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Da previsão do art 88 do CDC

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 118-122)

5. Das hipóteses de cabimento de denunciação da lide

5.7. Das limitações da denunciação da lide no Código de Defesa do Consumidor

5.7.1. Da previsão do art 88 do CDC

produtiva (art. 12 do CDC), do comerciante (art. 13 do CDC) e do fornecedor de serviços (art. 14 do CDC), fazendo-o na seção denominada “Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço”. Importante destacar a distinção entre a noção de fato do produto, que é o evento danoso verificado pela utilização de produto eivado de defeito, e fato do

serviço, que é o efeito danoso que ocorre na prestação de serviço.

Feitas essas necessárias considerações e distinções, destaca-se que o art. 88 estabelece que “na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide”.

A partir da interpretação literal do art. 88, não há dúvida de que o não cabimento da denunciação da lide restringe-se à responsabilidade do comerciante, de acordo com a regra do art. 13. Para não obstar o deslinde da ação principal, veda-se o exercício do direito de regresso, no mesmo processo, para evitar que se retarde a prestação da tutela jurisdicional pleiteada pelo consumidor.

Segundo o disposto no art. 13, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, o comerciante que tiver indenizado o consumidor “poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis” para não ficar prejudicado. Nessa hipótese, a denunciação da lide não é de ser postulada, no prazo para contestar, a fim de ser decidida

262 Fredie Didier Júnior critica a redação desses dispositivos e conclui que ambos cuidam de hipóteses de

responsabilidade solidária, de modo que “a modalidade interventiva cabível é o chamamento ao processo” (A

denunciação da lide e o chamamento ao processo nas causas coletivas de consumo, p. 65-66), do que,

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na mesma sentença. Faculta-se ao comerciante, depois de vencido, ajuizar ação de regresso em processo autônomo ou, então, prossegir nos mesmos autos, nos termos do art. 88. Essas disposições privilegiam a satisfação do consumidor e estão em harmonia com o espírito da legislação consumerista, cujo objetivo é, nitidamente, o de favorecê-lo, evitando que a apreciação de sua pretensão seja postergada por força dos percalços da intervenção de terceiros263.

Com efeito, o art. 88, por ser norma que cria exceção, deve ser interpretado restritivamente, de modo que o cabimento do instituto só é vedado quanto à responsabilidade do consumidor (art. 13 do CDC)264. Deve-se admiti-lo, portanto, no caso de se tratar de responsabilidade do fabricante e no do fornecedor de serviços, previstos em outros dispositivos – os arts. 12 e 14.

Acrescente-se que a responsabilidade do comerciante, de acordo com o art. 13, é meramente subsidiária, de vez que os que participavam da cadeia de produção elencados no art. 12 são os obrigados principais. A restrição à denunciação da lide está associada a essa responsabilidade subsidiária, que não ocorre nas demais hipóteses elencadas na seção “Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço”. Consideramos que o tratamento diferenciado conferido ao comerciante no art. 13, parágrafo único, e no art. 88, em relação à vedação da denunciação da lide, é proposital, sendo descabido conferir-lhes outra interpretação.

Se estiverem presentes os requisitos do art. 70 do Código de Processo Civil, poderá haver a denunciação da lide dos que participaram do ciclo produtivo-distributivo e do fornecedor de serviços; todos responderão, “independentemenete da existência de culpa”. Pondera-se que os arts. 12 e 14 do Código de Defesa do Consumidor acolheram a responsabilidade objetiva, tornando-se, portanto, desnecessária a prova da culpa; a nosso ver, todavia, isso não afasta, por si só, a faculdade de a lide ser denunciada.

263 Kazuo Watanabe destaca que essa vedação busca “evitar que a tutela jurídica processual dos

consumidores pudesse ser retardada e também porque, via de regra, a dedução dessa lide incidental será feita com a invocação de uma causa de pedir distinta” (Código brasileiro de defesa do consumidor comentado

pelos autores do anteprojeto, p. 760).

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Assim, consideramos correto o cabimento da denunciação da lide, exceto em se tratando do comerciante. A restrição imposta pelo art. 88 do Código de Defesa do Consumidor é limitada à hipótese do art. 13265, devendo aquele dispositivo ser interpretado restritivamente. O legislador foi explícito quanto à restrição, prevendo amplamanete hipóteses de proteção ao consumidor e meios para que a tutela jurisdiconal seja prestada de maneira célere; no entanto, por não se ter preocupado em estender essa restrição à prestação de serviço ou à cadeia produtiva, não é possível que o intérprete o faça.

A orientação jurisprudencial predominante, por conseguinte, é nesse sentido266, mas essa posição quanto ao cabimento da denunciação da lide em decorrência da prestação de serviço tem sido revista e criticada. Formou-se corrente considerando que “a melhor opção exegética orienta-se no sentido de proibição ampla da denunciação da lide nas ações indenizatórias ajuizada[s] com base nos arts. 12 a 17 do CDC”267.

Sustenta-se nesse sentido não ser razoável proteger o consumidor apenas quanto à responsabilidade pelo fato do produto e não o fazer nos casos de má prestação do serviço. Conclui-se, assim, não ser cabível a denunciação da lide em todas as hipóteses, por não haver “diferença ontológica entre o fornecedor de produto e o fornecedor de serviço”, para resguardar-se o consumidor hipossuficiente e evitarem-se maiores delongas no processamento da ação principal. Isso poderá acontecer em decorrência de a denunciação inaugurar discussão alheia aos interesses do consumidor “acerca da existência ou não de culpa do litisdenunciado, distorcendo o foco da ação”, já que “a responsabilidade do fornecedor frente ao consumidor é de natureza objetiva, enquanto a do fornecedor para com os demais corresponsáveis é de caráter subjetivo”268.

265 V., nesse mesmo sentido, Athos Gusmão Carneiro, Intervenção de terceiros, p. 76-77.

266 Cf. STJ, REsp 1.123.195/SP, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, 3ª Turma, J. 16/12/2010; REsp

1.024.791/SP, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JÚNIOR, 4ª Turma, J. 05/02/2009; e REsp 464.466/MT, Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, 3ª Turma, J. 06/06/2003.

267 V. REsp 1.165.279/SP, Rel. Min. PAULO DE TARSO SANSEVERINO, 3ª Turma, J. 22/05/2012

(Revista Dialética de Direito Processual, v. 115, p. 192). Destaca-se neste aresto a posição da Ministra NANCY ANDRIGHI, que fez declaração de voto, entendendo incabível a denunciação e mudando seu posicionamento anterior, no qual a admitia (REsp 741.989/RS, 3ª Turma, J. 15/12/2005). No mesmo sentido, os seguintes julgados: REsp 801.691/SP, Rel. Min. RICARDO VILLAS BOAS, 3ª Turma, J. 06/12/2011; REsp 993.237/RJ, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, 3ª Turma, J. 24/03/2008.

268 Cf. destacou a Min. NANCY ANDRIGHI, ao declarar voto e acompanhar o do relator, Min. PAULO DE

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Assim, a interpretação lógico-sistemática do Código de Defesa do Consumidor conduz à vedação da denunciação da lide em todas as hipóteses que versem sobre tutela individual ou coletiva dos direitos do consumidor e não apenas nas previstas pelo art. 13, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, porém permite, de qualquer modo, o exercício do direito de regresso nos mesmos autos (art. 88 do CDC)269.

Parece-nos, todavia, que essa não é a melhor interpretação, não se podendo ignorar que a responsabilidade do comerciante, estabelecida no art. 13, nos acidentes de consumo, é apenas subsidiária. O cabimento ou não da denunciação da lide gira, pois, em torno da correta interpretação que se deve conferir ao disposto no art. 88 do Código de Defesa do Consumidor270. Segundo nosso entendimento, ela deve ser restritiva ou literal, não podendo prevalecer a lógico-sistemática, que busca, a qualquer custo, beneficiar o consumidor.

Isso posto, infere-se que a possível demora do processo, acarretada pela ampliação subjetiva e objetiva, não é suficiente para justificar a vedação da denunciação da lide: necessário realizar uma leitura de todo o sistema, não apenas do microssistema, considerando-se os princípios da ampla defesa e da economia processual e resolvendo, num único processo e por meio de uma única instrução probatória, duas demandas. É certo, ademais, que todos têm direito a uma demanda célere, diante do princípio da duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, da CF), mas não apenas o consumidor, de modo que não é cabível afastar genericamente a denunciação da lide, conferindo-lhe proteção desproporcional.

269 José Luiz Ragazzi sustenta não ser cabível a denunciação da lide, a fim de “não contrariar os princípios

norteadores da responsabilidade objetiva adotada pelo Código e, ainda, os princípios que informam o microssistema, tais como o da vulnerabilidade, facilitação da defesa e acesso à justiça”. Defende a impossibilidade da denunciação da lide, “exceto se a mesma vier a beneficiar a efetiva tutela jurisdicional do consumidor”, considerando “salutar” permitir a denunciação da lide, exemplificativamente, se o produtor demandado pelo consumidor for insolvente, “visando à efetiva indenização do consumidor” (Intervenção de

terceiros e o código de defesa do consumidor, p. 136-137).

270 Luiz Antônio Rizzatto Nunes critica a norma do art. 88 do CDC, classificando-a de “incompleta”. Embora

não trate da vedação da denunciação da lide de maneira genérica, destaca que o art. 88 é “regra adjetiva” para proibir a denunciação da lide, que remete ao parágrafo único, do art. 13, de modo que, “se a regra pretende evitar o prolongamento do processo com ações paralelas, tem de proibir tanto a denunciação à lide quanto o chamamento ao processo” (Comentários ao código de defesa do consumidor, p. 203).

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5.7.2. Da hipótese do art. 101, II, do CDC. O art. 101, II, do Código de Defesa do

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