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II.28 Evolução da sensibilidade e da especificidade da PPZ a diferentes cut-off

1.3 Presença do chumbo nos ecossistemas

A ampla utilização deste metal e a inexistência de um processo de eliminação natural provocam a sua acumulação nos ecossistemas criando uma poluição disseminada, facto que conduziu a que a OMS o tenha incluído em 1985 (junto com outros metais como o mercúrio e o cádmio) no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) (MARQUÉS MARQUÉS, 1993).

Embora a desagregação natural de minerais e as emissões gasosas das actividades vulcânicas estejam implicadas na contaminação dos vários ecossistemas pelo chumbo, a principal causa desta tem origem nas actividades antropogénicas, quer domésticas quer industriais. Destas resulta a libertação de quantidades apreciáveis de chumbo para o ar mas, também, uma importante produção de resíduos que, pelo menos parcialmente, são depositados em parques de sucata e lixeiras, contaminando solos e lençóis de água (GONÇALVES, 1997).

Este considerável impacto ambiental provocado pelas actividades antropogénicas foi, designadamente, assinalado por GRANDJEAN e JORGENSEN, que compararam as concentrações de chumbo nos dentes de esqueletos com 5.000 anos e com 500 anos com os verificados na actualidade e concluíram que os dentes “modernos” possuíam teores de chumbo 10 a 100 vezes superiores (GRANDJEAN e JORGENSEN, 1990).

As emissões de chumbo para a atmosfera revestem-se de particular importância, uma vez que esta constitui o recipiente inicial para a maioria do chumbo libertado para o meio ambiente (ATSDR, 1992). As suas partículas tendem a depositar-se nas proximidades das fontes de emissão mas, está comprovado que uma percentagem considerável é transportada à distância, processo cuja expressão depende muito das características geomorfológicas e atmosféricas de cada zona (CEC, 1993). De facto, as concentrações de chumbo no ar ambiente variam muito, desde os 7,6 × 10-5 µg/m3 detectados em áreas isoladas como a Antárctica, referidos por MAENHAUT et al. (1979), aos mais de 10 µg/m3 perto de fontes de emissão, como as fundições, identificados por

ELIAS (1985), passando por uma média anual inferior a 1,0 µg/m3 nas áreas urbanas monitorizadas (ATSDR, 1992; IPCS, 1995).

O chumbo veiculado pelo ar é transportado à distância e, por fenómenos de precipitação e turbulência atmosférica, bem como por acção da gravidade, acaba por se depositar. Solos e lençóis de águas recolhem, assim, uma quantidade considerável daqueles sedimentos.

São os oceanos, contudo, os principais reservatórios de chumbo, na medida em que o recebem quer directamente da atmosfera, quer dos resíduos transportados pelos cursos de água, fixando-o nos seus sedimentos e funcionando, assim, como um sistema depurador (GONÇALVES, 1997).

Os dados sobre as águas oceânicas indicam fracos níveis concentracionais nas zonas não directamente afectadas por fontes de chumbo. PATTERSON (1983), por exemplo, constatou que nas águas do Oceano Pacífico, onde os fluxos anuais de chumbo transportado pelo vento se situavam em 3mg/cm2, as concentrações de chumbo na água eram de 3,5 ng/L à superfície e de 0,9 ng/L a mais de 2.500 metros de profundidade, enquanto que no Atlântico, onde os mesmos fluxos eram de 170 mg/cm2, os valores atingiam 34 ng/L e 5 ng/L, respectivamente (IPCS, 1995).

De acordo com os dados do Global Environmental Monitoring System (GEMS) de 1985, referidos pelo IPCS, as concentrações de chumbo nos solos variam numa escala entre 10 e 70 mg/kg (IPCS, 1995).

Na maioria dos solos, o teor em chumbo é função da taxa de deposição a partir da atmosfera. Contudo, e naturalmente, a quantidade de chumbo presente nos solos (e nas águas) depende de factores diversos, designadamente do seu pH e do seu teor em matérias orgânicas.

