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Dinâmicas do Empowerment, Capital Social e Ação Organizada no Contexto

1. Construção da Arquitetura do Enquadramento Teórico 45

1.3. Participação e Empowerment na Encruzilhada do Desenvolvimento 115

1.3.2. Dinâmicas do Empowerment, Capital Social e Ação Organizada no Contexto

De acordo com as perspetivas de desenvolvimento e participação apresentadas anteriormente, demos a conhecer a importância do empowerment da comunidade nas po- líticas e práticas de desenvolvimento comunitário. De facto, numa primeira aproximação, somos levados a considerar que o uso do empowerment no desenvolvimento comunitário

pode ser visto como parte de um processo de capacitação da comunidade para dinamizar a sua participação na tomada de decisões, nomeadamente dos grupos mais vulneráveis, entre as quais as mulheres, (Oakley & Clayton, 2003, p.13). Por outras palavras, o empo-

werment pode ser perspetivado como uma abordagem orientada para o desenvolvimento

centrado nas pessoas, sobretudo ao nível das comunidades mais “pobres” (Soetomo, 2011, p. 65).

Mas o que entendemos de empowerment? De uma forma sumária, Carla Pinto (2013, p. 51) argumenta que se seguirmos o seu sentido à letra, «empowerment» significa mais poder. Esta autora afirma ainda que quando usamos este conceito de empowerment não estamos a referir ao poder como uma relação de força de A sobre B, pelo que o seu uso deve distanciar-se da noção de poder autoritário e de dominação (Pinto, 2013).

Podemos encontra o uso do conceito em vários campos. Por exemplo, segundo Cunning, Hyman & Baldry (1996) e Casaca (citado por Silva, C., 2004, pp. 46-77), entre outros, “o conceito empowerment na área das organizações refere-se ao processo medi- ante o qual a responsabilidade pelos níveis de qualidade e de produtividade e pelas con- dições de trabalho desce até ao ponto de produção (descentralização de poder). Parafra- seando a autora, embora o termo empowerment seja utilizado por alguns autores como

empoderamento, ele não é de fácil tradução em português, porque reúne dois conceitos fulcrais: poder e responsabilidade. Neste sentido, argumenta ainda a autora que quando se afirma que os trabalhadores duma organização se encontram empowered, significa so- bretudo que se admite que eles estejam a assumir responsabilidades que não detinham e que correspondiam a funções de chefia, tais como o controlo da qualidade, a manutenção do equipamento e a resolução de problemas relativos ao seu trabalho no nível da numa organização” (Silva, C., 2004, pp. 46-77).

Ao fazermos uma analogia do descrito acima para os membros das comunidades, remete-nos no reconhecimento que os mesmos podem possuir capacidades para agir e, assim, assumir responsabilidades e poderes para decidem sobre assuntos que afetam as suas vidas num dado espaço social, movendo as mudanças contra a “tirania” instalada (Kesby, 2005; Hickey & Mohan, 2004, 2005). Por outras palavras, na linha do pensa- mento de Cunning, Hyman & Baldry (1996), “a discussão do empowerment remete-nos para a abordagem do poder, sendo, todavia, um termo ambíguo já que o poder não é simétrico e/ou as responsabilidades e as margens de autocontrolo são sempre limitadas” (Silva, C., 2004, pp. 46-77).

De relevar que foi na década de 1970 que surgiram os primeiros trabalhos analíti- cos que influenciaram a ênfase do conceito do “poder” na discussão e reflexão sobre os processos de desenvolvimento. Foi um período marcado por amplos debates entre os teó- ricos e as escolas de análise tais como as da “modernização” e as da “dependência”, e que vieram colocar a nu a relação assimétrica entre “poder” e “pobreza” como as causas do subdesenvolvimento de certos países (Long referido por Oakley & Clayton, 2003).

A partir de 1980, surgiram os trabalhos que colocaram em ênfase o conceito de

empowerment (Pearce & Stifel, Galjart, Bashin, Rahmen, referidos por Oakley & Clay-

ton, 2003), sendo tais trabalhos elaborados por autores que privilegiavam as perspetivas da escola do “desenvolvimento alternativo”, contrastando assim com uma nova visão face às perspetivas da escola de modernização que imperavam até à data. De relevar ainda que, ao mesmo tempo, o conceito de participação passou igualmente a assumir uma clara influência ao nível do pensamento e das práticas de desenvolvimento (Oakley & Clayton, 2003, p. 7).

