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VII EMENDA

5. NECESSIDADE DE APERFEIÇOAMENTO DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚR

5.1 NOVO PROCEDIMENTO: A UNIÃO DAS DUAS FASES EM UMA ÚNICA

5.1.1 Manifestação plena do princípio da identidade física do juiz

A reforma instituída no Código de Processo Penal pela Lei nº 11.719, de 20 de junho de 2008, ainda insuficiente para pôr fim a certos vícios de estrutura, na visão de Walter Nunes da Silva Júnior 247, foi a grande responsável pela inclusão do princípio da identidade física do juiz na processualística penal, o que fez por meio da regra contida no art. 399, § 2º do CPP. Apesar de inexistir, à primeira vista, dispositivo que vincule diretamente o Tribunal do Júri a referido princípio, ante superficial hermenêutica do art. 394, §§ 3º e 4º do mesmo diploma legal, entende o autor que a implantação da fase única proposta neste trabalho científico conduzirá inevitavelmente à sua aplicabilidade ao rito especial da corte popular.

247 O o po e o omo e o: “ ) Fo e tado há mais de meio século. b) Perfil

antidemocrático e policialesco, elaborado que foi sob a batuta da Constituição de 1937. c) Forte influência do sistema inquisitivo. d) Burocrático e moroso. e) Sistema presidencial das audiências. f) Ne e e e p ção à Co ção e 1988”. SILVA JÚNIOR, W l e N e . Reforma tópica do processo penal: inovações aos procedimentos ordinário e sumário, com o novo regime das provas e principais modificações do júri e as medidas cautelares pessoais (prisão e medidas diversas da prisão). 2.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2012. p. 31.

Nessa esteira de raciocínio, é de se destacar o pensamento desenvolvido pelo doutrinador Paulo Rangel ao lecionar que sendo o regramento da identidade física do juiz, consagrado procedimento comum ordinário deve ser estendido aos demais248.

Desse modo, resta entender que, mesmo no Tribunal do Júri, o juiz responsável pela audiência de instrução e julgamento deve ser também aquele a quem cabe a prolação da decisão; ou, em outras palavras, o magistrado que colhe a prova, vincula-se ao julgamento da ação penal249.

Antes da referida reforma, era possível um juiz acompanhar toda a instrução e, por algum motivo, ao final, não proferir sentença sobre o caso, transferindo essa responsabilidade a outro magistrado. Evidente que o novo julgador, agora sentenciante, teria a faculdade de determinar a repetição de provas, objetivando uma segurança mais efetiva no julgamento do processo.

O princípio em estudo, todavia, comporta exceções. Assim é que o STJ, órgao intérprete das normas infraconstitucionais, já estabeleceu, a título exemplificativo, que o pressuposto da identidade física do juiz não afasta a possibilidade da realização do interrogatório por carta precatória250.

É preciso atentar-se, todavia, para o fato de que o mesmo Superior Tribunal de Justiça já houve por reconhecer que a regra prevista no art. 132, do Código de Processo Civil deve ser aplicada, por analogia, ao Código de Processo Penal. S g f ze q e o m g o q e o l ção e e “ o vo o,

248

RANGEL. Paulo. Tribunal do júri: visão linguística, histórica, social e jurídica. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.144.

249

Outro não tem sido o entendimento das cortes nacionais, a exemplo do Superior Tribunal de J ç : “Com o ção le 11.719/2008 o o o o e me o o, q e l e o o . 399, parágrafo 2o, do CPP, o princípio da identidade física do juiz – segundo o qual o magistrado que colhe a prova se vincula ao julgamento da causa – passou a ser aplicado no Direito P o e l Pe l”. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 135496/DF. Relator Ministro Og Fernandes. Julgamento em: 17 set. 2009. Publicado em: 19 out. 2009a. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=HC+135496&&b=ACOR&p=true&t= &l=10&i=9>. Acesso em: 15 dez. 2014.

