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5 DISPOSITIVO EPISTEMOLÓGICO DE ANÁLISE DE CORPUS

No documento 2019FabianoTadeuGrazioli (páginas 116-118)

Notamos, aplicando uma primeira versão do dispositivo epistemológico de análise, com as etapas dispostas na ordem em que aparecem nos capítulo dois, três e quatro, no texto que compõe o corpus, que era necessário uma reorganização das etapas, de modo que o dispositivo não corresponde mais à ordem da apresentação dos elementos teóricos nos referidos capítulos. A nova configuração que propomos facilita discorrer sobre a presença dos critérios de abordagem na obra do corpus de modo mais coeso e organizado, a considerar primeiro a relação das características dos textos dramáticos escolhidos para a análise com a dramaturgia infantil, tendo em vista os pressupostos teóricos que levantamos a partir dos parcos estudos que encontramos sobre esse tema. Na etapa seguinte, pontuaremos, no texto dramático do corpus, a presença dos elementos que são indispensáveis quando olhamos para a dramaturgia sem um público específico. Tal aproximação faz-se necessária, pois, como já salientamos na Introdução, se a negássemos, estaríamos criando uma defasagem entre os textos dramáticos escolhidos e os estudos da dramaturgia, uma vez que, antes mesmo de constituírem uma obra endereçada à infância, tais textos comungam dos elementos da dramaturgia em geral.

Na etapa seguinte, aproximaremos o texto dramático escolhido para a analisar neste trabalho de critérios de abordagem que permitem revelar como se dá a sua composição, tendo em vista a estrutura que particulariza o gênero dramático, que é a articulação dos diálogos e das rubricas na composição das cenas, considerando e sua recepção do texto pela leitura da dramaturgia impressa. Só então, na etapa seguinte, é que teceremos considerações sobre o texto em análise e algumas características da literatura infantil levantadas na primeira seção do capítulo dois. No fechamento do dispositivo epistemológico de análise, a ilustração do texto que compõe o corpus de critérios de abordagem que apresentam parâmetros para pensarmos esse elemento constituinte do livro contemporâneo para a infância, os quais permitem a existência do livro ilustrado.

Assim, nossa proposição é a exploração de cinco etapas de análise do corpus, a partir das considerações e bases teóricas expostas até então. Cada uma dessas etapas envolve o estabelecimento de determinados critérios que, por sua vez, implicam a mobilização de indicadores específicos e pontuais. O resgate da sequência apresenta, sinopticamente, todos os elementos de análise, hierarquizados por nós, a partir dos pressupostos anteriores.

Etapa 1

Observação e análise dos pontos de aval para a existência e pertinência da dramaturgia infantil. Tal análise envolve, pontualmente, as seguintes explorações:

a) Origem: consideramos duas possiblidades – trata-se de uma obra como criação individual e original do autor ou adaptação de circulação em outros contextos;

b) Presença do universo infantil: passa-se, aqui, à verificação da origem da obra no universo mágico, que permite o movimento simbólico e o sonho da criança, a imersão no imaginário; integração de personagens; interface entre espaço de coexistência real e mágico; identificação e autoconhecimento da criança por meio das personagens; predomínio da linguagem da criança no sustento e alimentação da globalidade da obra; abertura do texto, possibilitando a circulação imaginativa da criança, marcada pela espontaneidade; estímulo à capacidade da criança de refletir sobre as ações apresentadas, identificar-se com elas e traduzi-las para seu mundo; articulação de linguagem poética, condução lírica e inventiva e respeito à inteligência e à curiosidade da criança;

c) Tratamento da linguagem: abordagem da ludicidade no tratamento da linguagem (sonoridade e rimas das falas); espontaneidade da linguagem teatral, em aproximação à linguagem da criança; e despojamento, no sentido de oferecer à peça uma linguagem de fácil entendimento pelo leitor, sem adjetivação em excesso;

d) Presença e articulação do humor: emergem, nesse ponto, como aspectos de análise a presença do humor como recurso da manifestação de surpresa; a presença do humor como viabilizador do pensamento crítico; a utilização do humor como ferramenta de ampliação das possibilidades de conexão da criança com o mundo e com outras pessoas; o uso do humor com originalidade na experimentação e expressão do mundo; e a presença do humor como estímulo à imaginação no manuseio dos diferentes desafios do cotidiano;

e) Defeitos da dramaturgia infantil: em que ganham espaço para análise a recorrência ao maniqueísmo (tornando a dicotomia bem/mal o principal mote do texto dramático); o uso intenso do didatismo na ênfase às intenções instrutivas; o emprego de estereótipos e generalizações, cristalizando personagens e emitindo preconceitos; a veiculação de visões adultas de mundo, em tom professoral, prejudicando o papel educativo do teatro; e a veiculação de regras de conduta, em conflito com o imaginário da criança; f) Processo de elaboração do texto: leva-se em consideração o acontecimento da ação

do que de exposição da temática; a ludicidade e a fantasia na construção dos diálogos ou sugeridas por eles; a dimensão dramática de conflitos íntimos e temáticas caras ao criador do texto; a construção de sensação de estranhamento, que possibilita a experimentação das ilimitadas possibilidades da arte; e a harmonização da dramaturgia com música e canto; e

g) Temática: verificação da apresentação de temáticas-tabu, na construção de uma dimensão purgativa do texto dramático para a criança.

O Quadro 1, a seguir, elucida o que expusemos a respeito da Etapa 1:

Quadro 1 – Etapa 1 da análise de corpus: existência e pertinência da dramaturgia infantil: pontos de aval

ETAPA 01 EXISTÊNCIA E PERTINÊNCIA DA DRAMATURGIA INFANTIL:

No documento 2019FabianoTadeuGrazioli (páginas 116-118)