Podemos encontrar imensa literatura que descreve e esgrimam argumentos sobre o conceito do empowerment num contexto de desenvolvimento comunitário, nomeada- mente, os elaborados a partir de 1990, entre os quais, os trabalhos de Friedmann (1996), Van Eyken, Criag & Mayo, Rowlands, entre outros tal como salienta Oakley & Clayton (2003, p. 9-10). Tratam-se de autores que procuraram analisar e clarificar o conceito, mas a maioria colocou em ênfase do debate a noção de “poder”, considerando-o como um um conceito fulcral para a compreensão da mudança social decorrente dum processo no âm- bito do desenvolvimento comunitário.

Para estes autores, a ideia de poder que subjaz no empowerment dum processo de desenvolvimento comunitário pode assumir dois sentidos importantes e que são: a) o po- der, entendida como uma transformação radical e a confrontação entre os que têm e os que não têm poder, cujos defensores privilegiam os efeitos nos padrões de mudança exis- tentes, considerando que a aplicação do empowerment será possível induzir uma mudança significativa; b) um segundo sentido de poder é o utilizado por Paulo Freire (1971, 1975), e que diz respeito ao aumento da consciencialização e o desenvolvimento de uma “capa- cidade critica no seio dos marginalizados e oprimidos. Trata-se na ênfase do poder de ‘fazer’ e de ‘ser capaz’ para pensar e agir, e no controle das situações” (Freire, 1971, 1975). Por outras palavras, este segundo sentido à moda de Paulo Freire, se refere “ao reconhecimento das capacidades de tais grupos ‘desfavoráveis’ para agir e desempenhar um papel ativo nas iniciativas de desenvolvimento” (Oakley & Clayton, 2003, p. 10), que, em última instância, traduz-se numa clara aceitação destes grupos como atores legítimos no processo de desenvolvimento (Oakley & Clayton, 2003, p. 10). Esses dois pontos de vista, oferecem interpretações distintas sobre o significado do “poder” e as tentativas de clarificação do empowerment no contexto do desenvolvimento, remete-nos à considera- ção de que o “poder” é, em essência, a base da riqueza, enquanto o des-empoderamento é a base da pobreza.

Assim sendo, parafraseando Long (citado por Oakley & Clayton, 2003), a reflexão sobre o empowerment comunitário ancora no debate entre os que têm poder e os que não têm para decidir sobre as mais diversas questões de sobrevivência. Assim sendo, tanto os “empoderados” como os “desempoderados” são indubitavelmente as principais catego- rias de atores a ter em atenção para a compreensão da dinâmica de qualquer processo de desenvolvimento (Oakley & Clayton, 2003).

Um outro autor que subscreve as linhas descritas acima é Thomas (2000, p. 35). Para o autor, o empowerment é um processo desejado pelos agentes de desenvolvimento porque toma em consideração a promoção da capacitação de todos indivíduos, incluindo os “pobres”, sugerindo em concreto que estes devem tomar o controlo direto do rumo das suas vidas. Ainda segundo o autor, uma vez habilitada a fazê-lo, as pessoas pobres, podem tornar em agentes do seu próprio desenvolvimento. Por outras palavras, para Thomas

(2000), o empowerment permite o melhoramento das capacidades dos pobres para assu- mirem a responsabilidade máxima dos seus próprios problemas, razão pela qual todas as pessoas devem ser habilitadas (ou capacitadas) para melhor atender as suas próprias ne- cessidades.

Face ao exposto, somos levados a considerar que o interesse pelo empowerment

reside na tentativa ou esforço concetual para compreender as condições de mudança numa dada realidade social, admitindo que veicula na realidade social injustiças de ordem di- versa, desde a dominação de um grupo sobre outro, à dominação exacerbada da economia e da política na vida social. É pela constatação dos efeitos nefastos da forma como a concentração de determinados grupos económicos exercem no mundo, gerando enormes bolsa de pobreza e exclusão que Friedmann (1996) justifica a necessidade do empower-

ment para melhorar as práticas sociais e redesenhar os espaços de vida e os espaços eco-

nómicos, quer da economia global quer da economia domestica, para combater a pobreza. Para o autor, a presença da pobreza coloca em evidência o (des)empowerment social e político, minando o acesso dos pobres do exercício do poder social (Friedmann, 1996, p. 8).

