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partir do século

4 O impacto da “Lei dos Doze Bairros” sobre a cidade do Recife.

Este Capítulo consubstancia a percepção da pesquisa acerca do impacto da “Lei dos Doze Bairros” sobre a cidade do Recife, construída através dos dados que revelam o mapeamento de ocupação, bairro a bairro, dos edifícios acima de vinte andares aprovados pela

Prefeitura Municipal, no período entre 01 de janeiro de 1996 a 31 de dezembro de 2009. Como

a Lei estabeleceu um limite de até vinte pavimentos como parâmetro construtivo, esse gabarito

de altura é adotado pela pesquisa para o cotejo dos efeitos da Lei. Inicialmente, são apresentados

os procedimentos e os recursos utilizados como ferramentas para o cadastro da ocorrência de

aprovação e construção desses edifícios. Em seguida, são expostos diagramas e tabelas que

mapeiam a localização de sua ocorrência na cidade, para cada ano do recorte temporal

estabelecido, com os dados coletados em pesquisa quantitativa junto aos arquivos das seis

Divisões Regionais Administrativas do Recife. Esses dados são confirmados através de

informações qualitativas colhidas em pesquisa junto aos principais investidores imobiliários na

ARU. A análise e discussão das tabelas e gráficos consolida o impacto da Lei sobre a cidade

por meio de um mapa de localização da migração do capital imobiliário para investimento em

edifícios altos, que migrou dos Doze Bairros para outras áreas urbanas. Esse Capítulo instaura,

portanto, dois recortes físicos. O primeiro é constituído pelos doze bairros que compõem,

naturalmente, a área inicial de abrangência da Lei. O segundo é formado pelos bairros

remanescentes e que apresentaram uma verticalização recente, proveniente da migração dos

investimentos imobiliários por efeito da Lei. Como tal, demonstraram o objeto de estudo como

categoria de análise da pesquisa e, consequentemente, proporcionaram os meios para a

construção de um painel do mapeamento desse impacto.

Uma das contribuições ao conhecimento proposta pela Tese está evidenciada a partir

das discussões e resultados apresentados, demonstrados em forma de tabelas e diagramas e que

atingir o objetivo proposto. Desse modo, o Capítulo procura apresentar um quadro dos efeitos

de uma intervenção normativa localizada sobre o sistema urbano ao qual se encontra vinculado.

4.1 Os procedimentos, materiais e métodos

4.1.1 Os recortes físicos do estudo

Em resposta ao processo de expansão verticalizada da cidade do Recife, o Executivo

Municipal, ao qual compete precipuamente o exercício da atividade urbanística, segundo Medauar (2004), elaborou e implantou a Lei 16.719/01, conhecida como “Lei dos Doze Bairros” e configurada como instrumento normativo de controle da ocupação urbana em doze dos noventa e quatro bairros que compõem o território da cidade.

Tratando-se de um instrumento legislativo de interferência na produção dos edifícios,

na medida em que limita o gabarito vertical, a Lei contribuiu com outros elementos para

composição da paisagem dos doze bairros, induzindo a uma diferenciação em relação a todo o

resto da cidade. Porém, do mesmo modo que determina uma mudança positiva para uma nova

prática projetual e construtiva produzida dentro do seu perímetro físico, essa Lei, segundo

Duarte (2007), também pode vir a impactar de forma negativa o seu entorno. À luz dessa

afirmação, o presente trabalho considerou instigante a iniciativa para o exame e o registro da

provável existência de relativas transformações construtivas, em áreas externas aos doze

bairros, de modo a adquirir o conhecimento de mudanças alcançadas para um novo modo de

projetar e de construir. Assim, o presente estudo faz o exame analítico da adaptação urbana do

remanescente da cidade do Recife a essa nova realidade legislativa.

Para aferir o impacto da “Lei dos Doze Bairros” sobre a cidade do Recife, a presente pesquisa estabelece dois recortes físicos decorrentes de dois momentos distintos. O primeiro

Urbana, já referenciada, que é composta pelos bairros do Derby, Espinheiro, Graças, Aflitos,

Jaqueira, Parnamirim, Santana, Casa Forte, Poço da Panela, Monteiro, Apipucos e parte do

bairro da Tamarineira.

Como segundo recorte físico, a pesquisa estabelece o conjunto de bairros externos à

ARU, identificados como os que receberam o impacto da Lei. Sobre esses outros bairros,

influenciados pelos efeitos da Lei, Echenique (1975) confirma os princípios da Teoria Geral

dos Sistemas-TGS, segundo a qual a cidade pode ser considerada como um sistema urbano

cujo conjunto de elementos que compõem o espaço são interrelacionados e qualquer alteração

de um deles pode acarretar alterações nos demais. A “Lei dos Doze Bairros” convencionou um

espaço urbano diferenciado na cidade do Recife, que, no entanto, é cercado por um entorno

remanescente de bairros com idêntica imagem ao seu aspecto original e que não contaram com

a devida proteção da Lei. Como consequência, a Lei pode haver provocado a transferência de

situações para outras áreas da cidade. Tal condição colocaria a Lei como causa e efeito ao

mesmo tempo, pois no instante em que tende a resolver sua problematização faz surgir em

outras regiões uma condição igual à sua antiga situação. Por sua vez, essas áreas voltam a

interferir pela interação entre as regiões de uma mesma cidade, produzindo um giro sem fim.

Desse modo, o universo do presente estudo é composto pelos doze bairros, acrescidos daqueles

externos ao perímetro da ARU, porém sob o impacto da Lei. Os bairros remanescentes

impactados tornaram-se conhecidos após pesquisa sobre a transformação construtiva urbana da cidade, na busca por consequências da implantação da “Lei dos Doze Bairros”. Os bairros referenciados estão mapeados nas Figuras 03 e 08 do Capítulo III, cujas informações para sua

caracterização provêm do site oficial da Prefeitura da Cidade do Recife e da versão 2005 do

seu Atlas de Desenvolvimento Humano. Um referencial descritivo para cada um desses

Doze Bairros”, inicialmente sobre aqueles que foram diretamente envolvidos e depois para os demais que tenham sido impactados.

4.1.2 O recorte físico dos “Doze Bairros”

Os doze bairros que integram a ARU estão distribuídos em 853 hectares, uma área que

corresponde ao percentual de 11 %, ou um pouco mais que a décima parte da área da RPA 03,

Região Noroeste, na qual estão contidos. Ao se comparar o seu território com a área total da

cidade, este percentual cai para 4% da extensão territorial do Recife, conforme demonstra a

Tabela 08:

Tabela 08

Comparativo da área dos “Doze Bairros” em relação a RPA e ao Recife: