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DO SONHO À REALIDADE: OS DESAFIOS DO ACESSO E PERMANÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

No documento Anais Completos (páginas 159-165)

SOUSA, Clerislânia de Albuquerque Universidade Estadual do Ceará (UECE) clerislania@gmail.com

Eixo temático 2: Estado, sociedade e políticas educacionais

RESUMO

Este estudo tem como objetivos: estudar os desafios do acesso e permanência no ensino superior e refletir a eficácia das políticas públicas na permanência dos estudantes no ensino superior. A metodologia é de abordagem qualitativa de caráter descritivo e de procedimento técnico bibliográfico. O estudo revelou que para as camadas mais pobres da população, o sonho do acesso à universidade pública contrasta-se com a realidade em permanecer nela.

Palavras-chave: Ensino Superior. Acesso à Educação. Adversidades. Permanência.

1 INTRODUÇÃO

As políticas de acesso ao ensino superior trouxeram para as camadas populares um sonho até então considerado distante para as famílias de baixa renda: ter um filho no ensino superior. No entanto, muitas vezes, o sonho de passar em uma instituição pública contrapõe-se com as dificuldades que este, agora universitário, irá passar para permanecer na universidade. Durante muitas décadas, estudantes oriundos de escolas públicas, pessoas de baixa renda e negros não sonhavam sequer com a possibilidade de ingressar no ensino superior, quer seja pela deficiência da educação pública de base, a qual fica em situação de total desvantagem se comparada com os cursinhos preparatórios de escolas particulares ou pela condição financeira desses aspirantes universitários.

A partir desse prisma, este estudo tem como objetivo principal: estudar os desafios do acesso e permanência no ensino superior e como objetivos específicos pretende: compreender as dificuldades dos estudantes em ingressar no ensino superior, entender os fatores que dificultam a permanência dos estudantes na universidade e, por fim, refletir se as políticas públicas existentes estão sendo eficazes no que tange a permanência desses estudantes no ensino superior. Para esse estudo, a metodologia utilizada é de abordagem qualitativa, uma vez que se buscou a interpretação de um fenômeno, o seja, os desafios do acesso e permanência no ensino superior. No que tange os objetivos, a metodologia adotada é de caráter descritivo, uma vez que pretende descrever as características de determinado fenômeno. Segundo Gil (2002, p. 42), “As pesquisas descritivas têm como

objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis.”

Acerca dos procedimentos técnicos utilizados, buscou-se realizar uma pesquisa bibliográfica, onde foram examinados como referencial teórico artigos que tratam desse assunto, assim como, órgãos que disponibilizam dados sobre o assunto estudado. Conforme Gil (2002, p. 44), “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.” No próximo bloco abordaremos aspectos teóricos inerentes aos desafios de acesso e permanência no ensino superior em nosso país, tema central desse estudo.

2 DESENVOLVIMENTO

Segundo o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, a educação é um direito de todos, conforme é colocado: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

Partindo dessa definição, temos em mente que todos nós temos direito efetivo a educação e que o Estado deve prover isso a toda a sociedade. Sem distinção. No entanto, infelizmente, a realidade é bem discrepante, apesar de sabermos que a educação é o alicerce central para a formação de uma sociedade mais justa e que isso impacta diretamente e positivamente na construção de um corpo social com oportunidade para todos, conforme é colocado por Dias Sobrinho (2013, p. 109):

Educação como bem público é essencial para a formação de cidadãos conscientes e, correlativa e inseparavelmente, de profissionais qualificados. Formação cidadã e capacitação profissional são aspectos co-essenciais, mutuamente referenciados e solidariamente constitutivos do sujeito social. Cidadãos-profissionais ética e tecnicamente responsáveis e qualificados são os principais atores do fortalecimento econômico e, inseparavelmente, do desenvolvimento da nação.

Partindo disso, percebe-se a importância da educação em inúmeros contextos e disponibilizá-la para todos impacta diretamente na formação da sociedade. Sendo assim, com a ajuda da sociedade, o Estado deve prover educação de qualidade para todos. Porém, sabemos que na prática isso não acontece e se fizermos uma breve análise, perceberemos que baixa escolaridade se relaciona diretamente com pobreza, conforme

é exposto pelos dados apresentados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) (IBGE, 2017).

A pesquisa revela que o percentual de pretos e/ou pardos com 25 anos de idade ou mais que possuem o ensino médio completo ou superior incompleto foi de 29,6% no ano de 2017, e o número de brancos, considerando o mesmo segmento e ano foi de 31,5%. Considerando o mesmo ano e levando em consideração o indicador superior completo a diferença chega a dobrar. Para os pretos e pardos no ano de 2017 com 25 anos ou mais, o quantitativo de pessoas com superior completo era de apenas 9,3, enquanto que para os brancos com a mesma faixa etária era de impressionantes 22,9%, o que ratifica a premissa mencionada acerca da relação entre baixa escolaridade e pobreza, visto que os percentuais elevados se aplicam somente aos brancos.

