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2 ENTRELAÇANDO O MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO E O MÉTODO DA

No documento Anais Completos (páginas 43-47)

PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA

A pedagogia histórico-crítica é uma teoria pedagógica de caráter socialista que, na esteireira do que fez Marx com a análise da sociedade capitalista, denuncia o pensamento idealista e capta a natureza e especificidade da educação escolar.

Com efeito, tal teoria pedagógica marxista toma o trabalho como categoria ontológica e concebe o processo educativo a ser desenvolvido pela escola como apropriação das formas mais desenvolvidas que o trabalho humano já alcançou e disponibilização destes conteúdos científicos, artísticos e filosóficos às novas gerações.

Sendo a humanização um processo de socialização das experiências (trabalho) das gerações anteriores, a educação escolar deve se ocupar de circunscrever em cada

indivíduo singular, de forma intencional, a humanidade que foi produzida histórica e coletivamente pelos homens (SAVIANI, 2008; MARTINS, 2013; DUARTE, 2016).

Trata-se de uma defesa intransigente da socialização do saber elaborado, mas que supera a pedagogia tradicional, criticada pela pedagogia histórico-crítica como uma forma meramente idealista e burguesa de educar o homem para se adaptar como cidadão ao contexto capitalista. Destarte, ter o conteúdo como objetivo não significa preterir o método, a forma de socializar o conhecimento, tão cara para outra concepção idealista burguesa: a pedagogia nova, que se ocupar com o como ensinar (método ou forma) e acaba preterindo ou secundarizando o que ensinar (conteúdo) em nome de uma formação individualista, esfacelada e esvaziada (SAVIANI, 2008).

A pedagogia histórico-crítica incorpora por superação – não por ecletizacão – as outras concepções por entender que o saber erudito não deve ser privilégio de alguns indivíduos, mas sim socializados a todos na educação escolar. Conserva-se da pedagogia tradicional o conteúdo e da pedagogia nova a preocupação com a forma. Supera-se o idealismo, substituindo-o por uma concepção materialista, histórica e dialética.

Em outras palavras, esta pedagogia socialista não se compromete com formação individualista que estimula os indivíduos a aprender por conta própria, a “apreender a aprender” (DUARTE, 2000), que elevará intelectualmente uma parcela de indivíduos em detrimento de outros. A pedagogia histórico-crítica está engajada em socializar as formas mais desenvolvidas de conhecimento do gênero humano para todos as massas trabalhadoras.

Tendo o saber erudito como matéria prima do trabalho escolar, o método pedagógico da teoria histórico-crítica tem sido estruturado com o propósito de elevar o pensamento sobre os objetos e fenômenos da realidade objetiva da síncrese à síntese.

3 CONCLUSÕES

Saviani (2005, p. 261) converte o método filosófico e científico de Marx em método pedagógico. Considerando que ambos os métodos têm como objetivo o conhecimento da verdade sobre a realidade concreta, ele assevera que

Para apreender o concreto nós precisamos identificar os seus elementos e, para isso, nós os destacamos, os isolamos, separamos uns dos outros pelo processo de abstração, procedimento este que é denominado de análise. Uma vez feito isto, para apreender o concreto nós precisamos fazer o caminho do inverso, isto é, recompor os elementos identificados rearticulando-os no todo de que fazem parte de modo a perceber suas relações.

Em consonância com o materialismo histórico-dialético, a pedagogia histórico- crítica desenvolve seu método em cinco passos. Como adverte Martins (2013), trata-se

aqui de uma reflexão filosófica e não de uma simples orientação didático-procedimental a ser aplicada pelos professores.

