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Princípio da igualdade entre homens e mulheres

2.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

2.3.3 Princípio da igualdade entre homens e mulheres

Sabe-se que, historicamente, pautado numa postura patriarcal e machista homens e mulheres sempre estiveram em situações opostas socialmente, relegando a elas o espaço privado de sua casa sob a condição inferior em relação ao homem, que detém o espaço público. Conforme Pereira64:

As notícias e registros que temos sobre a origem e evolução da família é de sua estruturação em sistema patriarcal. Daí uma explicação, sem maiores aprofundamentos, da supremacia do homem sobre a mulher. Foi o homem quem construiu o mundo e impôs sua linguagem, seu discurso. O mundo é masculino. Os ordenamentos jurídicos sempre confirmaram isso. A mulher era incapaz, como os loucos e os menores.

Com as transformações sociais, culturais e estruturais com os passar dos séculos, novas lutas e demandas se posicionaram contra este tipo de discriminação. “Há uma 61

AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família. SP: Atlas, 2008. p. 32. 62

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 62. 63

BRASIL, 1988. 64

modificação, uma evolução em todo mundo que aponta para uma tendência única: a reivindicação de uma isonomia de direitos entre homem e mulher.”65 Uma tendência que vem corroborar com o próprio princípio da dignidade da pessoa humana em respeito à ampliação de direitos sociais a todas as pessoas, independente do gênero.

Para Pereira “o que a nova ordem mundial nos traz é um redirecionamento de papéis, na estruturação da família, em que se questiona e redimensiona-se o lugar do homem e da mulher.”66

O princípio da igualdade entre homens e mulheres encontra-se disposto no artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal/8867.

Este dispositivo constitucional influenciou diretamente a organização da família brasileira, alterando consubstancialmente as relações familiares ao estabelecer a isonomia entre os cônjuges e ou companheiros com previsão legal no próprio texto constitucional68 no art. 226, § 5º69 que traz uma nova visão sobre o poder familiar e guarda dos filhos, com reflexos diretos nos julgados, jurisprudências e na conformação do Estatuto da Criança e do Adolescente e Código Civil, e nas partes atinentes ao Direito de Família.

O art. 1511 do Código Civil70, neste sentido, estabelece “a comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”, delineando, com isto uma nova realidade para as formações familiares, até então, desconhecida, mas já exercida, na sociedade.

Tartuce71 esclarece que:

Diante do reconhecimento dessa igualdade, como exemplo prático, o marido ou companheiro pode pleitear alimentos da mulher ou companheira ou mesmo vice- versa. Além disso, um pode utilizar o nome do outro livremente, conforme convenção das partes (art. 1.565, § 1º, do CC).

65

PEREIRA, 2003, p. 55. 66

Ibid., 2003, p. 57. 67

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.

68

BRASIL, 1988. 69

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

70

BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 15 mai. 2009. 71

Esta igualdade, também foi prevista nos artigos 1.56672, 1.56773 e 1.56874 do Código Civil75 ao determinar que o poder familiar será exercido conjuntamente entre o pai e a mãe, conferindo direitos e deveres mútuos em relação aos filhos. Conforme Tartuce76:

Como decorrência lógica do princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros, surge o princípio da igualdade na chefia familiar, que pode ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher num regime democrático de colaboração, podendo inclusive os filhos opinar (conceito de família democrática). Substitui-se uma hierarquia por uma diarquia. Assim sendo, pode-se utilizar a expressão despatriarcalização do Direito de Família, já que a figura paterna não exerce poder de dominação do passado. O regime é de companheirismo, não de hierarquia, desaparecendo a ditatorial figura do pai de família (pater famílias), não podendo sequer se utilizar a expressão pátrio poder, substituída por poder familiar. [grifo no original].

Isto significa também uma modificação, por exemplo, no trato que se tinha na concessão da guarda e dos alimentos, que geralmente eram às mães, agora modificado pelo artigo 1.69477 do Código Civil. Isto trouxe à baila, uma nova função social da família, e principalmente, uma nova função social do pai. Um pai que historicamente não tinha voz ativa nas questões domésticas e que agora, ao compartilhar as tarefas com a mulher/mãe busca também efetivar seus direitos frentes às novas necessidades sociais. Para Pereira,78

No pós-feminismo, o pai divide com a mãe os cuidados com as crianças e os afazeres domésticos; o pai que educa e sustenta não é necessariamente o pai biológico. O filho pode ser adotivo, ou advindo de inseminação artificial heteróloga. Isto significa que a sua função não é essencialmente reprodutiva: o pai pode ser o transmissor de um nome ou de um patrimônio; enfim, pode ter uma função econômica e social.

Esta divisão também é terreno fértil e incentivo para a guarda compartilhada, porque tal modelo terá sucesso na medida em que houver um equilíbrio, uma co- responsabilidade e harmonia nas relações e poderes no interior da família.

72

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:[...] III - mútua assistência;IV - sustento, guarda e educação dos filhos.

73

Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.

74

Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.

75

BRASIL, 2002. 76

TARTUCE; SIMÃO, 2008, p. 36. 77

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

78

Diante disto é de suma importância a efetivação do princípio da igualdade entre homens e mulheres em todas as relações estabelecidas como membros na família: como mãe, pai, filho, filha, avô, avó, enfim, para que possam estabelecer relações democráticas e afetivas.