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Do prazo para citação do denunciado

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 145-148)

6. Das regras procedimentais para a denunciação da lide

6.4. Do prazo para citação do denunciado

mesma comarca, deverá ser realizada sua citação em dez dias, mas se for em outra comarca ou lugar incerto, em trinta dias (art. 72, §1º, letras “a” e “b”, do CPC).

Não se efetivando a citação no prazo marcado, por culpa ou desídia do denunciante, o processo prosseguirá unicamente entre o autor e o réu, considerando-se

314 Cf. Rogéria Dotti, ao dizer que, “apesar da denunciação da lide ter como pressuposto a legitimidade e a

sucumbência (condenação com base em exame do mérito), conclui-se não haver verdadeira incompatibilidade diante do princípio da eventualidade e da aplicação da garantia constitucional da ampla defesa. Ou seja, ainda que o réu se considere parte ilegítima e procure comprovar tal condição, pode ele ao mesmo tempo denunciar a lide a um terceiro para a eventualidade de um entendimento diverso por parte do magistrado. Isto porque todas as teses possíveis devem estar abrangidas dentro da garantia da ampla defesa” (A denunciação da lide e a ilegitimidade passiva ad causam, p. 468).

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ineficaz a denunciação e afastando-se, portanto, o denunciado, por não ter sido citado; assim sendo, os efeitos da sentença não lhe atingirão por não ser parte, arcando o denunciante com as consequências decorrentes.

De qualquer modo, caso a citação não seja realizada no prazo legal por circunstância que não possa ser atribuída ao denunciante316, não é possível cogitar que este, mesmo na hipótese do inciso I, do art. 70, perca, definitivamente, o direito à indenização decorrente dos prejuízos da evicção. Por inexistir culpa do denunciante pela demora em efetivar a citação, a consequência revela-se desproporcional, impondo-se conferir tratamento mais flexível e permitir o prosseguimento do processo, mas facultando oportunidade, por outro lado, de o denunciante buscar autonomamente o ressarcimento caso seja vencido.

Nas hipóteses dos incisos II e III, inexiste, muito menos, o risco de perda do direito, sendo que a consequência da falta de citação restringe-se a não ter o denunciante o auxílio do denunciado na defesa, a não se obter o título executivo judicial contra o denunciado nos mesmos autos e ao risco de o denunciante sucumbir eventualmente na ação regressiva futura. Dessa maneira, se não houver tempo hábil para a citação, ocorre a perda da eficácia do pedido de denunciação da lide e o processo prosseguirá apenas entre o autor e o réu, sem prejuízo de oportuna ação de regresso.

Essa questão do prazo para citar o denunciado merece ser revista pelo legislador, pois se tornou, na prática, difícil de ser contornada, em vista do diminuto prazo legal estabelecido de dez e trinta dias317, quando o denunciado residir, respectivamente, na mesma ou em outra comarca. Assim, consideramos necessário ampliar esse prazo para a citação ser realizada318.

316 Athos Gusmão Carneiro arrola, de maneira exemplificativa, várias hipóteses em “que a demora na citação

resulte não da conduta do denunciante, mas sim de deficiência dos próprios serviços judiciários (oficial de justiça, v. g. omisso no cumprimento do mandado, ou com acúmulo de serviço), ou decorra de força maior (greve dos transportes, inundações etc), ou seja consequência das próprias circunstâncias da causa, que impossibilitem ou dificultem extremamente a observância dos limitados prazos em lei (v. g., casos de denunciado residente no estrangeiro, ou em viagem, ou paciente de doença grave ou morador em local distante com problemas no cumprimento da precatória citatória” (Intervenção de terceiros, n. 52.1., p. 142).

317 O art. 96 do Código de Processo Civil de 1939 estabelecia os prazos de 8 dias para citar o denunciado

residente na mesma comarca e de 30 dias para aquele em comarca diversa, tendo sido timidamente ampliado quanto à primeira determinação.

