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Doença crónica

No documento Cardoso, Jorge Manuel Santos (páginas 162-168)

Com plicações gastro intestinais

3.8 Adaptação psicológica à lesão vertebro m edular

3.8.1 Doença crónica

As LVM originam um quadro clínico que, pela s alterações provocada s, pode ser

sim ultaneam ente apreendido enquanto doença crónica e deficiência física, envolvendo

um a situação indese jável, m odificações irreversíveis e um a necessidade absoluta de

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Na actualidade, a im portâ ncia da doença crónica encontra -se reforçada não só pela

vertente quantitativa, com o tam bém pelas enorm es exigênc ias e pressõe s que m arcam a

nosso m osaico soc ial. De facto, a doença, entendida desde sem pre com o um m al m aior,

um a am eaça às rotinas quotidiana s e ao bem -estar, assum e, na m atriz soc ial dos nossos

dias, um a conotação pote ncializada negativam ente pelos custos físicos, psicológicos,

fam iliares, profissionais e sociais. Apesar de, cada vez m ais, um m aior núm ero de

pessoas ‘(con)viver’ com a sua doença, esta não deixa de ter um significado perturbador de um a relação prete nsam ente harm oniosa entre o suje ito e o seu c orpo, o seu projecto

de vida e toda a estrutura em que se inscreve. Im porta, contudo, não esquecer que a

doença crónica está longe de ser a totalidade do indivíduo.

O conceito de doença crónica é flexíve l e denota evoluç ões ao longo do tem po.

Contudo podem os dizer que, de um a form a geral, contem pla todas a s condições de

doença incurá vel ou de duração m uito prolonga da. Sinteticam ente, Blanchard (1982)

refere que as doenças crónicas são aquelas que têm de ser geridas em vez de curadas.

No âm bito da represe ntação dos processos de doença, os trabalhos desenvolvidos

por Leventhal e seus colaboradores, desde os anos oitenta (Leventhal & Diefenbach,

1991; Leventhal, M eyer & Nerenz, 1980; Leven thal & Nerenz, 1985; Le ventha l, Nerenz

& Steele, 1984), tendo por base um quadro referencial cognitivista, constituem um a

form ulação am plam ente aceite.

Segundo estes autore s, as representações de doença têm por base cinco conteúdos:

a) a identificação da doe nça, m ediante um diagnóstico e/ou a través de

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b) as causas biológicas ou psicossocia is;

c) a duração prevista, rem etendo para um a doença aguda, cíclica ou crónica;

d) as consequência s que, de acordo com os vários níveis de im pacto, levarão à

percepção de um determ inado grau de severidade da doença. Este aspecto

depende de um a m ultiplicida de de factores que podem ser agrupados em três

categorias (Stein et al., 1987):

severidade fisiológica ou m orfológica, quantificada através de testes laboratoriais ou ava liações ana tóm icas, encontrando-se associada à

interacção entre as especificidades da doença e o tratam ento m édico, bem

com o à adesão do doente a este;

severidade funcional, respe itante aos reflexos na capac idade de desem penho das activida des quotidianas, podendo ser m ediada por aspectos de ordem

psicológica;

e im pacto da doença, que reenvia para as consequênc ias que esta produz a nível fam iliar e social.

e) e a evolução, que pode, em determ inadas situações, contem plar as

possibilidades de cura.

De acordo com a abordagem das cognições de doença defendida por esta linha de

investigação, os com portam entos adoptados pelos sujeitos perante um a condição de

doença reflectem a interacção entre as c ircunstâncias am bienta is e a inform ação

disponível. Esta pode ser de nível geral; nível particular, fruto de contactos com

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da própria experiência pessoa l de doença. M ediante um processam ento activo destes

aspectos, é construída um a representação objectiva do estado de doença, sendo

m obilizados m ecanism os de confronto face à am eaça presente. Paralelam ente, é

desencadeada um a resposta em ocional, que é tam bém acom panhada por estratégias

adaptativas de stinadas a lidar com a em oção e, por fim , é avalia da a eficácia das

estratégia s de c oping. E stes processos aqui sintetizados, com e specific idades próprias

em cada pessoa, deram origem àquilo que Leventhal designa por M odelos de Sen so

C omum da D oença1.

Desta conceptualização resulta que a s representações dos processos de doença

exercem grande influência no m odo c om o os sujeitos desenvolvem as suas estratégias

de confronto, bem com o na avaliação da eficácia atingida. Concom itantem ente, o relevo

atribuído à s consequênc ias em ocionais ilustra a preponderância que estas podem

assum ir na representação da doença, influindo consequentem ente no ajustam ento

psicológico à doença.

O entendim ento das significaçõe s de doença construídas pelo indivíduo perm ite

um a m elhor com preensão dos processos de confr onto utilizados, torna ndo possível

corrigir as estratégias m enos adequadas e reforçar as m ais adaptativas.

A adaptação psicológica à doença física é um processo dependente da interacção

de um a m iríade de condicionante s, susceptíveis de serem agrupadas em t rês gra ndes

categorias (Verwoerdt, 1972):

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a) Características da doença física – entrando em linha de conta com o facto da situação ser a guda ou crónica, a gravidade da sintom atologia, o órgão ou

sistem a envolvidos, o grau de incapacidade vivido ou antec ipado, a duração e

velocidade de progressão (as doe nças que se dese nvolvem lentam ente

perm item um m aior espaço tem pora l para a a daptação) e, por fim , o tratar -se

ou não de um a doença am eaçadora para a vida.

b) Características do sujeito doente - a sua personalidade, idade, sexo,

expectativas, esta do psicológico a quando do diagnóstico e durante o curso da

doença, eventuais características psicopatológicas e experiência anterior em

relação à doença, entre outras.

Acerca das características do doente, M oos (1982) diz -nos que os a dultos

jovens têm m ais dificuldades em lidar c om doe nças graves do que os a dultos

m ais velhos, salientando ainda que, face a um diagnóstico de doença grave, os

hom ens apresentam m ais perturbações em ocionais do que as m ulheres.

c) Características da situação - devido à sua condiçã o o suje ito tem de se adaptar a

um a vida m ais restritiva, transferindo por vezes para o seu m édico e fam iliares

a tom ada de decisões acerca do seu bem -estar. M uitos indivíduos têm

dificuldades na aceitação de qua lquer grau d e dependência, podendo construir

significações de inferioridade e, consequentem ente, sentim entos de culpa e

hostilidade. Por outro la do, a activação de m ecanism os de negação poderá

levar o doe nte a ignorar lim itaçõe s im posta s pelo seu quadro c línico e a re jeitar

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Na abordagem psicológica dos sujeitos com deficiência/incapacidade física, em

que se incluem pelas suas consequência s as LVM , Langer (1984) defende ser necessário

ter em conta os seguintes aspectos:

a) evolução do quadro clínico, o qua l nestes indivíduos tende para a estabilização

a partir de determ inado m om ento, em bora o m esm o não possa ser dito em

relação às com plicações secundárias, que em ergem com o sub -doenças;

b) presença ou ausência de dor que, com o vim os, é com um entre esta pop ulação;

c) tem po decorrido desde o início do quadro clínic o;

d) personalidade pré-m órbida;

e) rede social de apoio;

f) significado pessoa l atribuído à deficiência/incapacida de;

g) representação social e cultural desta m esm a condição;

h) repercussões da doença no qua dro socio-fam iliar e profissional, no plano

m aterial, na qualidade de vida, nas acessibilidades, entre outros;

i) experiências prévias e/ou form as de se confrontar com a situação;

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