Neste sentido, quando referirmos ao empowerment num contexto de desenvolvi- mento, assumimos que o empowerment está relacionado com o processo de democratiza- ção ao nível da comunidade. Tal como notam Oakley & Clayton (2003, p.22) o empower-

ment só pode estar relacionado com a democratização da sociedade, cujo processo deve ser entendido como a base da conceção das estruturas e das práticas sociais. Acrescenta ainda Korten (citado por Oakley & Clayton (2003) que o amplo apoio a processos de

empowerment representa a aceitação da democratização como meio para a construção do

“poder do povo”, razão pela qual as estratégias de desenvolvimento e das suas agências devem ser dirigidas ao fortalecimento da sociedade civil e das organizações de base co- munitárias (Oakley & Clayton, 2003).

Nesta linha de valorização dos efeitos do empowerment num processo de desen- volvimento, Soetomo (2011, p. 67) afirma igualmente que ela é relevante e que existe para contrapor os deficits ou falhas do desenvolvimento fundados na perspetiva do cres- cimento, as abordagens “de cima para baixo”. Para este autor, o empowerment é uma

abordagem transformadora “de baixo para cima”, que privilegia a forma mais descentra- lizada das ações, estando essencialmente orientada para capacitar os atores para a apren- dizagem e a autossuficiência na gestão social (Soetomo, 2011, p. 72). Por conseguinte, não é de admirar que este conceito central no discurso e na prática do desenvolvimento tenha atraído as ONG nacionais e internacionais, que a partir da década de 90 do século XX tenha passado a incorporar o empowerment como um objeto operacional das políticas e programas, bem como em data recente, passou a ter uma crescente presença nos discur- sos oficiais das agências governamentais de desenvolvimento (Oakley & Clayton, 2003, p. 9).

Importa ainda salientar que Thomas (2000) argumenta criticamente que um pro- cesso de empowerment só será bem-sucedido se tiver em linha de conta o envolvimento de mudanças nas estruturas de poder, quer a níveis locais quer nos mais amplos, a níveis nacionais e internacionais. Para ilustrar esta situação, Korten (citado por Thomas, 2000) apresenta o seguinte: “algumas ONG propuseram o desenvolvimento centrado nas pes- soas com as intervenções participativas nos Sucos. Tais intervenções são importantes, mas em si mesmo são inconsequentes. O desenvolvimento centrado nas pessoas não ex- clui fenómenos de concentração e abuso de poder e o uso inapropriado dos recursos, es- pecialmente recursos ecológicos. Ele exige uma transformação das instituições e a pro- moção de valores da igualdade no seio da comunidade, para que seja possível redistribuir o poder e realocar a riqueza natural do planeta para um uso que contribua efetivamente para as melhorias sustentáveis no bem-estar humano” (Thomas, 2000, p. 35).

Numa linha igualmente similar, Pinto, C. (2013, p. 51) sugere que o empowerment trata-se de

“um processo de reconhecimento, criação e utilização de recursos e de instrumen- tos pelos indivíduos, grupos e comunidade, em si mesmos e no meio envolvente, que se traduz num acréscimo de poder, psicológico, sociocultural, político e eco- nómico, que permite a estes sujeitos aumentar a eficácia do exercício da sua cida- dania” (Pinto, C., 2013, p. 51)36.

Para a autora, um processo de empowerment é um processo de transformação atra- vés da ação, onde cada sujeito se torna verdadeiramente um participante do seu destino individual e da comunidade de que faz parte, o que implica um trabalho, quer sobre si mesmo quer com os outros (Pinto, C., 2013).

Tomando por empréstimo as teses de Sahley e as perspetivas do PNUD (referidas por Oakley & Clayton, 2003, p. 22) afirmam que o empowerment é uma boa maneira ou aproximação para a melhoria das condições económicas, sobretudo das condições econó- micas dos pobres. Para os autores, uma maior ou menor de participação, democratização e desenvolvimento da capacidade dos pobres depende da maior ou menor inclusão e con- trole dos pobres sobre as oportunidades do campo económico. Não é de admirar que, ao subscreverem este ponto de vista, os autores sugerem que é imprescindível dar o máximo de apoio (“financeiro”) aos pobres para que eles possam obter ou aceder a recursos eco- nómicos tangíveis, tais como o desenvolvimento de microempresas, aspeto que deve ser considerado como central das estratégias para a diminuição da pobreza. É por valorizarem esta perspetiva que, nos últimos anos, assistimos a um aumento dos recursos disponibili- zados pelos países doadores para ajudar os pobres na montagem de pequenas empresas, concedendo-lhes o microcrédito e demais condições para a criação de habilidades empre- sariais (PNUD citado por Oakley & Clayton, 2003).

