• Nenhum resultado encontrado

Do recurso contra a decisão sobre cabimento da denunciação da lide

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 154-157)

6. Das regras procedimentais para a denunciação da lide

6.6. Do recurso contra a decisão sobre cabimento da denunciação da lide

aferir se, no caso, estão presentes os pressupostos legais para deferir a denunciação. Não é possível retardar a decisão sobre o cabimento da intervenção, até porque o denunciado, se a denunciação for feita pelo autor, poderá aditar a petição inicial, de modo a anteceder este exame a própria determinação de citação do réu. É contemporâneo, porém, a essa decisão o exame da admissibilidade da inicial, de vez que a citação do réu só será ordenada se a inicial tiver condições de ser recebida.

Incabível também postergar a decisão sobre o deferimento da denunciação feita pelo réu, em razão de o processo dever prosseguir, permitindo um contraditório equilibrado. Caso assim não se proceda e sejam praticados outros atos processuais, após a denunciação ser requerida, esses atos deverão ser declarados nulos, pois é inegável o direito de o denunciado participar do processo desde o momento processual em que a denunciação deveria ter sido deferida, facultando-lhe atuar ativamente, praticando todos os atos e participando, se for o caso, da produção de provas.

Qualquer que seja a decisão quanto ao cabimento da denunciação da lide, deferindo ou indeferindo o pedido, caberá a interposição de agravo, por se tratar de decisão interlocutória (art. 522 do CPC). O recurso poderá ser interposto pelo denunciante e ou pelo adversário do denunciante, de vez que eles podem, em tese, ser prejudicados pela decisão. Relativamente ao denunciado, a questão comporta melhor análise, não sendo admissível a interposição de recurso desde logo por ele, dado que, neste momento, seu recurso seria como o do réu que foi citado, razão pela qual terá que se limitar a apresentar sua defesa, sustentando as razões pelas quais entende que não deveria ser trazido ao feito.

- 150 -

Logicamente, mais para diante, quando sua alegação de que os pressupostos da denunciação não estão presentes for examinada, poderá, se for mantido na demanda, agravar. Antes, falta-lhe interesse.

A regra no sistema processual vigente é a de interposição do agravo sob a forma retida, exceto nas hipóteses do art. 522 do Código de Processo Civil, entre as quais não está expressamente prevista a decisão que resolve sobre o cabimento da denuciação da lide. Apesar disso, consideramos que só caberá a interposição de agravo na modalide de instrumento, não o retido, por “se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação”.

Dessa forma, tendo sido deferida a denunciação, não se revela adequada a interposição de agravo retido. Por primeiro, o recurso só seria apreciado pelo Tribunal, ao julgar a apelação – o que postergaria a definição do cabimento da denunciação – enquanto inúmeros atos seriam praticados e provas, eventualmente inúteis e desnecessárias, produzidas, movimentando desnecessariamente a máquina judiciária. De outro lado, se a denunciação fosse indeferida, o processo prosseguiria sem a participação do denunciado e se, ao final, a interveção fosse considerada admissível, os atos praticados seriam anulados, retrocedendo o processo, com enorme perda de tempo e de atividade jurisdicional prestada, dado que o feito se processaria desde o momento em que o denunciado fora excluído da demanda.

Além disso, o denunciado poderia recorrer para ser afastado da lide secundária, caso houvesse descabimento evidente da intervenção de terceiro, não precisando aguardar, indefinidamente, o trânsito em julgado da sentença, com todos os transtornos de ser réu em uma ação judicial. Se fosse reconhecido que o caso não se amoldava às hipóteses legais dessa modalidade de intervenção de terceiros, já se afastaria o denunciado; assim sendo, este não teria mais seu nome constando no distribuidor forense – o que lhe poderia causar restrições negociais – e não precisaria praticar inúmeros atos processuais, como participar da produção de provas, além de manter advogado remunerado constituído.

Estrategicamente, a admissão da denunciação poderia não ser conveniente ao adversário do denunciante, por não ser essa hipótese de cabimento do instituto e por não lhe interessar a ampliação objetiva e subjetiva do processo, postergando a entrega da

- 151 -

prestação da tutela jurisdicional. Desse modo, o adversário do denunciante teria interesse em atacar a decisão, a fim de, desde logo, afastar o denunciado do processo, evitando-se a prática de atos que poderiam revelar-se inúteis ao final.

Assim, consideramos que o recurso tecnicamente apropriado contra a decisão que defere a denunciação da lide é o agravo de instrumento, em razão de o decisório poder causar lesão grave e de difícil reparação às partes, bem como por o agravo retido não se amoldar, no caso, aos princípios da economia e da celeridade processual, podendo gerar, até seu julgamento, um segmento inútil ao processo ou, então, deixar o denunciado fora do feito em momento processual em que, sendo ele legitimado a ser denunciado, não poderia ficar.

Se a denunciação da lide for indeferida, o prejudicado também deverá interpor agravo de instrumento em razão de a modalidade retida não ser o meio “processual adequado para o reexame da matéria relativa à intervenção de terceiros”330. Se deduzir agravo retido e o recorrente tiver razão quanto ao cabimento da denunciação, necessário será anular todo o processo, desde a decisão que não admitiu a intervenção de terceiro. Todavia, essa anulação não se ajusta à economia processual e ofende a garantia constitucional da duração razoável do processo, de modo que, muito provavelmente, na hipótese de não se tratar de denunciação obrigatória – quando então a parte poderá, em ação autônoma, postular o seu direito – a decisão será mantida e o denunciado não será admitido por mera conveniência.

Com efeito, não é razoável anular o processo, já em estágio avançado, apenas para permitir a instauração da lide secundária, principalmente se não se cuidar de denunciação obrigatória, até porque o denunciante não será prejudicado quanto ao regresso, em razão de poder ajuizar ação autônoma oportunamente em face do que seria denunciado, deixando somente de ter auxílio na sua defesa. Seria uma forma de não se decretar nulidade, se não houver prejuízo.

O Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente decidido que, embora admissível, não se revela “recomendável” anular o feito naquela Corte, a partir da decisão

330 Cf. TJSP, AI 9145058-37.2007.8.26.0000, Rel. Des. PEDRO BACCARAT, 7ª Câmara de Direito Privado,

- 152 -

que não acolheu a denunciação com a remessa dos autos à origem, a fim de não se colocarem em risco os princípios da economia e da presteza na entrega da prestação jurisdicional331.

Em igual sentido, há uma clara tendência no Tribunal de Justiça de São Paulo de preservar, sempre que possível, os atos praticados na ação principal e evitar anulação da sentença no julgamento da apelação, mantendo-se, então, o indeferimento do pedido de denunciação da lide332. Dá-se, pois, especial relevância aos princípios da economia processual e da duração razoável do processo, evitando-se a repetição de atos e conferindo oportunidade de o denunciante ajuizar ação regressiva autônoma, cujos limites são distintos dos da ação principal, mas por meio da qual poderá alcançar, mesmo com mais atividade, o resultado almejado.

6.7. Da sentença e interesse em recorrer. A ação principal e a regressiva são

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 154-157)

Documentos relacionados