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3.3 EXTINÇÃO, SUSPENSÃO E PERDA DO PODER FAMILIAR

3.3.3 Perda do poder familiar

A perda ou destituição do poder familiar é a sanção mais grave imposta por um juiz aos pais ou a um dos pais que deixarem de cumprir com os deveres e as obrigações que lhes são próprios e que estão previstos no artigo 1.638214 do Código Civil/2002215, que se

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Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do pátrio poder terá início por provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.

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BRASIL, 1990. 209

SILVA, 2008, p. 29. 210

Art. 163. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do pátrio poder será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou adolescente.

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BRASIL, 1990. 212

Art. 102. No livro de nascimento, serão averbados: [...] 6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. 213

BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Lei de Registros Públicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015.htm>. Acesso em: 18 abr. 2009.

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Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente o filho; II - deixar o filho em abandono; III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; IV - incidir,

referem a castigar imoderadamente o filho, deixá-lo em abandono, praticar atos contrários à moral e aos bons costumes ou incidir reiteradamente, nas faltas do art. 1.637 do Código Civil/2002216. Assim, “se o juiz se convencer de que houve uma das causas que a justificam, por ser medida imperativa, toda a prole e não somente um filho ou alguns filhos.”217

Para Comel218:

A perda do poder familiar é a mais grave medida imposta em virtude da falta aos deveres dos pais para com o filho, ou falha em relação à condição paterna ou materna, estribando-se em motivos bem mais sérios que a suspensão. Será ela imposta quando qualquer dos pais agir desviando-se ostensivamente da finalidade da instituição, pelo que se lhe vai retirar a autoridade, destituindo-se de toda e qualquer prerrogativa com relação ao filho.

Ocorrendo, pois, algum destes atos, portanto, caberá provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse de agir, que através do devido processo legal, com ampla defesa e contraditório, obterá um pronunciamento do judiciário que poderá resultar na perda do poder familiar, conforme impõe o artigo supracitado em consonância com o artigo 24219 do Estatuto da Criança e do Adolescente220, com os detalhes dos procedimentos previstos dos art. 155 a 163 do mesmo estatuto. A perda, com raras exceções, é definitiva.

Ao fundamentar sua decisão o juiz estará, portanto, seguindo não só os mandos da lei, mas posicionando-se sobre um problema de ordem pública de grandes proporções. Sua determinação demandará não só a perda do poder familiar, mas a privação dos vínculos familiares em si. Por isto, sua medida não poderá ser descabida, mas terá que se imbuir de um objetivo maior para a sua aplicação, qual seja:

Qual é o caráter da medida, conclui-se que antes se configura uma proteção aos filhos menores do que uma medida sancionadora ou punitiva ao comportamento dos pais. E nessa seqüência de raciocínio, também é possível afirmar que prescinde de culpa do genitor, senão que basta a imputabilidade da conduta e a necessidade de se ampararem os interesses do filho.221

Deste modo, para cada causa descrita no art. 1.638 do Código Civil/2002, há de se considerar todos os seus agravantes e ponderações em produções doutrinárias e 215 BRASIL, 2002. 216 Ibid. 217 DINIZ, 2007, p. 527. 218 COMEL, 2003, p. 283. 219

Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em procedimento

contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.

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BRASIL, 1990. 221

jurisprudenciais, no ordenamento brasileiro, que tratam especificadamente sobre cada assunto, para que não ocorram injustiças, tanto para a criança, quanto para os pais. Acima de tudo deverão ser preservados os princípios do melhor interesse da criança e da dignidade da pessoa humana.

É o que se percebe na apelação, abaixo transcrita, cuja decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina foi resguardar os direitos da criança e do adolescente, no resguardo de seus direitos fundamentais. Senão, veja-se:

DIREITO CIVIL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PODER FAMILIAR. DESTITUIÇÃO. NÚCLEO FAMILIAR NOCIVO À SAÚDE DOS

MENORES. CONCLUSÃO RETRATADA EM ESTUDO SOCIAL,

AVALIAÇÕES E RELATÓRIOS SITUACIONAIS. PROGRAMAS DE AUXÍLIO À FAMÍLIA. NÃO OBTENÇÃO DE ÊXITO. CONDIÇÕES DE HIGIENE E DE SAÚDE PRECÁRIAS. ABANDONO. RISCOS AOS INFANTES. PAI DESEMPREGADO E QUE VIVE DE BISCATES. MÃE. DESINTERESSE PELOS FILHOS. PLEITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ACOLHIDO. SENTENÇA CONFIRMADA. INSURGÊNCIA RECURSAL DESATENDIDA. Autorizada está a destituição do poder familiar quando evidenciam os autos não apresentarem os pais biológicos condições de exercer, com a indispensável responsabilidade, a paternidade e a maternidade dos filhos menores, descumprindo reiterada e injustificadamente os deveres e obrigações inerentes à condição detida, mantendo-se negligentes, colocando os infantes em situação de risco e mostrando-se infrutíferas todas as tentativas de reestruturar a célula familiar, a fim de viabilizar o convívio familiar dos menores, com o resguardo de seus direitos fundamentais.222

É importante destacar, que a sentença que impuser a destituição do poder familiar (assim como na suspensão) deverá ser averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente, de acordo com o art. 163223 do Estatuto da Criança e do Adolescente224 e art. 102225, inciso VI da Lei de Registros Públicos226, mas na averbação no Cartório de Registro civil competente não pode ter nenhuma informação na Certidão de Nascimento sobre a origem da filiação, para respeitar o princípio constitucional da Igualdade de Filiação.

Percebe-se, portanto, que o poder familiar, é um atributo inerente aos genitores, com direitos-deveres previstos e impostos no ordenamento jurídico e com ampla discussão doutrinária. Conforme foi demonstrado neste capítulo, independente dos arranjos familiares e 222

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n.2008.019405-7. Quarta Câmara de Direito Civil. Desembargador: Trindade dos Santos. Julgado em 23.10.2008. Florianópolis, SC. Publicado em 25 de novembro de 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action>. Acesso em: 02 jun. 2009.

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Art. 163. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do pátrio poder será averbada à margem do registro de nascimento da criança ou adolescente.

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BRASIL, 1990. 225

Art. 102. No livro de nascimento, serão averbados:[...] 6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. 226

mesmo ocorrendo a sua ruptura, não há que se falar em sua destituição simplesmente. Com a fragmentação da família, entretanto, caberá definir o destino da criança e o tipo de guarda que seja adequado ao melhor interesse da criança e do adolescente, em consonância com os demais princípios que sustentam e fortalecem as famílias, e, neste sentido, está à possibilidade da aplicação consensual ou impositiva da guarda compartilhada, que será o estudo do próximo capítulo.

4 A IMPOSIÇÃO DA GUARDA COMPARTILHADA NOS PROCESSOS DE