O capítulo compreende uma sistematização de informações, que, por sua vez, são
resultados de pesquisa documental, para contextualizar a “Lei dos Doze Bairros”, enquanto
instrumento da pesquisa, no tempo e no espaço. Assim, descreve a sua apreensão, como
entremeio físico e temporal à cidade do Recife, dadas as suas condições. Primeiro por se
constituir um recorte da cidade e segundo por sua representação de estudo de caso, onde, para
as duas situações, a Lei é analisada como uma parte chave e crucial de um todo. Inicialmente,
o capítulo focaliza um panorama sobre a cidade do Recife. Após a visão desse perfil, o texto
enfoca a evolução urbana e a verticalização da cidade, traçando em paralelo a sua convivência
com as diversas leis de uso e ocupação do solo. O paralelo visa à analogia do que foi a
convivência da cidade com a verticalidade e os seus impactos. Esta comparação torna-se
necessária para se entender desde a inicial e possível coexistência fleumática com a
verticalização até o surgimento da demanda do seu controle através de um instrumento
normativo. A principal fonte de pesquisa explorada é a Prefeitura da Cidade do Recife, através
do seu site e dos demais elementos existentes em seus arquivos e bancos de dados,
disponibilizados ou na internet, em sua página oficial, ou em suas Secretarias e os seus demais
órgãos e pastas componentes. O levantamento das informações envolve um período desde o
início do século XX até os dias atuais, por assinalar o processo de verticalização do Recife.
Após descrita e caracterizada a situação do ambiente maior, formado pela cidade do Recife,
que lhe é remanescente, o capítulo descreve a arquitetura da Lei. Primeiro através de um breve
histórico enfocando a memória que se encontra registrada e disponível para pesquisas sobre a
sua implantação, depois realizando uma análise comentada sobre o teor do seu texto. Ao final,
após haver contextualizado a Lei, o capítulo experimenta uma apreciação crítica lançando
considerações sobre a sua configuração, enquanto instrumento de raciocínio e análise da
3.1 O perfil da cidade do Recife
A cidade do Recife é a capital do Estado de Pernambuco e está situada em posição
central do litoral da região Nordeste do Brasil. Possui população de 1.537.704 habitantes (IBGE
2010) distribuídos em 218,50 km² do que decorre uma densidade demográfica de 7.037,61 hab/
km². Segundo o mesmo censo do IBGE (2010), a cidade possui 470 896 domicílios particulares
permanentes com média de 3,26 pessoas por domicílio e apresenta taxa média geométrica de
crescimento da população (2000/2010) de 0,78 % a.a.
Está localizada às margens do Oceano Atlântico e em seu território acontece o encontro
das bacias de vários rios, com destaque para os rios Capibaribe e Beberibe, que vêm desaguar
todos naquele oceano. Essa situação de delta, cortada por rios, interligada por pontes, com
extensos canais, grande presença de ilhas e uma vegetação de mangues vai particularizar e
marcar a sua geografia.
É a terceira maior cidade do Nordeste e a nona do Brasil em população e possui os
limites e confrontos conforme representados na Figura 02.
Essas divisas de vizinhança com o oceano e outros municípios pernambucanos
terminam por confinar o seu território a uma área definida e limitada, com ocupação territorial
unicamente urbana. Essa situação faz com que a cidade não possua grandes espaços horizontais
para sua expansão e o consequente crescimento nessa direção. Essa realidade vem
provavelmente colaborar na sua contínua perda de posição em número de habitantes em relação
ao ranking de outras cidades brasileiras nos últimos anos e indicar uma tendência para seu
Ao Norte: Com os municípios de Olinda e Paulista.
A Oeste: Com os municípios de São Lourenço da Mata e Camaragibe.
Ao Sul: Com o município de Jaboatão dos Guararapes.
A Leste: Com o oceano Atlântico.
Figura 02 - Limites e confrontos do Recife.
Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife - www.recife.pe.gov.br consulta em 24/02/2014.
O Recife apresenta a menor área de ocupação entre as dez mais populosas cidades
brasileiras, menos de 1/3 da cidade de Salvador, por exemplo, de acordo com a Tabela 01.
Apresenta também o menor índice de projeção de crescimento entre as maiores cidades do
Nordeste brasileiro e perde apenas para a cidade do Rio de Janeiro e Porto Alegre em nível
nacional. Como já observado, a situação territorial confinada, sem presença de área rural para
expansão, tanto condiciona a cidade ao crescimento através da verticalidade, em vista da sua
densa e atual ocupação física, restando poucas áreas ainda vazias em seu território para ocupação, quanto “exporta” seus habitantes para as cidades circunvizinhas que são classificadas como cidades dormitórios.
Sua economia é majoritariamente baseada em prestação de serviços, com participação
de 83% nas riquezas produzidas pelo município e possui um Produto Interno Bruto – PIB de
R$ 24,8 bilhões de reais. O IBGE (2010) aponta um rendimento nominal médio mensal dos
Tabela 01
Indicadores das dez maiores cidades brasileiras em população:
INDICADORES DAS DEZ MAIORES CIDADES BRASILEIRAS EM POPULAÇÃO POSIÇÃO ranking IBGE IDH - PNDU Posição 2010 CIDADE ÀREA (Km2) POPULAÇÃO ano de 2010 DENSIDADE hab/Km2 PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO 01 0,805 (028) São Paulo 1 521 11 253 873 7 398 1,05 02 0,799 (045) Rio de Janeiro 1 200 6 320 446 5 266 1,01 03 0,759 (383) Salvador 693 2 675 656 3 859 1,07 06 0,824 (009) Brasília 5 800 2 570 160 445 1,08 05 0,754 (467) Fortaleza 314 2 452 185 7 786 1,04 04 0,810 (020) Belo Horizonte 331 2 375 151 7 167 1,04 09 0,737 (850) Manaus 11 401 1 802 014 158 1,09 07 0,823 (010) Curitiba 435 1 751 907 4 027 1,05 08 0,772 (210) Recife 217 1 537 704 7 040 1,03 10 0,805 (028) Porto Alegre 497 1 409 351 2 837 1,02
Fontes: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2010/ PNUD Ranking IDHM 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE www.ibge.gov.br consulta em 03.04.2014
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD 2010 www.pnud.org.br consulta em 03.04.2014.
A cidade possui clima quente e úmido com temperatura média de 25,2° C e altitude de
apenas quatro metros acima do nível do mar. Está situada à latitude de 8°04’03” S e longitude de 34°55’00” W.
O Recife totaliza uma distribuição territorial formada por 94 bairros, delimitados pelo
Decreto Municipal 14.452/88. Nestes bairros se encontram também assentadas 63 Zonas
Especiais de Interesse Social - ZEIS, que são áreas habitacionais de população de baixa renda,
surgidas espontaneamente, existentes, consolidadas ou propostas pelo Poder Público, onde haja
possibilidade de urbanização e regularização fundiária, segundo a Lei Municipal 16.176/96. O
bairro mais populoso é o de Boa Viagem, com 122 922 habitantes (IBGE 2010) e a cidade
possui 97,45% dos seus domicílios ligados à rede de abastecimento de água, 99,92% com
energia e a coleta domiciliar de lixo atinge 97,67% do município, conforme dados do Atlas de
Desenvolvimento Humano do Brasil para 2013, do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento - PNUD.
De acordo com a Lei Municipal 16.293/97 o Recife foi dividido em seis grandes regiões
chamadas de Regiões Político Administrativas - RPA, conforme Figura 03. São circunscrições
administrativas municipais que não possuem personalidade jurídica, sendo, nada mais, nada
desconcentração administrativa (FERRARI,2005). A base da divisão para cada RPA seria um
conjunto de bairros, sendo elas: