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<http://www.pmf.sc.gov.br/noticias/index.php?pagina=notpagina&noti=9620>. Aceso em: 27 mai. 2015.

alguns casos muitos/as ficassem acompanhando do lado de fora, devido à falta de espaço.

Foi também neste momento em que houve o batismo da ocupação, que passou a chamar-se Ocupação Palmares, simbolizando as suas origens alagoanas, a negritude e a resistência, em referência ao Quilombo dos Palmares106. O nome escolhido pelos/as ativistas moradores/as da Ocupação Palmares segue uma espécie de tradição muito comum nas ocupações dos/as sem teto que se organizam enquanto ativismo/movimento social. Souza e Teixeira (2009), em sua análise sobre o movimento dos/as sem teto no Rio de Janeiro e em São Paulo afirmam que os domínios do poder e do simbólico (presentes nos conceitos de território e lugar, respectivamente) devem ser tão enfatizados quanto a produção material do espaço numa pesquisa envolvendo movimentos sociais. Para os autores. “é importante buscar compreender como os agentes modeladores do espaço criam imagens espaciais (ou “representações sócio-espaciais”), fenômeno cuja ocorrência se dá frequentemente durante ou após o processo de territorialização” (p. 29). Sobre isso, destacam o simbolismo presente na toponímia que é introduzida pelo movimento, onde os nomes escolhidos para as ocupações ajudam a compreender a importância que de certos valores políticos e programáticos. Em sua análise, os autores comentam que, mesmo não sendo uma “regra”, é usual que as ocupações sejam batizadas com nomes usados como homenagem a importantes ícones das lutas emancipatórias, caracterizando um “investimento simbólico que carrega consigo um variado arco de intencionalidades. A primeira e mais evidente é associar o espaço a algum tipo de luta emancipatória, mas outros elementos podem ser elencados” (p. 58).

Souza e Teixeira (2009) afirmam que

Os nomes das ocupações podem ser agrupados em duas classes: a classe das homenagens a indivíduos específicos, via de regra personalidades que, na história do Brasil [mas também da América Latina e de outras partes do mundo], exerceram algum tipo de papel ou

106 O Quilombo dos Palmares é um dos grandes símbolos de rebeldia, luta e resistência da população negra na historiografia brasileira. Localizado no estado de Alagoas, foi uma grande comunidade livre, formada por escravos/as fugidos/as, principalmente, dos engenhos de açúcar. Chegou a ter uma população de cerca de 20 mil habitantes e resistiu por quase um século (1602- 1694) contra as investidas militares em seu território (RODRIGUES, 1999).

resistência ao status quo; e a classe das alusões ou homenagens a sujeitos coletivos (p. 56, grifo no original).

Em Florianópolis a “regra” se mantém se analisamos os nomes dados pelos/as ativistas às três ocupações organizadas que marcaram o cenário político da luta por moradia nos últimos quatro anos: Ocupação Contestado107; Ocupação Palmares; e Ocupação Amarildo de Souza108. Em termos educativos, a escolha desses nomes tem importância fundamental tanto para criar uma identidade coletiva voltada à resistência e à emancipação, como para resgatar a história de sujeitos e eventos do passado (e/ou mesmo atuais). Essas histórias são resgatadas e constantemente revisitadas pelos/as ativistas em conversas e reuniões, e são levadas para outras instâncias da sociedade civil onde as pessoas, ao

107 A Guerra do Contestado foi um conflito armado ocorrido na região fronteiriça a oeste dos estados de Santa Catarina e Paraná (que disputavam a mesma), protagonizado pela população cabocla que fora expulsa de suas terras (devido à construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande), e também por milhares de trabalhadores/as migrantes que ficaram sem emprego depois de terminadas as obras da ferrovia. Foi o levante de uma população extremamente pobre lutando por território contra os governos estaduais e o Estado republicano, além de empresas privadas, como a proprietária da ferrovia (Brazil

Railway Company) e a madeireira Southern Brazil Lumber & Colonization Company. A população rebelde (que teve forte influência messiânica) resistiu

por 46 meses, de 1912 a 1916, sendo derrotada pelo Exército brasileiro e as polícias dos dois estados. (Fonte: UOL Educação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/guerra-do-contestado- conflito-alcancou-enormes-proporcoes.htm>. Acesso em: 23 jul. 2015.

