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Do processo de conhecimento como aquele em que tem lugar a denunciação

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 52-55)

4. Da denunciação da lide

4.4. Do processo de conhecimento como aquele em que tem lugar a denunciação

em vista de suas finalidades e de sua natureza jurídica. Move o denunciante uma ação contra o terceiro, mas, a depender do que ocorra na lide principal, sua ação até poderá ser desnecessária e ficar prejudicada.

Dessa forma, por tratar-se de uma ação, ainda que de caráter eventual, proposta em face do terceiro, cujos direitos e obrigações serão definidos na mesma sentença da ação principal, o instituto só é cabível em se cuidando de processo de conhecimento, voltado à definição do conflito de interesses, o que se dá por meio de uma sentença. O art. 74 prevê que, se a denunciação for realizada pelo autor, o denunciado poderá aditar a petição inicial. Da mesma maneira, o art. 75, ao tratar das várias posturas que o denunciado pode adotar, refere-se à contestação, à revelia, à confissão e à defesa até o final, atos estes pertinentes ao processo de conhecimento. Já o art. 76 dispõe sobre o julgamento da ação principal e da regressiva, na mesma sentença, e prevê, textualmente, que valerá como título executivo.

Ao contrário da maioria das figuras de intervenção de terceiros, a denunciação da lide é admissível inclusive no procedimento sumário, diante da ressalva do art. 280 do texto processual, por força da redação que lhe deu a Lei 10.444/02, porém restrita apenas

134 Comentários ao Código de Processo Civil, p. 325-326.

135 Cf. Sydney Sanches, Denunciação da lide no direito processual civil brasileiro, p. 42. 136 Cf. Fredie Didier Júnior, Curso de Direito Processual Civil, p. 353.

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às hipóteses em que a ação esteja “fundada em contrato de seguro”. Incabível, no entanto, em processos perante o Juizado Especial (art. 10 da Lei 9.099/95).

Inexiste compatibilidade do instituto com a execução de título extrajudicial ou com o cumprimento de sentença, em razão das características e dos procedimentos ligados a cada qual137. Acrescente-se, ainda, que, em vista de a denunciação da lide consistir ação de regresso, ela será julgada conjuntamente com a ação principal, na mesma sentença, o que é incompatível com a execução e o cumprimento de sentença, que visam à satisfação da obrigação retratada no título138, havendo sentença somente para declarar o encerramento da execução, sem nada decidir.

Ao referir-se ao cabimento do instituto, AROLDO PLÍNIO GONÇALVES sustenta que a denunciação da lide “é instituto típico do processo de conhecimento, e só dele, não sendo cabível, de modo algum, em razão exclusivamente de sua natureza jurídica, por absoluta incompatibilidade, no processo de execução, que visa a atuar praticamente a norma jurídica concreta através de atos materiais, nem no processo cautelar cuja finalidade é resguardar o resultado útil de outro processo”139.

CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO, após destacar que o julgamento a que o denunciado se vinculará é exclusivo do processo ou da fase cognitiva, ressalta ser inconcebível admitir o instituto “na execução forçada, no cumprimento de sentença, no processo monitório e no cautelar, em que julgamento algum de meritis se pede nem se proferirá”140.

137 Oportunas as considerações de Araken de Assis, ao “argumentar que, na execução fundada em título

judicial, aquelas situações que ensejam a denunciação já se apresentaram no processo de conhecimento, ocorrendo preclusão se não foram aproveitadas; e, na execução de título extrajudicial, criado no alvitre da desnecessidade de cognição prévia, incidentalmente à demanda executória não se admite a denúncia” (Manual da execução, n. 521.2, p. 1253).

138 Nesse sentido, Celso Agrícola Barbi afirma não haver, na execução, “lugar para a denunciação da lide.

Esta pressupõe prazo de contestação, que não existe no processo de execução, onde a defesa é eventual e por embargos. Além disto, os embargos são uma ação incidente entre o executado embargante e o exequente, para discussão apenas das matérias da execução. Não comportam ingresso de uma ação indenizatória do embargante com um terceiro. A sentença que decide os embargos apenas deve admiti-los, ou rejeitá-los, não sendo lugar para decidir questões estranhas à execução” (Comentários ao Código de Processo Civil, n. 425, p. 352-353).

139 Da denunciação da lide, p. 312-313. 140 Intervenção de terceiros, n. 79, p. 156.

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É certo que a denunciação é incabível na ação monitória, de vez que o réu é citado para pagar ou entregar a coisa (art. 1.102b do CPC), mas é admissível nos embargos à monitória, em vista da sua natureza de ação141.

É plenamente possível, outrossim, o reconvindo, na oportunidade de responder a ação que é em face dele promovida pela via reconvencional (art. 316 do CPC), denunciar a lide para terceiro, a fim de receber o auxílio do denunciado e de ser ressarcido, na hipótese de sucumbir na via reconvencional142. Para tanto, basta que estejam atendidos os pressupostos legais do art. 70 do Código de Processo Civil e que estes digam respeito à demanda proposta por reconvenção.

As hipóteses de cabimento de denunciação da lide também não se amoldam à medida cautelar, o que elimina essa modalidade de intervenção de terceiros, porém não impede sua admissibilidade na futura ação de conhecimento, de modo que se coloca o futuro denunciado, que não participou da cautelar, em posição de desigualdade, até porque o desfecho da cautelar poderá ser decisivo para o processo principal. Em vista disso, justifica-se que essa intervenção também se dê eventualmente na medida cautelar, a fim de o terceiro ser chamado para, simplesmente, auxiliar a parte na defesa dos seus interesses, descartando qualquer pretensão de garantia ou de indenização. Corresponde, portanto, a uma denunciação da lide anômala, que, na verdade, melhor corresponde a uma assistência, embora não exista previsão legal de que ela possa ser provocada143. Assim, o terceiro, na medida cautelar, será assistido, mas não efetivamente denunciado.

Desse modo, admissível a denunciação da lide na medida cautelar, desde que ela seja realizada com a finalidade de assistência, permitindo que o denunciado participe dessa cautelar. Isso pode se dar, por exemplo, na cautelar de produção antecipada de provas, revelando-se plausível a participação do denunciado, a fim de ele assistir ao denunciante144. Nossos Tribunais já reconheceram essa possibilidade, em medida cautelar

141 José Rogério Cruz e Tucci afirma, ao tratar da legitimidade ad causam no contexto da ação monitória, que

se o réu “oferecer embargos, assume a posição processual de autor, viabilizando-se a denunciação da lide quando for ele titular de eventual direito de regresso contra um terceiro” (Ação monitória, p. 73).

142 Cf. Clito Fornaciari Júnior, Da reconvenção no direito processual civil brasileiro, p. 181

143 O terceiro assumirá a posição de verdadeiro assistente, porém de maneira desvirtuada, dado que não é

assistência voluntária, mas provocada. A propósito, v. Cândido Rangel Dinamarco (Intervenção de terceiros, p. 189-191).

144 Nesse mesmo sentido, é a posição de Sydney Sanches, ao afirmar “que, no processo das ações cautelares

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de produção antecipada de prova, “a fim de garantir o pleno exercício do princípio do contraditório e assegurar a eficácia da prova produzida nestes autos perante terceiro”145.

Diante das particularidades do instituto, que visa compelir o denunciado a assistir o denunciante e ressarci-lo, no caso de eventual sucumbimento, a admissibilidade é restrita aos processos de conhecimento.

4.5. Da dita obrigatoriedade da denunciação. Além de declinar as hipóteses de

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 52-55)

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