Não será em demasia salientar aqui que as questões da importância do apoio fi- nanceiro aos países em desenvolvimento fazem igualmente parte do “core business” do discurso e ação do Banco Mundial (The World Bank). De acordo com esta instituição mundial, conforme descrito no seu relatório de 2002, o empowerment define-se como “uma forma para potenciar a expansão dos ativos e as capacidades das pessoas pobres para participar, negociar, influenciar, controlar e responsabilizar as instituições que afe- tam as suas vidas” (BM, 2002, p.12). Ainda segundo o mesmo documento, os autores do relatório do Banco Mundial afirmaram que a pobreza tem um carater multidimensional, razão pela qual as pessoas pobres precisam de uma série de apoios ao nível individual, tais como em saúde, educação e habitação, e ao nível coletivo, tais como a capacidade de organizar e mobilizar para empreender ações coletivas para resolvem seus problemas. O relatório em causa do Banco Mundial sugere ainda que capacitar os pobres requer a re-

moção de certas barreiras, quer a nível das institucionais formais e informais que impe- dem os indivíduos de tomarem medidas para melhorar o seu bem-estar, quer no plano individual ou coletivo que limitam as suas escolhas. De referir que as instituições incluem o Estado, os mercados, a sociedade civil e as agências internacionais, sendo as instituições informais as que incluem as normas de exclusão e controlo social, as relações de explo- ração e a corrupção (Prem, The World Bank, 2002, p. vi).

Merece igualmente referência a perspetiva de Van de Eiken (citado por Oakley & Clayton, 2003) que nos elucida que

“o empowerment é um processo dinâmico em desenvolvimento, centrado na co- munidade local e que envolve a dignidade recíproca, a reflexão crítica, a partici- pação e o cuidado do grupo, através do qual aqueles que carecem da possibilidade de partilhar os recursos existentes ganham um maior acesso e controle sobre tais recursos, designadamente através do exercício de ampliação do equilíbrio de po- deres” (Oakley & Clayton, 2003, p. 12).

Segundo Oakley & Clayton (2003), o empowerment pode manifestar-se em três grandes áreas:

“a) O poder como uma maior confiança na capacidade pessoal para levar adiante certas formas de ação; b) O poder como o aumento das relações efetivas que as pessoas desprovidas de poder podem estabelecer com outras organizações; e, c) O poder como resultado da ampliação do acesso aos recursos económicos, tais como o crédito e os rendimentos” (Oakley & Clayton, 2003, p. 12).

Os autores sublinham ainda que “o desenvolvimento social através do empower-

ment não perspetiva os indivíduos pobres como carentes de apoio externo” (Oakley &

Clayton, 2003, p. 12), mas olha-os de uma maneira mais positiva que se traduz num ali- nhamento dessa perspetiva de desenvolvimento como desenvolvimento alternativo e par- tilhado que reconhece as habilidades e valoriza as pessoas.

Sobre esta questão do poder no quadro das questões do desenvolvimento, Fried- mann (1996) sugere-nos que na luta pela vida ou melhor pela melhoria das condições de vida, as unidades domésticas dispõem de três tipos de poder: social, político e psicoló- gico. Para o autor, é através das diferentes formas de poder que se disputam o alcance da informação, o controlo do conhecimento e das técnicas na produção, pois sem tais poderes não se maximiza a participação nas organizações sociais, nem se controla os recursos financeiros (Friedmann, 1996, pp. 8-34).

Segundo Friedmann (1996), o empowerment pode ser sumariamente entendido como “todo o acréscimo de poder que, induzido ou conquistado, permite com que os indivíduos ou unidades familiares aumentem o seu exercício de cidadania” (Friedmann, 1996, pp. 8-34)37. Entende-se assim que, quando uma economia doméstica incrementa os

acessos a estas bases, a sua capacidade de estabelecer e alcançar objetivos é igualmente aumentada. Um aumento de poder social pode, portanto, ser também compreendido como um aumento no acesso das unidades domésticas às bases da sua riqueza produtiva (Fried- mann,1996, pp. 34-35).

