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1. Construção da Arquitetura do Enquadramento Teórico 45

1.2. Principais Contributos Concetuais e Analíticos sobre o Capital Social 77

1.2.4. O Capital Social no Contexto Desenvolvimento Comunitário 111

Não obstante as consequências e impactos negativos do capital social que men- cionámos anteriormente, é comummente aceite que existem vários “papéis” do capital social que são cruciais e importantes para o desenvolvimento comunitário. Vejamos me- lhor este ponto de vista.

Putnam (referido por Jordan, 2015, p. 14) argumenta que o capital social per- mite que uma sociedade civil se torne mais produtiva e eficiente, através de medidas de apoio mútuo, cooperação e confiança. Se as pessoas confiarem uns nos outros, torna-se mais fácil para a sociedade atender às necessidades públicas e resolver problemas co- muns. Esta é a lógica que subjaz nas propostas do Banco Mundial sobre o desenvolvi- mento dos países do terceiro mundo, tal como sugerem Dudwick, Kauhnast e Jones, Na- rayan, Woolcock & Narayan (citados por Jordan, 2015). Para esta instituição mundial, os esforços que permitam promover os efeitos positivos do capital social, são essenciais para os esforços de desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza.

Grannovetter, Grootaert & Bastelaer e Sabatini sublinham que nos países em desenvolvimento, o capital social é visto como um fator importante na manutenção social, coesão social, e melhoria das oportunidades económicas dos indivíduos (Jordan, 2015). Segundo Bowen as pessoas com conexões sociais fortes tendem a ter uma melhor saúde, encontrar empregos mais fáceis e residir em melhores habitações (Jordan, 2015, p. 14). Além disso, outros autores reforçam a ideia de que o capital social contribui também para o bem-estar das pessoas sob a forma de satisfação da vida, estabilidade económica e saúde física (Uyen & Porcuincula citados por Jordan, 2015). O capital social tem sido igual- mente descrito como um fator determinante da realização educacional (Coleman, Leana & Pil citados por Jordan, 2015). Outros autores sugerem que o capital social promove também práticas colaborativas nas pequenas empresas, contribuindo para serem mais pro- dutivas em certos setores, adotando por exemplo a autogestão coletiva de recursos escas- sos, tais como, a criação de grupos de pescas para a melhoria dos resultados económicos, em geral (Adger, Holland et al., Macke & Dilly citados por Jordan, 2015, pp.14-15).

Com respeito à relação do capital social com o desenvolvimento comunitário, Adger, Flora, Larsen et al., Leonard, Croson & Oliveria, Sharp et al., entre outros (citados

por Jordan, 2015), afirmam que os estudos sobre o desenvolvimento rural indicam que as medidas mais elevadas de capital social estão associadas a níveis mais elevados de ação coletiva e de desenvolvimento comunitário.

Hamdan et al., (2014) concluíram que o capital social é importante para o de- senvolvimento da comunidade (desenvolvimento comunitário) na medida em que contri- bui para a melhoria do desempenho da rede social e da confiança mútua entre os indiví- duos dentro numa comunidade. Para os autores, a ação coletiva e a cooperação que une as pessoas e reforça a coesão social e inclusão, podem aumentar os valores positivos nas redes de vizinhança nas comunidades do terceiro mundo. Todos estes elementos revelam não só uma implicação positiva do capital social, mas desempenham sobretudo um papel importante no combate à pobreza e na melhoria das condições da vida (qualidade da vida) das pessoas ou (da própria comunidade) onde que vivem.

De acordo com Warren et al. (2001) o papel estratégico do capital social na erradicação da pobreza pode ser visto de duas formas. Em primeiro lugar, o capital social pode ajudar identificar os investimentos estratégicos, representando como uma espécie de contribuição social no âmbito das políticas públicas, tais como a nível da saúde pú- blica, segurança, habitação, desenvolvimento econômico e educação. Em segundo lugar, a um certo nível de intervenção, as comunidades pobres podem agir coletivamente, for- mando alianças com atores externos, captando assim os recursos necessários para erradi- car a pobreza. Acrescentam ainda Warren et al. (2001) que o capital social não é uma nova forma de desenvolvimento, mas serve os interesses e os fins do mesmo, tais como a possibilidade de usar o capital social para influenciar a organização e as normas de coo- peração social, estimulando uma comunidade a aceitar ações conjuntas sobre o seu de- senvolvimento com as instituições externas. Em termos estritos, os autores sugerem que o capital social pode desempenhar um papel não só ajudar as famílias a sobreviver, mas também o desenvolvimento de políticas públicas na busca de uma solução sobre a melhor forma de combate à pobreza (González-Gómez, 2014).

Tal como vimos anteriormente, o capital social numa sociedade ou comunidade pode ser operada em vários níveis ou dimensões (bonding-micro, bridging-meso e lin-

king-macro), materializando um capital social do tipo cultural-cognitivo ou relacional-

capital social argumentam que os seus efeitos a nível micro (famílias e amigos), não é suficiente para potenciar o desenvolvimento comunitário. Por exemplo, Jordan (2015) considera que é necessária uma articulação na intervenção entre os capitais a nível meso e macro. Dito de outro modo, o autor sugere uma relação mais “vertical” dos efeitos do capital social, considerando que o bridging-meso capital social referente às instituições e organizações e o linking-macro capital social reportado ao Estado ou às instituições go- vernamentais, desempenham maiores efeitos e mudanças para o desenvolvimento econó- mico da comunidade. Em termos estritos, os resultados dos estudos de Flora (citado por Jordan, 2015) revelam que apesar da presença de um forte capital do tipo de ligação ho- rizontal, bem como incontornáveis oportunidades, tal capital social não se correlacionou com o aumento dos níveis de desenvolvimento económico. Por outro lado, os resultados dos estudos revelaram ainda níveis baixos de ação comunitária em trono de questões do desenvolvimento económico, quando a comunidade apercebe da presença de ameaças para a sua estrutura de poder social.

No entanto, Jordan (2015, p. 16) afirma ainda que, diferentemente de outras for- mas de capital, o capital social funciona nos dois sentidos, desempenhado um papel duplo no desenvolvimento comunitário e no bem-estar na sociedade em geral e na própria co- munidade em particular. Para o autor, o capital social gera impactos positivos numa va- riedade de fatores de desenvolvimento, incluindo a coesão social, o alívio e/ou redução da pobreza, a ação coletiva, a melhoria da saúde, educação e estabilidade económica. Apesar disso, remata o autor que sem uma articulação entre o capital social cognitivo (micro) com o capital social estrutural ou linking (macro) e bridging (meso) capital social, não se dinamizam resultados positivos de desenvolvimento comunitário. Isto porque para Jordan (2015), vincular o capital social permite não só ajudar os indivíduos a lidar com os problemas, mas também ajuda a encorajá-los, promovendo a confiança e a solidarie- dade. Acrescenta ainda o autor que a ponte e a ligação do capital social ajudam as pessoas a avançar na mobilidade social. No entanto, Jordan chama a atenção de que devemos a reconhecer sempre a existência de um lado menos positivo do capital social, as desvan- tagens que possam ter lugar nos esforços do uso do capital social para induzir o desen- volvimento comunitário (Jordan, 2015, p. 17).

Face ao exposto, podemos dizer que o capital social numa sociedade ou comuni- dade sobretudo no contexto de desenvolvimento comunitário não depende apenas de um tipo do capital social, mas também da interdependência e complementaridade entre três tipologias do capital social (bonding, bridging e linking), articuladas com duas dimensões de ação: dimensão cultural-cognitivo (micro); dimensão relacional-estrutural (macro). Assim sendo, transformar uma sociedade ou comunidade para uma vida melhor (quali- dade da vida) não só depende do bonding-micro e bridging-meso do capital social, mas também do linking-macro do capital social que em conjunto desempenham um papel im- portante e decisivo para garantir uma transformação social sustentável e compreensiva numa sociedade ou comunidade, sobretudo em relação à melhoria das condições da vida (qualidade da vida) da própria comunidade onde que vivem.

Em síntese, o capital social é um conceito polissémico e com diversas contradi- ções analíticas, mas que, na ótica de muitos autores, comporta uma multidimensionali- dade que “dificulta” a sua mensuração e ou objetivação “racional”. Apesar das possíveis controvérsias concetuais e críticas, o capital social se assume no plano empírico, pelo menos nas teses colemaniana, putnamiana e fukuyamiana, como um elemento potencia- dor para gerar “novos” espaços democráticos de discussão e difusão de informação, que reforçam as redes formais e informais de apoio social, com benefícios mútuos numa co- munidade, desempenhando assim um papel fulcral no apoio ao progresso económico e social da comunidade de qualquer espaço sócio geográfico.