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Para Melo (2004, passim), as novas gerações de estudantes de Comunicação desconhecem as idéias de Beltrão porque a Folkcomunicação encontrou resistência por parte dos folcloristas conservadores e de comunicólogos libertadores. Os primeiros por muitas vezes analisarem a cultura popular de forma romântica, o folclore num passado tradicional, e os segundos porque pretendiam defender a cultura popular da mídia, vendo na primeira somente resistência e negando o intercâmbio simbólico existente entre ambas. Melo afirma que esses críticos não conseguiram ver que essa teoria é a explicitação da resistência possível de comunidades cuja meta é a superação da marginalidade social (2004, p. 19).

Apesar desses percalços, o pensamento de Luiz Beltrão teve ressonância entre os pesquisadores brasileiros que avançaram e aprimoraram algumas de suas idéias. Roberto Benjamin (2000, 2004a, 2004b) definiu uma nova abrangência para a Folkcomunicação, sem, contudo deixar de lado a definição anterior. Para o autor o folclore pode ser entendido como cultura popular tradicional, criações do povo a partir de sua própria cultura ou fruto da hibridização com elementos de outras culturas através de aceitação coletiva. A Folkcomunicação poderia ser limitada apenas ao processo comunicativo através de manifestações folclóricas, porém, o autor amplia o conceito e tem se concentrado em destacar a relação entre as manifestações da cultura popular e a mídia e definido uma nova abrangência dos estudos:

ƒ estudos dos agentes, meios de informação, meios de expressão de idéias, opiniões e atitudes, outrora já definido por Beltrão, e que consiste no estudo do comunicador, da mensagem, do canal, do receptor, intenções e efeitos na cultura popular;

ƒ estudo dos líderes de opinião na mediação das informações e opiniões da mídia entre os receptores, reprocessando e adequando a mensagem ao público no qual exerce influência pessoal;

ƒ a apropriação das tecnologias da comunicação de massa por integrantes de manifestações populares: a imprensa e o computador na impressão dos folhetos de cordel, o rádio nas cantorias interioranas, gravações em fita cassete, compact-disc e VHS de apresentações populares, entre outras utilizações;

ƒ A presença de traços da cultura de massa na cultura popular;

ƒ A recepção na cultura popular de elementos de sua própria cultura, mas reprocessada pela mídia. (BENJAMIN, 2000, p. 16).

Em relação à audiência de Folkcomunicação não há mais sentido em pensar seus integrantes em termos de excluídos e marginalizados do consumo da mídia radiofônica, impressa e televisionada, mas que sejam participantes concomitantes de variados circuitos da comunicação. O mesmo indivíduo que participa de manifestações tradicionais, também assiste televisão, ouve programas radiofônicos e lê jornais ou pelo menos é informado oralmente sobre as notícias impressas de seu município.

Tal situação coloca os estudiosos da Folkcomunicação diante de novas realidades – incorporação de novas tecnologias, acesso a informações globalizadas, participação no consumo da sociedade de massas, ao mesmo tempo em que se preservam expressões culturais tradicionais e a hibridização convive com a resistência cultural (BENJAMIN, 2004b, p. 48).

Benjamin descarta o pensamento de que a globalização é aterradora, pois recorda que muitas manifestações folclóricas hoje reconhecidas como genuinamente brasileiras, foram fruto da hibridização, imposição ou aproveitamento de parte da cultura de outros povos (2004, p.25). O autor comenta que os sistemas culturais frente à globalização, podem vir a sofrer os seguintes processos:

• resistência cultural: tentativa de conservar os elementos culturais tradicionais;

• refuncionalização: quando a manifestação folclórica perde sua função original e sobrevive encontrando outra função;

• fusão com elementos da cultura de massa: gerando novos produtos que visam tanto o público de origem quanto um novo público;

• desaparecimento parcial: sobrevivência de traços de elementos culturais antigos em manifestações diversas;

• reativação: manifestações que foram consideradas extintas por deixarem de se apresentar, voltam à ativa;

• desaparecimento total: devido às mudanças sociais e econômicas, muitas manifestações tradicionais permanecem apenas em registros incompletos e outras nem foram registradas;

• sobrevivência através da projeção na arte erudita e na cultura de massas; • recriação com refuncionalização através de elementos recuperados na arte erudita e na cultura de massas (BENJAMIN, 2004b, p.27).

Breguez (2004) amplia a discussão sobre a teoria ao inserir a problemática da globalização nas culturas populares como tema de estudo em Folkcomunicação, a fim de verificar se há perda de identidade e desaparecimento de culturas locais e regionais no país. Para ele a Folkcomunicação é à busca da compreensão dos fenômenos comunicacionais e culturais das sociedades contemporâneas. O autor utiliza em suas argumentações os termos folclore e cultura popular como sinônimos, significando os modos de pensar, sentir, agir e comunicar do povo, que é aquele que tem acesso aos modos de produção capitalista, mas não exerce posição de mando ou influência. As questões que o autor levanta também abrangem a relação mídia e cultura popular: “Os meios de comunicação de massa estão destruindo o folclore ou a sociedade está sendo formada por uma só cultura? (...) O folclore está se fundindo na cultura de massa?”(BREGUEZ, 2004, p. 30).

Outros autores como Hohlfeldt (2003) tentam enfatizar a diferença existente entre folclore e folkcomunicação, ao destacar que a Folkcomunicação é o estudo dos procedimentos comunicacionais nos quais a cultura popular se expande e convive com outras cadeias comunicacionais, sofrendo modificação através de influência midiática, ou é transformada quando apropriada pela mídia.

Essas questões são pertinentes para mostrar como a Folkcomunicação é uma teoria aberta, em fase de maturação no panorama das Teorias da Comunicação. Abertura é a qualidade de incerteza de uma teoria. Entende-se aqui teoria como “qualquer representação ou explicação conceitual do processo de comunicação”, toda teoria é incompleta e investiga o processo comunicativo de um modo diferente, fornecendo uma maneira de ver, bem como um conjunto de conceitos (LITTLEJOHN, 1982, p. 20).