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Da intervenção de terceiros

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 186-190)

7. Da denunciação da lide no projeto do novo Código de Processo Civil

7.1. Da intervenção de terceiros

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O capítulo da intervenção de terceiros do projeto do novo Código de Processo Civil (Projeto de Lei do Senado n. 166 de 2010) está assim estabelecido:

CAPÍTULO V - DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Seção I - Do amicus curiae

Art. 320. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da lide, poderá, por despacho irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes, solicitar ou admitir a manifestação de pessoa natural, órgão ou entidade especializada, no prazo de dez dias da sua intimação.

Parágrafo único. A intervenção de que trata o caput não importa alteração de competência, nem autoriza a interposição de recursos.

Seção II - Da assistência

Art. 321. Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la.

Parágrafo único. A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos os graus da jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontra.

Art. 322. Não havendo impugnação dentro de cinco dias, o pedido do assistente será deferido. Se qualquer das partes alegar, no entanto, que falta interesse jurídico ao assistente para intervir a bem do assistido, o juiz admitirá a produção de provas e decidirá o incidente, nos próprios autos e sem suspensão do processo. Parágrafo único. Da decisão caberá agravo de instrumento.

Art. 323. O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.

Parágrafo único. Sendo revel o assistido, o assistente será considerado seu gestor de negócios.

Art. 324. A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre direitos controvertidos, casos em que, terminando o processo, cessa a intervenção do assistente.

Art. 325. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente toda vez que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.

Parágrafo único. Aplica-se ao assistente litisconsorcial, quanto ao pedido de intervenção, sua impugnação e o julgamento do incidente, o disposto no art. 322.

Art. 326. Transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, questionar a decisão, salvo se alegar e provar que:

I – pelo estado em que recebera o processo ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;

II – desconhecia a existência de alegações ou de provas de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. Seção III - Do chamamento

Art. 327. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I – do afiançado, na ação em que o fiador for réu;

II – dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;

III – dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.

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Código de Processo de Civil de 1973, dividindo-o em três seções: “Do amicus curiae”, “Da assistência” e “Do chamamento”. Comparando essa divisão com a do Código de Processo Civil de 1973, verifica-se que das seções existentes foram eliminadas “Da oposição”, “Da nomeação à autoria” e “Da denunciação da lide”, conservando-se somente o que seria a seção do “Do chamamento ao processo”, mas denominando-a de “Do chamamento”, na qual estão compreendidas as regras sobre o que constituem atualmente o chamamento ao processo e a denunciação da lide.

Entre as figuras de intervenção de terceiros positivadas pelo legislador de 1973, a oposição e a nomeação à autoria foram extintas; o chamamento ao processo foi mantido; e a denunciação da lide, além de ter alterada sua denominação, foi restrita tanto no que tange ao cabimento quanto no que toca ao procedimento, que recebeu novos contornos. Reconheceu-se a assistência como modalidade de intervenção de terceiros e regulou-se, no mesmo capítulo, o amicus curiae.

Não nos parece razoável, muito menos científico, eliminar os tradicionais institutos da oposição e da nomeação à autoria, simplesmente porque a incidência deles é, na prática, menor do que a de outras modalidades. Não há dúvida de que eles revelam um grau de desenvolvimento técnico respeitado e têm importante aplicação em determinadas situações específicas, servindo bem à economia processual e também à efetividade do processo. Inexiste, outrossim, entre as figuras reguladas, alguma que se revele apta a substituí-los com igual presteza. Também se mostra frágil o fundamento de simplificação do procedimento, dado que esses institutos servem justamente para conferir efetividade ao processo.

Art. 328. A citação do chamado será feita no prazo de dois meses, suspendendo-se o processo; findo o prazo sem que se efetive a citação, o chamamento será tornado sem efeito.

Art. 329. A sentença de procedência condenará todos os coobrigados, valendo como título executivo em favor do que pagar a dívida para exigi-la do devedor principal ou dos codevedores a quota que tocar a cada um.

Art. 330. Também é admissível o chamamento em garantia, promovido por qualquer das partes: I – do alienante, na ação em que é reivindicada coisa cujo domínio foi por este transferido à parte;

II – daquele que estiver obrigado por lei ou por contrato a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo da parte vencida.

Art. 331. A citação do chamado em garantia será requerida pelo autor, em conjunto com a do réu ou por este no prazo da contestação, devendo ser realizada na forma e prazo do art. 328.

Parágrafo único. O chamado, comparecendo, poderá chamar o terceiro que, relativamente a ele, encontrar-se em qualquer das situações do art. 330.

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Conforme abordamos no capítulo 3.3., a oposição é uma modalidade facultativa de intervenção, permitindo que terceiro postule o bem da vida em disputa e que o juiz decida tudo em uma mesma sentença. A oposição está em harmonia com princípios processuais valorizados pelo legislador, em razão do que não é coerente eliminar esse histórico instituto do sistema.

Do mesmo modo se passa relativamente à nomeação à autoria. Se excluído o instituto, não será possível corrigir o polo passivo, nos casos atualmente previstos no Código. Caso o projeto seja aprovado dessa maneira e o autor equivocar-se ao trazer pessoa que não seja legitimada para responder o pedido do autor ou tiver dificuldade em identificar o réu, a ação estará fadada ao insucesso, por força da ilegitimidade passiva. Deverá o demandante, então, diante do sucumbimento, promover outra ação em face do efetivamente legitimado, criando um intervalo de tempo durante o qual o conflito permanecerá. Apesar da simplicidade do procedimento para substituir o réu sem maiores transtornos, elimina-se essa alternativa, o que também não se revela positivo.

