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A LUTA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS CONQUISTAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

No documento Anais Completos (páginas 117-123)

BRAGA, Tânia Noemia Rodrigues Unigrendal University (GCU) taniarodrigues1444@yahho.com.br ALVES, Antônio Wellington Anne Sullivan University (ASU) wellington.chorozinho@hotmail.com SOUZA, Elineia Pereira de Unigrendal University (GCU) elineia_souza@yahoo.com.br

Eixo temático 2: Estado, sociedade e políticas educacionais

RESUMO

Este trabalho propõe analisar os movimentos sociais no Brasil e lutas que impulsionaram as conquistas na educação, destacam-se as que foram alcançadas no decorrer da história a favor da educação universalizada. A pesquisa baseou-se em: GOHN (2011), BAUER (2009), buscando compreender a história da sociedade civil pelos direitos educacionais. Os MS buscam pressionar o Estado para elaboração e legislação de políticas educacionais para atender reivindicações da sociedade brasileira. Defendemos que a participação da sociedade civil nas lutas pela educação não substituía o Estado, mas que este cumpra seu papel de propiciar uma educação de qualidade, tendo em vista a emancipação política e libertadora das classes populares.

Palavras-chave: Movimentos sociais. Educação. Direitos.

1 INTRODUÇÃO

Os movimentos sociais fazem parte da história da humanidade desde os tempos mais remotos. Eles podem ser observados a partir de ações coletivas humanas na história, nas lutas pela sobrevivência ou defesa de seus direitos.

No Brasil, no decorrer da história, não foi diferente. O país usou os movimentos sociais na luta contra a política vigente, na busca por direitos e contra a transformação ocorridas no contexto sociopolítico. A partir desses conflitos de interesses é que os movimentos

sociais se tornam uma ferramenta de intervenção.

Por isso, o trabalho propõe analisar os movimentos sociais no Brasil e lutas que impulsionaram conquistas na educação, destacando-se as que foram alcançadas no decorrer da história de lutas de pessoas a favor da educação universalizada e de uma sociedade mais democrática e justa. Esta pesquisa traz revisão da literatura: Gohn (2011),

Saviani (1995), Bauer e Fernandes (2009), etc., buscando uma compreensão histórica da sociedade civil que reivindicou seus direitos a educação.

Um Movimento Social designa a ação coletiva de setores da sociedade ou organizações sociais para defesa ou promoção, no âmbito das relações de classes, com objetivos ou interesses - para transformar ou preservar a ordem estabelecida na sociedade. Os movimentos sociais são característicos de uma sociedade de diversidade de ideias, e as pessoas se utilizam dos MS para alcançar mudanças através do enfrentamento político. Assim, a organização de pessoas em prol de uma causa é uma característica de uma sociedade politicamente ativa. Fazem parte deles os movimentos populares, sindicais e também organizações não governamentais (ONGs).

Os movimentos sociais lutam por causas que vão além dos interesses particulares e os objetivos, quando alcançados, transformam a vida de muitas pessoas, além das que se envolvem diretamente nas ações. Essa característica comum desses movimentos permite verificar se as demandas dos grupos organizados buscam superar uma ordem social estabelecida, propor mais rigidez do sistema político ou servir de apoio à busca da ampliação e manutenção dos direitos de grupos específicos: negros, mulheres, LGBTIs, pessoas com deficiência, os indígenas, etc.

Percebe-se que os movimentos sociais estão diretamente ligados à resolução de problemas sociais, e não à reivindicação de posses materiais. No entanto, eles não se resumem apenas à reivindicação de direitos ou à demanda pela representação de um grupo, pois um movimento pode surgir como agente construtor de uma proposta de reorganização social para mudar um ou outro aspecto de uma sociedade.

Nesse contexto, o educador Paulo Freire reconhece a importância e o potencial educativo dos movimentos sociais e nos garante que a educação popular deve possibilitar um processo de conscientização e afirmação de direitos historicamente negados. A obra de Paulo Freire é utilizada junto aos movimentos sociais, conforme pesquisas dos autores abaixo:

Os postulados freireanos tiveram um papel fundamental na atividade educativa gerada pelas atividades político-organizativas nos anos 70 e parte dos anos 80. Foi um período em que, na América Latina em geral, e no Brasil em particular, a educação popular se tornou sinônimo de movimento social popular. (MEJIA, 1991; TORRES, 1994; DAM, 1996).

