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2 Reestruturação e requalificação urbanas

2.1 Intervenções normativas localizadas em sistemas urbanos

2.1.1 Teoria Geral dos Sistemas

A intervenção localizada sobre um sistema qualquer pode dar margem ao surgimento

de dúvidas e indagações do tipo: qual a razão de sua abrangência limitada ou como se explica

o fato da ação ter sido localizada? Essa questão torna-se inquietante na medida em que outras

partes do conjunto, injustificadamente preteridas, apresentam igual situação de demanda. Do

mesmo modo, pergunta-se qual o tipo de influência que passa a exercer sobre as outras partes

do sistema ainda isentas da problematização. Por outro lado, torna-se questionável até onde

uma solução fragmentada é sustentável. Finalmente, qual seria a expectativa de reivindicação

dos outros elementos do sistema em função de um suposto privilégio diferenciador das ações

caracterizadas como intervenção localizada?

A Teoria Geral dos Sistemas - TGS possui como principal característica a visão de

controle entre as partes e o todo de um conjunto, cujos elementos componentes (objetos ou

fenômenos) estão interconectados, formando um todo organizado. A palavra sistema, com

origem no grego, chega até nós por meio do latim systema atis que significa combinar, formar

um conjunto, compreendendo a junção de elementos ordenados segundo um determinado

critério (Enciclopédia Larrousse, 2006, p. 2426). Essa função mantém sua existência e funciona

como um todo através da interação entre as partes, como por exemplo, os órgãos de um corpo

procedimentos, espaços, termos, funções, normas, órgãos, suportes, métodos, ideias, enfim a

qualquer agrupamento material ou imaterial que exista de forma organizada.

A TGS surgiu a partir da segunda metade do século XX, idealizada pelo biólogo

austríaco Karl Ludwig von Bertalanffy, nascido em Viena em 19 de setembro de 1901, ao

procurar definir um modelo científico que se tornasse explicativo ao comportamento dos seres

vivos. Seus primeiros trabalhos iniciaram-se na década de 1920, sobre a abordagem orgânica

da biologia. Discordando, à época, da visão cartesiana do universo, tentou fazer aceitar o

pensamento de que um organismo vivo é um todo e que se constitui maior que a simples soma

das suas partes. Mais tarde, desenvolveu a maior parte dos seus trabalhos científicos nos Estados

Unidos, onde criticou a visão do mundo dividido em diferentes áreas científicas. Ao contrário,

sugeria o estudo global dos sistemas, de forma a envolver todas as áreas da ciência. Von

Bertalanffy apresentava a compreensão do pensamento sistêmico como elemento dominante

em diversos campos, baseado na premissa de que se deve focalizar no todo e nas relações entre

as partes que se interconectam e interagem. O autor propunha a análise dos sistemas

globalmente, de uma forma que envolvessem todas as suas interdependências e segundo a ideia

de que cada uma das partes, reunidas para formar o todo, desenvolvessem elementos

inexistentes enquanto isoladas. Dessa forma, sugeria que cada um dos elementos, reunidos em

uma unidade funcional maior, demonstrassem qualidades que não se encontram em seus

componentes individuais. Assim, partindo da concepção de que o universo e a realidade são

compostos por sistemas, cujos elementos interagentes e interdependentes precisam ser

observados segundo suas interações e interrelações e segundo uma visão interdisciplinar, o

autor conceituou sistema como conjunto de partes que formam um todo unitário com

determinado objetivo. A abordagem distingue duas tendências básicas: o mecanicismo, que lida

organicismo, vinculado mais diretamente aos sistemas considerados naturais (biológicos e

sociais).

Churchman (1971, p.50) define sistema como “um conjunto de partes coordenadas para realizar um conjunto de finalidades”. Essa definição segue conceitos de outros teóricos que, desde a segunda metade do século XX, conjugaram esforços para desenvolvimento da Teoria

Geral dos Sistemas. O conceito de TGS foi adaptado a outras áreas e outras realidades

organizacionais, definindo classificações como sistemas abertos, fechados, de eficiência, de

eficácia e subsistemas. Para autores como Bateman & Snell (1998), a Teoria Geral dos Sistemas

tem como objetivo mostrar a organização, por meio de uma visão holística, que considera o

entendimento integral dos fenômenos em oposição à simples soma de suas partes. Para Djalma

(2004), um sistema é um agregado de partes integrantes e interdependentes que, conjuntamente,

formam um todo unitário com determinada função. Da mesma forma, para Chiavenato (1999),

trata-se de um todo organizado ou integrado, um conjunto ou combinação de coisas ou partes,

formando um todo complexo ou unitário.

Segundo Kurcgant (1991, p.11), o conceito de sistema “fundamenta-se em três premissas básicas: os sistemas existem dentro de sistemas; os sistemas são abertos; e as funções de um sistema dependem da sua estrutura”. Quando interage com o meio exterior à sua volta, ele é designado como sistema aberto e essas relações são realizadas por meio de canais de

comunicação de entrada e saída, onde se processam as devidas trocas de informação ou de

interações. Não havendo essa comunicação com o meio exterior, é designado como sistema

fechado. Os sistemas que mantêm intercâmbio contínuo com o ambiente à sua volta, sejam

compostos por indivíduos ou por organizações, são chamados de sistemas vivos e são

analisados como sistema abertos, cujas características são: auto regulação e controle para a

manutenção do seu equilíbrio, implicando em capacidade de mutação como maneira de

vice-versa; suas partes integrantes são interdependentes; o todo é superior à soma das partes e

tem características próprias; as partes do sistema relacionam-se e estão integradas numa cadeia

hierárquica; finalmente, os sistemas têm a capacidade de alcançar seus objetivos através de

vários meios diferentes.

Para Santos (1992, p.93), “cada coisa nada mais é que parte da unidade, do todo, mas a totalidade não é uma simples soma das partes. As partes que formam a totalidade não bastam

para explicá-la. Ao contrário, é a totalidade que explica as partes”. O processo de compreensão

do funcionamento de um sistema por estudo da decomposição de suas partes se chama análise,

que se torna essencial para o entendimento de um grande sistema formado por outros menores

chamados subsistemas. Entretanto, não se pode configurar decomposição como uma divisão

do sistema em suas partes constituintes, mas como um estudo do todo para as suas partes. A

análise considera as interrelações entre as partes, as quais permitem compreender as

propriedades do sistema, pois o único modo de descoberta do seu pleno funcionamento e das

suas propriedades emergentes é a visão do todo. O complemento da análise é a síntese,

construída das partes para o todo. Desse modo, o processo da análise permite o ganho do

conhecimento sobre os sistemas, enquanto a síntese provoca o ganho da sua compreensão.

Dentro dos vários campos científicos é possível observar uma grande variedade de

sistemas e suas tipologias de classificação. No entanto, de modo geral, os sistemas se

enquadram em duas grandes e abrangentes classificações de acordo com suas características

básicas: quanto à sua natureza podem ser abertos ou fechados e quanto à sua constituição podem

ser físicos ou concretos, sendo então compostos por matéria física e real, e abstratos ou

conceituais, sendo compostos por conceitos, planos, hipóteses e idéias.

O’Shauggnessy (1976, p.133) define sistema como sendo “um conjunto de partes interdependentes e ordenadas que, conjuntamente, formam um todo unitário, efetuando uma dada função”. Portanto, segundo o autor, essas partes interrelacionadas vão dar suporte para a

integridade do sistema, podendo ocorrer de maneira ordenada ou desordenada. Quando

ordenadas, podem ocorrer de forma centralizadora, sempre dependente de uma parte, ou de

forma descentralizadora, onde partes dependem de outras partes. Quando desordenadas, são

chamadas de incertas. O sistema pode ser estável, quando uma parte compensa a outra, de uma

forma crescente ou decrescente, e instável quando não ocorre a compensação. Cada sistema tem

o seu espaço de existência e mesmo que as fronteiras entre os sistemas estejam muito distantes

ou muito fechadas, eles tendem a se interrelacionar.

Para qualquer abordagem sistêmica é imprescindível focar as relações que as partes

mantêm entre si e com o todo. Essas interações garantem a integridade e a consequente

identificação de um sistema e se realizam mediante fluxos de informações, matérias, energias.

