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4 ESTRUTURA AGRÁRIA E PRODUTIVA DO PARANÁ E PERFIL DAS

4.1 ESTRUTURA AGRÁRIA E PRODUTIVA DO PARANÁ

4.1.1 Dinâmicas contemporâneas da estrutura agrária paranaense

O Paraná ocupa uma área de 199.305,23 km² e apresenta densidade demográfica média de 52,40 habitantes por km², com uma população estimada de 10.444.526 habitantes distribuídos por 399 municípios, com 82,81% da população na área urbana e 17,18% nas áreas rurais (IBGE, 2010). De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, os estabelecimentos rurais ocupam a maior parte do território (73,93%) e observou-se em um curto período uma grande mudança na composição do uso da terra (Gráfico 2). De 1975 a 2017, diminuíram consideravelmente as áreas de lavouras permanentes, seguidas do crescimento das áreas destinadas às lavouras temporárias e pastagens naturais e plantadas. Para compreender melhor essa mudança no cenário contemporâneo, é preciso conhecer o processo histórico de ocupação do estado até o período contemporâneo.

Gráfico 2 – Distribuição dos grupos de área por tipo de uso da terra no Paraná – 1975/2017

Fonte: Censo Agropecuário (2017).

O processo de ocupação do território paranaense teve início a partir de meados do século XVII e, de acordo com Magalhães (1996), passou por três principais ondas de

1 Parte das análises constantes neste tópico tem como referência o artigo “Estrutura Agrária Paranaense: uma perspectiva histórica e desafios futuros”, publicado pela pesquisadora em conjunto com Souza, Dolci e Bazotti na Revista Paranaense de Desenvolvimento, em junho de 2019.

ocupação, efetivadas em períodos e circunstâncias distintas em consonância com os grandes ciclos econômicos verificados no Estado e que delimitaram os contornos regionais de três principais comunidades no Paraná. Há o Paraná tradicional, que abarca desde a área litorânea polarizada por Paranaguá, passando por Curitiba e abrangendo as regiões de campos no centro-sul, que abrigou as primeiras frentes de expansão centradas nas atividades de pecuária de extensão, nas indústrias de erva-mate e de madeira, desenvolvidas em geral em grandes latifúndios e que perdurou até as primeiras décadas do século XX com incipiente nível de desenvolvimento das forças produtivas e baixa capacidade de acumulação de capital.

A segunda onda, que teve início por volta de 1940 no Norte do Estado, foi um prolongamento da atividade cafeeira dominada por São Paulo e propiciou dinamismo às bases da economia paranaense no período subsequente. Já a terceira frente, que foi quase contemporânea à ocupação do Norte, porém um pouco mais recente, povoou o Extremo-Oeste e o Sudoeste do Paraná; esta foi formada principalmente, por colonos provenientes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, voltados à policultura alimentar e à pecuária suína. O processo de colonização dessa região, similar ao sucedido no Norte, desenhou uma estrutura fundiária marcada pela presença da pequena propriedade familiar. Ressalta-se que o ciclo do café deflagrou a etapa de expansão acelerada da fronteira agrícola paranaense entre as décadas de 1940 e 1960 e constitui um marco fundamental de análise para a compreensão da história recente da economia e da sociedade paranaense (MAGALHÃES, 1996).

Para Silva (1996), esse processo de ocupação implicou em transformações da estrutura agrária paranaense que teve dois movimentos sucessivos opostos: primeiro, o aumento de pequenos produtores com precária forma de acesso a terra (parceiros, arrendatários e posseiros) que ocorreu entre 1930 a 1960 e, em seguida, sua rápida redução, na primeira metade da década de 1970, que foi um período de intenso êxodo rural devido ao avanço do capitalismo no campo. Ressalta-se que o início dos anos de 1960 correspondeu a um período de discussões sobre a reforma agrária, com a subsequente implementação da modernização conservadora no período de ditadura militar (DELGADO, 2005; SILVA, 1996).

