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LISTA DAS DOENÇAS PROFISSIONAIS

5.4 Doseamento do chumbo em outros tecidos

A excreção de chumbo pelas faneras conduziu à hipótese de utilização do doseamento do chumbo nos cabelos como método de avaliação da exposição.

A dificuldade em diferenciar entre o chumbo incorporado nos cabelos e o deposto à sua superfície por via externa, torna, porém, impraticável este método (LAUWERYS, 1999).

TRACQUI et al., por exemplo, compararam a concentração de chumbo nos cabelos quer com a concentração de chumbo no sangue quer com os níveis de PPZ e ALA-D, não tendo encontrado qualquer correlação (TRACQUI et al., 1994).

E WIBOWO et al. concluíram, em estudo comparativo envolvendo crianças residindo perto de uma fundição de chumbo, que a Pb-S e a PPZ eram melhores indicadores da exposição do que o doseamento do chumbo nos cabelos (WIBOWO et al., 1980).

5.5 Doseamento da desidratase do ácido δδδδ-aminolevulínico no sangue (ALA-D)

De entre as enzimas envolvidas na síntese do heme, a desidratase do ácido δ- aminolevulínico (ALA-D) é particularmente sensível à acção inibitória pelo chumbo.

Segundo LAUWERYS, a inibição da actividade desta enzima precede as outras alterações metabólicas induzidas pelo chumbo e é muito específica da exposição a este metal, sendo embora, também, registável no caso dos compostos inorgânicos de mercúrio se bem que apenas para altas doses (LAUWERYS, 1999). Contudo, também o acetaldeído que se forma a partir do álcool inibe a actividade da ALA-D, facto que pode limitar a sua utilidade como indicador (PUTNAM, 1986; CEZARD et al., 1992).

Uma correlação negativa entre a ALA-D e a plumbémia foi confirmada por vários estudos (HERNBERG et al., 1970, citado por GRAZIANO, 1994; WADA et al., 1974; AGUILAR et al., 1984; ONG et al., 1986).

Para LAUWERYS, a inibição da actividade da ALA-D verifica-se a níveis de plumbémia inferiores a 40 µg/dL (LAUWERYS, 1999) e SAKAI e MORITA constataram-na a taxas de plumbémia a partir de 5 µg/dL (SAKAI e MORITA, 1996). De modo mais preciso,

HERNBERG (1980) verificou esta inibição em plumbémias entre 10 e 20 µg/dL e registou que ela era total quando a Pb-S atingia níveis entre 70 e 90 µg/dL (LANDRIGAN, 1994). BERGDAHL et al., mais recentemente, num estudo envolvendo 42 trabalhadores expostos a chumbo, de ambos os sexos, verificaram uma taxa de decréscimo da actividade da ALA-D de 50% correspondendo a níveis de plumbémia de apenas 15 µg/dL (BERGDAHL et al., 1998b).

A redução da actividade da ALA-D, a baixas plumbémias, foi também comprovada por estudos como o de CAMPAGNA et al., que detectaram tal redução em plumbémias entre 3,2 e 4,8 µg/dL no sangue de parturientes e no do cordão umbilical de recém-nascidos, sendo estatisticamente significativas as associações negativas com ambos (CAMPAGNA et al., 1999).

Cessada a exposição a actividade da ALA-D retorna progressivamente ao normal, paralelamente à plumbémia, mas de modo mais lento do que o que se verifica com o próprio ALA (LAUWERYS, 1999).

5.6 Doseamento do ácido δδδδ-aminolevulínico na urina (ALA-U)

A inibição da transformação do ALA em porfobilinogénio, determinada pelo chumbo, por via da inibição enzimática da ALA-desidratase, conduz ao aumento dos níveis sanguíneos daquele substrato.

Na sequência da diminuição dos níveis de heme, resultante das acções do chumbo sobre as enzimas que catalisam a sua síntese, a estimulação da ALA-sintetase conduz a um incremento de produção do próprio ALA (KAPLAN, 1983; DUC, KAMINSKY e KLEIN, 1994; NUTTAL, 1994; LAUWERYS, 1999).

De um e outro processos, deste modo, resulta um aumento dos níveis de ALA no sangue e, consequentemente, da sua excreção urinária (KAPLAN, 1983).

Segundo LAUWERYS a excreção urinária de ALA está associada à quantidade de chumbo metabolicamente activo no organismo. Quando a exposição cessa, a plumbémia e o ALA-U decrescem paralelamente contudo, poderá registar-se um decréscimo mais lento deste último (LAUWERYS, 1999).

