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Da hipótese do art 101, II, do CDC

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 122-124)

5. Das hipóteses de cabimento de denunciação da lide

5.7. Das limitações da denunciação da lide no Código de Defesa do Consumidor

5.7.2. Da hipótese do art 101, II, do CDC

serviços, “o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este”.

Esse dispositivo, independentemente de sua redação, deve ser analisado, a fim de se precisar qual é a modalidade de intervenção de terceiro por meio da qual o réu poderá “chamar” o segurador ao processo.

Pela interpretação literal do texto legal, transparece que o segurador poderá intervir na demanda, por força do chamamento ao processo. O dispositivo utiliza-se da expressão “chamar ao processo” e refere-se ao art. 80 do Código de Ritos, que regula o chamamento ao processo.

Ocorre, todavia, que o chamamento ao processo do segurador, no caso de o réu ter firmado com ele contrato civil de responsabilidade civil, não se ajusta às hipóteses do art. 77 do texto processual. Não se trata de fiança e falta vínculo jurídico entre o consumidor e o segurador, tanto que somente o segurado, que é o fornecedor, tem legitimidade para poder chamar ao processo. Assim, o segurado e o segurador não podem ser considerados devedores solidários, diante da ausência de relação jurídica de direito material entre este e o consumidor e da limitação de sua responsabilidade quanto ao valor da apólice, o que contraria o disposto no art. 264 do Código Civil. Tecnicamente, não se trata de chamamento ao processo, mas de direito de regresso do segurado em relação ao segurador, de modo que a situação se ajusta, respeitados os seus contornos, à denunciação da lide271.

271 José Luiz Ragazzi diz que o Código de Defesa do Consumidor criou um “instituto híbrido”, dado que fez

“emergir uma obrigação direta deste ante ao consumidor, apesar de não haver entre consumidor e segurador qualquer relação jurídica contratual, gerando uma solidariedade entre fornecedor e segurador perante o consumidor”. Conclui que “o caso é típico de denunciação da lide”, porém a intenção do legislador, ao

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Apesar disso, não é possível considerar que se trata do instituto da denunciação272, de vez que, além de ser incompatível com o sistema do Código de Defesa do Consumidor, o legislador tratou a hipótese como chamamento ao processo – invocando, inclusive, a regra do art. 80 do texto processual – bem como vedou expressamente a denunciação. Cuida-se, então, de um chamamento ao processo atípico, em que se pretendeu proteger e dar maior garantia ao consumidor. Isso ocorre ao se conferir ao réu a possibilidade de chamar ao processo o segurador, que poderá ser condenado a pagar diretamente ao consumidor a indenização nos limites da apólice273.

Essa previsão legal possui nítida conotação protecionista, por estar fundada na ideia de que, em tese, o segurador tem melhores condições econômicas para satisfazer a obrigação a que o consumidor tem direito. Buscou-se beneficiá-lo, evitando-se os percalços de se ter que executar o segurado, muitas vezes insolvente, garantindo a indenização nos limites do contrato. Diante do chamamento, ambos podem ser condenados solidariamente, buscando eliminar as dificuldades de a obrigação ser satisfeita; é de rigor, porém, resguardar a posição do segurado. Este poderá, se satisfizer a dívida, exigir o montante pago do segurador no limite do valor da apólice, já que a sentença valerá como título executivo judicial diante da regra do art. 80 do Código de Processo Civil274.

permitir o chamamento, é “tornar possível o acesso do consumidor a um processo célere e efetivo” (Intervenção de terceiros e o código de defesa do consumidor, p. 147-149).

272 Em sentido contrário, Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa, em interessante artigo, critica a redação

deficiente do art. 101, II, do CDC, afasta a possibilidade de se considerar que se trata de chamamento ao processo e conclui que, nas ações de responsabilidade por danos causados aos consumidores, autorizou-se a denunciação da lide. Apesar de concordarmos não se tratar propriamente de chamamento ao processo, entendemos não ser possível aceitar que a modalidade de intervenção de terceiro é a denunciação da lide, por a previsão legal estabelecer, expressamente, a possibilidade de o consumidor executar diretamente o segurador, nos termos do art. 80 do CPC (Cabimento da denunciação da lide ao segurador nas ações de

reparação de dano com fundamento no Código de defesa do consumidor (o falso chamamento ao processo do artigo 101 do CDC), p. 09-14).

273 Kazuo Watanabe expõe que o art.101 do CDC amplia o elenco do art. 77 do CPC, ficando “abrangido o

segurador do fornecedor de produtos e serviços, que passa a assumir a condição de co-devedor perante o consumidor”. Concluiu que o chamamento ao processo “amplia a garantia do consumidor e ao mesmo tempo possibilita ao fornecedor convocar desde logo, sem a necessidade de ação regressiva autônoma, o segurador para responder pela cobertura securitária prometida” Código brasileiro de defesa do consumidor comentado

pelos autores do anteprojeto, p. 798). Gustavo de Medeiros Melo diz que se trata de “uma espécie de

chamamento ao processo”, que “se deve a uma vontade política do direito material” (A ação direta do

terceiro prejudicado no seguro de responsabilidade civil, p. 289-295).

274 Nesse sentido, corretas são as considerações de Sergio Cavalieri Filho, ao afirmar que “o Código de

Defesa do Consumidor inovou propositadamente na matéria, criando entre segurado e segurador uma solidariedade legal em favor do consumidor. A inovação tem por consequência processual, conforme previsto no mesmo dispositivo, que a sentença, ao julgar procedente o pedido, condenará a ambos nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil, vale dizer, o decisum constituirá título executivo em favor do consumidor tanto contra o segurado como contra o segurador” (Programa de responsabilidade civil, p. 472).

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O art. 101, II, do Código de Defesa do Consumidor autoriza, outrossim, que a vítima que sofreu o dano ajuize ação diretamente contra o segurador, se o réu for declarado falido. Estabelece-se, portanto, uma solidariedade legal entre segurado e segurador, tanto que se admite o chamamento ao processo. De qualquer maneira, não cabe ao segurador denunciar a lide ao IRB – Brasil Resseguros Sociedade Anônima. Prestigia-se o consumidor, a fim de a ação regressiva não prejudicar a demanda principal, pois não existe qualquer vínculo entre o consumidor e o potencial denunciado; tal operação sequer envolve o segurado, mas apenas uma companhia de seguros e outra de resseguros. Assim, o objeto da lide regressiva não tem qualquer liame com o da principal.

Acrescente-se, ainda, que o segurador poderá ser eventualmente responsabilizado a pagar indenização, mas nunca a resseguradora. Dessa forma, diante de todas essas particularidades associadas ao contrato de resseguro, consideramos correta a vedação da denunciação da lide ao IRB – Brasil Resseguros Sociedade Anônima nas ações de indenização envolvendo relação de consumo, assegurando-se, de qualquer maneira, ao segurador, o direito de agir regressivamente em ação autônoma.

5.8. Da ação rescisória. Como a sentença produz efeitos apenas para as partes

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 122-124)

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