Dessa maneira a educação popular é de fundamental importância no enfrentamento das desigualdades sociais, para dar condições ao desenvolvimento do indivíduo, para ajudá-lo em suas necessidades e atividades que o levarão a independência de seu ser, preparando-o para a vida, levando-o à crítica, a vontade de mudanças e na busca constante de novos conhecimentos.

2 DESENVOLVIMENTO

Muito se discute sobre a temática dos movimentos sociais em interface com a educação. Dentre eles: Bauer, Paulo Freire, Maria da Glória Gohn, etc. Nesse trabalho a abordagem fica limitada a um dado período de tempo em que floresceram os movimentos sociais e como contribuíram para melhorias educacionais no Brasil.

Cabe ressaltar que na relação educação-movimento alguns movimentos foram intensificados partir da segunda metade do século XX, como exemplo as Ligas Camponesas e Paulo Freire, nos anos 1960 que nos deixou o legado do seu método de educação popular.

Outros movimentos sociais e populares tiveram preocupação como as questões da educação em nosso país, citados por Bauer, Fernandes e Gohn (2009, p. 11-19):

[...] os Centros Populares de Cultura (CPC), criados pela União Nacional dos estudantes (UNE), as iniciativas de educação de adultos, como o Movimento de Educação de Base (MEB), efetivado com o apoio da Confederação dos Bispos do Brasil, que atuava no meio rural, [...] que empregavam o “Método de Alfabetização de 40 horas”, de Paulo Freire [...] tendo-se transformado no núcleo central do Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, que se desenvolveu entre janeiro e abril de 1964.

Percebe-se que tais movimentos foram importantes para ‘aprendizagens e produção de saberes’ como bem frisou Gohn (2011, p. 334). Segundo essa pesquisadora a “relação movimento social e educação existe a partir das ações práticas de movimentos e grupos sociais.”

O período da ditadura militar no Brasil provocou um tempo favorável para a ebulição dos movimentos sociais. Apesar da repressão do Estado, nesse período de governo, exercida de diversas formas, a sociedade civil brasileira sempre reagiu e lutou pelos seus interesses, para exigir seus direitos básicos, instituídos por lei e negados pelo Estado.

Além disso, nos anos 1970, as Comunidades de Base da Igreja (CEBs) praticavam uma educação não formal, que nessa época também buscava formar os participantes com visão crítica e política. Conforme as palavras de Gohn (2011, p. 347):

As CEB’s eram a porta de entrada nos movimentos sociais urbanos de luta por creches, transportes, postos de saúde, moradia, etc. dado o regime político da época, professores não podiam fazer parte dos sindicatos, mas participavam de movimentos de resistência em suas associações de classes. (GOHN, 2011).

Daí a grande importância desse movimento social para as pessoas na sociedade da época. No contexto dos anos 1970, outros movimentos questionaram diretamente a

ditadura militar, como o movimento pela anistia, ou ainda os movimentos políticos de resistência armada de setores que quiseram a guerrilha.

Os anos da década de 1980 se viveu no Brasil uma acentuada relação educação e movimentos sociais onde podemos afirmar que houve uma intensa organização popular e de participação política na sociedade, onde pode-se assegurar que existiu um “conjunto de ideias políticas, filosóficas e pedagógicas que nasceu com os Movimentos de Educação e Base e Cultura Popular.” (MOVIMENTO, 2017).

A propósito Saviani (2010) afirma que:

[...] sob o ponto de vista da organização educacional, a década de 80 é uma das mais fecundas de nossa história, pois a mobilização desses anos orientou-se pela bandeira de transformar a Educação e a escola em instrumentos de reapropriação do saber por parte dos trabalhadores; saber este que viria, mais tarde, a contribuir para uma maior participação na sociedade.

A partir desse momento na história, as lutas se consolidam e colocam os trabalhadores em melhores condições de disputa de poder na sociedade, fazendo valer os interesses da população frente aos da elite política e econômica do nosso país.

Com o processo de democratização de 1984, os manifestantes foram as ruas e praças pedindo ‘Diretas Já’, que foi o maior movimento de massas do Brasil. Outro movimento social foi a defesa da Assembleia Nacional Constituinte que resultou a Constituição Federal de 1988 trazendo conquistas para a população: o direito ao voto do analfabeto, a obrigatoriedade e gratuidade do ensino fundamental.

Anos 1990, na era Collor de Mello, o neoliberalismo se instalou no Brasil dando origem a exclusão social, à privatização, ao aumento do desemprego, a terceirização de serviços, bem como o sucateamento dos serviços públicos. O povo brasileiro se organizou em grandes mobilizações e formatou o movimento ‘Fora Collor’. Com o impeachment de Collor assume o vive presidente Itamar Franco. E 1994, novas eleições presidenciais. O projeto neoliberal venceu com Fernando Henrique Cardoso. E as mobilizações se enfraqueceram e a educação popular viveu consequências de sua prática cotidiana.

