, culturais e simbólicas. (SPOSATI apud CONSERVA et al, 2010, p, 41).

Essa ferramenta permitiu um novo olhar para a cidade, significou considerar suas delimitações geográficas incorporadas às contradições sociais nas diversas formas de ocupação urbana e intraurbana, possibilitando uma leitura dos territórios vulneráveis que desenham o relevo da cidade, conforme apresenta o mapa a seguir:

FIGURA 07 – Índice de exclusão/inclusão social por bairros de João Pessoa/PB FONTE: Topografia do Município de João Pessoa/2010.

A organização da cidade em áreas geoadministrativas e a identificação dos territórios de maior vulnerabilidade social, apontados na Topografia Social da Cidade, exigem mudanças na maneira como as intervenções governamentais são realizadas, refletindo a construção de ações articuladas entre os diversos órgãos da prefeitura, sobretudo daqueles responsáveis pela implementação das políticas sociais, destacando-se, para efeito desse estudo, a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES) responsável pela operacionalização da Política de Assistência Social no município de João Pessoa.

Os territórios de vulnerabilidades sociais demandam ações intersetoriais como estratégia central no desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas da população, se constituindo um grande de desafio para a implementação das políticas sociais locais.