318 O art. 333 do Código de Processo Civil português estabelece prazo de três meses para a citação, a contar-

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Além de dilatar esse prazo, revela-se oportuna a sugestão de SYDNEY SANCHES de prorrogá-lo até que a citação se efetive, na hipótese de não ter havido má-fé ou culpa do denunciante319. É claro que essa prorrogação não pode ser excessiva, devendo- se ajustá-la para que se busque um equilíbrio, de forma a não prejudicar tanto a parte adversa do denunciante – que tem o direito de ter a prestação da tutela jurisdicional, prestigiando a razoável duração do processo – como o próprio denunciante – a quem é assegurado valer-se desse instituto para eventualmente poder ser ressarcido na mesma demanda.

A questão, de qualquer maneira, desafia o disposto no art. 72 do Código de Processo Civil, expresso quanto ao prazo de suspensão do processo principal, mas em desarmonia com a atual realidade do cotidiano forense, em vista de serem extremamente exíguos os prazos estabelecidos, quase impossíveis de serem cumpridos. Se não forem revistos, a aplicação do instituto estará praticamente descartada ou a previsão legal se tornará letra morta.

Na hipótese de o denunciado estar em lugar incerto, a citação terá que ser feita por edital. Da mesma forma deverá ocorrer se o denunciante desconhecer o paradeiro do denunciado, após o insucesso da citação realizada por oficial de justiça ou por carta. No caso de citação do denunciado por edital, impossível será cumprir a citação no prazo legal da letra “b”, do §1º, do art. 72, do texto processual, diante da complexidade que envolve essa modalidade de citação e do tempo do próprio edital. Em vista disso, existe consenso na doutrina, com o qual concordamos, que o prazo de trinta dias, “quando a citação tiver que ser feita por edital, deve ser para os atos iniciais deste, e não para sua complementação, que, normalmente, leva prazo superior”320.

De qualquer maneira, se a citação não se efetivar, o processo deverá prosseguir unicamente em relação ao denunciante (art. 72, § 2º, do CPC), sem a ação de regresso. prosseguimento da causa principal. O dispositivo lusitano parece-nos mais realista no tocante ao prazo de citação e, caso todas as citações não tenham sido realizadas, deixa, de maneira interessante, a critério do autor o prosseguimento ou não da demanda.

319 Denunciação da lide no direito processual civil brasileiro, p. 63.

320 Celso Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, p. 346-347; Moacyr Amaral Santos,

Primeiras linhas de direito processual civil, p. 31; Sydney Sanches, Denunciação da lide no direito processual civil brasileiro, p. 174.

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Todavia, este não pode ser prejudicado, caso a demora da citação não aconteça por culpa sua.

Em vista dessa real dificuldade em citar o denunciado, o sentido de obrigatoriedade de denunciação decorrente de evicção deve ser temperado. Na realidade, o art. 456 do Código Civil estabelece que o adquirente deverá notificar o alienante do litígio, “quando e como lhe determinarem as leis do processo”. Não sendo possível fazê-lo no prazo do art. 72 do texto processual, em vista de o processo principal não poder ficar suspenso de modo indefinido, a denunciação, sem prejuízo do prosseguimento da lide, terá que ser feita, como considera JOSÉ IGNÁCIO BOTELHO DE MESQUITA, a fim de, ao menos, notificar o denunciado para que ele possa, se quiser, atuar “como assistente simples do denunciante, cabendo ao denunciante, reconhecida a evicção, propor ação regressiva”321.

A propósito, OVÍDIO ARAÚJO BATISTA DA SILVA assevera ser perfeitamente admissível a denunciação tardia sem simultânea propositura da ação de

regresso, e conclui ser “evidente que o denunciante não poderá ficar privado do direito de

proceder à denunciação, a fim de possibilitar o ingresso do denunciado como seu assistente, na luta contra terceiro molestante, de modo que o responsável pela indenização, que legitima a denunciação, fique exposto aos efeitos do art. 55”322. Esse raciocínio parece- nos correto, em razão de estar em sintonia com o caráter de assistência da denunciação e vincular, relativamente às questões do direito do regresso, o denunciado, que não poderia resistir aos efeitos da sentença, tal como estabelece o art. 332 do Código de Processo Civil português.

6.5. Dos desdobramentos da denunciação da lide feita pelo réu. Feita a

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