2 Reestruturação e requalificação urbanas
2.5 Verticalização urbana
Na realização constante da referenciada transformação evolutiva da cidade, intensifica-
se o fato da verticalização. Chama-se verticalização ao processo urbanístico que se torna cada
vez mais frequente nas cidades modernas e consiste na construção de edifícios de porte muito
alto em determinados espaços físicos urbanos. Como tal, refletem estágio avançado das
tecnologias modernas de construção civil, alavancado pelo incansável processo de exploração
capitalista, sempre na busca por mais lucros através da multiplicação da projeção dos solos. Segundo Rossi (2001, p.133), “esse processo apresenta tempos mais velozes, na medida em que a alta densidade dos assentamentos produz uma pressão maior sobre o uso do solo”. Lapa (2011, p.78), com ponderação, vai refletir que “a verticalização das construções parece ser uma tendência internacional, independente da latitude na terra”. Também Ramires, ao conjecturar algumas teses sobre essa dinâmica, baseado em conjunto de pesquisa sobre trabalhos nessa
temática, estabelece um perfil sobre verticalização ao escrever:
[…] a verticalização é a própria identidade do processo de urbanização no Brasil; é um fato típico dos tempos modernos; é responsável por profundas alterações na estrutura interna das cidades; as práticas sócioespaciais dos incorporadores estão no bojo do processo de verticalização; a legislação urbana assume um papel de destaque na dinâmica da verticalização. (RAMIRES, 1998 p.101).
As consequências mais visíveis e imediatas são as altas densidades construtivas e
populacionais, provocando grande dificuldade para circulação do ar e resultando na formação
moradores, além do comprometimento dos serviços de infraestrutura e abastecimento para a
região.
Por outro lado, embora a produção de edifícios represente uma excelente oportunidade
para os poucos que são donos do capital imobiliário, sua edificação, historicamente e
culturalmente durante muito tempo foi símbolo de modernidade, status, poder e desenvolvimento para as cidades. Ao abordar essa simbologia, Lapa (2011, p.74) escreve: “a estratégia de marketing utilizada por alguns promotores imobiliários chega a difundir uma visão
de futuro, modernidade e progresso, segundo a qual, grandes cidades se fazem com grandes edifícios”. Ramires (1998, p.37) também expressa a mesma opinião: “é interessante destacar que o significado da dimensão simbólica da verticalização sempre esteve presente, desde os
primeiros arranha-céus, associando-se a essa forma arquitetônica a ideia de desenvolvimento e progresso”. Lapa, por sua vez, em forma de admoestação, sinaliza:
As coisas se complicam na medida em que esse modelo (da verticalização) é disseminado mundo afora, sem levar em conta os diversos contextos sociais, econômicos, e culturais dos países que adotam essa mesma via para alcançar a modernidade e o progresso. (LAPA, 2011 p.74).
Assim, a verticalidade que antes era tão celebrada e considerada por uns como um
símbolo de modernidade e de prosperidade das cidades, agora passa a gerar conflitos urbanos
como: superpovoamento; exaustão da prestação de serviços; congestionamento do trânsito;
poluição; impecilho da passagem do ar e formação de barreiras contra a luz do sol. Em relação
à verticalização da cidade de São Paulo, Rolnik (2003) escreveu que a discussão da sua
edificabilidade circunscreve um conflito. Assim, a presença da concentração de muitos edifícios
altos pode demandar densidade construtiva tão intensa que compromete a escala das cidades.
Certas ruas, as vezes muito estreitas, onde são permitidas e se tornam ladeadas por uma
sucessão de prédios altos constituem corredores desproporcionais e sufocantes à presença das
pessoas. Por outro lado, seria possível aceitar que, quando bem planejada, a verticalização gera
de mobilidade urbana. Ao anular as grandes distâncias, contribui para o maior fortalecimento das centralidades ao promover a convivência entre habitações, comércio e prestação de serviços em aglomerados únicos e compactos. Além disso, pode ser um ganho ao gerar maiores espaços livres para áreas verdes e convivência e, finalmente, pode possibilitar melhor potencialização para as redes de abastecimento e infraestrutura urbana, por se tornarem mais concentradas e reduzidas. Nessa dualidade, alternativas para a convivência com o fenômeno da verticalidade constituem uma nova preocupação para a cidade moderna, situação sobre a qual Lapa lança uma preocupação, ao registrar sua reflexão:
De modo particular, o processo atual de ocupação do solo urbano tem sido feito sob a forma de arranha-céus. O arranha-céu é um tipo edílicio característico da contemporaneidade e tem sua significância cultural. Não se trata de negar essa realidade ou de imaginar que é possível voltar no tempo, a ponto de eliminá-lo das paisagens urbanas. No entanto, quando os arranha- céus são implantados em áreas onde interferem na escala urbana preexistente e destroem a ambiência dos lugares, passam a ser motivo de preocupação. (LAPA, 2011 p.50).
A realidade demonstra que a cidade moderna, além dos muitos problemas
contemporâneos, necessita que se reflita e que se abra a discussão sobre o conflito da
verticalização. Como tal, a busca da convivência contemporânea entre a verticalidade versus o
ideal urbano envolve uma oposição de interesses públicos e particulares. De um lado, está o
capital imobiliário investindo na verticalidade ao desejar a superposição máxima sobre o solo.
Do outro, está o poder público, necessitando controlar ou deter essa frenética verticalização em
proveito de uma escala mais humana ou em função da sua rede de serviços de abastecimento e
infraestrutura quase sempre defasada e exaurida. No geral, esse confronto vem à tona onde a
atividade urbanística, que precipuamente é de natureza pública, se exerce constrangendo e