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Da faculdade da denunciação pelo autor

No documento Denunciação da lide no direito brasileiro (páginas 93-96)

5. Das hipóteses de cabimento de denunciação da lide

5.2. Da faculdade da denunciação pelo autor

formula pedido em face do réu que, se for julgado procedente, torna prejudicado o realizado em face do denunciado, em razão de este ser subsidiário. Se o pedido do autor feito ao réu não for acolhido, subsiste a denunciação da lide, revelando-se, claramente, o interesse processual do demandante, até porque se trata de um cúmulo sucessivo, já que são postuladas duas coisas; a obtenção da primeira, porém, já satisfaz o interesse do requerente, havendo, pois, um elo de prejudicialidade entre ambas.

Ao denunciar a lide, o autor revela preferência quanto ao pedido feito em relação ao réu, mas, a título subsidiário, cumula pedido, na mesma iniciativa processual, em vista do denunciado, ampliando, em tese, a potencialidade de sua pretensão de direito material ser acolhida. É inegável ter a silhueta da denunciação da lide, quando realizada pelo autor, particularidades inadequadas à restrição que alguns emprestam à sua ocorrência no polo passivo; é, sem dúvida, uma demanda cumulada de forma eventual para que o julgador

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examine o pedido contra o denunciado, se o que se pediu em relação ao réu não for procedente219.

A possibilidade de o autor denunciar a lide, fazendo-o na petição inicial, não viola propriamente o princípio da razoável duração do processo, até mesmo porque é o próprio demandante quem postula a intervenção de terceiro, sendo “o maior interessado no andamento rápido do feito”220. A introdução de fatos e fundamentos jurídicos novos, em decorrência da lide secundária, também não restringe a utilização do instituto pelo demandante, até porque ele o faz no momento do nascedouro da demanda, de modo que o processo já se originará ampliado e com esses traços, sem riscos de modificação no seu desenvolvimento.

Há, pois, um cúmulo originário, enquanto que a denunciação pelo réu constitui um cúmulo ulterior. Além disso, contribui para a economia do processo e está rigorosamente afinado ao disposto no art. 289 do Código de Processo Civil, evitando-se, no caso de a ação ser julgada improcedente, que o autor tenha que demandar novamente, colocando, então, aquele que seria denunciado no polo passivo.

A questão é bem abordada por CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO, ao afirmar que o cúmulo eventual é a “construção dada ao instituto da denunciação da lide, na feição que assume quando feita pelo autor; resolve-se ela numa demanda relativa ao réu ‘principal’ e outra, subsidiária, de condenação do garante no caso de não vingar a primeira pretensão (cúmulo subjetivo de dois réus perante o mesmo autor; cúmulo objetivo de demandas, uma envolvendo cada um deles)”221. Em vista do fenômeno da cumulação eventual subjetiva, existe, pois, a possibilidade de se intentar demanda cumulada, mas dirigida a pessoas diferentes.

219 Nesse sentido, Clito Fornaciari Júnior defende que deve haver leitura diversa entre a denunciação da lide

feita pelo autor e a realizada pelo réu, concluindo que “não se pode cogitar de confinar os fundamentos da denunciação da lide, ou da demanda posta como subsidiária, aos mesmos fundamentos da ação contra o réu intentada pelo autor e denunciante”, ao criticar acórdão do extinto Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo (processo n. 672.360-00/2, Rel. LUIZ DE LORENZI, J. 14/02/2001), que aplicou a tese restritiva e indeferiu a denunciação da lide feita pelo autor, de vez que considerou não ser “possível o pedido cumulado eventual nos moldes do art. 289 do CPC, sob as vestes da denunciação feita pelo autor” (“Limites da denunciação da lide pelo autor”, in Processo civil: verso e reverso, p. 35).

220 Cf. Cássio Scarpinella Bueno, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, p. 227. 221 Litisconsórcio, n. 56, p. 311.

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Diante das peculiaridades da denunciação feita pelo autor, as pretensões e as causas de pedir são diferentes, porém devem ser compatíveis entre si, tal como sucede na cumulação de vários pedidos contra o mesmo réu (art. 292, § 1º, do CPC), e devem estar ancoradas em alicerce de fato comum.

A propósito, oportunas são as considerações de JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI, ao afirmar que “a legislação processual dispensa, nesse tipo de cúmulo, qualquer compatibilidade ou nexo substancial entre os pedidos”, devendo, porém, estar fundados na mesma gênese fático-jurídica222. Acrescenta, ao se voltar ao instituto da denunciação, que a “causa petendi, narrada no processo em que o denunciante é parte, deverá guardar conexidade com a demanda denominada secundária, viabilizando, destarte, a denunciação nas hipóteses previstas no art. 70 do Código de Processo Civil. A intensidade da conexão, todavia, dependerá das circunstâncias de cada caso concreto, sendo maior na situação do inc. I do art. 70, e muito mais tênue na do inc. III, quando, por exemplo, a denunciação da lide é fundada no direito de regresso decorrente do contrato de seguro”223. De qualquer modo, ainda que possa ser mais tênue a intensidade, existe a conexão, viabilizando a aplicação do instituto, pois o sistema não estabelece qual deveria ser a força necessária.

Assim, a tese ampliativa deve prevalecer, com muito mais razão, quando se trata de denunciação da lide feita pelo autor, não havendo margem para restringir a aplicação do instituto, invocando-se a interpretação restritiva224. Na realidade, cuida-se de uma faculdade conferida ao autor, fundado na possibilidade de cumulação subjetiva eventual dos pedidos contra pessoas distintas, que não é vedada, mas, ao contrário, prestigiada pelo sistema.

222 Causa de pedir e pedido no processo civil:(questões polêmicas), p. 285. 223 A causa petendi no processo civil, p. 217-218.

224 Abílio Neto, ao anotar sobre o chamamento à autoria, tal como o instituto é denominado no Código de

Processo Civil português, destaca a preponderância que deve ser conferida à interpretação ampliativa, reportando-se à seguinte decisão: “I - A acção de regresso a que se refere o n. 1 do art. 325o

do Cód. de Proc. Civil deve reportar-se a uma relação conexa com a relação jurídica controvertida, podendo basear-se tanto em lei expressa ou contrato, como em qualquer outro acto, que dê lugar à responsabilidade civil. II – Tal conexão não exige uma absoluta subordinação, à relação principal, da relação jurídica estabelecida entre o réu e o chamado; basta uma relativa dependência, resultante de a pretensão do réu contra o chamado se filiar no facto de este o ter exposto a uma demanda e à perda dela. III – O chamamento à autoria só se justifica quando, em virtude dessa relação conexa, o chamado deva responder pelo dano resultante da sucumbência do réu, pois é esta afinal que se lhe virá impor, como caso julgado através

daquele meio processual (Ac. STJ, de 28.6.1979, BMJ, 288o-360) (Código de Processo Civil anotado, nota

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5.3. Da denunciação da lide pelo Estado ao agente público responsável pelo

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