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II.28 Evolução da sensibilidade e da especificidade da PPZ a diferentes cut-off

2.1 Penetração e Absorção

O chumbo penetra no organismo por via respiratória, por via digestiva e por via dérmica, neste último caso apenas com significado no que respeita aos compostos orgânicos.

A inalação de partículas de chumbo presentes no ar (vapores, fumos e poeiras) constitui, na exposição profissional, o principal modo de penetração do tóxico no organismo. A absorção do chumbo contido no ar inalado depende da quantidade que se deposita no aparelho respiratório e dos processos de absorção e de clearance que a esse nível se registem.

35 a 50% do chumbo inalado deposita-se nas paredes da árvore respiratória, dependendo da dimensão das partículas o nível a que tal se verifica. A absorção destas partículas, entretanto, estará relacionada com a solubilidade da forma química de chumbo inalada (SCHÜTZ, 1986; ATSDR, 1992; IPCS, 1995; SPEAR et al., 1998a e 1998b; TRUCHON, 1999).

A maior parte das partículas de diâmetro aerodinâmico superior a 5 µm deposita-se nas vias respiratórias superiores (SCHÜTZ, 1986; SCHÄLLER, 1996), sendo transportadas para a orofaringe pelos mecanismos de clearance muco-ciliar e, em seguida, deglutidas (SARYAN e LENZ, 1994; LAUWERYS, 1999).

As partículas de diâmetro até 0,5 µm (como as provenientes do corte e aquecimento do metal e as originadas nos combustíveis com chumbo) com alguma facilidade atingem o compartimento alveolar, onde são absorvidas por mecanismos de difusão. Segundo

SCHÄLLER, a quantidade de chumbo que se deposita no território pulmonar é completamente absorvida e o facto regista-se independentemente da forma química em presença (SCHÄLLER, 1996).

Dados referidos pela EPA (1986) indicam que, em animais de laboratório, a quase totalidade das partículas até 0,5 µm de diâmetro depositadas no tracto respiratório inferior são absorvidas num período de 48 horas após administração (IPCS, 1995).

BARRY (1975), por seu lado, verificou que, independentemente da forma química, não se acumula chumbo nos pulmões dos trabalhadores que o inalam (SCHÄLLER, 1996). Para SCHÜTZ, contudo, a taxa de absorção das partículas depositadas nos pulmões dependerá do grau de lipossolubilidade da forma química em que se apresentam, podendo, no entanto, partículas de sais de baixa lipossolubilidade, desde que de pequenas dimensões, ser fagocitadas após deposição e, de seguida, absorvidas por introdução no sistema linfático (SCHÜTZ, 1986).

Na exposição profissional a via digestiva desempenha um papel secundário, mas não negligenciável, na penetração do chumbo no organismo.

Respeita, por um lado, à deglutição das partículas que hajam sido retidas pelas secreções traqueo-brônquicas e, com estas, transportadas para a orofaringe; relaciona-se, também, com os (maus) hábitos de higiene, sendo as partículas do metal trazidas à boca através das mãos, cigarros, utensílios de trabalho e até mesmo alimentos, conspurcados no ambiente de trabalho. (LAUWERYS, 1999; TRUCHON, 1999).

Tal foi, por exemplo, constatado por MAYAN que, num estudo sobre exposição a chumbo em vários grupos profissionais, concluiu pela insuficiência da vigilância ambiental (chumbo no ar) e pela necessidade de recurso a indicadores biológicos (plumbémia), dada a importância da introdução do chumbo por via digestiva, relacionada com as práticas higiénicas (MAYAN, 1994).

A absorção do chumbo que penetra por via digestiva efectua-se ao nível do intestino por mecanismos de difusão e de transporte activo, sendo o transporte, tal como no caso do cálcio, de natureza bidireccional (LAUWERYS, 1999).

Embora a taxa de absorção intestinal do chumbo que penetra por via digestiva se situe em cerca de 10%, pode variar em função da presença ou ausência de alimentos, do tipo de dieta e da forma química em que o chumbo se apresenta (WALDRON, 1980; DUC, KAMINSKY e KLEIN, 1994; IPCS, 1995). KEHOE (1961) e CHAMBERLAINE (1978)

encontraram taxas de 10 e 15%, respectivamente, para a fracção de chumbo contido nos alimentos que é absorvida (IPCS, 1995). Contudo, na ausência de alimentos (o que acontece em largos períodos na exposição profissional), a taxa de absorção pode atingir os 50% (LAUWERYS, 1999) e HEARD e CHAMBERLAIN (1982), em estudo citado pelo IPCS, encontraram mesmo taxas superiores a 60% (IPCS, 1995).

GULSON et al. (1998) constataram que a absorção intestinal de chumbo proveniente da ingestão de vinho se situava em 34% durante os períodos de jejum, enquanto se reduzia para 2,3% quando o consumo se verificava durante as refeições. E estes mesmos autores referenciam estudos de RABONOWITZ et al. (1980) e de GRAZIANO et al. (1996)

confirmando estas diferenças embora com taxas variáveis (GULSON et al., 1998b). O próprio consumo de álcool, por seu turno, tem sido referenciado em alguns estudos como incrementador da absorção intestinal de chumbo (DALLY et al., 1988; BORTOLI et al., 1986, citado por CEZARD, 1992).

O tubo digestivo tem sistemas de transporte especializados (mediados por transportadores) para a absorção de nutrientes e electrólitos. Alguns xenobióticos podem ser transportados por estes mesmos sistemas, tal acontecendo, no caso do chumbo, relativamente ao sistema do cálcio (ROZMAN e KLAASSEN, 1996). A absorção de chumbo ao nível do intestino varia, assim, inversamente com o teor de cálcio nos alimentos (WALDRON, 1980; SARYAN e LENZ, 1994). Como, no tecido ósseo, o chumbo desloca o cálcio dos cristais de hidroxiapatite, dietas de baixos teores em cálcio podem determinar um aumento da absorção do chumbo e, em sequência, do seu depósito nos ossos (WALDRON, 1980).

O processo de absorção intestinal do chumbo parece, ainda, ser influenciado pelo teor de outros elementos na dieta. Estudos de MAHAFFEY–SIX e GOYER (1972), QUATERMAN e MORRISON (1975), STONE e SOARES (1976) e CERKLEWSKI e FORBES (1976), referenciados pela OMS, indicam que, em animais de laboratório, a absorção intestinal de chumbo aumenta em situações de dietas deficitárias não só em cálcio mas, também, em fósforo, em ferro, em selénio ou em zinco (IPCS, 1995).

Por via dérmica são displicentes ou nulas as taxas de penetração de compostos inorgânicos de chumbo, mesmo que através de soluções de continuidade como as escoriações. Contudo, embora posta em causa, ela será possível, uma vez que, no passado, se registaram intoxicações a partir da utilização de cosméticos contendo chumbo (DÉSOILLE, SCHERRER e TRUHAUT, 1987).

Os compostos orgânicos de chumbo (tetrametil e tetratetil) são, porém, rapidamente absorvidos por esta via, constituindo um importante factor de risco para os que com eles lidam quer no seu fabrico quer no seu transporte (WALDRON, 1980). A utilização de gasolina para limpeza das mãos, hábito com frequência verificado em oficinas de automóveis, constitui, deste modo, um significativo risco de absorção de chumbo orgânico por esta via (DUYDU et al., 1998; DUYDU e VURAL, 1998).