Um conjunto só se revela como sistema quando é possível identificar, além dos elementos

componentes, as interrelações importantes, de modo destacado e organizado. Sobre

caracterização de sistemas, Tourinho (2011) escreveu:

No reconhecimento de um sistema, critérios heurísticos são comumente usados e envolvem, normalmente, três passos básicos: a identificação dos elementos estruturadores e de suas relações; a localização de um padrão ou lógica que rege as conexões encontradas; e a percepção de uma finalidade no arranjo visto como um todo. Assim sendo, a noção de sistema, inevitavelmente, está ligada a uma forma de selecionar e organizar informações. É o observador que identifica e escolhe, de maneira mais ou menos arbitrária: os elementos e relações relevantes; o ambiente (contexto) do sistema; e a fronteira do sistema. (TOURINHO, 2011 p.65).

A autora constata e enfatiza a relevância da soberania do conhecimento do observador

para a identificação, definição e a compreensão de um sistema. Desse modo, em síntese, da

Teoria Geral dos Sistemas, pode-se destacar: a visão sistêmica é subjetiva; permite a

possibilidade de abarcar sistemas complexos e envolver sistemas distintos; um sistema é

formado por outros menores, chamados subsistemas; a estabilidade de um sistema implica em

se ao interesse do todo; sistemas abertos permitem a ocorrência de mudanças qualitativas

através de transferências e mutações.

Os autores referenciados, que integram distintas correntes científicas, não diferem do

sentido que procuram atribuir à definição conceitual de sistema enquanto conjunto de unidades

reciprocamente relacionadas. Do contexto das citações é possível definir sistema como um

conjunto de partes interdependentes que desempenham uma função determinada, que estão em

toda parte e, como tal, identificam ora uma organização ou uma máquina, ora um corpo humano

ou um sistema urbano.

Após exposição sobre os princípios e proposições da TGS, percebe-se que seu raciocínio

se coaduna aos de diferentes pesquisas, reflexões e juízos científicos. Essa caracterização e

consciência do amplo espectro de componentes e métodos que integram a TGS implica também

na percepção da sua vasta aplicabilidade e muitos teóricos percebem essa polivalência. Assim,

seja por continuidade ou associação, ao aprofundar o conhecimento sobre a TGS, diversos

escritores ampliam o horizonte de paradigmas lançados e aplicam seus fundamentos aos

diversos ramos da ciência. A exemplo da contribuição desses estudiosos, dois em especial

foram selecionados como modelos, pois simbolizam a escolha da TGS como o recurso de

conexão para a interpretação das teorias da arte, da arquitetura e do urbanismo, sendo eles, os

arquitetos Nuno Portas e Montaner. A aplicação da TGS sobre sistemas urbanos é expressa por

Montaner nos seguintes termos:

O que significa aplicar a teoria dos sistemas à arquitetura contemporânea? Em primeiro lugar, opor-se a todo reducionismo e mecanicismo, tentar aproximar- se da ideia de complexidade e de redes. Significa, portanto, dar prioridade a uma busca pela revelação das estruturas complexas nas escalas urbanas e territoriais; reescrever a história da arquitetura contemporânea a partir da ênfase sobre os sistemas que superam a crise do objeto; desenvolver, para a arquitetura, urbanismo e paisagismo, a relação essencial estabelecida entre sistema e entorno, isto é, analisar as capacidades de cada sistema de estruturar- se e, ao mesmo tempo, interagir com seu contexto. (MONTANER, 2009 p.11).

Em seu livro Sistemas Arquitetônicos Contemporâneos, publicado no ano de 2008,

Montaner destaca a relação e interação essenciais estabelecidas entre os espaços urbanos e seu

entorno e propõe reescrever a história da arquitetura contemporânea sob essa ótica. Desse

modo, o autor nos convoca a reconhecer uma crise, deixar de focalizar individualmente os

objetos de arquitetura e nos dedicarmos aos sistemas de objetos, seguindo a tradição pioneira

de Nuno Portas.

No ano de 1969, o arquiteto e professor português Nuno Rodrigo Martins Portas

publicou o livro A cidade como arquitectura, anunciado e considerado por muitos teóricos

como o ponto de partida para um novo entendimento das teorias de planejamento urbano e,

como tal, para uma nova atenção ao processo de projetar a cidade. Nuno Portas inaugurou um

ponto de vista sistemático em relação à exigência projetual: de que haja uma visão territorial

do arquiteto e o entendimento da cidade como fenômeno global. O autor estabeleceu o conceito

de arquitetura enquanto intervenção territorial em todos os aspectos, onde coexistem

implicações caracterizadas pelas fragmentações, pluralidade, incertezas e complexidades. Nela

convivem ao mesmo tempo a natureza, antes intacta, convertida na cidade que abriga

conjuntamente os setores histórico, futurístico, compacto, difuso, com modelo, sem modelo, de

centralidades e de periferias.

