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UMA SANTA MARIA EFETIVAMENTE NOSSA: UM CASO LOCAL DE FOMENTO À CULTURA WEBCIDADÃ

2 DA SOCIEDADE EM REDE, A (WEB)CIDADANIA: O RETRATO DE UM PROJETO EM PROL DE UMA SANTA MARIA EFETIVAMENTE NOSSA

2.5 UMA SANTA MARIA EFETIVAMENTE NOSSA: UM CASO LOCAL DE FOMENTO À CULTURA WEBCIDADÃ

Um grupo de amigos identificou um ponto comum, trazendo à tona a mesma vontade: fazer a diferença. E, assim, inseridos no contexto da cartografia social, inspirados pela cultura da colaboratividade cidadã através do uso de mapas colaborativos e motivados pelos cases tecnológicos anteriormente apresentados, reuniram-se para planejar, arquitetar e desenvolver o projeto, a ferramenta24 Nossa

Santa Maria.

Estes amigos são identificados pelos jovens empreendedores Andrewes Koltermann25 e Liana Merladete26, Analista de Sistemas e Bacharel em

Comunicação Social, com Habilitação em Relações Públicas, respectivamente; ao lado de Iuri Lammel, Jornalista; Ricardo Pippi Reis e Gilson Piovezan, Engenheiros.

Datava de julho de 2011 quando as primeiras reuniões do grupo foram realizadas, sendo, então, alinhadas todas as ideias e perspectivas individuais e coletivas, quando foi também montado o escopo inicial do site e iniciadas as primeiras ações.

A união das competências e saberes dos cinco empreendedores oportunizou a criação da “Twin Tecnologia Social”, uma startup27 que, juntamente com a “Dois

Agência de Conteúdo28”, na época, atualmente, “Dois Atitude Criativa”, viabilizaram o

desenvolvimento do projeto, lançado oficialmente no dia 29 de outubro do referido ano na FEISMA, tradicional feira local no município Coração do Rio Grande.

O site, disponível no endereço www.nossasm.com.br, consiste em uma plataforma online aberta à comunidade local, na qual o usuário pode identificar problemas, propor soluções e criar eventos, podendo relacionar estes nas mais diferentes categorias de conteúdo, como cidadania, cultura, educação, esportes,

24 O site Nossa Santa Maria será tratado no presente enquanto um projeto (desenvolvido inicialmente

por empreendedores locais), ferramenta (a ser utilizada por seus usuários) e em alguns momentos enquanto uma plataforma (pelo fato de agrupar outras funcionalidades e possibilitar a integração com outros serviços na Internet, como as redes sociais).

25 Pesquisador e autor do presente projeto de dissertação. Mais informações no lattes em

http://lattes.cnpq.br/3636445220853720.

26 Mais informações em http://lattes.cnpq.br/4907419723431558.

27 Startup é uma empresa de tecnologia nascente, normalmente com foco em soluções para a

Internet.

28 Empresa com atuação na Comunicação Corporativa e Tecnologia da Informação, também de

lazer e bem-estar, saúde, segurança, trânsito, dentre outros, a exemplo daqueles projetos aqui apresentados.

A ferramenta foi desenvolvida utilizando-se do HTML enquanto linguagem de marcação e o PHP29 e JavaScript30, enquanto linguagem de programação. Para

gerenciar as informações, foi utilizado um sistema de gerenciamento de conteúdo (Content Management System, CMS) denominado Wordpress31, sendo integrado

com funcionalidades de mapas do Google através do Google Maps APIs32.

Figura 5 - Primeira versão do site Nossa Santa Maria

Fonte: Site Nossa Santa Maria

Enquanto usuário enquadra-se qualquer cidadão que, com acesso à Internet, esteja disposto a fornecer informações para o site, realizando previamente, um cadastro que permite identificar a origem do conteúdo. Desta forma, muito embora

29 Conforme o site do desenvolver (http://php.net/manual/pt_BR/intro-whatis.php), PHP é uma

linguagem de script open source de uso geral, muito utilizada e especialmente adequada para o desenvolvimento web e que pode ser embutida dentro do HTML.