250 “O p p o e e f o z eve e terpretado de acordo com as circunstâncias do

caso concreto, porque o legislador, por certo, não proibiu a realização de interrogatório por p e ó , o p o e o em q e l me é ú fo m e me o à ção pe l”. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 135456/SC. Relator Desembargador Convocado Celso Limongi. Julgamento em: 18 mar. 2010. Publicado em: 24 maio 2010a. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=HC+135456&&b=ACOR& p=true&t=JURIDICO&l=10&i=16>. Acesso em: 15 dez. 2014.

licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido o po e o” eve á e “o o o e e o ”251

.

Nesse mesmo diapasão, leciona Eugênio Pacelli de Oliveira que o citado art. 132, do CPC deve ser aplicado subsidiariamente, haja vista a ausência de proibição no CPP e, ao reverso, a evidente permissão, conforme a regra do art. 3o, do citado códex. Ainda mais porque, não raro, poderá ocorrer a hipótese de se necessitar recorrer a uma regra de substituição, com vistas a alcançar a celeridade processual buscada. Registra ainda o doutrinador, a título exemplificativo, o fato de que o magistrado competente poderá estar em gozo de férias, mas encontrando-se o acusado preso não será constitucionalmente admissível aguardar o seu retorno para o julgamento da ação penal. Por fim, conclui o mestre que as regras de substituição do Código de Processo Civil (art. 132) objetivam resguardar o andamento processual dentro da normalidade, sendo que o afastamento do juiz da instrução poderia, resultar em sérios prejuízos às partes, em caso de não se contornar adequadamente o princípio da identidade física do juiz 252.

Ademais, ainda que revogado o dispositivo do art. 502, do CPP, pelo art. 3o, da Lei nº 11.719, de 2008, possível se faz repetir determinada prova, não se limitando tal ao interrogatório do acusado, como se extrai do disposto no art. 196, da lei processual penal, nos casos em que afastado o princípio da identidade física do juiz. É que o princípio do livre convencimento motivado autoriza o esclarecimento de dúvidas pelo magistrado julgador, nos casos em que não tenha participado da instrução. Nesse aspecto, assevera Eugênio Pacelli de Oliveira que a reabertura da instrução na sua inteireza deve ser repudiada, de modo a evitar-se a postergação do tempo de trâmite processual253.

Cuida, pois, o princípio da identidade física do juiz, de configurar-se na exigência legal de que o magistrado que presidiu e concluiu a instrução do processo seja o mesmo que irá julgá-lo.

251

“Seg o o p p o e e f o z, p ev o o . 399, p ág fo 2o

, do CPP (modificação trazida pela lei 11.719/2008), o magistrado que concluir a instrução em audiência deverá sentenciar o feito. No entanto, em razão da ausência de regras específicas, deve-se aplicar por analogia o disposto no art. 132 do CPC, segundo o qual no caso de ausência por convocação, licença, afastamento, promoção ou aposentadoria deverão os autos passar ao sucessor do magist o”. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus 163425/RO. Relator Ministro Felix Fischer. Julgamento em: 27 maio 2010. Publicado em: 06 set. 2010b. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=HC+163425&&b=ACOR&p=true&t=JURI DICO&l=10&i=32>. Acesso em: 18 nov. 2014.

252

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 16.ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.450.

253

No âmbito do Tribunal do Júri há de se ressaltar, ademais, que os jurados integrantes do conselho de sentença funcionam como verdadeiros juízes naturais ou juízes constitucionais da causa, como indica Nilton Ramos Dantas Santos254, cabendo-lhes sempre acesso aos autos e aos instrumentos do crime, muito embora a lei processual penal disponha atualmente que o momento para tal é a fase de plenário, a judicium causae (art. 480, §3o, do CPP).

Adotar o princípio da identidade física do juiz sob a ótica do Tribunal do Júri, cujo provimento jurisdicional advém de decisão tomada por jurados leigos, significa vinculá-los ao feito desde a fase inicial do procedimento, após o saneamento do feito pelo magistrado. Em um rito monofásico, portanto, aos jurados deverá ser dado participar ativamente de toda a instrução processual antes de proferir o veredicto.