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Factores etiológicos

No documento Cardoso, Jorge Manuel Santos (páginas 120-126)

A LESÃO VERTEBRO M EDULAR

3.3 Factores etiológicos

Em bora existam autores que refiram três grandes grupos de causas de LVM – traum áticas, congénitas e de generativa s (Seidel, 1992), a m aioria abrevia esta

categorização, falando apenas em causas traum áticas e não traum ática s.

As prim eiras englobam as le sões provocadas por ac idente s de viação, quedas,

actos de violência envolvendo arm as de fogo/arm as brancas bem com o agressões

físicas, e as lesõe s desportivas/actividade s recreativas, com destaque para os acidentes

de m ergulho.

As segundas estão associada s a afecções m édicas, onde se inc luem os tum ores

m edulares, m ielites, e scoliose s, esc lerose m últipla, espondilite tuberculosa,

espondiloses, m alform ações congénitas, subluxações vertebrais secundárias a artrite

reum atóide, disfunç ões vasculares, acidente s vasculares m edulares, entre outros

(Duchesne & M usse n, 1976; Schm itz, 1988). Os tum or e s m edulares dividem -se, quanto

à sua localização, em dois grupos – intra-medulares, quando têm a sua origem no interior da espinal m edula, e extra -m edulares, quando se situam no exterior, quer nas

m eninges ou raízes nervosas (intra -durais), quer nos corpos vertebrais e tecidos

epidurais (extra-durais); se ndo a lesã o neurológica causada nos m alignos por inva são e

destruição da s células nervosas e nos benignos por com pre ssão das estruturas nervosas

(Lopes & Faria, 2001).

De acordo com W olm an (1964), as LVM sã o um a doença m oderna que se

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(1991), nos pa íses desenvolvidos os acidentes de viação justificam cerca de 50% deste

tipo de le sões.

Um interessante estudo realizado nos E UA ac erca dos acidente s com veículos

m otorizados, de que resultaram traum atism os vertebro -m edulares, revelou que a m aioria

dos acide ntes oc orre com m otociclos, a altas horas da noite ou de m adrugada, sendo os

im pactos laterais os m ais freque ntes, não existindo em inúm eros casos c um prim ento das

norm as básicas de se gurança (Cushm an, Good & States, 1991). Segundo Burke, Linden,

Zhang, M aiste e Shields (2001), tendo por base um a am ostra de 161 sujeitos LVM , de

entre aquele s cuja le são oc orreu no decurso da condução de autom óveis ou m otas,

apenas 22% usavam , respectivam ente, cinto de segurança ou capacete.

Rutter, Quine e Albery (1998) desenvolveram um a investigação prospectiva com

723 m otocic listas, tendo verificado um predom inante optim ism o irrealista, no se ntido

de considerarem que o risco pessoal de sofrer um acide nte era m enor que o dos outros.

Este optim ism o era, contudo, m enos evide nte entre os condutore s m ais jove ns e

inexperie ntes, bem com o e ntre aqueles que reconheciam praticar com portam entos

arriscados nas estradas. Curiosam ente, tratando-se de um estudo realizado em duas

fases, observou-se que quanto m ais notória era a percepção de risco no prim eiro

m om ento, m ais frequente s eram os relatos de com portam entos de risco passa dos doze

m eses.

Novam ente nos Estados Unidos, tendo em conta um a am ostra de 9,647 sujeitos

com LVM , observou-se que os principa is factores etiológic os eram os ac idente s de

viação (48%), quedas (21%), violência (15%) e os acidente s desportivos (14%). Nestes

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categoria, aparecendo o futebol, na versão am ericana, com o segundo factor causal

(dados do National S pina l Cord Injury Statistical Center, 1986, citados por Gibson,

1992). Da dos m ais recente s, baseados nos cerca de 25,000 sujeitos assistidos pe lo

Model Spina l C or d Injur y C a r e System entre 1973 e 1998, revelam um a ligeira

dim inuição no núm ero de le sões m otivadas por acidentes de viação (43%),

acom panhada por um aum ento das provocada s por ac tos violentos (19% no total do

período e cerca de 22% no espaço de tem po com preendido entre 1994 e 1998),

principalm ente entre a população afro-am ericana (Nobunaga, Go & Karunas, 1999).

Esta alta incidência de traum atism os verte bro -m edulares a ssoc iados à violência

parece estar associada à conflitualidade socia l e crim inalidade existentes na sociedade

am ericana pois, por exem plo no Reino Unido, as le sões provocada s por projécteis ou

objectos cortantes representam um a causalidade de ape nas 5% (Creek et al., 1988,

citados por Kennedy, 1991).