30 JavaScript (JS) é uma linguagem de programação, interpretada e orientada a objetos com funções

que permitem uma dinâmica maior de interatividade com o usuário, conforme apresentado no site da empresa responsável em https://developer.mozilla.org/pt-BR/docs/Web/JavaScript/About_JavaScript.

31 O WordPress é uma plataforma livre de gerenciamento e publicação de conteúdo, com foco na

estética, nos Padrões Web e na usabilidade, sendo atualmente a maior plataforma de Gerenciamento de Conteúdo do mundo, com quase 70% do mercado. (https://br.wordpress.org/)

32 API (Application Programming Interface), em português, Interface de Programação de Aplicativos,

são conjuntos de especificações e códigos que permitem que, no contexto da web, desenvolvedores independentes produzam e disponibilizem ferramentas e serviços que utilizam da interface, base de dados ou recursos de um sistema existente (SILVA, 2011, p. 8)

as postagens inicialmente fossem tratadas enquanto anônimas, os administradores podiam identificar os usuários que de alguma maneira infringissem os termos de uso.

Figura 6 - Exemplo de postagem colaborativa no site Nossa Santa Maria

Fonte: Site Nossa Santa Maria

No ano de 2012, a “Twin Tecnologia Social” foi incorporada pela “Dois Atitude Criativa” e os idealizadores do projeto detectaram, empiricamente, que a ferramenta apresentava um gargalo: faltava corpo, tempo e equipe para disseminar a ideia e fomentar a mobilização em prol da transformação social local.

Já no ano de 2013 o projeto encontrava-se enfraquecido, com pouca movimentação e baixa taxa de acesso. Foi então que, com o aval dos demais idealizadores, Andrewes e Liana, levaram, voluntariamente, o “Nossa Santa Maria” para os bancos da academia.

Através de um acordo voluntário de cooperação técnica/acadêmica entre a “Dois Atitude Criativa” e a FADISMA, os idealizadores viram uma chance de reviver o projeto.

A partir dessa parceria, o autor do presente reformulou todo o site, dando maior ênfase no design e no conteúdo, unificando o tipo de postagem, anteriormente em problemas, ideias e ações, em desafios. Desta forma, a nova versão encara a postagem de seus usuários como desafios a serem (re)conhecidos pelo poder público ou pelos próprios munícipes.

Figura 7- Captura da página principal do site eletrônico Nossa Santa Maria, com destaque para as categorias em formato de ícones

Fonte: Site Nossa Santa Maria

Confirmada pela sua apresentação33, o site foi idealizado com base nos

conceitos de Gestão do Conhecimento34 Social, Tecnologia Social e Marketing

Social35. Essa é, tecnicamente, repositório que oferece informações de gargalos,

anseios da população e potencialidades do município onde a Faculdade está inserida. Ele é mais um exemplo, entre todos aqueles apresentados previamente, que confirma um contexto favorável à ciberdemocracia, unindo o direito e ciências sociais a uma perspectiva de solução, contribuição para a resolução ou, no mínimo, de mediação de conflitos e estas, por sua vez, servindo-se do conceito de Tecnologia Social36 conforme definição do Instituto de Tecnologia Social:

33 Disponível em www.nossasm.com.br/somos/ferramenta/.

34 “Gestão do Conhecimento é, sobretudo, um exercício de reflexão. O conhecimento é uma

informação que muda algo ou alguém, provocando uma ação que torna um indivíduo ou uma instituição mais eficiente”. (LUCHESI, 2012)

35 “O termo marketing social apareceu pela primeira em 1971, para descrever o uso de princípios e

técnicas de marketing para a promoção de uma causa, ideia ou comportamento social. Desde então, passou a significar uma tecnologia de gestão da mudança social, associada ao projeto, implantação e controle de programas voltados para o aumento da disposição de aceitação de uma ideia ou prática social em um ou mais grupos de adotantes escolhidos como alvo” (KOTLER e ROBERTO, 1992).

36 Caracterizado pela participação coletiva no processo de organização, desenvolvimento e

implementação, o autor acredita que essa expressão esteja carregada de disseminação de soluções para problemas voltados a demandas sociais diversas.

Conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida (ITS, 2004, p.130).

As categorias que classificam as postagens (saúde, educação, trânsito, entre outras) ganharam maior destaque, indicando aquelas ocorrências que apresentam maior frequência enquanto desafio. Foram adicionadas, ainda, nesse estágio de evolução da ferramenta, outras novas funcionalidades. Uma delas é um blog para compartilhar as informações decorrentes do projeto e uma revista online, com o objetivo de promover trabalhos discentes relacionados às postagens dos usuários.

Uma chamada na página principal do site motiva os usuários, instigando-os a criar desafios, postando problemas que os afetam de modo individual ou coletivo; a compartilhar as postagens (neste caso os desafios) em suas redes sociais virtuais e; a colaborar com os demais usuários, seja promovendo ou buscando soluções e ações que possam contribuir para a melhoria ou resultado.

Desta forma, a plataforma passou a não só integrar um programa de ensino, pesquisa e extensão do Núcleo de Estudos em (Web)Cidadania da FADISMA, na época experimental, mas sim a representá-lo, tanto que tal leva o mesmo nome da plataforma: Nossa Santa Maria. Foi quando os coordenadores do referido Núcleo viram na plataforma a oportunidade de, dentro de um universo de ensino e pesquisa, gerar extensão, mas, sobretudo, educação para a participação cidadã estudantil efetiva.

Alunos, professores e egressos que, por sua vez, compõem as atividades do Programa do Núcleo, são voluntários no processo de disseminação da informação e atuam como agentes, curadores de conteúdo, na replicação dos desafios e na sua análise sustentada. Em resumo, eles passaram a ser “ouvintes” das críticas e sugestões dos munícipes, fazendo delas objetos de estudo e a possibilidade de, efetivamente, retirar artigos, planos e pesquisas das estantes.

Embora a ferramenta seja utilizada pelos mais diversos usuários, contextualizando os seus anseios, questionamentos e contribuições, fato descoberto por esse grupo é que essas ações dispersas, por si só, não teriam eficácia se tratadas de forma isolada ou sem um elemento em comum, o Direito37. E o mais

37 Fica evidenciado no início deste capítulo, quanto é abordada a questão da colaboração no âmbito

da sociedade em rede, que o Direito, enquanto direitos, deveres e obrigações (estes que definem, inclusive, a própria cidadania), é o alicerce da construção de uma sociedade democrática.

importante: fomentando a webcidadania e invertendo o eixo da participação na vida pública. Antes os estudantes, egressos e professores enquadravam-se enquanto receptores ou transmissores de mensagens. Agora, passam a ser protagonistas de efetiva ação na vida pública.

Fato é que, sabendo que a Internet mudou a percepção social, primeiro pela condição de ferramenta de informação e segundo por permitir a interação de vários grupos de interesses e áreas diversas, o Programa passou a trabalhar com a aproximação de cidadãos.

Este, na verdade, aproxima cidadãos do Direito e das Ciências Contábeis do seu potencial social. Envolve alunos regulares, egressos e professores em prol da consciência da importância da cidadania e de sua conexão com o direito. Eles trabalham, fundamentalmente, com o compartilhamento de modo voluntário do saber com a comunidade na qual estão inseridos e, assim, contribuem para a transição do que é norma e código à material palpável, acessível.

Todos são envolvidos num trabalho colaborativo, que produziu, e deve produzir ainda mais cientificamente, com base em problemas reais, propondo ideias viáveis com vistas à solução desses desafios e, efetivamente, agir em prol desse recurso. Entre as principais bases de trabalho, estava justamente o já referido site, que leva o nome de “Nossa Santa Maria” e que tem duas características importantes: o pensar global e o agir local, além de uma construção coletiva do futuro.

Com o surgimento das novas Tecnologias da Informação e Comunicação e, principalmente com a Internet, seu crescimento e impacto são acompanhados de discussões em torno de uma nova democracia. E, como não poderia deixar de ser, aquilo que o espaço virtual gera, nesse sentido, também merece atenção. Assim, acredita-se que a ciberdemocracia, nesse contexto, representa a criação e repercussão de novos processos e mecanismos de discussão, na qual o potencial da participação popular se torna mais real em termos práticos.

