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II.28 Evolução da sensibilidade e da especificidade da PPZ a diferentes cut-off

3.3 Efeitos sobre o sistema nervoso

Em situações de exposição aguda, o compromisso do sistema nervoso central revela-se por fenómenos de extravasão hemática, proliferação endotelial, necrose de células endoteliais e exsudação perivascular. Regista-se edema cerebral e cerebeloso evocando uma ruptura da barreira hemato-encefálica. Na exposição crónica prolongada, entretanto, as alterações são apenas hipotéticas e extrapoladas de estudos de experimentação animal (DUC, KAMINSKY e KLEIN, 1994).

Alguns autores postulam que o chumbo interfere com o metabolismo normal de alguns neurotransmissores, incluindo a acetilcolina (SILBERGELD et al., 1982; MODAK et al.,

1975) e as catecolaminas (SILBERGELD e CHISOLM, 1976) (citações em WALDRON, 1980 e LAUWERYS, 1999).

PAYTON et al. verificaram que o metabolismo da epinefrina pode ser influenciado pela exposição a baixos níveis de chumbo. Em estudo sobre 645 indivíduos com plumbémia média de 8,2 µg/dL (variação entre 4 a 26 µg/dL), verificaram que a excreção urinária de epinefrina se associava positiva e significativamente com os níveis de Pb-S e que a um aumento de Pb-S de 10 µg/dL correspondia um aumento da excreção urinária de epinefrina de 11 g/24horas. Contudo, não encontraram associação, pelo menos significativa, entre a Pb-S e a excreção de norepinefrina, de dopamina ou de serotonina (PAYTON et al., 1993).

Uma acção activadora ao nível das proteínas quinases foi, também, estudada como eventual razão para os efeitos neurotóxicos do chumbo. MARKHOVAC e GOLDSTEIN (1988) verificaram que o chumbo activa a proteína quinase-C, o que poderia levar a alterações na barreira hemato-encefálica. E BRESSLER e GOLDSTEIN (1991)

constataram que o chumbo pode, por esta acção, estimular a libertação expontânea de neurotransmissores. Estes últimos autores, contudo, verificaram que o chumbo poderia, também, inibir a libertação dos neurotransmissores ao bloquear, em determinadas situações, os canais do cálcio (que se abrem por estimulação do influxo nervoso) (DUC, KAMINSKY e KLEIN, 1994; GOYER, 1996; LAUWERYS, 1999).

Alguns estudos (McGILLION, 1973, DHAR, 1975 e WATSON, 1975) indiciaram sobre uma eventual acção neurotóxica do chumbo mediada não directamente pelo próprio metal mas por via da acumulação de ALA (originado na inibição enzimática da ALA- desidratase) em células cerebrais (WALDRON, 1980).

SITHISARANKUL et al., partindo dos estudos de SILBERGELD e LAMON (1980, 1982),

postularam que se os efeitos neurológicos do chumbo são parcialmente devidos à acumulação do ALA, os indivíduos portadores do genótipo ALA-D1-2 estariam melhor protegidos, assinalando que tal era consistente com os resultados do estudo sobre efeitos neurofisiológicos do chumbo efectuado por BELLINGER et al. (1994) que verificaram,

nestes indivíduos, melhores performances nos testes de avaliação da atenção (SITHISARANKUL et al., 1997).

A toxicidade do chumbo ao nível do Sistema Nervoso Central (SNC) manifesta-se por alterações de carácter neuro-comportamental, reconhecendo-se que a exposição profissional prolongada conduz a queixas inespecíficas como ansiedade, perda de memória e dificuldade de concentração.

JEYARATNAM et al., comparando resultados de testes efectuados em trabalhadores expostos e não-expostos, verificaram que os primeiros tinham significativamente mais alterações ao nível da velocidade de percepção motora, das capacidades de atenção e concentração, da destreza manual e da coordenação olhos-mãos, bem como mais perturbações do humor e da ansiedade (JEYARATNAM et al., 1986). Também

SCHWARTZ et al. constataram associações consistentes entre a plumbémia e o decréscimo de resultados de testes neuro-comportamentais, particularmente no que respeita à destreza manual e à memória verbal (SCHWARTZ et al., 1993).

Estes e outros estudos sugeriram a possibilidade de interferências do chumbo com o metabolismo das catecolaminas como base explicativa para as alterações comportamentais.

ONG et al. já haviam identificado, comparando um grupo de trabalhadores expostos (Pb-S média de 43,2 µg/dL; variação entre 20,2 a 75,4 µg/dL) com um grupo de não- expostos (Pb-S média de 12,7 µg/dL), que as excreções urinárias de HVA (ácido homovanílico) e de VMA (ácido vanilmandélico) eram maiores no grupo exposto, embora apenas se registasse uma associação significativa com a elevação da plumbémia (p< 0,01) em relação ao HVA. Constataram que tais resultados eram menos concludentes que os registados em semelhantes estudos anteriormente efectuados, quer em animais de laboratório quer em crianças (GOLTER e MICHAELSON, 1975; SILBERGELD e CHISOLM, 1976; SILBERGELD e HRUSKA, 1980), sugerindo que tal se poderia dever às menores concentrações de chumbo no sangue que caracterizavam o grupo de expostos visado neste estudo (ONG et al., 1989). Investigações posteriores confirmaram esta correlação positiva entre a excreção urinária de VMA e a plumbémia, identificando, além disso, um mesmo tipo de associação com os níveis de protoporfirina-zinco (HAI-WANG et al., 1995; TANG et al., 1995).

De acordo com DALLY, a partir de concentrações de plumbémia entre 40 e 69 µg/dL registam-se alterações da memória e das capacidades oculo-motoras (DALLY, 1988).

EHLE e McKEE (1990), entretanto, efectuaram uma revisão dos trabalhos de investigação relacionando a exposição a chumbo e os resultados de testes psicológicos e concluíram que, face aos dados analisados, não existiam evidências concludentes de que se verifiquem efeitos neurológicos em adultos com plumbémias abaixo de 50 µg/dL (citação em SOLLIWAY et al., 1994).

Mais recentemente, HANNINEN et al. estudaram trabalhadores com exposições de duração entre 1 e mais de 30 anos. Verificaram haver uma associação entre os níveis de plumbémia e as alterações registadas em testes de avaliação das capacidades oculo- motoras e visuo-espaciais, da atenção e da compreensão verbal. E, avaliando os resultados, sugeriram que a exposição de longa duração, com plumbémias superiores a 50 µg/dL, causa um risco de arrastada ou permanente perturbação funcional do SNC e que exposições de menor intensidade estarão associadas a efeitos mais ligeiros e limitados, cuja reversibilidade e prognóstico deverão ser investigados (HANNINEN et al., 1998).

Procurando uma síntese, MEYER-BARON e SEEBER, numa meta-análise de 22 estudos sobre alterações neuro-comportamentais relacionáveis com a exposição a chumbo, relataram que a níveis de plumbémia de 40 µg/dL se verificam alterações em diversos tipos de testes, indiciando sobre perturbações ao nível do processamento central da informação e, especialmente, das funções de organização visuo-espacial e da memória de curto prazo. Neste sentido, estes autores defendem que o valor de 70 µg/dL não pode ser considerado um limite adequado, tendo em vista a prevenção da diminuição, a prazo, das performances neuro-comportamentais (MEYER-BARON e SEEBER, 2000).

Ao nível do Sistema Nervoso Periférico (SNP), de acordo com FULLERTON (1966) e

DUPUY et al. (1984), a toxicidade do chumbo manifesta-se por degenerescência axonal e desmielinização segmentar (DUC, KAMINSKY e KLEIN, 1994; LANDRIGAN, 1994). Os nervos motores são mais afectados que os sensitivos e, segundo referências da EPA (1986), alterações na velocidade de condução destes nervos são detectáveis a níveis sanguíneos de chumbo de 40 µg/dL (GOYER, 1996).

A acção tóxica do chumbo atinge de modo mais precoce o nervo cubital (SEPPÄLÄINEN, HERNBERG e KOCK, 1979), verificando-se em alguns estudos

(SEPPÄLÄINEN e HERNBERG, 1980; SEPPÄLÄINEN et al., 1983) que a diminuição da velocidade de condução neuronal é registável a níveis de plumbémia entre 30 e 40

µg/dL (LANDRIGAN, 1994).

Esta relação dose-efeito está em consonância com os estudos de CHIA et al. (1996), que estimaram não haver risco de alterações da velocidade de condução nos nervos cubital e mediano se a plumbémia se mantiver abaixo de 40 µg/dL mas, que o nível sem efeito é inferior a esta concentração (LAUWERYS, 1999).