O primeiro passo é a pratica social como ponto de partida. Aqui é o momento em que em que a realidade objetiva manifesta-se em sua aparência, em seu caráter sincrético pelos alunos e sincreticamente precário pelos professores. Segundo Martins (2013, p. 290),

Tomar a prática social como partida pressupõe o reconhecimento da educação escolar nas intersecções com a forma organizativa da sociedade vigente, reconhecendo-a, sobretudo, para identificar seus limites e opondo-se a eles. Aponta, pois na compreensão do trabalho pedagógico a partir das premissas teórico-filosóficas que ancoram a pedagogia histórico-crítica, isto é, do materialismo histórico dialético.

Como consequência do primeiro passo, a problematização é o segundo passo do método. Não se trata aqui de localizar problemas isolados da prática social e criar um projeto que coloque todos os professores para justapor alguns conteúdos de suas disciplinas ao tema geral, como tem sido propagado pela “pedagogia de projetos”. Como sustenta Martins (2013) o problema se identifica com aquilo que ainda não existe, mas precisa existir, com efeito compreende as demandas necessárias à existência de determinado fenômeno que impulsionam a ação tendo em vista o seu atendimento. Trata-se de lutar para promover o ensino que promova, de fato, o desenvolvimento do gênero humano.

A instrumentalização é o terceiro passo e tem a ver diretamente com o conhecimento sistematizado e a análise dos processos de transmissão do mesmo com a finalidade de trazer à existência o desenvolvimento do gênero humano. Como elucida Martins (2013, p. 292):

Trata-se do momento no qual se destaca, por um lado, o acervo de apropriações de que dispõe o professor para objetivar no ato de ensinar, isto é, dos objetivos, da seleção de conteúdos e procedimentos de ensino, dos recursos didáticos de que lançará mão etc. Por outro lado, trata-se das apropriações a serem realizadas pelos alunos, do acervo cultural indispensável à sua formação escolar, as quais lhes permitam superar a ‘síncrese’ em direção à ‘síntese’.

O quarto passo, denominado de catarse, se expressa na grande conquista, na efetivação da aprendizagem, no momento em que cada aluno singular engendra a humanidade produzida pelo conjunto dos homens (SAVIANI, 2013). Com a catarse, o aluno tem acesso aos instrumentos culturais que são convertidos agora em elementos ativos de transformação social (MARTINS, 2013).

Todo este processo conduz a síntese, o quinto passo: a pratica social como ponto de chegada, que é a mesma enquanto fundamento e finalidade pedagógica, mas deixa

de ser a mesma no pensamento dos indivíduos, devida a alteração qualitativa possibilitada pela ação pedagógica (MARTINS, 2013).

Em suma, este é um breve resumo de parte da teoria pedagógica socialista comprometida com cumprimento do real papel da educação escolar na elevação intelectual das massas, tão fundamental para que o dominado domine o que o dominador domina (SAVIANI, 2013) em prol da transformação das relações sociais e da erradicação da sociedade capitalista.

REFERÊNCIAS

DUARTE, Newton. Os conteúdos escolares e a ressureição dos mortos: contribuição à teoria histórico-crítica do currículo. Campinas: Autores Associados, 2016. (Coleção edu- cação contemporânea).

DUARTE, Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-Modernas da teoria vigotskiana. Campinas: Autores Associados, 2000.

KOPNIN, Pavel Vassílyevitch. A dialética como lógica e teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

LEFEBVRE, Henri. Lógica formal, lógica dialética. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei- ra, 1991.

MARTINS, Lígia Márcia. O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contri- buições à luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores Associados, 2013.

MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. 2. ed. São Paulo: Expressão Po- pular, 2008.

SAVIANI, Dermeval. Educação socialista, pedagogia histórico-crítica e os desafios da so- ciedade de classes. In: LOMBARDI, Jose Claudinei; SAVIANI, Dermeval. Marxismo e edu-

cação: debates contemporâneos. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2005.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 40. ed. Campinas: Autores Associados, 2008. (Coleção educação contemporânea).

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas: Auto- res Associados, 2013.

EM SALA COM A SOCIOLOGIA: DESAFIOS DA PRÁTICA

No documento Anais Completos (páginas 43-47)

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