Quanto ao amicus curiae, o projeto inovou, permitindo ao magistrado chamá-lo, a seu critério (art. 320), agindo de ofício377 ou por provocação da parte. Tal pode ocorrer devido à relevância da especificidade ou à repercussão social do tema objeto da demanda. Entendemos benéfico prevê-lo no texto processual, pois é uma viva realidade, embora sem disposição legal que o regulamente. É extremamente útil que o magistrado possa chamá-lo para colaborar na compreensão de questões de alta relevância social e política, o que, se bem empregado, será benéfico para a prestação da tutela jurisdicional.

Discordamos, todavia, de considerá-lo como modalidade de intervenção de terceiro, de vez que, como abordamos no capítulo 2.5., ele não tem interesse jurídico na solução do feito e não está sujeito aos efeitos da coisa julgada. Além disso, o amicus curiae defenderá interesse institucional, ao contrário das demais figuras, em que a intervenção objetiva auxiliar uma das partes ou defender interesse próprio.

377 A redação do projeto prevê, outrossim, que o juiz pode admitir de ofício a intervenção da entidade

especializada, solicitando a manifestação do amicus curiae. Isso, todavia, desfigura a essência da intervenção de terceiros no sistema pátrio, em vista de só ser cabível a intervenção espontânea do terceiro ou a provocada por uma das partes.

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Na realidade, seria melhor permitir e disciplinar o amicus curiae como se fosse um perito ou uma testemunha qualificada e admitir fosse chamado, por força de seu conhecimento técnico, mas não como uma figura de intervenção de terceiros378. Seu objetivo é emprestar seu conhecimento em questões inusitadas e ampliar a discussão antes da decisão dos juízes, estando sua atuação mais ligada ao convencimento do julgador, razão pela qual também é conhecido como “amigo da Corte” ou “amigo do juiz”.

A evidenciar seu desinteresse direto na demanda, o art. 320 do projeto estabelece, ainda, ser irrecorrível o despacho que admitir o amicus curiae, quiçá a redação do dispositivo tenha reforçado a irrecorribilidade, tratando a decisão de despacho. De qualquer modo, como a intervenção do amicus curiae não é apta, em tese, a causar prejuízo às partes, parece-nos correta, nessa parte, a previsão legal379, pois falece interesse – necessidade e utilidade – para a interposição de recurso. No caso de ser indeferido o pedido de uma das partes para a intervenção ser admitida, consideramos cabível a interposição de agravo de instrumento, de vez que a previsão da irrecorribilidade está claramente associada à intervenção e a norma que limita a interposição de recurso deve ser interpretada restritivamente, pois é anomalia do sistema.

Além disso, também não consideramos tecnicamente correto transferir a assistência do capítulo “Do litisconsórcio e da assistência”, onde se encontra no atual Código de Processo Civil, para o da “Intervenção de terceiros”, pelas razões que externamos no capítulo 3.2.2., dado que o assistente não defende interesse próprio, mas apenas auxilia o assistido para que ele seja vitorioso na demanda.

No mais, o projeto mantém a estrutura e o processamento da assistência (art. 321 a 326), realizando mínimas modificações de redação com relação ao texto atual.

378 Cássio Scarpinella Bueno sustenta que “o amicus agirá no plano da instrução, no plano da formação da

cognição judicial, buscando convencer o magistrado”. Equipara-o, em razão disso, ao perito, à testemunha ou à prova atípica, explicando que ele “não é ‘o’ perito, mas, no máximo, ‘um’ perito. E não será ‘a’ testemunha ou ‘a’ prova atípica. Será, no máximo, ‘uma’ testemunha – e, mesmo assim, testemunha sui generis – ou ‘uma’ prova atípica” (Amicus Curiae no Processo Civil Brasileiro: um terceiro enigmático, p. 435).

379 Apesar de nos parecer correta essa previsão num primeiro momento, ponderamos que se deve ter cautela,

a fim de evitar abusos e exigir que os despachos sejam devidamente fundamentados, apontando-se para a presença dos requisitos que ensejam a admissão da entidade. Além disso, só se justifica a admissão de órgãos efetivamente especializados sobre a matéria objeto da demanda para que não seja desvirtuada a aplicação do instituto, o que não poderá também retardar em demasia a prestação da tutela jurisdicional. De qualquer maneira, não é possível vincular a decisão final à manifestação da entidade especializada, mesmo porque poderão intervir várias entidades que tenham posições diametralmente opostas, cabendo às partes impugnar as que sejam prejudiciais aos seus interesses e convencer o julgador que o direito lhe assiste.

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Acrescenta, apenas, previsão no sentido de que da decisão deferindo ou indeferindo o pedido de assistência caberá agravo de instrumento, o que nos parece correto, afastando-se, outrossim, da tendência do projeto de tornar as decisões irrecorríveis.

O chamamento ao processo é a única modalidade de intervenção de terceiro – em relação àquelas de que cuida o Código atual – que é prestigiada pelo projeto. As regras reguladoras do instituto estão sendo mantidas (art. 327 a 329), ampliando-se, porém, o prazo para o chamado ser citado, o que se revela positivo e coerente com a realidade do Judiciário.

7.2. Da denunciação da lide (chamamento em garantia). A denunciação da

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 186-190)

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