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Dos conceitos aos preconceitos: dificuldades em se trabalhar a diversidade

DISPENSÁVEL?

FLAVIA CRISTIANE LIMA MARQUES IFSULDEMINAS

1. Dos conceitos aos preconceitos: dificuldades em se trabalhar a diversidade

Na área educacional, diariamente, lidamos com diferentes formas de pensamentos, culturas, ideologias e indivíduos com características diferentes umas das outras. Os edu- candos não chegam às instituições de ensino como uma “tábua rasa”, mas trazem consigo uma série de ensinamentos, crenças e valores que vivenciam dentro de suas famílias, os quais traduzem suas diferenças.

Identidade de gênero é um tema pouco discutido na sociedade e esse artigo contem- plou os seguintes problemas: como os livros de literatura infantil são utilizados pelos educa- dores com o intuito de refletirem sobre a construção da identidade de gênero na infância? O que os livros de literatura infantil representam nestas discussões? Como suas narrativas podem contribuir para o debate no que diz respeito a identidade de gênero?

Em concordância com o pensamento de GOMES (2017), discutir gênero nos dias de hoje é imprescindível para que possamos ressignificar conceitos e atitudes. Infelizmente, muitos docentes ainda reproduzem preconceitos e se negam a tratar a temática no ambien- te escolar. Além disso, há dificuldade em conduzir um diálogo aberto e se preparar para abordar o assunto sem juízo de valor, ou mesmo a falta de material formador para estudos e pesquisas que conduzam a elaboração de métodos e práticas de ensino para abordar, no convívio escolar, temas referentes ao gênero.

Em contraparte, observa-se que a literatura infantil continua sendo foco privilegiado de inúmeros estudos acadêmicos, o que indica a importância que as histórias nela narradas têm na vida das crianças, mesmo com toda a tecnologia do mundo contemporâneo.

Infelizmente, muitos professores ainda reproduzem conceitos e preconceitos e se negam a tratar o tema em sala de aula. Além disso, eles mesmos encontram inúmeras dificuldades em conduzir um diálogo aberto e se preparar para abordar o assunto sem a formação e informação necessárias referentes à identidade de gênero e outras temáticas importantes, porém discutidas nas entrelinhas dos currículos da educação básica.

Como descrito por Mariana Silva Oliveira em BRASIL ESCOLA (2020), com relação ao ambiente escolar e aos profissionais da educação, as instituições devem possibilitar “a prática de valores, igualdade e respeito entre pessoas de sexos diferentes e permitir que a criança conviva com todas as possibilidades relacionadas ao papel do homem e da mu- lher”. Esta é uma questão que deve ser ampliada e orientada aos profissionais da educa- ção, pois o ambiente escolar, depois do familiar, é um dos primeiros locais de convivência social da criança, permeado por realidades múltiplas.

Em se tratando da formação do profissional da educação, essa reprodução de con- ceitos se deve às lacunas que existem nas ementas de disciplinas específicas tratadas em cursos de graduação, as quais não abordam os conceitos trabalhados neste artigo. Como exemplo, cita-se a ementa da disciplina “Diversidade e Educação”, trabalhada nas turmas

Capítulo 5 58

SABERES DOCENTES E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: CURRÍCULO, PRÁTICAS E TECNOLOGIAS

do 7º período do curso de Licenciatura em Pedagogia EaD do IFSUL DE MINAS, de carga horária 60 horas, onde lê-se “Educação para as relações étnico-raciais. Conceitos de raça e etnia, mestiçagem, racismo e racialismo, preconceito e discriminação. Configurações dos conceitos de raça, etnia e cor no Brasil: entre as abordagens acadêmicas e sociais. (IFSUL- DEMINAS,2020. p. 65)

Conforme destacado, na ementa da disciplina que estuda assuntos como diversida- de e pluralidade, somente as relações étnica-raciais vêm sendo contempladas, deixando de fora assuntos como gênero, sexualidade e diversidade religiosa. Portanto, faz-se necessá- rio identificar as lacunas na formação destes profissionais e apresentar novos caminhos de como trabalhar, pedagogicamente, o mundo mágico e do faz de conta da literatura infantil, despertando em cada indivíduo – neste caso, a criança – os sentimentos de compreensão e respeito na forma de olhar e reconhecer a si mesmo e ver o mundo, e na conquista por liberdade para viver da forma que se sente bem com suas características identitárias.

A fim de melhor compreendermos nosso objeto, inicialmente se fez necessário uma pesquisa bibliográfica, para tanto, a busca em sítios eletrônicos como Google acadêmico e Scielo foi uma importante prática para compreendermos o debate acadêmico atual. Na mesma medida, buscar na literatura acadêmica dos primeiros anos da década de 2000 se fez necessário. Especialmente porque trariam o olhar acadêmico que se construiu poste- riormente à sanção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, publicada em 20 de dezembro de 1996.

Assim, no livro Educar meninas e meninos: relações de gênero da escola (2006),

a autora Daniela Auad discute a ideia da educação em uma escola mista, fazendo uma análise das práticas escolares que podem afirmar o “aprendizado da separação”, discrimi- nando meninas e meninos ou podem promover mudanças com relação à percepção das diferenças e o respeito às mesmas.

Outras fontes bibliográficas também são parte deste trabalho e necessárias para a reflexão do tema proposto, tais como: a dissertação de mestrado “A construção das iden-

tidades de gênero na educação infantil” de Claudia Regina Renda Bíscaro (2009) que

relata as observações de professores e crianças de 5 anos com relação a educação sexista que impõe, nas brincadeiras, por exemplo, o que é de menina e o que é de menino, apre- sentando autores que falam sobre a questão de identidade de gêneros; o artigo “O mundo

encantado da literatura infantil” de Andréia Menegon de Arruda (2020) que expõe a im-

portância da literatura na educação infantil e como suas ilustrações permeiam a imaginação das crianças transformando-as em indivíduos críticos e participativos; a publicação “Gêne-

ro, corpo e sexualidade nos livros para a infância” de Constantina Xavier Filha (2014)

que traz questões sobre como os livros, com todo seu potencial educativo, podem auxiliar no entendimento das “formas de ser” masculino ou feminino como construção de uma iden- tidade; entre outros citados nas referências e pesquisados no decorrer deste trabalho.