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GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO: TESSITURAS EM SISTEMAS MUNICIPAIS DE ENSINO DA MESORREGIÃO SUL

No documento Anais Completos (páginas 171-174)

CATARINENSE

TURCATTO, Valmir José Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) vjturcatto@gmail.com

Eixo temático 2: Estado, sociedade e políticas educacionais

Financiamento: CNPq

RESUMO

O trabalho tem por objetivo analisar as condições político-institucionais destinadas a promover a gestão democrática do ensino público em sistemas municipais de ensino do Sul Catarinense, bem como sua correspondência com dinâmicas de participação que se ali processam. Tendo por base resultados de exame documental e entrevistas, as conclusões apontam que as bases normativas e as opções político-institucionais indiciam possibilidades de reforço às condições de democratização da gestão educacional no âmbito dos respectivos sistemas de ensino.

Palavras-chave: Gestão democrática do ensino público. Sistemas municipais de ensino.

Participação. Opções político-institucionais.

1 INTRODUÇÃO

Considerando o contexto histórico brasileiro, a bandeira da gestão democrática da educação pública adquiriu maior importância e destaque nos debates e movimentos que marcaram o processo de redemocratização do país ao longo da década de 1980, culminando com a Constituição Federal (CF) de 1988. Todavia, convém lembrar que as reformas da década de 1990, alinhadas com pressupostos neoliberais, alteraram significativamente o sentido e as condições de edificação dessa perspectiva de gestão educacional.

Se, consoante o enfoque racional-positivista, a gestão assenta-se em relações verticais e autoritárias, de uma perspectiva sociocrítica a construção de um projeto de gestão que se pretende democrática converge para uma concepção de educação e de sociedade pautada na relação entre sujeitos que interagem no e com o ambiente, como construtores de nova sociedade (BORDIGNON; GRACINDO, 2006).

Assim, tendo em vista pressupostos de uma gestão democrática da educação pública, entendemos que o processo de implantação, pelos municípios, de seus respectivos sistemas de ensino, conforme preconiza a CF de 1988 e a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB), implica, justamente, um novo olhar sobre a realidade educacional, na perspectiva de sua transformação.

Nesse sentido, o presente trabalho, inscrito no subprojeto de Santa Catarina da Rede Mapa, tem por objetivo analisar condições político-institucionais destinadas a promover a gestão democrática do ensino público em sistemas municipais de ensino do Sul Catarinense1, bem como sua correspondência com dinâmicas de participação que se ali processam.

A etapa empírica da pesquisa da qual resultado o trabalho compreendeu exame da base normativa municipal – leis que institucionalizam os sistemas de ensino e outros documentos que dispõem sobre gestão do ensino público – e por entrevistas com sujeitos sociais de quatro municípios da mesorregião, tendo sido orientada por pressupostos da abordagem crítico-dialética de pesquisa.

Assim posto, em um primeiro desdobramento do trabalho, abordamos alguns aspectos teórico-conceituais e históricos relacionados à ideia de democratização, bem como o papel do município na constituição de condições político-institucionais para a gestão democrática do ensino público na educação básica. Na sequência, apresentamos dados relativos a essa constituição, de acordo com o plano legal dos sistemas municipais de ensino da mesorregião pesquisada, considerando princípios da gestão democrática e espaços e mecanismos de participação, bem como elementos colhidos dos depoimentos de sujeitos sociais. Por fim, na última seção do trabalho, são tecidas as considerações finais.

2 DEMOCRACIA E A GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO

O termo democracia, conforme Ciavatta (2002), denota participação e diz respeito a um conjunto de regras e procedimentos para a elaboração de decisões coletivas. Coutinho (2002), recorrendo ao filósofo marxista Georg Lukács, defende que a democracia deva ser entendida com um processo. Daí ser adequado, segundo o autor, falarmos em democratização.

Contudo, no contexto do capitalismo, o liberalismo “[...] assume a democracia e passa a defendê-la, mas reduzindo-a e minimizando-a, empobrecendo suas determinações, concebendo-a de modo claramente redutivo.” (COUTINHO, 2002, p. 12). A respeito da realidade brasileira, Weffort (1984, p. 53) assinala que “a palavra democracia tem sido usada em tantos sentidos para caracterizar a transição política brasileira que podemos sempre nos perguntar se tem, finalmente, algum sentido.”

Trata-se, pois, do paradoxo existente entre o modelo neoliberal, notadamente incompatível com a participação e a socialização do poder, essência da democracia. Para Wood (2002, p. 201), “o capitalismo tornou possível a redefinição de democracia e sua redução ao liberalismo.” Sendo assim, o conceito de democracia é frequentemente distorcido e manipulado, seja pelo uso que se faz do verbete ou pelas ações que se dizem expressá-la.

No caso do Brasil, embora não distante dessa realidade, vale assinalarmos que a organização da sociedade em prol de mudanças no país, a partir do final da década de 1970, permitiu gestar um movimento em prol da redemocratização do país. Extensão desse movimento, a inscrição do princípio da gestão democrática na CF de 1988 não ficou imune às influências do capitalismo e ao alinhamento de governos aos pressupostos do neoliberalismo, resultando na progressiva supressão de direitos sociais.

Todavia, entendemos que a CF de 1988 representa, no contexto descrito, uma conquista importante em termos de objetivos de democracia para o país, tendo sido instituído, à luz desses objetivos, o federalismo cooperativo, ali contida a elevação do município ao patamar de ente da federação.

Fruto dessa elevação, ao município foi conferida autonomia político-administrativa, inclusive no âmbito educacional. Neste âmbito, foi-lhe atribuída a incumbência de institucionalização do sistema próprio de ensino (art. 211 da CF) e, na extensão desta atribuição, a definição de normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades (art. 14 da LDB), à luz do princípio constitucional da gestão democrática do ensino público, conforme definido no art. 206 da CF. Tal providência foi, mais recentemente, ratificada pela Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014, que dispõe sobre o Plano Nacional de Educação 2014-2024.2

Este quadro de possibilidades configura a tônica do presente estudo, ou seja, o delineamento político-institucional dos sistemas de ensino no sentido de firmarem princípios da gestão democrática do ensino público na educação básica e, em consonância, de promover espaços e mecanismos de participação afins. Atentos a essa realidade, passemos para um retrato e análise de princípios da gestão democrática do ensino público e condições político-institucionais de participação na mesorregião Sul Catarinense.

2 A meta 19 do Plano previa que, em dois anos, contados da aprovação do PNE, fosse efetivada a gestão democrática

da educação. Na mesma lei, o art. 9º definiu pela aprovação, por Estados e municípios, de leis específicas, disciplinando a gestão democrática da educação pública no âmbito dos respectivos sistemas.

No documento Anais Completos (páginas 171-174)

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