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ETAPA QUATRO: A DRAMATURGIA IMPRESSA PARA A LEITURA DA CRIANÇA ENQUANTO LITERATURA INFANTIL, SEM SEGMENTAÇÃO DE

No documento 2019FabianoTadeuGrazioli (páginas 170-173)

6 CANTO DE CRAVO E ROSA, DE VIVIANE JUGUERO: A DRAMATRUGIA IMPRESSA PARA A LEITURA DA CRIANÇA

6.4 ETAPA QUATRO: A DRAMATURGIA IMPRESSA PARA A LEITURA DA CRIANÇA ENQUANTO LITERATURA INFANTIL, SEM SEGMENTAÇÃO DE

GÊNERO

Nesta etapa, procuramos observar, no texto em análise, questões pertinentes à literatura infantil sem nos determos nas questões relacionadas ao gênero literário que a dramaturgia impressa para a leitura da criança participa. Além das relações que já expusemos nas etapas anteriores entre a dramaturgia impressa para a leitura da criança – por meio da obra que compõe o corpus do trabalho – e os aspectos teóricos que deram origem aos critérios de análise e indicadores de abordagem de cada etapa, achamos necessário perceber em que medida o texto dramático Canto de Cravo e Rosa está em conexão com os principais pressupostos que apresentamos para a literatura infantil, na primeira seção do capítulo dois.

6.4.1 Experiência de leitura da obra

O primeiro critério de análise diz respeito à experiência de leitura que a obra literária infantil procura oferecer à criança. Nosso primeiro indicador de abordagem leva-nos a perceber se a experiência de leitura do texto literário transforma-se em um ato de aprendizagem da vida e do real. Em Canto de Cravo e Rosa, o resultado do contato com a obra suscita no leitor a aprendizagem prevista no indicador de abordagem, pois a narrativa dramática que Juguero constrói está como que a insinuar para o leitor alguns modos de entender a vida e a realidade. O entendimento desses modos é particularizado e se relaciona com as experiências de leitura e de vida de cada criança, mas acreditamos que poucos leitores submergirão da história sem refletir sobre quais atitudes, frente à realidade e ao Outro, não colaboram para a vida em grupo e para o respeito aos semelhantes.

A aprendizagem da vida que a obra proporciona é justamente entender que a maldade e seus desdobramentos não são uma escolha acertada, que o perdão é uma atitude nobre e pode nortear as decisões tomadas e que as diferenças entre os indivíduos não são motivos para a exclusão, pelo contrário, que é na multiplicidade de modos de ser que a sociedade avança e

evoluí. A aprendizagem do real se dá a partir da possibilidade que cada leitor tem de realizar um cotejo entre as situações levantadas acima e a realidade em que cada um está inserido. É possível, dependendo do amadurecimento da criança, que ela compare o lido com o vivido ou conhecido, permitindo que a história faça sentido e produza o prazer do reconhecimento ou da descoberta. Da narrativa dramática de Juguero, a criança pode partir em direção à compreensão das suas vivências e relacionar aspectos da história à vida pessoal e social.

A partir do que exploramos acima, podemos afirmar que a leitura de Canto de Cravo

e Rosa promove um encontro entre texto literário e leitor, que o texto é capaz de engajar a

criança em uma experiência rica de vida, inteligência e emoções, o segundo indicador de abordagem para o critério de que estamos tratando. Há, no texto de Juguero, elementos capazes de engajar a criança em uma experiência rica de inteligência, que envolve: a) o aproveitamento das personagens das cantigas folclóricas e a sua inserção no universo da dramaturgia, como personagens de uma nova história. Esse exercício criativo de escrita literária torna-se também um exercício interessante para o leitor, que acompanhará as aventuras de personagens conhecidos em um novo enredo; b) os diálogos que misturam poesia folclórica e poesia autoral, em uma exposição da expressividade da autora e do seu trânsito pelo conhecido e pela novidade; c) a capacidade de apresentar ao leitor uma história repleta de aventuras e circunstâncias inusitadas, cuja ação dramática pauta-se pela invenção e criatividade, aspectos já levantados neste texto em outras oportunidades; entre outros.

As experiências emocionais que o enredo proporciona vão da identificação do leitor com os protagonistas ao acompanhamento de seus percursos pelo texto dramático em questão. A adesão quase imediata do leitor aos sentimentos de separação e sofrimento do Cravo e da Rosa remete para uma aproximação emocional da criança com o principal acontecimento do enredo. A reaproximação das duas personagens e sua reconciliação, no final da história, também levam o leitor a aderir emocionalmente às vivências e ações das personagens, bem como se envolver com eles em um nível de proximidade e intimidade que somente as boas histórias conseguem.