Acrescenta-nos ainda o autor que o poder político diz respeito ao acesso dos mem- bros individuais de unidades domésticas ao processo pelo qual são tomadas decisões par- ticularmente as que afetam o seu futuro como indivíduos. O poder político não significa apenas o poder de votar, é também o poder da voz e da ação coletivas. Embora os indiví- duos possam participar na política com uma base pessoal, a sua voz levante-se não só nas assembleias locais em que participa, mas também, e talvez de forma mais eficazmente, quando se mistura a sua intervenção nas associações politicas de maiores dimensões, tais como um partido, um movimento social ou um grupo de interesses, tais como um sindi- cato de trabalhadores ou agricultores (Friedmann,1996, pp. 34-35).

Quanto ao poder psicológico, o autor, pretende colocar em evidência a força da perceção individual, manifestada essencialmente através dum comportamento de auto- confiança. Podemos ainda acrescentar que o empowerment psicológico é, muitas vezes, entendido como um resultado da ação nos domínios social ou político, embora se possa também resultar de um quadro intersubjetivo. Um sentimento aumentado de força pessoal

poderá proporcionar efeitos recursivos positivos na luta pelo aumento dos seus poderes social e político (Friedmann,1996, pp. 34-35).

Em síntese, na esteira de Friedmann, os proponentes do desenvolvimento alterna- tivo e ou a abordagem do empowerment valorizam a capacitação das famílias e dos seus membros através das três forças atrás referidas, razão pela qual se justifica o apoio à ca- pacitação social dos pobres, incentivando a capacitação política para que eles possam participar nas ações de política e socialmente relevantes.

Tendo presente as noções e a plasticidade dos debates sobre o empowerment que descremos acima, qual é a real importância prática do empowerment para o desenvolvi- mento comunitário? Para responder a essa questão da importância do empowerment, Du- dley Seers (citado por Friedmann, 1996) coloca um novo conjunto de questões sobre o problema do desenvolvimento, tais como: “O que é que está a acontecer à pobreza? O que é que a acontecer ao desemprego? O que é que está a acontecer à desigualdade? Se um ou dois destes problemas centrais estivessem a piorar, especialmente se estivessem os três a piorar, seria estranho chamar ao resultado ´desenvolvimento`?” (Friedmann, 1996, p.1).

Em todo o caso, parece-nos ainda que questionar a importância do empowerment, remete-nos à indagação do sentido e ou finalidade do próprio empowerment, bem como a sua prática num processo de desenvolvimento comunitário. Efetivamente, de acordo com Merriam Webster descrito no Oxford English Dictionary, empowerment possui dois sentidos a saber, sendo um relacionado com a autoridade e poder, e o outro relacionado com habilitar para promover a auto atualização (competências). Assim sendo, colocamos ainda as seguintes questões: Quem é que vai ser o objeto ou o alvo do empowerment? Quais são as condições necessária para dinamizar o empowerment? Para responder a estas questões, sistematizamos alguns autores sobre o empowerment conforme o descrito na Tabela 6.

A Tabela 6 revela-nos que não há único sentido de empowerment, sendo de con- siderar que todos os sentidos de empowerment podem ser entendidos como um processo de mudança ao nível dos indivíduos e dos grupos numa comunidade. Por exemplo, uma comunidade que antes de um processo de empowerment apresente uma fraca participação

e acesso aos serviços públicos, deve revelar que, após a implementação dum processo de

empowerment, apresente sinais de mudança ou transformação das atitudes e comporta-

mentos dos indivíduos duma comunidade.

Tabela 6: O Sentido ou a Finalidade do Empowerment

Fonte: Oakley & Clayton (2003, pp. 37-38).

Para complementar a reflexão em torno do sentido de empowerment como um processo de mudança, Sketty (citado por Oakley & Clayton, 2003, pp. 41-42) chamam a atenção sobre a necessidade de uma clara distinção dos objetivos de empowerment e a compreensão dos modos construção dos vínculos. Para o autor, os objetivos clarificam- nos a natureza interna do empowerment (“empowerment interno”) e a tipologia de víncu- los está relacionada as relações externas do processo (“empowerment externo”) (Tabela 7).

Não obstante os indicadores serem distintos entre o empowerment interno e o em-

powerment externo, o que importa reter é que a finalidade do empowerment está intima-

mente relacionada com o processo facilitador da máxima participação da comunidade num processo de desenvolvimento comunitário, tal como já referimos anteriormente.

Os indicadores do empowerment descritos na Tabela 7 revelam-nos ainda que para garantir a sustentabilidade de um desenvolvimento comunitário e a capacitação dos mais pobres, o empowerment interno surge como uma melhor opção do que o outro tipo de

empowerment (“empowerment externo”), na medida em que tem como objetivos concre-