Quando estudamos e analisamos os dados sobre o acesso ao ensino superior e vemos os números elevados de matriculas, temos em um primeiro momento a impressão que o sistema está cumprindo a sua missão: possibilitar o acesso à educação no ensino superior a todos. Segundo dados do Censo da Educação Superior, tivemos no ano de 2017 impressionantes 8.290.911 alunos matriculados em graduações e cursos sequenciais. Cabe enfatizar que na rede pública esse quantitativo é representado por 24,7% desse montante, o que representa 2.045.356 matrículas, sendo o percentual mais expressivo, 75,3%, ou seja, 6.241.307 de matriculas na rede privada. É preciso enfatizar que a pesquisa também mostra outro dado que merece destaque: comparando o ano de 2016 com o de 2017, o número de concluintes da rede pública é considerado baixo. No ano de 2016 e 2017 concluíram o ensino superior 246.875 alunos e 251.793, respectivamente, correspondendo a 21% dos que terminaram o ensino superior na rede pública. Se fizermos o mesmo comparativo com a rede privada para o mesmo período, temos os seguintes dados: 922.574 e 947.976 respectivamente, correspondendo o ano de 2017 com 79% da rede privada que concluíram o ensino superior.

Tais quantitativos mais expressivos na rede privada demonstram que as políticas de acesso ao ensino superior, tais como FIES e PROUNI, em instituições privadas estão cumprindo o seu papel, não esquecendo o fato que a oferta abundante de faculdades privadas possibilita aos alunos um maior poder de barganha. Sobre as universidades públicas o contexto ganha outro viés; desde o momento do resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e a posterior inscrição no SISU (Sistema de Seleção Unificada), o futuro calouro passa por inúmeras transformações. A primeira delas é escolher o curso que, teoricamente, irá determinar para sempre a carreira que você irá seguir na sua vida. Aliado

a isso, existem, (mesmo que menores), estigmas que determinados cursos são apenas para pessoas com poder aquisitivo mais elevado, como medicina, direito e engenharias.

Acerca desse assunto, cabe enfatizar que muito ainda tem que ser mudado sobre muitos aspectos, até mesmo dentro da universidade. A partir das políticas de cotas, alunos podem pleitear vagas nos cursos de elite e muitos alunos ao iniciarem os estudos no ensino superior, deparam-se com a realidade de materiais caros e a própria adaptação em uma turma predominantemente formada por alunos com alto poder aquisitivo. Para muitos, dependendo do curso, ter que conciliar trabalho e vida acadêmica fica praticamente inviável, o que, no final das contas, faz com que o estudante acabe abandonando o sonho do ensino superior.

Apesar das inúmeras dificuldades, as universidades públicas disponibilizam bolsas para os alunos que possuem dificuldade socioeconômica, porém, o número de estudantes nessa situação é alto, o que acaba não sendo possível atender a todos.

3 CONCLUSÕES

Apesar de estar previsto na Carta Magana, o acesso à educação de qualidade e igualitária é disponibilizado para uma fatia de privilegiados da população. Conforme visto na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua, a baixa escolaridade está diretamente relacionada à pobreza, o que ratifica que as populações mais pobres (negros e pardos) sempre ficam em desvantagem se comparados com pessoas de poder aquisitivo maior, o que impacta diretamente na construção de uma sociedade mais justa e com possibilidades para todos.

O estudo revelou que para as camadas mais pobres da população, o sonho do acesso à universidade pública contrasta-se com a realidade em permanecer nela. Muitos são os problemas que podem surgir, tais como: a própria adaptação no ambiente acadêmico, dependendo do curso e da forma de ingresso. Mesmo com a política de cotas ainda existe – de maneira velada – um paradigma com pessoas (pobres e negros, em sua maioria), ao ingressarem em cursos considerados de elite. Outro fator a ser mencionado diz respeito a conciliar a vida acadêmica com o trabalho, muitas vezes tendo que escolher um dos dois.

Cabe enfatizar a existência de políticas públicas dentro das universidades públicas que visam manter esses estudantes dentro da universidade, no entanto, o número de alunos que não concluem o ensino superior ainda é alto, o que reflete um paradoxo alarmante entre passar em uma universidade e conseguir concluir o curso de fato. Ou seja, o doce sonho de ingressar no ensino superior contrapõe-se com a amarga realidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição. República Federativa de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 05 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao. htm>. Acesso em: 15 out. 2018.

DIAS SOBRINHO, José. Educação Superior: bem público, equidade e democratização.

Avaliação, v. 18, n. 1, p. 107-126, mar. 2013.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua 2017. Disponível em: <ht- tps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101576_informativo.pdf>. Acesso em: 14 out. 2018.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS ANÍSIO TEIXEIRA. Censo da Educação Supe-

rior 2017. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/censo-da-educacao-superior>. Acesso

em: 14 out. 2018.

SAMPAIO, Gabriela Thomazinho Clementino; OLIVEIRA, Romualdo Portela de. Dimensões da desigualdade educacional no Brasil. RBPAE, v. 31, n. 3, p. 511-530, set./dez. 2015.

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