Os solos ácidos favorecem a solubilização do chumbo e a sua filtração a partir da fase sólida, tendo, por isso, tendência a uma menor concentração do metal. Algumas moléculas orgânicas, por seu lado, podem agir como quelantes, levando à sua

precipitação. Em solos com um pH de 5 (ou superior) e um teor de 5% de matéria orgânica, por exemplo, as partículas de chumbo tendem a ficar retidas numa camada superficial de até 5cm. Se o pH for superior (6 a 8) e elevado o teor em matérias orgânicas, formam-se complexos insolúveis que tendem a permanecer no local. A um pH inferior (4 a 6), os complexos orgânicos tornam-se solúveis e são filtrados para o exterior ou captados pelas plantas (ATSDR, 1992; IPCS, 1995).

A proximidade de unidades mineiras ou industriais relacionadas com o chumbo igualmente influencia a sua quantidade nos solos.

SCHALSCHA et al. (1983), num estudo citado pela Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR), verificaram que, em amostras de solo colhidas a 5 cm de profundidade e a 300 m de distância de uma unidade de fabrico de baterias de automóveis, as concentrações de chumbo decresceram de 117 µg/g para 1 µg/g, no espaço de um ano após a cessação da sua actividade (ATSDR, 1992).

Segundo a Environmental Protection Agency (EPA), contudo, as concentrações de chumbo não se confinam à envolvente das fontes de emissão. São usualmente mais altas num raio de 3 km a partir da fonte mas, estudos diversos como os de DJURIC et al. (1971), KERIN (1973) e LANDRIGAN et al. (1975) revelaram contaminações a distâncias até 10 km (IPCS, 1995).

Também a proximidade dos aglomerados urbanos e das vias de comunicação rodoviária influencia a quantidade de chumbo nos solos, designadamente por virtude das emissões a partir dos combustíveis, sendo tanto maior quanto mais próximos daqueles.

Estudos efectuados por MIELKE et al. revelaram que, em 1981, os níveis de chumbo no solo no interior da capital do estado do Minnesota (St. Paul/Minneapolis) eram da ordem dos 420 µg/g, cerca de 60 vezes superiores aos encontrados nas zonas rurais do mesmo estado (cerca de 7 µg/g) e sendo 95% desta diferença atribuída, pelos autores, à contaminação proveniente da utilização de combustíveis com chumbo (ATSDR, 1992).

A utilização de tintas contendo chumbo, no exterior dos edifícios, é igualmente fonte de contaminação dos solos, pela lixiviação das tintas das paredes por efeito das intempéries (GONÇALVES, 1997). Segundo dados da EPA, de 1986, solos adjacentes a edifícios pintados com tintas contendo chumbo podem ter níveis deste metal superiores a 10 µg/g (ATSDR, 1992).

Também a biota é sensível à presença do chumbo.

As plantas contêm chumbo que recebem por duas vias: deposição nas superfícies externas, através do ar, e absorção a partir dos solos e das águas.

As maiores concentrações verificam-se nas raízes, enquanto os mais baixos teores se registam nas sementes e nos frutos. Além disso, tem-se verificado que as folhas de vegetais cultivados em zonas próximas de áreas urbanas apresentam consideráveis teores em chumbo (IPCS, 1995).

DAVIES e THORNTON (1989) encontraram uma relação linear entre o teor de chumbo nas plantas e as concentrações do metal existentes no solo circundante. E LISK (1972)

verificou que a utilização agrícola de produtos químicos contendo chumbo (como o fertilizante superfosfato) favorece esta contaminação (IPCS, 1995).

As plantas são, ainda, contamináveis pela utilização de águas de esgotos para rega dos solos agrícolas. A concentração de chumbo nas lamas de esgotos é, em geral, inferior a 1 g/kg mas, CHANEY et al. (1984) detectaram níveis até 26 g/kg. Já anteriormente, aliás,

BECKETT (1979) havia verificado que solos cujas concentrações de chumbo eram de 47 g/kg, após vários anos de rega com águas desta natureza continham teores de 425 mg/kg (IPCS, 1995).