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VII EMENDA

5. NECESSIDADE DE APERFEIÇOAMENTO DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚR

5.1 NOVO PROCEDIMENTO: A UNIÃO DAS DUAS FASES EM UMA ÚNICA

5.1.5 Duração razoável do processo

Leciona Cesare Beccaria, que se deve conceder ao acusado o tempo necessário à sua justificativa, mas esse tempo deve ser curto, de modo a inibir a p o ção pe ; o o á o, o “f e o” q e e deve impingir ao infrator tenderá à inutilidade280.

E não é outro o entendimento esposado por Mauro Cappelletti e Bryant Garth, que consideram que o reconhecimento de uma justiça acessível tem na duração razoável do processo uma de suas condições281.

Nesse cenário, a demora no andamento do processo criminal é igualmente tormentosa para o acusado, a ponto de constituir-se um verdadeiro flagelo a si imposto, ainda que se encontre o mesmo em condição de liberdade, como raciocina com propriedade Fábio Ataíde282, para quem a demora excessiva no trâmite processual leva aos olhos da população a impressão da existência de uma e o e e o “ empo o z” e o “ empo o e e”283

.

N v ão e E p o , “Q o m e b ção e m o , tanto mais se s b , e e me e, e ”284

.

Para Francesco Carnelutti, entretanto, a questão da demora na prestação jurisdicional não é de fácil solução, haja vista a necessidade de aliarem-se os anseios de rapidez e de segurança:

Quando ouvimos dizer que a justiça deve ser rápida, temos aí uma fórmula que se deve tomar com benefício de inventário; o clisé dos chamados, que promete a toda discussão do balanço da justiça que esta terá um desenvolvimento rápido e seguro, mostra um problema análogo ao da quadratura do círculo. Infelizmente, a justiça, se é

segura, não é rápida, e se é rápida não é segura [...]285.

280

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Rio de Janeiro: Rio, 1979. *cap.8.

281

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988. p.20.

282

ATAÍDE, Fábio. Colisão entre poder punitivo do estado e a cidadania constitucional da defesa. Curitiba: Juruá, 2010. p.303.

283

(Ibid., p.305).

284

ESPINOSA, Baruch. Pensamentos metafísicos; tratado de correção do intelecto; tratado político; correspondência. São Paulo: Nova Cultura, 2000. p.45.

285

Antes mesmo da promulgação da Emenda Constitucional nº 45, de 2004, o Supremo Tribunal Federal vinha reconhecendo que o direito do acusado ao julgamento em prazo razoável estava implícito no sistema jurídico brasileiro, estando, ademais, garantido por meio da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 7º, nº 5 e 6), ratificada pelo Brasil286. A omissão constitucional, contudo, restou suprida pela E.C. supra referida, que veio na esteira da reforma do Poder Judiciário, acrescentando ao rol dos direitos fundamentais dispostos no art. 5º, Le F me l, o o LXXVIII, e v e q e “ o o o âmb o judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os me o q e g m ele e e m ção”.

No que tange especificamente ao procedimento reservado ao Tribunal do Júri, que, como já apreciado, encontra-se atualmente escalonado em fases, o legislador estabeleceu o prazo de duração do processo apenas entre a data da decisão sobre a resposta do acusado e o encerramento da primeira fase, restando, portanto, a indagação quanto à duração do feito em relação à segunda fase287.

Dessa forma, assinala Walter Nunes da Silva Júnior que, em geral, a dilação na marcha processual é de 135 (cento e trinta e cinco dias)288, podendo-se acrescentar de 07 (sete) dias, referentes estes à intimação do Ministério Público para impugnações, e de 10 (dez) dias, nos casos de defesa pública. Quanto à sentença, deverá a mesma ser prolatada em audiência ou no prazo de 10 (dez) dias, o que conduziria a um prazo total de até 162 (cento e sessenta e dois) dias.

Já no que respeita à duração razoável da atual segunda fase, a sistemática, nesse caso, é diferenciada. Isso porque as normas referentes à preparação e organização da pauta, com a formação do corpo de jurados impede, muitas vezes, que um processo já pronto para ir a Júri venha, de fato, a ser submetido a julgamento. Segundo Walter Nunes da Silva Júnior, o melhor entendimento conduz à aplicação da norma do art. 428, caput e §2º, do CPP, ou seja, um prazo de 06 (seis) meses ou 186 (cento e oitenta e seis) dias, com contagem iniciada a partir da

286

BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Relator Ministro Celso de Mello, Classe: HC nº 185.896, UF:

MG, Segunda Turma, Data da decisão: 20.06.2000. Disponível em:

<www.stf.org.br/jurisprudencia>. Acesso em 27 de dezembro de 2014.

287

Entre a decisão sobre a resposta do acusado e a realização da audiência de instrução e julgamento, o prazo de duração razoável estabelecido é de 90 (noventa) dias.

288

SILVA JÚNIOR, Walter Nunes da. Reforma tópica do processo penal: inovações aos procedimentos ordinário e sumário, com o novo regime das provas e principais modificações do júri e as medidas cautelares pessoais (prisão e medidas diversas da prisão). 2.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2012. p.60.

preclusão da decisão de pronúncia e finalizada com a sessão de julgamento pelo colegiado popular. Caso ultrapassado esse prazo, motivação haveria para o desaforamento do feito289.

Como conciliar, todavia, a lógica da duração razoável do processo, ora explorada, e a proposta de união das 02 (duas) fases do Tribunal do Júri em uma única? O novo procedimento proposto, em que se destaca a supressão de uma das fases, reduziria sobremaneira os atos previstos em lei e até realizados em duplicidade, como é o caso do interrogatório do acusado e da inquirição das testemunhas e outros personagens, que se dá tanto perante o juiz condutor da instrução preliminar quanto, muitas vezes, perante o corpo de jurados.

A não repetição da instrução processual e a implantação de um juízo de instrução único já explorados, respectivamente, nos subitens 5.1.2 e 5.1.3 deste trabalho acadêmico, são mecanismos facilitadores da celeridade processual e descaracterizadores do entrave corriqueiramente associado ao exercício da atividade judiciária.

Percebe-se, portanto, que a proposta de novo procedimento ora defendida coaduna-se perfeitamente com a lógica constitucional da duração razoável do processo, garantindo ao acusado, de um lado, a apreciação judicial célere, eficaz e producente; e à sociedade, do outro, a desmistificação do sentimento de impunidade.