Contudo, o indicador de abordagem que mais encontra correspondência com a obra de Juguero é o terceiro que escolhemos para o critério de análise em questão. Trata-se de observar se a obra para a infância conforma-se à estrutura mental da criança e oferece a ela uma representação simbólica do mundo, conforme discutimos no capítulo dois a partir de uma publicação de Becker. Notamos que em Canto de Cravo e Rosa o principal investimento da autora é justamente na correspondência entre o texto e a estrutura mental da criança. É por isso que o recurso criativo de Juguero – que já serviu para evidenciar vários outros indicadores

de abordagem – deve ser resgatado aqui: a autora parte do universo das cantigas folclóricas para composição do enredo da peça e das próprias cantigas para a composição do texto dramático. É a partir desse contingente cultural que projeta seu texto autoral, oferecendo o novo enredo e o novo texto à criança, mas com uma garantia de que ela vai partir do conhecido (daquilo que já é assimilável para a sua estrutura mental) em direção à novidade e ao desconhecido, na busca do estranhamento característico da literatura. Tal recurso deixa transparecer a necessidade de a literatura para a infância lançar mão de elementos que a criança possa reconhecer como próprios de sua idade e amadurecimento, para que haja um diálogo expressivo entre o mundo do autor e o mundo do leitor e se lançar seguramente ao que lhe é novidade.

Ainda no mesmo indicador de abordagem, previmos a necessidade de a criança perceber o texto como representação simbólica do mundo. Juguero investe nessa propriedade da literatura para a infância e cria uma simbologia para o mundo, as pessoas e as relações que elas possam vir a estabelecer. O espaço do jardim pode ser lido como uma simbologia do mundo, no qual a criança está inserida. As relações que as personagens estabelecem entre si podem ser vistas como um microcosmo das relações que a criança estabelece na vida familiar e social em que está inserida. Os acontecimentos do enredo correspondem aos eventos que os pequenos leitores protagonizam na vida real. Daí a possibilidade de identificação da qual tratávamos anteriormente. Enfim, Juguero transforma Canto de Cravo e Rosa em uma simbologia facilmente assimilada pelo pequeno leitor. As relações que a criança estabelecerá com o mundo no qual vive são mediadas pela capacidade de assimilação e comparação entre texto e vida, e, mais uma vez, determinadas pelas experiências da criança. É necessário, para uma maior adesão às ideias do texto e à simbologia que carrega, que tal simbologia, utilizada pelo autor da literatura infantil, seja acessível à criança. Nesse sentido, Juguero também acerta, pois a simbologia que propõe em seu texto é facilmente assimilável pela criança que lê o seu texto dramático.

Quanto à linguagem e a percepção de seu uso lúdico, pessoal e criativo, último indicador de abordagem que propomos para o presente critério de análise, acreditamos que tal uso da linguagem ocorre em Canto de Cravo e Rosa nos versos relocados da poesia folclórica para os diálogos cantados, ou seja, no aproveitamento dos versos da poesia folclórica como falas a serem entoadas pelas personagens em cena. O uso lúdico que os versos das poesias folclóricas fazem na sua constituição é aproveitado pela dramaturga. Fora dessa condição, os demais diálogos primam mais pela comunicabilidade dos pensamentos das personagens e pelo acompanhamento das suas ações do que pelo trabalho lúdico com a linguagem. Contudo, esse

uso que Juguero faz dos versos da poesia folclórica não é recurso a ser desprezado na análise deste indicador de abordagem. A linguagem folclórica caracteriza-se pelo uso lúdico da linguagem. As cantigas inseridas no texto de Juguero nascem com essa condição, a qual é mantida quando da utilização dos seus versos nas falas cantadas do texto em questão.

Um momento que podemos perceber o uso pessoal e criativo da linguagem elaborada por Juguero para a peça em questão é nos poemas-rubricas. A naturalidade com que a autora rima os versos e sua musicalidade característica demonstram a utilização pessoal e criativa da linguagem a favor da construção de uma obra voltada para a infância e suas nuances. Tais poemas já foram utilizados em outros critérios de análise neste capítulo; resta-nos, aqui, considerá-los um recurso favorável à presença da criatividade na peça em questão.

6.5 ETAPA CINCO: A DRAMATURGIA ESCRITA PARA A LEITURA DA CRIANÇA E

No documento 2019FabianoTadeuGrazioli (páginas 170-173)