O aumento da excreção urinária do ALA foi observado por WADA a partir de taxas de inibição da ALA-D de 40% (WADA, 1974) e TAKEBAYASHI et al. verificaram que um pronunciado aumento dos níveis sanguíneos (e consequentemente urinários) de ALA se registava quando aquela taxa atingia os 85% (TAKEBAYASHI et al., 1993).

Os níveis sanguíneos de ALA correlacionam-se bem com a plumbémia (LÉTORNEAU, PLANTE e WEBER, 1988; OMAE et al., 1988; MEDINILLA e ESPIGARES, 1991; TAKEBAYASHI et al., 1993; TOMOKUNI, ICHIBA e FUJISHIRO, 1993; NOMIYAMA, NOMYANA e XIN, 1999) (Quadro I.14) e com as concentrações do ALA na urina (WITTING, BINDING e MÜLLER, 1987; TOMOKUNI, ICHIBA e HIRAI, 1991; TOMOKUNI, ICHIBA e FUJISHIRO, 1993; SAKAI e MORITA, 1996; SITHISARANKUL et al., 1998).

Quadro I.14: Correlação entre Pb-S e ALA-U (algumas referências).

Referência Coef.

Correlação

Prob. Significância

LÉTORNEAU, PLANTE e WEBER, 1988 r= 0,68 p< 0,01

OMAE et al., 1988 r= 0,74 p= 0,01 BOTTA et al., 1990 r= 0,26 p= 0,01 MEDINILLA e ESPIGARES, 1991 r= 0,76 p< 0,001 CARDENAS et al., 1993 r= 0,38 p< 0,001 KENTNER e FISCHER, 1994 r= 0,51 p< 0,001 CALDEIRA et al., 2000 r= 0,74 p< 0,001

MAKINO et al. estudaram 3.636 casos de trabalhadores expostos, registando que o ALA urinário se eleva com o aumento da plumbémia mas que não existe associação, entre os dois parâmetros, para níveis de Pb-S inferiores a 20 µg/dL (MAKINO, TSURUTA e TAKATA, 2000). São dados que estão em consonância com o verificado por SELANDER e CRAMER (1970), citados pelo IPCS, que referiram uma boa correlação entre ALA-U e Pb-S a partir de plumbémias de 18 µg/dL, correlação que se tornava mais forte quando esta taxa ultrapassava os 40 µg/dL (IPCS, 1995). E igualmente com os resultados de

CALDEIRA et al. que estimaram, num grupo de indivíduos expostos, com Pb-S média de 17,3 µg/dL, um coeficiente de correlação de 0,74 entre os dois indicadores e, num outro grupo com Pb-S média de 61,5 µg/dL, um coeficiente de 0,90 (CALDEIRA et al., 2000).

A concentração urinária de ALA na população em geral não ultrapassa os 4,5 mg/g de creatinina. Uma taxa de 10 mg/g de creatinina será atingida quando a plumbémia se situa em 60 µg/dL e uma de 15 mg/g de creatinina quando é cerca de 70 µg/dL (LAUWERYS, 1999).

Segundo os trabalhos de L’ÉTORNEAU et al., a utilização de um limiar de 5 mg/g de creatinina para o ALA-U permitirá detectar todos os casos de Pb-S igual ou maior que 65 µg/dL (L´ÉTORNEAU, PLANTE e WEBBER, 1988). E, para CALDEIRA et al., um limiar de 3mg/g de creatinina detectaria plumbémias de 20 µg/dL ou mais, com uma sensibilidade de 92% e uma especificidade de 90% (CALDEIRA et al., 2000).

Num amplo estudo envolvendo 14.130 trabalhadores expostos a chumbo,

HIGASHIKAWA et al. verificaram que as variações do ALA apresentavam algumas diferenças entre homens e mulheres. Os resultados registados evidenciaram (1) que o ALA-U se elevava a menores níveis de Pb-S nas mulheres que nos homens; (2) que os coeficientes de correlação entre Pb-S e ALA-U eram de 0,236 para os homens e 0,131 para as mulheres, mas que esses valores subiam para 0,645 e 0,619, respectivamente, calculados para 3 graus de liberdade; (3) que para 95% do valor limite de aceitabilidade do ALA-U (considerado em 8 mg/L) os níveis de Pb-S se situavam em 62 µg/dL para os homens e 50 µg/dL para as mulheres (HIGASHIKAWA et al., 2000).