Nos anos 1990, com o fim do regime militar, com a reconstrução da institucionalidade, novas políticas públicas passam a pautar questões da cidadania, da participação, os sindicatos se enfraquecem e a educação escolar ganha uma nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que garante uma educação pública gratuita, obrigatória e de qualidade para todos. No Brasil, nas últimas duas décadas, Gohn (2011, p. 348-350) nos fala das principais demandas pela educação nos movimentos na educação popular. Alguns exemplos:

- Lutas pelo acesso em diferentes níveis de ensino. Acesso ao programa Universidade para Todos (PROUNI) e a Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI);

- Escola pública de qualidade e Gestão democrática da escola (Constituição1988 e na LDB de 1996).

- Luta dos professores e outros profissionais da educação por melhores condições salariais e de trabalho e qualificação dos professores.

- Movimentos como a Brasil Alfabetizado; Educação de jovens e adultos. (GOHN, 2011).

Através dos movimentos sociais que educam no sentido da educação cidadã, na luta pelos direitos, da mobilização política podemos questionar o sistema estatal e pressionar para a mudança, transformar e alterar o estado dos problemas sociais que vivenciamos, pois os movimentos sociais são ações coletivas com o objetivo de manter ou mudar uma situação. E em geral, envolvem um confronto e está relacionado com a oposição ou a parceria do Estado.

Enfim, é de fundamental importância a participação dos Movimentos Sociais na política para o fortalecimento da democracia, no processo de inclusão social e na conquista de direitos, visando o bem comum para toda a sociedade e para as futuras gerações.

3 CONCLUSÕES

Em todas as épocas tem-se registro de movimentos sociais que foram e são importantes. Isso demostra que viver em sociedade pode haver conflitos entre classes que buscam mudanças ou a manutenção da ordem, para que, na soma dos esforços, as ações educativas transformem-se em forças capazes de gerar cada vez mais movimentos que busquem a construção de mundo melhor.

Neste trabalho, a premissa defendida é de que a participação da sociedade civil nas lutas pela educação não é para substituir o Estado, mas para que este cumpra seu dever: propiciar educação de qualidade para todos.

Os movimentos sociais tiveram e têm papel preponderante na conquista e na garantia da liberdade democrática, na garantia dos direitos fundamentais, sendo a democracia mediadora de suas relações em que se aprende não só a reivindicar, mas também a viver situações novas de respeito mútuo em permanente reconstrução.

Gohn (2011, p. 356) expõe que:

Há muitos desafios a serem enfrentados. Como meta geral, e preciso alterar a cultura política de nossa sociedade (civil e política), ainda fortemente marcada pelo clientelismo, fisiologismo e por diversas formas de corrupção; [...] contribuir para o fortalecimento de uma cultura cidadã que respeite os direitos e os deveres dos indivíduos e das coletividades [...]

O movimento social é, sem dúvida, um fator importante para educar no sentido pleno levando em conta a necessidade de uma sociedade que luta por uma vida digna. Finalmente, é dentro desse contexto de contradições que a sociedade civil busca a compreensão da função transformadora da ação dos movimentos sociais para uma efetiva construção da democracia reconhecendo que a educação pode ser encarada como o principal fator para uma real emancipação política e libertadora das classes populares.

REFERÊNCIAS

BAUER; Carlos; FERNANDES, Maria Dilnéia Espíndola; GOHN, Maria da Glória Marcondes. Editorial – Educação e movimentos sociais: uma relação forjada na prática. Eccos Rev.

Cient., São Paulo, v. II, n. I, p. 11-19, jan./jun. 2009.

GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de

Educação. Minas Gerais, v. 16, n. 47, p. 333-357, maio/ago. 2011. Disponível em: <https://

www.mprj.mp.br/documents/20184/172155/movimentos_sociais_na_contemporaneida- de.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2018.

MEJÍA, Marco R. La educación popular en América Latina: en busca del rigor para definir su calidad. In: DAM, Anke van; MARTINIC, Sérgio; PETER, Gerhard. Educación Popular en

América Latina: crítica y perspectivas. Santiago de Chile: CESO, 1991.

SAVIANI, Dermeval. Os ganhos da década perdida. Revista Presença Pedagógica, Di- mensão, v. 1, n. 9, nov./dez. 1995.

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL:

No documento Anais Completos (páginas 117-123)

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