No período entre 1975 e 1985, houve diminuição do percentual de estabelecimentos2

com menos de 10 ha e aumentou o percentual daqueles com mais de 1.000 ha (Gráfico 3). Em compensação, no mesmo período, houve uma pequena diminuição da área ocupada por

2 Estabelecimento rural é toda unidade de produção/exploração dedicada, total ou parcialmente, a atividades agropecuárias, florestais e aquícolas. Independentemente de seu tamanho, de sua forma jurídica (se pertence a um produtor, a vários produtores, a uma empresa, a um conjunto de empresas etc.) ou de sua localização (área rural ou urbana), todo estabelecimento agropecuário tem como objetivo a produção, seja para venda (comercialização da produção) ou para subsistência (IBGE, 2017).

estabelecimentos dos estratos com menos de 100 ha e um ligeiro aumento da área das propriedades com mais de 100 hectares (Gráfico 4). Assim, observa-se que os estabelecimentos de até 100 hectares em 1975 representavam mais de 90% do total de estabelecimentos existentes no meio rural paranaense. Em termos de área ocupada, o período mais representativo foi 1975, com 45,64%.

Gráfico 3 – Distribuição percentual dos números de estabelecimentos por estratos de área total – 1975 a 2017

Fonte: Censo Agropecuário (2017).

Após esse período, a área ocupada pelas pequenas propriedades diminuiu gradativamente até chegar a 2017 com apenas 31,39% da área total. Nas informações apresentadas (Gráfico 4), observa-se a expansão das áreas pertencentes aos latifúndios e a diminuição das áreas dos pequenos produtores, convergindo com as análises de Delgado (2005), Martins (1999) e Fernandes (2017), de que, no período da ditadura militar e no período subsequente, o foco das políticas governamentais foi de modernização dos latifúndios para aumentar a produtividade agrícola. Esse cenário implicou altos investimentos em equipamentos e insumos agrícolas, acompanhado do necessário aumento da quantidade de terras por proprietário. Para Fleischfresser (1988), as transformações ocorridas nesse período foram motivadas por alterações na base técnica da produção agropecuária, desagregando a antiga forma de se produzir e, em consequência, modificando as relações sociais entre a

população residente no meio rural. É de se observar que, em 1970, a frota de tratores do estado era de cerca de 18 mil unidades, passando para cerca de 81 mil em 1980.

Gráfico 4 - Distribuição percentual da área dos estabelecimentos por estratos de área total no Paraná – 1975 a 2017

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário (2017).

No fim da década de 1990 e início dos anos 2000, não houve aumento significativo na área ocupada por estabelecimentos rurais com menos de 10 ha, nem entre 10 ha e 100 ha. A área de grandes estabelecimentos teve uma redução de apenas 0,23%. Em contrapartida, o maior aumento no percentual de terras no período entre 1995 e 2006 foi no estrato de 100 a 1.000 ha. Já, entre os anos de 2006 e 2017, como mostra o Gráfico 4, apenas o estrato com mais de 1.000 ha apresentou crescimento em termos de área e todos os demais estratos foram reduzidos, o que evidencia que continuam vigentes as políticas de apoio ao aumento de produtividade para o agronegócio (SAUER; LEITE, 2012), que requer extensões maiores de terra para viabilizar toda a estrutura produtiva.

O processo de modernização no Estado do Paraná incluiu a implementação de lavouras de grãos, principalmente de soja e milho, com o apoio de políticas governamentais de crédito rural para investimentos em alta tecnologia e foco no aumento da produção. Os investimentos realizados nesse período tiveram como foco principal a inserção da produção de soja (Gráfico 5), cuja área plantada cresceu cerca de 148,4% e a produtividade que era de 2.091 (kg/ha) em 1976/77 chegou a 3.508 (kg/ha) em 2017/18 (Gráfico 05). Quanto à

produção de milho, houve aumento da produtividade de 129,3% da safra de 1976/77 para a safra de 2017/18.

Gráfico 5 - Produção de soja e milho em hectares, toneladas e produtividade (kg/ha) – Paraná – 1976/1977 – 2017/2018

Fonte: Brasil. CONAB – Grãos série histórica (2019).

Em síntese, a análise dessas informações e dos dados históricos sobre o Paraná mostra que, de um lado, o Estado possui um grande número de pequenas propriedades que ocupam áreas reduzidas de terra e, por outro lado, há um pequeno número de propriedades com grandes extensões de terra atuando na produção de commodities, que tem avançado sua fronteira ao longo do tempo. Levando em conta a formatação da estrutura agrária contemporânea do Paraná e considerando que as ações e políticas implementadas ao longo dos anos no Brasil têm corroborado para esse cenário e para a própria participação da agricultura familiar na produção de commodities, no próximo tópico analisar-se-á a participação da agricultura familiar na produção de alimentos no estado.

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