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Dois Córregos – Um Município de Origem Caipira

3. ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA CULTURA CAIPIRA

3.2. Dois Córregos – Um Município de Origem Caipira

FIGURA 4 - Córrego Lajeado

A cidade de Dois Córregos foi elevada à condição de município nos tempos do Império e está localizada na região central do estado de São Paulo. Dois Córregos possui 22.937 habitantes, está situada a 225 km da capital e 63 km a sudeste de Bauru, região à qual pertence. O município tem grande extensão territorial com 632.559 km. É uma cidade com alto grau de urbanização, pois concentra mais de 90% de sua população na zona urbana. A economia da cidade é movida pela agricultura, com seus principais produtos que são a cana-de-açúcar e o café, e também a indústria madeireira e moveleira.

Seu histórico está ligado ao das cidades vizinhas como Brotas, Jaú e Mineiros do Tietê que, bem como Dois Córregos, foram fundadas por migrantes vindos de Minas Gerais que partiam em comboio em busca de terras (TABLAS, 1987, passim). Em torno de 1842 famílias de mineiros deixaram o sul de Minas onde as terras tinham preço elevado.

Nessa época, os índios kaingángs já haviam abandonado o local devido ao assédio do homem branco, e partido em direção ao que viria a ser futuramente a cidade de Bauru. A história da fundação de Bauru registra violentos conflitos entre os primeiros moradores e os índios kaingángs:

Quase no limiar do século passado, a luta entre brancos e índios, no sertão de Bauru, chegava ao auge, cheia de choques violentos, de combates sangrentos. Essa disputa era mais acentuada na região do rio Feio, onde os índios coroados ou caingangs ofereciam tenaz resistência aos invasores. Os massacres se sucediam. Por ser desconhecido dos civilizados aquele rio, os coroados mantinham, com sua superioridade numérica, vantagens apreciáveis sobre o homem branco. Atacando de surpreza e à traição, os ferozes aborígenes reduziam, num instante, as expedições (NEVES, p. 68).

Já Dois Córregos servia como ponto de descanso a caminho de Jaú, e era conhecida como a “Pousada Alegre dos Dous Corregos”, pois os mineiros se instalavam próximos ao Ribeirão do Peixe, cujos afluentes Fundo e Lajeado são os córregos que nomearam a cidade.

FIGURA 5 - Mapa da localização do município de Dois Córregos

Em 1846, aproximadamente cem pessoas habitavam o distrito de Brotas, sendo que seis dentre elas viviam na área da Pousada dos Dous Corregos. Uma delas era José Alves de Mira que partiu de Ouro Fino (MG) em 1846 à procura de terras disponíveis, passando por Brotas e se instalando no que viria a ser um dos bairros do município de Dois Córregos. Em 1854, seis moradores da pousada doaram vinte alqueires de terra para a construção de uma capela, pois a população aumentava e para ir até a capela de Brotas era preciso cruzar o rio Jacaré-Pepira e a serra de Brotas. A construção da igreja do Divino Espírito Santo, feita de barro e sapé, foi autorizada no dia quatro de fevereiro de 1856, data em que se comemora o aniversário da cidade. Como o terreno era limitado de um lado pelo córrego Fundo e do outro pelo córrego Lajeado, que deságuam no Ribeirão do Peixe, daí a denominação Dois Córregos. Esses primeiros moradores vindos das Minas Gerais eram formados por típicas famílias caipiras:

Os mineiros trazidos pelas primeiras expedições tinham a finalidade principal de ocupar as terras. Tiravam do solo o suficiente para sua subsistência e comerciavam apenas o excedente da produção. Isso se dava devido à impossibilidade de se escoar o resultado das safras. As tropas de burros eram a única opção de cargas mais volumosas, o que era insuficiente, não animando os agricultores a uma produção mais arrojada. E quando sabemos que os Mira chegavam a levar ‘porcadas’ pelos caminhos, tocando esses porcos com varas até São Vicente, devemos entender que eles estavam somente procurando negociar aquilo que saiu da previsão (TABLAS, 1987, p.56).

Os primeiros moradores da pousada criavam porcos, gado, fabricavam queijo, plantavam arroz, feijão, fumo, milho, algodão e praticavam a caça para alimentação. Nos contatos com centros comerciais, vendiam toucinho e compravam sal e pólvora. A roupa era feita no tear, pelas mulheres da família. A economia de subsistência só foi alterada com a inauguração da Estrada de Ferro a partir de 1880, que incentivou a produção do café e seu escoamento para exportação. O café passou a ser, ainda no final do século XIX, o primeiro produto do município. Muitos agricultores, porém, mantinham uma produtividade limitada, com traços nitidamente caipiras:

A via férrea, no entanto, jamais foi aproveitada em todo o seu potencial, sendo que essa falha não deve ser atribuída somente à administração da empresa. Os próprios agricultores, em sua maioria, continuariam a escoar o resultado de suas safras em lombos de animais, para outras localidades. Era a economia de subsistência a persistir através da cultura herdada de gerações, fazendo com que

até mesmo as ‘porcadas’ fossem tocadas com varas pelos caminhos, aos municípios vizinhos ou a locais distantes – isso ainda nas primeiras décadas do século XX (TABLAS, 1987, p. 58).

Uma grande parte dos produtores ainda vendia o café na própria cidade ou no lombo dos animais, mas alguns cafeicultores colhiam mais de mil arrobas por safra. O desenvolvimento da lavoura trouxe a Dois Córregos colonos de origem italiana e em 1900 foi inaugurada na cidade a Sociedade Italiana de Mútuos Socorros XX de Setembro, que prestaria serviços sociais à comunidade. No final do Século XIX, a população de Dois Córregos girava em torno de 18.680 habitantes e a maior parte dos moradores habitava a zona rural, cerca de 16.000, mas apenas 124 eram proprietários de terra, a maioria da população era de colonos nas fazendas que prosperavam. Algumas famílias caipiras não se adaptaram aos novos tempos do café e perderiam suas terras para posseiros ou em demandas injustas para os coronéis (TABLAS, 1987, p. 45 e p.59). Na cidade se desenvolvia a economia de subsistência na qual os moradores criavam os animais soltos para consumo próprio e plantavam no fundo das casas uma pequena horta ou pomar. Ainda é possível observar nos dias de hoje, pequenas plantações dos moradores no fundo de suas casas, mesmo em residências próximas ao centro da cidade. Toda a sexta-feira acontece na praça Francisco Simões a feira dos pequenos produtores, na qual é possível encontrar legumes e verduras, pães e doces caseiros, tudo produzido pelos moradores da cidade.

FIGURA 6 - Feira dos Pequenos Produtores

Dois Córregos preserva parte de seu passado rural também em relação a festas caipiras, promovendo todo ano no mês de julho um concurso de quadrilhas que atrai grupos locais e de cidades vizinhas como Mineiros do Tietê, Jaú, Torrinha e Bariri. Quanto à área cultural, a cidade conta com cinema, banda de música, ginásio poliesportivo, biblioteca pública, estação AM e FM e provedor de Internet. Não possui geradora de TV e nem unidades de ensino superior.