Fato, assim, é que o site, na sua versão inicial, representava, em linhas gerais, apenas um repositório de problemas, e agora, em seio acadêmico, ganhou um novo viés: estudar, debater e promover o diálogo sobre o tema “A Internet a serviço da sociedade” (FADISMA, 2016), a partir dos mais diversos segmentos em que o Direito, principalmente, têm papel atuante ou, no mínimo, poder reflexivo e de argumentação: cidadania, educação, cultura, meio ambiente, esportes, turismo,

saúde, segurança, urbanismo. etc. – dada a representatividade desses temas em categorias de potencial postagem e enquadramento de problema/desafio, ação/iniciativa.

Mas, essencialmente, procura compreender como as transformações do mundo afetam a forma de relacionamento das pessoas, o enfrentamento e a luta pelo questionamento e cumprimento das leis e como estas podem trazer mudanças sociais de forma a não invadir o espaço de outros e, consequentemente, ferir a Constituição, especialmente resgatando, cobrando e lembrando a todos quanto aos seus direitos e obrigações enquanto cidadãos.

Enquanto parte do Programa, foi incorporado o tema da Educação Jurídica e a webcidadania e, desta forma, este vem estimulando positivamente a participação dos alunos e também dos munícipes nas discussões de caráter social, econômico, político e cultural, com o objetivo de desencadear o resgate da mobilização social, o fortalecimento das iniciativas existentes e, principalmente, oportunizar participação ativa à população são os nortes dessa ação em conjunto com o ensino, pesquisa e extensão (NOSSA SANTA MARIA, 2016).

Esse processo ficará mais claro no próximo capítulo, quando será abordada a metodologia de trabalho. Mas, por hora, é importante destacar que tudo aquilo ocorre pela soma do blog e da revista online, disponibilizados no mesmo site eletrônico e, também, pelo fato de, como protagonistas desse processo, um grupo de estudantes voluntários ter a missão de atentar para os desafios postados, neles trabalhando, em especial em dois quesitos: produção científica e ativismo criativo.

Na medida em que o projeto ganhou força, a coordenação de graduação buscou o contato com as autoridades para apresentá-lo. A intenção foi apontar o Programa como parceiro, como potencial banco de dados no auxílio para a tomada de decisão do Poder Público.

Além de autoridades locais e representantes diversos do poder público, o projeto também ganhou foco na mídia, sensibilizando Executivo e Legislativo acerca da causa. Entre 2013 e 2014, uma agenda de reuniões foi buscada e as entidades de classe também foram contatadas e sensibilizadas (KOLTERMANN; SOUZA, 2015).

Nesse período, contudo, os voluntários não abraçaram os mais de 100 desafios postados pela comunidade, trabalhando com somente cinco desses: dificuldade da rede escolar municipal em (re)conhecer e disseminar o Estatuto da

Criança e do Adolescente e desconhecimento dos limites entre atos indisciplinares e atos infracionais; aparente abandono de praça local; acessibilidade; a legitimação da saúde enquanto direito fundamental; e acidentes de trânsito locais.

Com dois semestres e meio de ações ativistas e de produção científica, a propagação da conscientização acerca das temáticas supramencionadas e a visibilidade das ações que foram de reuniões a audiências públicas, formatação de cursos gratuitos, campanhas web e presenciais em locais de vulnerabilidade social foram os pontos altos.

Atualmente, uma terceira turma passa por fase de preparação em prol da definição de bandeira de trabalho, diante, justamente, da dificuldade de abraçar todos os desafios postados na ferramenta, ainda que não tão expressivos, mas dado ao perfil docente e discente envolvido de solução e tentativa de esgotamento e atenção aos desafios realmente abraçados.

O principal aspecto negativo é que, enquanto os discentes se preparam com oficinas, palestras e cursos para trabalhar sua própria consciência cidadã e habilidades, a ferramenta fica em segundo plano até que se possam retomar os olhos a ela, mas estes e outros aspectos serão mais bem detalhados a seguir.

2.6 DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM REDE, A CONSTRUÇÃO E