O livro não faz qualquer referência à TGS, embora tenha havido a coexistência temporal

entre a sua publicação e a discussão dos fundamentos lançados por Bertalanffy. No entanto,

Nuno Portas estabeleceu um paralelo com seus princípios ao afirmar que:

Vivemos em cidades, ou não cidades, cada vez mais feias, que nem por isso funcionam melhor; muitos técnicos se tem proposto a salvá-las, em muitos casos à custa de lacerações no seu tecido, típicas de quem trata de um órgão sem perseguir o organismo. (PORTAS, 2007 p.15).

De modo bem claro, a expressão correlaciona a importância da visão sistemática urbana,

da demanda metodológica e da promoção da abordagem científica, em detrimento da intuição, da artisticidade e da segmentação como modelos para formulação do projeto urbano. Também

reflete a vontade do autor em evidenciar a conectividade e a interdependência dos setores que

compõem a cidade, e como tal, enquanto partes de um mesmo sistema. Desse modo, torna

cristalino o seu pensamento sobre essa interação e adverte para o uso imprudente, desconexo e equivocado das intervenções localizadas, “típicas de quem trata de um órgão sem perseguir o organismo”. O princípio da relativização fez de Nuno Portas um precursor entre os teóricos da sua geração. Por reflexo desse entendimento, o processo de elaboração dos projetos urbanos

significava a resposta a uma equação em que todas as variantes possíveis seriam lembradas e colocadas no desafio. O resultado, no caso, seria o mais próximo possível do ideal pois, não dependia da falível intuição, nem da individualidade artística, tampouco da singularidade das ações isoladas dos arquitetos. Ao contrário, o processo de pensar o projeto urbano passa a ser racionalizado e abrangente. “As sociedades que se organizam não poderão, cremos, aceitar que a criação dos seus próprios espaços seja mais feita de instinto ou ao sabor do sentimento, sobre um rápido organograma distributivo” (Portas, 2007, p. 18). Com esse perfil de vanguarda, o autor alerta para a necessidade do “estudo interdisciplinar sobre os conteúdos da cidade, devassando a evolução das relações entre as funções e o meio territorial” (PORTAS, 2007, p. 22). Dessa maneira, o autor propõe estabelecer um novo tipo de conceito, que intitula “meta- projecto”, e que “conterá, numa descida ao essencial, à estrutura das coisas, um meta-programa de funções e uma meta-linguagem arquitectural” (PORTAS, 2007 p. 49). As referências a meta-

projecto, meta-programa e meta-linguagem, para o urbanista, professor e intelectual Nuno

Portas significam uma forma de exercício para descobrir uma sintaxe única que sirva de

instrumento para interligar e estruturar todos os elementos que constituem um projeto urbano.

Da mesma forma, como ferramenta para facilitar a relação dos vários gestores envolvidos na produção ou replanejamento das cidades. Desse modo, “refundamentar um vocabulário e um linguajar que seja efetivamente de domínio comum dos que arquitetam e dos outros – os que habitam” (PORTAS, 2007 p. 193). Registre-se que Henri Lefebvre, em seu livro O direito à

cidade, categorizando os arquitetos como “um corpo social, a se fechar sobre si mesmos”,

recorre ao vocábulo metalinguagem fundamentado por Nuno Portas:

Os arquitetos parecem ter estabelecido e dogmatizado um conjunto de significações, mal explicitado como tal e que aparece através de vários vocábulos: ‘função’, ‘forma’, ‘estrutura’, ou antes funcionalismo, formalismo, estruturalismo. Elaboram-no não a partir das significações percebidas e vividas por aqueles que habitam, mas a partir do fato de habitar, por eles interpretado. Esse conjunto é verbal, e discursivo, tendendo para a metalinguagem. (LEFEBVRE, 2001 p.111).

