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2 DA SOCIEDADE EM REDE, A (WEB)CIDADANIA: O RETRATO DE UM PROJETO EM PROL DE UMA SANTA MARIA EFETIVAMENTE NOSSA

2.4 DOS MAPAS COLABORATIVOS À CARTOGRAFIA SOCIAL

Como foi possível verificar, o uso da Internet no processo de construção colaborativa de soluções democráticas, com vistas na prática de educação cidadã não é um processo recente. Na verdade, desde o início da Internet, com a democratização da informação, visto a ampliação gigantesca de seu uso, este processo tem se desenvolvido e consolidado.

No entanto, mais recentemente, esse processo ganhou força por meio da popularização dos smartphones, que, entre outros benefícios, possibilitam aos cidadãos a conexão constante. Ferramentas antes restritas ao uso corporativo, estas agora ganham acesso livre, possibilitando o desenvolvimento dos mais diferentes tipos de sites, plataformas e aplicações de uso mobile, que chamamos de “app”.

Exemplo disso são os sites que integram a tecnologia de mapas, como o

Google Maps, com o conceito da colaboratividade, possibilitando aos mais diferentes

tipos de usuários a inserção e compartilhamento de conteúdo.

No Brasil, uma iniciativa da empresa WikiNova, formada por pesquisadores em Computação da Universidade de Fortaleza e gerenciada pelo professor e pesquisador Dr. Vasco Furtado, popularizou este conceito, com o desenvolvimento e promoção do site WikiMapp.

Esta ferramenta permitiu que qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento de programação, pudesse criar mapas colaborativos para os mais diferentes fins sociais, desde o mapeamento de eventos até empresas e lugares (WIKIMAPPS, 2016).

Figura 2 - Projeto Wiki barulho, utilizando o WikiMapp

Fonte: Wikimapps (2016)

Na imagem acima, é possível verificar um exemplo de projeto desenvolvido com base na plataforma WikiMapp, o Wiki barulho, que tem como objetivo mapear os pontos de incidência de poluição sonora na cidade de Fortaleza/CE.

Outra iniciativa de empreendedores, membros do Movimento Mais Feliz é a plataforma Myfuncity, considerada a primeira rede social privada com finalidade pública. Explorando o designer em suas aplicações, essa direciona seus esforços ao mapeamento de problemas com o objetivo de reunir pessoas para discutir e levantar soluções para a cidade (MAIS FELIZ, 2016).

Figura 3 - MyFunCity: Cidades Sustentáveis

Fonte: Mais Feliz (2016)

Conforme Cavalcanti (2011), autor que também ilustra a Figura 3, o MyFunCity foi pioneiro em integrar as redes sociais, como o facebook, apresentando indicadores para categorizar e melhor organizar as informações, como trânsito, segurança, educação, entre outros. A iniciativa também introduziu um sistema de pontuação, através da qual o usuário pode avaliar os serviços públicos.

Outro projeto na mesma vertente é o “PortoAlegre.cc”. Idealizado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre e com a organização não-governamental Parceiros Voluntários20 de

Porto Alegre, a plataforma lança mão do conceito de wikicidade e da licença

Creative Commons21.

20 Fundada em janeiro de 1997, por iniciativa do empresariado do Rio Grande do Sul, a ONG

Parceiros Voluntários é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, apartidária e que tem por visão “viver numa sociedade sustentável tendo por base pessoas éticas e participativas” e por missão “Qualificar pessoas e instituições, por intermédio de Tecnologias Sociais e Voluntariado, visando comunidades pró-ativas e solidárias”. (PARCEIROS VOLUNTÁRIOS, 2016)

21 Creative Commons é uma organização sem fins lucrativos que permite o compartilhamento e uso

da criatividade e do conhecimento através de instrumentos jurídicos gratuitos. (CREATIVE COMMONS, 2016)

Mais do que um site de apontamentos, o “PortoAlegre.cc” foi uma plataforma pioneira em desenvolver projetos em parceria com o poder público, com vistas à conscientização da comunidade, com base em causas apontadas pela própria, em âmbito local.

Figura 4 - Página inicial do PortoAlegre.cc

Fonte: Site PortoAlegre.cc

Da mesma forma que o projeto MyFunCity, o “PortoAlegre.cc” enquadra informações nas mais diferentes categorias, organizando-as de maneira colaborativa, características essas que legitimam o conceito de “wikicidade”. As causas, bem como as ações originadas, são potencializadas nas redes sociais, gerando uma maior visibilidade às ações, bem como oportunizando o acesso à informação (MURILO, 2011).

Estes projetos, somado a outras iniciativas espalhadas pelo mundo, têm perfil e postura enquadrados na caracterização de Moore e Garzón (2010), quando estes falam de cartografias sociais. Essas seriam a arte de utilizar mapas para empoderar comunidades, tal e qual fazem os exemplos aqui levantados.

Os autores relatam que os participantes usuários de ferramentas como essas descrevem a realidade de acordo com os seus próprios valores, evidenciando as experiências coletivas e demonstrando um grande potencial na mudança nas relações de poder, as raízes das injustiças sociais e ambientais (MOORE E GARZÓN, 2010).

Outro exemplo de ferramenta que explora a participação através da colaboração e debate através de comunidades é o site “Cidade Democrática22”. A

ideia que alicerça este site consiste em possibilitar que pessoas tenham a oportunidade de aderir à iniciativas de outros usuários, apresentando propostas para os mais diferentes tipos de problemas e questionamentos. Mais do que unir cidadãos em causas comuns, o site foi pioneiro em abordar o termo “Cidade Democrática”, através da “participação política para criação de soluções inovadoras a partir da inteligência coletiva” (CIDADE DEMOCRÁTICA, 2016).

Com a consolidação destas plataformas cidadãs nas mais diferentes localidades, novas iniciativas foram sendo desenvolvidas e apresentadas. Uma delas, que leva enquanto nome o termo explorado neste trabalho, é o “#Webcidadania23”. O site, de layout simples, no entanto funcional, agrega, em uma

mesma página, ações que exploram as mais diferentes formas de webcidadania. Sousa (2012) em seu trabalho de dissertação intitulado “Mapas colaborativos na Internet: um estudo de anotações espaciais dos problemas urbanos” analisou de forma mais detalhada estas ferramentas. Além de realizar um resgate histórico do uso da cartografia até o uso colaborativo de mapas online, a pesquisa abrangeu a análise da participação dos usuários, suas motivações e suas relações com os lugares mapeados.

O estudo do Sousa (2012) legitima o presente e, mais do que isso, sustenta e fundamenta a produção, com base numa experiência local, conforme poderemos ver a seguir.

22 Site disponível em www.cidadedemocratica.org.br. 23 Site disponível em www.webcidadania.org.br.

2.5 UMA SANTA MARIA EFETIVAMENTE NOSSA: UM CASO LOCAL DE