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DIREITOS E DEVERES DOS PAIS QUE POSSUEM O PODER FAMILIAR SOBRE

As funções do poder familiar, de conteúdo pessoal aos genitores, estão previstas legalmente em três textos: na Constituição Federal160, no art. 229, primeira parte161, no Código Civil162 no art. 1634163, e no Estatuto da Criança e do Adolescente164, no art. 22165. 158

Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores. 159

BRASIL, 2002. 160

Id., 1988. 161

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

162

BRASIL, 2002. 163

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I - dirigir-lhes a criação e educação; II - tê- los em sua companhia e guarda; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder

Ao realizar análises sobre tais funções, Comel166 enfatiza:

Sendo o poder familiar um instituto de proteção do incapaz, que pela pouca idade não tem condições de reger a si próprio e a seus interesses, a lei estabelece quais as funções os pais devem desempenhar no mister de dirigir a pessoa e administrar os bens dos filhos menores. De um lado, diz-se que as funções, ainda que expressamente determinadas no direito positivo, residem mais no campo da ética e da moral do que no jurídico. Toma-se, aqui, a relação paterno-filial no aspecto eminentemente afetivo, fundada nos laços extremamente frágeis e sutis das relações interpessoais, que dificilmente podem ficar circunscritos aos limites da norma jurídica.

Assim, de modo geral, os dispositivos legais enfatizam a função de assistir, representar, criar e educar os filhos (as), tendo os mesmos em sua companhia e guarda, e acatando suas regras e o cumprimento de determinações judiciais se forem necessárias. Segundo Comel167,

O dispositivo constitucional enfatiza o caráter de dever do poder familiar, estabelecendo expressamente no art. 229 que ‘os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores’. Referindo-se expressamente às obrigações dos pais com relação aos filhos menores, a norma vem confirmar o que já se disse anteriormente no sentido de a Constituição Federal ter se tornado a Carta fundamental do Direito de Família, nesse caso do direito de filiação. O dever de assistir, porque estabelecido em sede constitucional como a primeira obrigação dos pais com relação aos filhos menores, deve ser compreendido como uma declaração programática do que constitui o poder familiar. O preceito deixa claro que a obrigação dos pais é extremamente abrangente, obrigando-os a estar presentes na vida do filho, ativa e diuturnamente, numa postura de ação e integração, prestando-lhe assistência de toda a ordem, [...] quais sejam, o dever de criar, o dever de educar, o dever de ter em companhia e guarda e o dever de representação e assistência.

São os deveres estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme ainda a autora acima que sustentam o dever de educar, em suas palavras:

Os deveres constitucionais de criar e educar vêm referidos no ECA no art. 22, inserido nas disposições gerais sobre o direito à convivência familiar e comunitária, que traz o dever de educar e coloca o de guarda e o de sustento que, em última análise, implica o dever de criar, bem como o dever de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.168

exercer o poder familiar; V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição. 164

BRASIL, 1990. 165

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

166 COMEL, 2003, p. 88. 167 Ibid., p. 94-95. 168 Ibid., 2003, p. 95.

E, por fim, Comel169 observa o que os deveres de criar e educar foram constituídos a respeito da competência dos pais frente ao poder familiar, mas vai além destes. Segundo ela:

O Código Civil, por sua vez, ao estabelecer a competência dos pais com relação à pessoa dos filhos no art. 1.634, além dos deveres de criar e educar (inc.I), referidos na norma constitucional, acrescenta, ainda, os seguintes: ter em companhia e guarda (inc.II), conceder ou negar o consentimento para casar (inc.III), nomear tutor (inc.IV) e exigir obediência, respeito e serviços próprios da idade ou condição (inc.VII).

No exercício do poder familiar, cabe aos pais ainda, como encargo pela sua criação, o usufruto e a administração dos bens dos filhos menores, de acordo com o art. 1.689170 do Código Civil171, devendo zelar pela sua conservação, efetuando melhorias, quando necessário, além de pagar os tributos a eles concernentes. Os poderes, entretanto, não ultrapassam a isto, pois não poderão alienar, hipotecar ou gravar de ônus real, sequer contrair obrigações em nome deles que não sejam atinentes aos valores e encargos da administração, salvo por extremo interesse do menor, sob a autorização judicial, com bem explícito no art. 1.691172 do Código Civil173.

Venosa174 amplia seu comentário sobre os direitos e deveres dos pais, afirmando que:

Compete aos pais tornar seus filhos úteis à sociedade. A atitude dos pais é fundamental para a formação da criança. Faltando com esse dever, o progenitor faltoso submete-se a reprimendas de ordem civil e criminal, respondendo pelos crimes de abandono material, moral e intelectual (art. 224 a 246 do Código Penal). Entre as responsabilidades de criação, temos que lembrar que cumpre também aos pais fornecer meios para tratamentos médicos que se fizerem necessários. Sob certas condições o abandono afetivo e intelectual pode acarretar responsabilidade civil que deságua numa indenização. A matéria, contudo, ainda é nova.

É importante frisar também que os deveres e direitos impostos aos pais são incumbências que ultrapassam a relação conjugal, que permanecem existindo mesmo quando

169

COMEL, 2003, p. 95. 170

Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar: I - são usufrutuários dos bens dos filhos; II - têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade.

171

BRASIL, 2002. 172

Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.

173

BRASIL, 2002. 174

houver uma separação, divórcio ou dissolução como especificado no art. 1.632175, do Código Civil176. Segundo Quintas177:

Durante o casamento, os pais estão legalmente investidos dos mesmos direitos e deveres em relação aos filhos, a mesma autoridade para tomar decisões e deveres de cooperar no alcance de uma solução. Quando não estiverem mais juntos encerrarão os papéis de marido e mulher ou companheiros em relação um ao outro, porém os papéis de pai e mãe continuam a existir, com todos os seus direitos e responsabilidades sobre os filhos, salvo se alguma razão especial dite em contrário em benefício do interesse da criança.

Cumpre, portanto, a sua função social, a família, ao dedicar todos os seus esforços para garantir a criação, o sustento e a educação de seus filhos menores, que são atitudes percebidas e importantes em todas as culturas mundiais. E, para tanto, não importará o arranjo social, a forma como a família estará estruturada, o importante será o foco na criança e no adolescente, fazendo cumprir os direitos e deveres inerentes ao poder familiar e previsto na Constituição Federal178 no art. 227179 em riqueza de detalhes.