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Prognóstico

No documento Cardoso, Jorge Manuel Santos (páginas 158-162)

Com plicações gastro intestinais

3.7. Prognóstico

A lesão pós-traum ática da m edula espinal não se constitui sem pre num quadro

irreversível. De acordo com Duche sne e M ussen (1976), as via s centro -espinais poderão

estar apenas tem porariam ente interrom pida s por um a com pressão causada por um

hem atom a, um edema local ou m esm o por um fragm ento ósseo que se tenha deslocado.

Ainda se gundo estes autores, as lesõe s do tecido m edular propriam ente dito dizem -se

definitiva s sem pre que não a parecem sinais de evolução neurológica positiva nos dias

seguintes ao traum atism o, enquanto as le sões da s raízes nervosas poderão apresentar

um a recuperação m ais tardia. Do m esm o m odo, quando a s lesões são com pletas, é

suficiente aguardar a lgum as horas ou no m áxim o alguns dias para poder estabe lecer

considerações prognósticas, ao passo que, perante lesões inc om pleta s, a objectivação do

quadro clínico poderá só ser possível após algum as sem anas, ou m esm o m eses.

A taxa de m ortalidade logo após a lesão é extrem am ente elevada – entre 38% (Griffin et al., 1978, citados por Cushm an e t al., 1991) e 40% (Kraus e t al., 1975,

citados por G ibson, 1992). No estudo epidem iológico realizado na zona Centro de

Portugal, entre 1989 e 1992, 16% dos sujeitos foram declarados m ortos na chegada ao

hospital, e 40% faleceram durante a hospitalização, principa lm ente durante as prim eiras

24 horas (M artins et al., 1998).

A m ortalidade durante o prim eiro ano tem vindo sucessivam ente a decrescer,

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com o principa is causas de óbito a patologia respiratória e cardíaca (DeV ivo, Krause &

Lam m ertse, 1999).

Estes da dos resultam num a inc idência de m ortes na fase inicial de 53.3 casos

ano/m ilhão de habitante s nos E stados Unidos (Kraus et al., 1975, citados por Gibson,

1992), que com para com os 57.8 registados em Portugal (M artins et al., 1998).

Quanto à sobrevivência a longo prazo, um a investigação realizada na

Grã-Bretanha (N=3179), referente ao período com preendido entre 1943 e 1990, r evelou

que o género m asculino, o níve l neurológico m ais elevado, a com pletude da lesão, a

idade m ais ava nçada aquando da ocorrência da m esm a e o m aior tem po decorrido desde

então, constituem factores de risco, estando associa dos a um a m ortalidade m ais elev ada

(Frankel et al., 1998). Os autores conc luíram ainda que as com plicações respiratórias

constituíram o agente causa l do m aior núm ero de m ortes, em bora nas prim eiras décadas

as problem áticas cardio-vasc ulares, e principa lm ente urológicas, m anifestassem o m aior

protagonism o. Um trabalho sem elhante efectua do nos EU A obteve resultados idênticos,

acrescentando a etiologia violenta aos factores de risco (DeVivo et al., 1999).

Outros autores, descentrando-se dos aspectos m édicos, observaram que um a

m enor percepção de indepe ndência e a insatisfação sentida perante os vários dom ínios

da vida, designadam ente no que se refere à controlabilidade percepciona da e exercida,

são im porta ntes preditores de m orta lida de (Krause, Sternberg, Lottes & M aides, 1997).

Saliente-se ainda que, segundo DeVivo et a l. (1989, citados por G ibson, 1992), na

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surgem com o prim eira causa de m orte. Não conhecem os qual a distribuição percentual

por este s dois itens, nem a operacionalização de “traumatismos não intencionais” que, em nossa opinião, poderão rem eter tam bém , em bora não exclusivam ente, para condutas

para-suicida s de auto-de struição.

Em bora o prognóstico funcional nã o tenha m elhorado significativam ente nos

últim os anos, apesar da introdução de poderosos m eios farm acológicos, de técnicas de

cirurgia paliativa e de neuroestim ulação e de ajudas técnicas m ais ou m enos sofisticadas

(M artins & M artins, 2000), a expectativa de vida dos sujeitos LVM tem aum entado

consideravelm ente nas últim as décadas (DeV ivo et al., 1999).

Antes de 1940, 80% a 90% dos doe ntes com LVM faleciam em poucas sem anas

(Carroll, 1970, citado por North, 1999). Com a inauguração, no Reino Unido, do Stoke

Ma ndeville H osp ita l, a que se se guiu um a era de grande investigação clínica, o m ode lo

de intervenção praticado neste hospital foi ‘exportado’ para todo o mundo, com im portantes benefíc ios para as vítim as de le são m edular (M artins et al., 1999; Staa s &

Ditunno, 1992).

Em 1961, no Cana dá, apontava-se que os indivíduos com paraple gia podiam

esperar viver, em m édia, até aos 55 ou 60 anos de idade, depende ndo da sua idade na

altura da lesão (Breithaupt, 1961, citado por M cColl, W alker, Stirling, W ilkins &

Corey, 1997). Passadas aproxim adam ente duas décadas, no esta do am ericano do

M innesota, a esperança m édia de vida foi estim ada em 30.2 anos pós -le são (Griffin et

al., 1985, citados por Staas et al., 1992). Sam sa, Patrick e Feussner (1993), num estudo

efectuado entre 1968 e 1988, aum entaram esta estim ativa para 39 anos. M ais

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indivíduos com lesã o m edular, com parativam ente com a população em geral,

aproxim a-se dos 70% na s tetraplegia s com ple tas, 84% nas paraplegias com pletas, sendo

de 92% nas lesões incom pletas (Yeo et al., 1998).

Em bora tenha havido um a evolução notória na expectativa de vida, tendo

aum entado 2000% nos últim os cinquenta anos (W hite neck et a l., 1992, citados por

Kem p & Krause, 1999), esta perm anece a inda abaixo da evidenciada pela população

geral (DeVivo et al., 1992, cita dos por DeVivo et al., 1999).

Contudo, no envelhecim ento com um a LVM , questiona -se a qualidade da saúde

experim entada – as opiniões mais optimistas afirmam que as pessoas vivem períodos m ais longos de vida saudável, enquanto as projecções m ais pessim istas sugerem um a

expansão da m orbilidade para o período aum entado de sobrevivência, tornando -o m enos

gratificante (M cColl et al., 1997). Pretendendo dar resposta a esta questão, M cColl et al.

(1997) observaram que, na sua am ostra, as expectativas e a percepção auto -relatada de

boa saúde tendem a dim inuir com o tem po passado após a lesão.

Num a outra investigação sobre enve lhecim ento deste s doentes, concluiu -se que

quer as expectativas de inde pendênc ia, quer as expectativas de satisfação com a vida

dim inuíam de form a evidente ao longo das cinco décadas decorridas sobre a lesão. O

exercício de um a profissão e o estado c ivil de casado encontravam -se positivam ente

relacionados com am bas as variá veis, enquanto a condição de tetraplegia e a

com pletude da lesão afectavam negativam ente as expectativas de independência

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