Noutras geografias, m enos industrializadas, observam -se diferenças significativas

no que concerne à distribuição dos factores causa is. Na Polónia, em bora reportando -se

ao período com preendido entre 1965 e1989 e contem plando ape nas as lesões cervicais,

as queda s de carroça surgem com o a prim eira causa de L VM , seguidas pelos acidentes

de m ergulho, só depois a parecendo os acidentes de viação (Kiwerski, 1993). Na

Turquia, os da dos rela tivos aos 581 casos de L VM referenciados no pa ís durante o ano

de 1992 revelaram que a causa m ais com um desta lesão foram os acidentes com

veículos m otorizados (48.8%), seguidos pelas que das (36.5%), agressões com arm as

brancas (3.3%) e com arm as de fogo (1.9%) (Karacan et al., 2002). Por fim , no

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Singapura, do total de 231 indivíduos com LVM assistidos entre 1990 e 1995, a causa

m ais frequente foi a ocorrência de que das (50.7%) e em segundo lugar os acidentes de

viação (37.2%), principalm ente com m otoc iclos.

No âm bito das quedas, os acidente s durante a prática da equitação, am adora ou

profissional, sã o responsá veis por um núm ero apreciável de lesões deste tipo (Silver,

2002).

Ainda no que respeita às lesõe s resultantes de quedas, um estudo retrospe ctivo

oriundo da Grã-Bretanha docum entou que, entre 1951 e 1992, este agente causal estava

associado a tentativas de suicídio em 116 sujeitos (N=8,347), que na sua m aioria

apresentavam perturbaçõe s psicopatológicas, com destaque para a esquizofrenia e

depressão (Kenne dy, Rogers, Speer & Frankel, 1999). Outro trabalho, baseado num a

am ostra de 366 sujeitos c om LVM , dem onstrou igualm ente que as te ntativas de suicídio

haviam sido responsáve is pela lesão de 11 de les (3%), todos com historial de distúrbio

m ental (Harris, Barraclough, Grundy, Bam ford & Inskip, 1996).

Em Portugal, um estudo epidem iológic o, realizado na região Centro atravé s do

recurso aos processos clínicos dos sujeitos diagnosticados com LVM (N=398) entre

1989 e 1992, revelou que os acidente s de viação foram o principal agente causal

(57.3%), destacando-se depois a s queda s (37.4%). Refira -se que este trabalho não

contem pla as lesões de origem não traum ática.

Tentando obter dados baseados num a am ostra m aior, solicitám os junto do Centro

de M edicina de Reabilitação do Alcoitão, que é a instituição responsá vel pe lo

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Serviço de M edicina Física e de Reabilitação do H ospital Curry Cabral, o acesso aos

processos clínicos de todos os sujeitos c om este quadro, internados ne stes serviços entre

1985 e 2000. Por im possibilidade s de vária ordem , a Directora do Serviço de Le sões

Vertebro-M edulares do Centro de M edic ina de Reabilitação do Alcoitão facultou -nos

apenas a inform ação referente ao período com preendido entre 1985 e 1994 (n= 1067), e

no Hospital Curry Cabral autorizaram -nos a consultar os processos rela tivos aos anos

decorridos entre 1990 e 2000 (n=312), um a vez que tinham ocorrido perdas de

inform ação no que concerne aos a nos transactos. Refira-se que am bas as am ostras

foram por nós reunida s num a única (N=1379).

O Quadro 1 m ostra-nos os dados obtidos:

Q uadro 1 – Factores Etiológicos

C A U SA S n %

TRA U M Á TICA S 1094 79.3

 Acidentes de viação  Quedas

 Acidentes de mergulho

 Acidentes com armas (fogo/brancas)  Outros 572 415 41 37 29 41.5 30.0 3.0 2.7 2.1 N Ã O TRA UM Á TICA S 285 20.7

incluindo tumores medulares, acidentes vasculares medulares, mielites, quadros escolióticos, sequelas de intervenção cirúrgica, entre outros

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As causas traum áticas representam cerca de 80% da patologia m edular, com

especial de staque para os acidentes de viação (41.5%), o que reflecte os efeitos da

elevada sinistralidade rodoviária e xistente no nosso país. Após as quedas (30%), em

terceiro lugar surgem as causas não traum áticas (20.7%), pouc o referenciadas na

literatura, m as ainda assim apontadas com o sendo responsáveis por cerca de 30% das

LVM (Roy-Cam ille, Held, Saillant, Derlon & Picard, 1981; Young & Northrup, 1979,

citados por Schm itz, 1998).

Com parando estes dados com os da realidade norte -am ericana, verificam os que,

se por um lado os acidentes com veículos m otorizados e as que das se constituem com o

denom ina dor com um , por outro, a violê ncia, m uita s vezes potencia lizada pelo uso de

arm as, não tem a m esm a relevância no nosso país. Do m esm o m odo, tam bém as nossas

práticas desportivas não envolvem a ‘dureza’ das americanas – o futebol americano e o hóque i no gelo são inexistentes, o râguebi pouc o expressivo, o esqui raro, e os desportos

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