108 Amarildo de Souza, ajudante de pedreiro e morador da favela da Rocinha, desapareceu no dia 14 de julho de 2013 (quando tinha 48 anos). Naquela noite, Amarildo teria sido conduzido por policiais militares à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha para uma averiguação e desde então nunca mais foi visto. Concluiu-se que ele foi torturado e morto por esses policiais. Por conta disso, vinte e cinco policiais militares, todos da UPP da Rocinha, foram denunciados por tortura seguida de morte. Desses, 16 também respondem por ocultação de cadáver. A Polícia Civil fez diversas buscas na mata, mas nunca conseguiu encontrar o corpo de Amarildo. Por todo o Brasil, foi lançada uma campanha com a pergunta “Cadê o Amarildo?”. O caso tornou- se representativo da criminalização da pobreza, da violência policial nas favelas e do genocídio da população negra e de baixa renda no país (Fonte: Brasil Post. Disponível em: <http://www.brasilpost.com.br/2015/06/23/bope-amarildo- rio_n_7641476.html>. Acesso em: 24 jul. 2015.

tomarem conhecimento da história da ocupação, têm contato com outras histórias que também são, de alguma forma, parte das suas próprias histórias.

Os movimentos sociais, principalmente os populares, costumam aglutinar às suas bases e lideranças as assessorias, que apoiam e se envolvem com as suas lutas. Nos movimentos sociais populares urbanos esses grupos e indivíduos tem papel importantíssimo no sentido de trazer informações e fortalecer os processos educativos que desenvolvem a cultura política do coletivo. Sobre isso, Gohn afirma que os movimentos sociais

[...] têm estreitas relações com uma série de outras entidades sociopolíticas, como partidos e facções políticas – legais ou clandestinas –, Igrejas, sindicatos, ONGs – nacionais e internacionais –, setores da mídia e atores sociais formadores de opinião pública, universidades, parlamentares em âmbito municipal, estadual e federal, setores da administração governamental, pequenos e médios empresários, etc., articulados em redes sociais com interesses comuns. [...] Entre o movimento e o conjunto de atores externos pode haver uma identificação, em termos da carência (material ou moral) e/ou desejo de mudança de uma dada realidade social; como pode haver identificações parciais em função de certos objetivos estratégicos” (253).

Zibechi (2006) também comenta que a participação de setores da classe média (com formação secundária e muitas vezes universitária) tem grande contribuição para os movimentos populares, facilitando a sua auto-organização e a sua auto-formação através de novos conhecimentos e capacidades que são compartilhados no coletivo.

Os grupos que apoiavam a Ocupação Palmares de forma mais orgânica no início de seu processo organizativo foram a Frente Autônoma de Luta por Moradia (FALM), as Brigadas Populares, o Coletivo Marighella e o Coletivo Catarina de Advocacia Popular109. Foi

109 Este coletivo de assessoria jurídica atua na defesa de movimentos sociais e seus/suas integrantes quando criminalizados/as pelo envolvimento nas causas e lutas sociais. O CCAP teve grande importância para a organização e a resistência da Ocupação Palmares, através de apoio para a formulação das defesas contra as autuações realizadas pela Floram e também com sugestões

com estas assessorias que a Ocupação Palmares formulou a sua agenda, a sua estratégia e suas as suas táticas para a atuação política e negociação com a PMF.

A rede de apoio também era composta por mais coletividades, que prestavam apoios mais pontuais como, por exemplo, o Movimento Passe Livre de Florianópolis (MPL-Floripa)110, que além de deslocar ativistas para a ocupação durante a operação de demolição (e em manifestações), demonstrou publicamente o seu apoio e ajudou a divulgar e convocar pessoas para somarem-se à marcha que foi programada pela ocupação rumo à Floram, e que tinha o objetivo de questionar a ilegalidade da ação e cobrar por uma abertura de negociação. Segue abaixo um trecho da nota publicada pelo MPL- Floripa, no dia 04 de agosto de 2013:

[...] O Movimento Passe Livre de Florianópolis vem a público declarar repúdio à atitude irresponsável dos órgãos da prefeitura. A questão ambiental não pode servir de pretexto para jogar na rua as famílias pobres, até porque a defesa da natureza parece só entrar em primeiro plano quando se está tratando da população mais fragilizada da cidade. A legislação ambiental foi diversas vezes ignorada ou relativizada quando a vez era dos grandes empreendimentos milionários, responsáveis pelo processo de especulação imobiliária em Florianópolis, que expulsa os pobres do centro e torna os aluguéis cada dia menos acessíveis à população. Assim como a luta