As pesquisas de aprofundamento dos mecanismos de formulação do projeto urbano

revelam o interesse maior do urbanista Nuno Portas e se resumem ao processo que conduz à

forma ideal da cidade. A sua visão sistêmica de planejamento urbano, em detrimento da “objectualidade” arquitetônica, será patente para as décadas seguintes. Sua matriz de posicionamento significa mais do que a simples discussão da semântica de obras arquitetônicas,

enquanto insulares. Ao contrário, na prática, sugere o distanciamento das questões isoladas da

arquitetura no sentido de mergulho na questão urbana enquanto conjunto. Através desse convite

para um novo olhar sobre o processo projetual urbano, o arquiteto Nuno Portas propôs passos

à frente no sentido da ruptura com a tradição.

Com a frase inicial para a apresentação do livro Sistemas arquitectónicos

contemporâneos, o arquiteto e professor espanhol Josep Maria Montaner Martorell lança a

proposição de que “as teorias da arte, da arquitetura e do urbanismo têm a missão de continuar construindo novas interpretações” (MONTANER, 2009 p. 9). O autor prossegue com o propósito e convoca a “interpretar os objetos criativos da maneira mais abrangente possível em relação ao seu contexto, como um sistema de objetos” (MONTANER, 2009 p. 9). Pelo mesmo caminho, conclama que “os métodos de interpretação devam ser cada vez mais complexos, incorporando outros aportes teóricos” (MONTANER, 2009 p.9). A partir dessa ótica, o autor realiza diversos estudos de caso para compor seu livro “com referência prioritária à escala, da arquitetura às morfologias urbanas, buscando novos critérios para interpretar as estruturas dos

sistemas urbanos situados no contexto das metrópoles e dos territórios” (MONTANER, 2009 p. 11).

Aludindo fazer uso dos fundamentos da TGS como ponto de partida, o autor utiliza

conceitos morfológicos, como por exemplo o do pensamento racional ou o das formas orgânicas, para enfatizar as relações e não as características isoladas dos “objetos” estudados. O próprio título do livro evoca a Teoria Geral dos Sistemas. Dessa forma, Montaner afirma que “abordar o conceito de sistema significa inscrever cada obra em escalas maiores ou menores, já que toda estrutura sujeita à análise situa-se sempre em outros sistemas de ordem superior, atuando como contexto” (MONTANER, 2009 p. 11). Através desse recurso, a obra expressa uma nova visão para a análise da arquitetura e do urbanismo contemporâneos, de todo o século

XX até o início do século XXI.

A leitura do capítulo referente aos “Sistemas Racionais” ou um outro qualquer, como o que aborda “Sistemas Orgânicos”, e que são integrantes do livro, leva a uma macro compreensão sintetizada da mensagem de Montaner, que enfatiza, através dos exemplos

estudados, a relação contextual entre o edifício e os valores do espaço público por ele definido.

Assim, aleatoriamente, ao observar uma parte do capítulo alusivo aos Sistemas Racionais, é

possivel verificar o estudo de caso que se relaciona com os arquitetos Lúcio Costa e Oscar

Niemeyer e no qual o autor descreve a contextualização do plano piloto de Brasília:

O plano piloto não pode ser entendido em si mesmo, já que mantém uma estreita relação com o contexto: a fértil planície em que se situa e o lago criado por um represamento. Seu eixo monumental leste-oeste remete à forma axial e simétrica clássica e se contrapõe à forma levemente curva do eixo norte-sul. Esse primeiro gesto de fundar o cardo e o decumano de uma espécie de cidade clássica, se adapta à forma do território. (MONTANER, 2009 p. 47 e 48). No capítulo sobre conceitos morfológicos referentes a “Universos da Realidade e do Tempo” o autor volta a utilizar uma outra cidade brasileira, como exemplo, para ilustrar a definição de clusters ou encadeamento. A cidade de Curitiba é referenciada como:

Uma forma encadeada e articulada entre os critérios do urbanismo sustentável e a forma urbana. A opção do transporte público como articulação e costura

da cidade conduz a uma forma de cluster gigante, como uma imensa raiz que se vai almodando à cidade, mais grossa no centro e mais filamentosa à medida que se aproxima das suas periferias e dos seus limites. E se a forma de cluster constitui uma estratégia para situar pequenos elementos no contexto urbano,